Ainda
no mesmo ano e em Novembro, respigámos este pequeno recorte de uma notícia divulgando
a actividade no Grupo Musical e de Instrução. ... actualmente desenvolve diversas actividades: escola de música,
biblioteca, equipa de futsal, jogos tradicionais, rancho O Limonete, bem como
participações nas actividades do movimento associativo do concelho. A
colectividade prepara o seu centenário e, brevemente, será anunciada uma
comissão para o implementar e fazer que a data seja comemorada com a dignidade
que o seu rico historial merece.
Ao
começar as notas referentes ao ano de 2007, vamos permitir-nos a fazer umas
pequenas recordações, aliás, relacionadas com um facto ocorrido pelas
comemorações de mais um aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense,
festejado em Janeiro daquele ano.
Já temos
referido, em qualquer outro caderno, que Tavarede, ao tempo da nossa meninice,
era uma pequena aldeia de gente de trabalho mas feliz e vivendo em alegria.
Eram constantes as cantigas que se ouviam. No ribeiro, ao largo da Igreja,
enquanto lavavam a roupa, ou nas leiras ao redor do casario, ao mesmo tempo que
sachavam suas sementeiras ou cultivavam as tão saborosas novidades, ou ainda
durante a lide nas tarefas caseiras.
Dava
gosto escutar as alegres cantigas que se espalhavam pelos ares. E uma coisa era
verdade. Eram cantigas bonitas que, em tempos passados, faziam parte das muitas
operetas representadas nas associações locais. Escritas por inspirados poetas e
musicadas com sensibilidade, versavam essas cantigas a vida das nossas gentes e
o seu trabalho árduo na agricultura. Bons e ditosos tempos aqueles. Há muito
tempo, porém, que a aldeia emudeceu. Já não se ouvem cantigas na terra do
limonete, excepto nos teatros em que, com muito entusiasmo e teimosamente,
ainda se vão ouvindo e recordando.
Esta
lembrança vem a propósito de uma apresentação a que se refere a nota seguinte. A celebração do 103º aniversário da
Sociedade de Instrução Tavaredense serviu para a estreia do grupo coral que
interpretou composições que fizeram parte das peças musicais que a colectividade
representou desde 1905. O maestro João Silva Cascão foi o responsável por dar forma
coral a composições que antigamente eram utilizadas por José da Silva Ribeiro
para ‘contar’ a história local. Contudo, agora duas dezenas as vozes que as
entoam, através de elementos que vão desde os 20 aos 84 anos.
Não era
a primeira vez que se formava um grupo coral na nossa terra. Certamente ainda
não estarão esquecidas as referências que fizemos, quando recordámos a década
dos anos vinte do século passado, em que ambas as associações locais
organizaram grupos corais. Com elevado número de coralistas, que chegaram a
apresentar-se na Figueirsa em espectáculos ali levados a efeito. Também, muito
mais recentermernte, o Grupo Musical tomou a iniciativa de organizar o seu
grupo coral. No entanto, e com pena o confessamos, não vingou.
Aquando das comemorações do centenário
da Sociedade de Instrução Tavaredense, lembrámos que o serão realizado pelo S.
Martinho de 2004, terá sido o ‘embrião’ deste novo grupo coral. Porquê? Eram
praticamente desconhecidas das actuais gerações, as operetas apresentadas no
palco daquela colectividade nos já muito distantes anos de 1925, 1926 e 1927.
E, então, foi considerado interessante promover ‘serões’ evocativos, durante os
quais se resumisse os enredos das operetas, escritas expressamente para o nosso
palco e baseadas na vida aldeã da terra tavaredense.
Além do texto, e porque algumas das
canções destas operetas ainda eram conhecidas, devido a Mestre José Ribeiro ter
usado as mesmas, noutros trabalhos seus mais recentes, com a mesma letra ou
escrevendo novos versos, e, também, porque as críticas que nos deixaram
diversos comentadores nos jornais da época, procurou-se fazer reviver alguns
dos números que haviam causado tão belas impressões.
A amável colaboração do maestro João
Gaspar da Silva Cascão, figueirense, mas com raízes bem fundas em Tavarede, o
qual pacientemente, gravou as músicas escolhidas e que foram utilizadas quer
nos ensaios quer no referido ‘serão’. Seguiu-se, depois, o espectáculo que
comemorou a efeméride dos 20 anos da morte de José Ribeiro, no qual igualmente
se reviveram diversas cantigas tão antigas e tão bonitas.
Foi, assim, que em Janeiro de 2007,
durante as comemorações do 103º aniversário da Sociedade de Instrução
Tavaredense, foi apresentado em público, pela primeira vez, o coral ‘Cantigas
de Tavarede’, na ocasião ainda sem nome. O sucesso foi enorme, mas vejamos uma
notícia sobre estas comemorações. Com o
brilho que já não surpreende, a centenária e valorosa SIT festejou masis um dos
seus aniversários. Este ano foi o 103º e lá vai caminhando, caminhando nos
trilhos em que a colocaram e nos quais vai contribuindo para cultura da região.
O
seu fiel público, e não só, não regateou aplausos em diversos momentos dos três
principais eventos que integraram as comemorações. Ainda que se tenham tornado
bem mais calorosos no decorrer de um deles.
No
dia 20, sábado, pelas 21,45 horas, mais uma vez se evidenciou o seu cartão de
visita, o seu consagrado grupo cénico, com a peça ‘Terra Fria’ de Miguel Torga,
o escritor poeta transmontano cujo centenário de nascimento já Coimbra e Vila
Real começaram a comemorar.
Em
cena, cerca de uma dezena de amadores que se saíram a contento. Uns
evidenciando o seu traquejo, outros sendo encaminhados e encaminhando-se,
cheios de boa vontade, na arte querida de Tavarede.
Embora
não se tenha tratado de uma peça muito exigente, os amadores tavaredenses e
quem os dirige deram bem conta do recado perante uma sala cheia e atenta. No
entanto, quer-nos parecer, pelo pouco que ainda ouvimos no final, que vários
espectadores ficaram sem entender o que era ‘Rilhafois’ ou ‘Rilhafoles’, -
local ou estabelecimento para onde o velho demente (Fernando Romeiro) – o que
não nos admira e um gesto adequado daria a entender, ou o que dizia a carta que
fulminou a paciente e esperançada senhora (a convincente Helena Rodrigues) que
sobre o palco baqueou destemidamente, (tadinha!!) na conclusão da peça.
Na
tarde de domingo, 21, as comemorações atingiram o seu ponto alto com a
apresentação de um grupo coral ainda a dar os primeiros passos e por baptizar,
mas que a marca de garantia que o maestro João Cascão lhe conferiu e garantirá.
‘O
Grupo de Cantos de Teatro de Tavarede’ (desculpem o apadrinhamento) foi
aplaudido com entusiasmo ao fazer-se ouvir em peças que, noutros tempos, foram
êxitos nas diferentes revistas e operetas que tiveram o cunho de mestre José
Ribeiro e outros saudosos tavaredenses. O grupo apresentou-se com cerca de
trinta elementos, em trajes teatrais.
A
esse agradável e animado espectáculo, que o maestro João Casção valorizou com
as suas explicações, seguiu-se, já com menor assistência, a tradicional sessão
solene.
A
respectiva mesa foi presidida pelo vereador José Elísio, em representação do
presidente da Câmara, que abriu e encerrou a sessão em que se ouviram os hinos
da sociedade e do concelho.
Depois
de uma informal apresentação dos novos corpos gerentes, seguiram as breves
intervenções de Carlos Cardoso (convidado), Ilda Simões (responsável do grupo
cénico), Azenha Gomes (representante das colectividades do concelho), e Vitor
Madaleno (presidente da Junta de Freguesia de Tavarede).
Foi
orador oficial o conhecido brenhense e universitário José Augusto Bernardes que
dissertou, de modo breve, sobre Miguel Torga.
Talvez
pelo muito que se tem dito, escrito e lido sobre o agreste mas valoroso escritor/poeta, ficamos com dúvidas que a
curta intervenção tenha correspondido às expectativas. Às nossas não
correspondeu.
Pena
foi, mas compreendemos as razões, que sobre aquele vulto das nossas letras,
pouquíssimo se tenha falado, antes da apresentação da referida peça. Esperemos,
esperançados, que na próxima representação tal se faça.
Terminamos
enviando à centenária SIT que, com 103 anos, lá vai, consciente e
orgulhosamente, continuando.
Em Março
seguinte, a associação festejou mais uma efeméride, o centenário do nascimento
do consagrado dramaturgo, escritor e poeta Miguel Torga. A Sociedade de Instrução Tavaredense e o Lions Clube da Figueira da Foz
promoveram, recentemente, um sarau cultural que homenageou Miguel Torga, com
poemas declamados por Ilda Simões e Fernando Romeiro, além de um historial
acerca da vida e obra deste grande nome da literatura portuguesa.
O espectáculo contou também com a
segunda actuação do grupo ‘Cantigas de Tavarede’, que apresentou dez temas
musicados que relembram parte das revistas representadas pela colectividade ao
longo dos seus 103 anos de vida. Dirigidos pelo maestro João Cascão, o grupo
cantou e encantou os presentes que puderam assim ‘viajar’ na história da SIT e
da freguesia de Tavarede.
A partir
de então o coral ‘Cantigas de Tavarede’ tem realizado diversos espectáculos e
em diversos locais. A propósito deste coral tavaredense, não podemos deixar de
aqui referir um comentário, de uma pessoa conhecedora da matéria e que está
inserida na imprensa figueirense. Com
cerca de quatro dezenas de elementos, todos amadores, o coral da Sociedade de
Instrução Tavaredense é a mais recente ‘menina dos olhos’ de Silva Cascão,
sendo director musical e maestro.
As diversas ocupações profissionais dos
seus elementos tornam difíceis os ensaios participados por todos, mas não
diminuem a dedicação que lhes dedicam. Os resultados têm sido positivos e muito
aplaudidos. Foi o que aconteceu recentemente, quando a maestrina do ‘Academic
Chois of Students Cultural Center of Universty of Nis’ grupo que esteve na
Figueira da Foz para o I FigFolk Music e
actuou naquela colectividade, disse, sobre o coral da SIT que este é ‘o único
deste género no Mundo’ e que foi ‘a primeira vez na vida’ que ouviu ‘cantar com
o coração’, classificando-o de
‘simplesmente fabuloso’.
Aproveitamos
para esclarecer que era nossa intenção terminar estes apontamentos com o
centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense. Era injusta esta nossa
pretensão. Somente sete anos nos separavam do centenário de outra colectividade
tavaredense: o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.
Embora
dispuséssemos de poucos elementos, resolvemos prolongar estas recordações e
memórias por mais uns anos. Esclarecemos, porém, que estas notas estão muito
incompletas, mas, sinceramente o confessamos, já não nos sentimos com forças e
ânimo para mais pesquisas. Que nos seja perdoada a falta, mas deixamos o apelo
a alguém mais jovem e que se sinta com disposição para isso, continuar estas
histórias, prosseguindo com as notas
sobre o Associativismo nas Terra do Limonete.
Ficam,
especialmente, prejudicadas as restantes associações da freguesia, recordando,
por exemplo, que o Grupo Musical Carritense também já está bastante aproximado
dos seus primeiros cem anos de existência.
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