domingo, 31 de maio de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete - 130

         Ainda no mesmo ano e em Novembro, respigámos este pequeno recorte de uma notícia divulgando a actividade no Grupo Musical e de Instrução. ... actualmente desenvolve diversas actividades: escola de música, biblioteca, equipa de futsal, jogos tradicionais, rancho O Limonete, bem como participações nas actividades do movimento associativo do concelho. A colectividade prepara o seu centenário e, brevemente, será anunciada uma comissão para o implementar e fazer que a data seja comemorada com a dignidade que o seu rico historial merece.

 
         Ao começar as notas referentes ao ano de 2007, vamos permitir-nos a fazer umas pequenas recordações, aliás, relacionadas com um facto ocorrido pelas comemorações de mais um aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, festejado em Janeiro daquele ano.

         Já temos referido, em qualquer outro caderno, que Tavarede, ao tempo da nossa meninice, era uma pequena aldeia de gente de trabalho mas feliz e vivendo em alegria. Eram constantes as cantigas que se ouviam. No ribeiro, ao largo da Igreja, enquanto lavavam a roupa, ou nas leiras ao redor do casario, ao mesmo tempo que sachavam suas sementeiras ou cultivavam as tão saborosas novidades, ou ainda durante a lide nas tarefas caseiras. 

  
         Dava gosto escutar as alegres cantigas que se espalhavam pelos ares. E uma coisa era verdade. Eram cantigas bonitas que, em tempos passados, faziam parte das muitas operetas representadas nas associações locais. Escritas por inspirados poetas e musicadas com sensibilidade, versavam essas cantigas a vida das nossas gentes e o seu trabalho árduo na agricultura. Bons e ditosos tempos aqueles. Há muito tempo, porém, que a aldeia emudeceu. Já não se ouvem cantigas na terra do limonete, excepto nos teatros em que, com muito entusiasmo e teimosamente, ainda se vão ouvindo e recordando.

         Esta lembrança vem a propósito de uma apresentação a que se refere a nota seguinte. A celebração do 103º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense serviu para a estreia do grupo coral que interpretou composições que fizeram parte das peças musicais que a colectividade representou desde 1905. O maestro João Silva Cascão foi o responsável por dar forma coral a composições que antigamente eram utilizadas por José da Silva Ribeiro para ‘contar’ a história local. Contudo, agora duas dezenas as vozes que as entoam, através de elementos que vão desde os 20 aos 84 anos.

         Não era a primeira vez que se formava um grupo coral na nossa terra. Certamente ainda não estarão esquecidas as referências que fizemos, quando recordámos a década dos anos vinte do século passado, em que ambas as associações locais organizaram grupos corais. Com elevado número de coralistas, que chegaram a apresentar-se na Figueirsa em espectáculos ali levados a efeito. Também, muito mais recentermernte, o Grupo Musical tomou a iniciativa de organizar o seu grupo coral. No entanto, e com pena o confessamos, não vingou.

 
Aquando das comemorações do centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense, lembrámos que o serão realizado pelo S. Martinho de 2004, terá sido o ‘embrião’ deste novo grupo coral. Porquê? Eram praticamente desconhecidas das actuais gerações, as operetas apresentadas no palco daquela colectividade nos já muito distantes anos de 1925, 1926 e 1927. E, então, foi considerado interessante promover ‘serões’ evocativos, durante os quais se resumisse os enredos das operetas, escritas expressamente para o nosso palco e baseadas na vida aldeã da terra tavaredense.

Além do texto, e porque algumas das canções destas operetas ainda eram conhecidas, devido a Mestre José Ribeiro ter usado as mesmas, noutros trabalhos seus mais recentes, com a mesma letra ou escrevendo novos versos, e, também, porque as críticas que nos deixaram diversos comentadores nos jornais da época, procurou-se fazer reviver alguns dos números que haviam causado tão belas impressões.

A amável colaboração do maestro João Gaspar da Silva Cascão, figueirense, mas com raízes bem fundas em Tavarede, o qual pacientemente, gravou as músicas escolhidas e que foram utilizadas quer nos ensaios quer no referido ‘serão’. Seguiu-se, depois, o espectáculo que comemorou a efeméride dos 20 anos da morte de José Ribeiro, no qual igualmente se reviveram diversas cantigas tão antigas e tão bonitas.

Foi, assim, que em Janeiro de 2007, durante as comemorações do 103º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, foi apresentado em público, pela primeira vez, o coral ‘Cantigas de Tavarede’, na ocasião ainda sem nome. O sucesso foi enorme, mas vejamos uma notícia sobre estas comemorações. Com o brilho que já não surpreende, a centenária e valorosa SIT festejou masis um dos seus aniversários. Este ano foi o 103º e lá vai caminhando, caminhando nos trilhos em que a colocaram e nos quais vai contribuindo para cultura da região.
O seu fiel público, e não só, não regateou aplausos em diversos momentos dos três principais eventos que integraram as comemorações. Ainda que se tenham tornado bem mais calorosos no decorrer de um deles.
No dia 20, sábado, pelas 21,45 horas, mais uma vez se evidenciou o seu cartão de visita, o seu consagrado grupo cénico, com a peça ‘Terra Fria’ de Miguel Torga, o escritor poeta transmontano cujo centenário de nascimento já Coimbra e Vila Real começaram a comemorar.
Em cena, cerca de uma dezena de amadores que se saíram a contento. Uns evidenciando o seu traquejo, outros sendo encaminhados e encaminhando-se, cheios de boa vontade, na arte querida de Tavarede.
Embora não se tenha tratado de uma peça muito exigente, os amadores tavaredenses e quem os dirige deram bem conta do recado perante uma sala cheia e atenta. No entanto, quer-nos parecer, pelo pouco que ainda ouvimos no final, que vários espectadores ficaram sem entender o que era ‘Rilhafois’ ou ‘Rilhafoles’, - local ou estabelecimento para onde o velho demente (Fernando Romeiro) – o que não nos admira e um gesto adequado daria a entender, ou o que dizia a carta que fulminou a paciente e esperançada senhora (a convincente Helena Rodrigues) que sobre o palco baqueou destemidamente, (tadinha!!) na conclusão da peça.
Na tarde de domingo, 21, as comemorações atingiram o seu ponto alto com a apresentação de um grupo coral ainda a dar os primeiros passos e por baptizar, mas que a marca de garantia que o maestro João Cascão lhe conferiu e garantirá.
‘O Grupo de Cantos de Teatro de Tavarede’ (desculpem o apadrinhamento) foi aplaudido com entusiasmo ao fazer-se ouvir em peças que, noutros tempos, foram êxitos nas diferentes revistas e operetas que tiveram o cunho de mestre José Ribeiro e outros saudosos tavaredenses. O grupo apresentou-se com cerca de trinta elementos, em trajes teatrais.
A esse agradável e animado espectáculo, que o maestro João Casção valorizou com as suas explicações, seguiu-se, já com menor assistência, a tradicional sessão solene.
A respectiva mesa foi presidida pelo vereador José Elísio, em representação do presidente da Câmara, que abriu e encerrou a sessão em que se ouviram os hinos da sociedade e do concelho.
Depois de uma informal apresentação dos novos corpos gerentes, seguiram as breves intervenções de Carlos Cardoso (convidado), Ilda Simões (responsável do grupo cénico), Azenha Gomes (representante das colectividades do concelho), e Vitor Madaleno (presidente da Junta de Freguesia de Tavarede).
Foi orador oficial o conhecido brenhense e universitário José Augusto Bernardes que dissertou, de modo breve, sobre Miguel Torga.
Talvez pelo muito que se tem dito, escrito e lido sobre o agreste mas valoroso  escritor/poeta, ficamos com dúvidas que a curta intervenção tenha correspondido às expectativas. Às nossas não correspondeu.
Pena foi, mas compreendemos as razões, que sobre aquele vulto das nossas letras, pouquíssimo se tenha falado, antes da apresentação da referida peça. Esperemos, esperançados, que na próxima representação tal se faça. 

Terminamos enviando à centenária SIT que, com 103 anos, lá vai, consciente e orgulhosamente, continuando.

         Em Março seguinte, a associação festejou mais uma efeméride, o centenário do nascimento do consagrado dramaturgo, escritor e poeta Miguel Torga. A Sociedade de Instrução Tavaredense e o Lions Clube da Figueira da Foz promoveram, recentemente, um sarau cultural que homenageou Miguel Torga, com poemas declamados por Ilda Simões e Fernando Romeiro, além de um historial acerca da vida e obra deste grande nome da literatura portuguesa.
        O espectáculo contou também com a segunda actuação do grupo ‘Cantigas de Tavarede’, que apresentou dez temas musicados que relembram parte das revistas representadas pela colectividade ao longo dos seus 103 anos de vida. Dirigidos pelo maestro João Cascão, o grupo cantou e encantou os presentes que puderam assim ‘viajar’ na história da SIT e da freguesia de Tavarede.

         A partir de então o coral ‘Cantigas de Tavarede’ tem realizado diversos espectáculos e em diversos locais. A propósito deste coral tavaredense, não podemos deixar de aqui referir um comentário, de uma pessoa conhecedora da matéria e que está inserida na imprensa figueirense. Com cerca de quatro dezenas de elementos, todos amadores, o coral da Sociedade de Instrução Tavaredense é a mais recente ‘menina dos olhos’ de Silva Cascão, sendo director musical e maestro.
         As diversas ocupações profissionais dos seus elementos tornam difíceis os ensaios participados por todos, mas não diminuem a dedicação que lhes dedicam. Os resultados têm sido positivos e muito aplaudidos. Foi o que aconteceu recentemente, quando a maestrina do ‘Academic Chois of Students Cultural Center of Universty of Nis’ grupo que esteve na Figueira da Foz para o I FigFolk Music  e actuou naquela colectividade, disse, sobre o coral da SIT que este é ‘o único deste género no Mundo’ e que foi ‘a primeira vez na vida’ que ouviu ‘cantar com o  coração’, classificando-o de ‘simplesmente fabuloso’.

         Aproveitamos para esclarecer que era nossa intenção terminar estes apontamentos com o centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense. Era injusta esta nossa pretensão. Somente sete anos nos separavam do centenário de outra colectividade tavaredense: o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.

         Embora dispuséssemos de poucos elementos, resolvemos prolongar estas recordações e memórias por mais uns anos. Esclarecemos, porém, que estas notas estão muito incompletas, mas, sinceramente o confessamos, já não nos sentimos com forças e ânimo para mais pesquisas. Que nos seja perdoada a falta, mas deixamos o apelo a alguém mais jovem e que se sinta com disposição para isso, continuar estas histórias, prosseguindo  com as notas sobre o Associativismo nas Terra do Limonete.

         Ficam, especialmente, prejudicadas as restantes associações da freguesia, recordando, por exemplo, que o Grupo Musical Carritense também já está bastante aproximado dos seus primeiros cem anos de existência.


Sem comentários:

Enviar um comentário