segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

João Rodrigues Medina

O meu primo João Medina é um dos mais antigos amadores do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense ainda vivos, felizmente. Embora retirado do palco, a última vez que representou foi na peça "Marcha do Centenário", em 2004, onde reviveu o papel do 'pai Malafaia, que já havia representado, trinta anos antes, ao lado da inesquecível Violinda Medina.


Começou a representar no ano de 1948, julgo que num espectáculo intitulado 'Noite de Teatro Português', como participante na peça 'Entre Giestas'. A partir de então nunca mais parou. Pelos meus apontamentos (falíveis) representou 108 personagens, nalgumas dezenas de peças.

Será dificil, mesmo para ele, destacar quais as suas melhores e mais bem sucedidas criações. "... Naqueles tempos já distantes (em 1948), era normal os rapazes e as raparigas da minha idade começarem a fazer parte dos elencos teatrais da SIT. Coneçávamos como meros figurantes, cantávamos nos coros, numa ou noutra peça, e conforme o jeito que Mestre José Ribeiro descobria em nós, lá nos dava um pequenino papel, com meia dúzia de falas... Era o rastilho! Começávamos a sentir a responsabilidade de pisar o palco, de representar ao lado daquele extraordinário grupo que, durante tantos anos, formaram um conjunto bem raro em grupos de amadores, e com eles aprendemos a falar, a gesticular e, sobretudo, a ouvir. Era uma honra para nós, rapaziada ainda quase imberbe, estar no mesmo palco em que estavam Violinda Medina, minha saudosa prima, Maria Teresa de Oliveira, João Cascão, António Graça, Fernando Reis, António Jorge, João de Oliveira Júnior e tantos mais. Que me desculpe a memória dos muitos outros que não recordo, mas foram muitos, foram muitos, elas e eles, que acompanhei ao longo de toda a minha carreira teatral e que, com o seu exemplo, tanto me ensinaram, sempre com a melhor amizade e boa vontade...". (retirado do depoimento que escreveu para o livro do centenário da SIT).


Mestre José Ribeiro encontrou no João Medina uma verdadeira aptidão para papéis de composição. Seria hereditário... Mestre José Ribeiro já havia ensaiado seu avô, José Medina, de quem referiu ser "um amador dotado de excepcionais faculdades histriónicas, cómico de grande naturalidade e que no drama se impunha pelo vigor e verdade da sua representação". Tinha a quem sair, não haja dúvidas. Aliás, e da sua família, muitas e muitos foram os amadores que se distinguiram na representação teatral. Temos o exemplo de seu irmão, José, que ainda hoje é dos principais elementos daquele grupo cénico.


No ano de 1998, comemorando os seus 50 anos de actividade teatral, a Sociedade de Instrução Tavaredense prestou-lhe uma justíssima homenagem. Eis um breve comentário da imprensa figueirense: "Podemos dizer que o ponto alto da sessão solene do 94o aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, (ocorrida na tarde do dia 21) foi atingido com a homenagem a um dos seus mais dedicados amadores a pisar palco, sem desfalecimentos, vai para 50 anos: João Medina, o barbeiro-artista da terra do limonete.
Efectivamente, a emoção do momento contagiou tudo e todos, e o próprio amador não resistiu a ela, deixando brotar ao canto do olho a lágrima de quem vive e sente a arte de Talma com aquela humildade que lhe conhecemos... ... Posteriormente, a directora cénica Ilda Simões, disse algumas palavras sobre a récita apresentada anteriormente, assim como sobre o grande amador teatral, João Medina, distinguido nesta sessão.

Também o Lion Clube da Figueira da Foz lhe prestou homenagem: "... Assim, o que era, tradicionalmente, um circunspecto acto transformou-se numa festa em honra do teatro e da solidariedade, com diversas gerações a marcarem consoladora presença, não regateando aplausos tanto aos que serviram sob a bandeira de modestas colectividades como aos que se guindaram aos pináculos da fama, como é o caso de Eunice Muñoz e Rui de Carvalho.
E foi assim que Jorge Bracourt (Caras Direitas), João Medina (Sociedade de Instrução Tavaredense) e Alfredo Cardoso (Troupe Recreativa Brenhense) puderam constatar que não foi em vão que se dedicaram de alma e coração à mais humana das formas de arte, quando tiveram a honra de receber as Medalhas de Mérito com que foram agraciados pela Câmara, das mãos de Eunice…., sem qualquer vislumbre de representação, encheram de emoção e beleza a sala do Casino na forma como se identificaram como “amadores teatrais”.

Muito mais haveria a contar sobre este excepcional amador dramático. Mas, hoje, ficamos por aqui. Recordamos somente um pequenino apontamento escrito sobre a sessão solene em que foi homenageado pela SIT:

"Para exaltar o amor que há 50 anos João Medina dedica ao teatro e aproveitar o sucesso da sua interpretação modelar em “A Forja” representada na véspera (30 anos depois de a ter representado pela mão dessa saudade, sempre presente que foi Mestre José Ribeiro) para lhe prestar comovente homenagem bem expressa na “placa de prata” da SIT a que a Junta de Freguesia se associou com uma “salva de prata” e os familiares com um quadro alusivo à sua passagem pelo palco, a drª Ilda Manuela aproveitou a oportunidade – saudada de pé pelo público ao som do hino da colectividade pela Tuna – para transmitir aquele nobre exemplo aos muitos acomodados que hoje põem em risco a continuidade do teatro em Tavarede com o seu alheamento e críticas".

E mais um retalho sobre a homenagem do Lions de Santa Catarina:

" João Medina –cidadão figueirense/99 – Celso Morais, responsável pela direcção da sessão, deu então conhecimento da escolha de João Medina, essa dedicação de meio século à causa do teatro, para a distinção de Cidadão Figueirense/99 com que o Clube honra, anualmente, aqueles que se evidenciam na nossa comunidade, traçando o percurso daquele “homem que trata o teatro por tu” e fez do palco da S.I.Tavaredense “a universidade da sua vida”, em que representou mais de sessenta peças.
E foi com indisfarçável emoção que João Medina recebeu a “Placa de Cidadão Figueirense” afirmando no acto de agradecê-la que “eu é que muito devo ao teatro, o teatro nada me deve!”. E depois de associar à homenagem a figura inesquecível de Mestre José Ribeiro, disse ainda que “o teatro tem sido a razão da minha vida”, razão por que “gostaria de continuar a representar até ao fim da vida”, deixando como desabafo aos presentes que “o teatro é uma mensagem de amor!”.
Associando-se à homenagem o grupo cénico de Tavarede representou, no intervalo do jantar, excertos de peças onde João Medina havia alcançado grandes êxitos – Frei Luís de Sousa, A Forja, e uma comédia – numa actuação brilhante a constituir momento alto da sessão
.".
Fotos: 1 - No papel de Velho da Horta; 2 - Com José Luís do Nascimento, durante a homenagem prestada a estes amadores; 3 - A ser caracterizado por Mestre José Ribeiro, para uma peça de Shakespeare; 4 - Com seu irmão José, protagonistas da peça 'Monserrate'.

João de Almada Quadros Sousa de Lencastre


1º. Barão e 1º. Conde de Tavarede.
Nasceu a 28 de Fevereiro de 1794, filho de D. Antónia Madalena de Quadros e Sousa e de D. Francisco de Almada e Mendonça. Morreu em 14 de Fevereiro de 1861.
Em reconhecimento dos serviços prestados por seu pai, após o falecimento deste o então príncipe regente D. João VI, concedeu-lhe o título de barão de Tavarede, por diploma de 7 de Setembro de 1804. E, por novo diploma datado de 18 de Março de 1848, foi nomeado conde de Tavarede.


Herdou, de seu pai, os títulos de 2º senhor da vila da Ponte da Barca, 2º alcaide mor de Marialva e comendador da Ordem de Cristo. Foi coronel pelos voluntários realistas em Trancoso, em 1827.
Casou, no dia 4 de Março de 1810, com D. Maria Emília da Fonseca Pinto de Albuquerque Araújo e Meneses, filha e herdeira de Caetano Alexandre da Fonseca Pinto de Albuquerque, senhor do morgado de Longroiva, fidalgo da Casa Real, Cavaleiro da Ordem de Cristo, e de D. Maria de Meneses Araújo Cardoso Cabral , morgada de Lageosa.
Tiveram um único filho: Francisco de Almada Quadros Sousa Mendonça de Lencastre da Fonseca e Albuquerque.
Os condes de Tavarede também estabeleceram morada em Trancoso, onde dispunham de grandes bens materiais. A condessa, D. Maria Emília, morreu naquela localidade, no dia 25 de Julho de 1876, com quase 88 anos de idade.
“… que tendo muito em lembrança a fidelidade, zelo e préstimo com que me serviu o Dr. Francisco de Almada e Mendonça, do meu Conselho, e desembargador do Paço até aos últimos momentos em que existiu, assim no exercício dos lugares que ocupou, como em outras comissões de maior importância, de que foi encarregado. E querendo dar testemunho de boa vontade com que o atendia e da satisfação que tenho de fazer Honra e Mercê, por estes respeitos e serviços, a seu filho primogénito João de Almada e Melo de Quadros e Sousa, sucessor na Casa de Tavarede, Hei por bem fazer-lhe mercê do título de Barão de Tavarede e que, com o referido título, goze de todas as honras, liberdades, isenções e franquezas que tocam e pertencem ao dito título de Barão e lhe podem competir e tocar na forma do uso e antigo costume destes Reinos”. (Carta de Honra e Mercê, datada de 7 de Setembro de 1804)

Fotografia do Palácio (antiga)

Caderno: Tavaredenses com História

António Jorge da Silva

Natural de Tavarede, nascido no dia 3 de Outubro de 1915, era filho de João Jorge da Silva e de Clementina Nunes do Espírito Santo, e faleceu no dia 8 de Agosto de 1986. Casou com Maria Estrela Reis Tondela, tendo uma filha: Maria Clementina.

Como grande número de tavaredenses, enveredou pela profissão de tipógrafo, tendo-se destacado, também, como um verdadeiro artista, na difícil arte de encadernador. Começou a trabalhar na oficina de seu primo, Manuel Nogueira e Silva, sita na Figueira, defronte do antigo Liceu. Anos mais tarde, juntamente com dois sócios, estabeleceu-se com a conhecida tipografia “Cruz & Cardoso, Lda”., da qual foi gerente durante muitos anos. Foi um dos fundadores do jornal “Mar Alto”, no qual deixou muita e interessante colaboração. Também foi correspondente local da imprensa figueirense e coimbrã.
Amador dramático bastante talentoso, e de que adiante daremos alguns apontamentos, foi acérrimo defensor do regime republicano, chegando a estar preso, no Porto, pela polícia política do antigo regime. Após o movimento de 25 de Abril de 1974, foi o primeiro presidente da Junta de Freguesia eleito, como independente, pela lista do Partido Socialista. A recordar a sua passagem como autarca está, entre muitas outras obras, a construção do actual edifício daquela Junta.
Começou a prestar a sua colaboração ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense na peça Entre Giestas, em 1938. Até ao final da sua carreira teatral, representou mais de 60 personagens, em peças de que destacamos: A Morgadinha de Valflor, O Sonho do Cavador, Génio Alegre, A Nossa Casa, Envelhecer, O Grande Industrial, Horizonte, Auto da Barca do Inferno, O Cão e o Gato, Pé de Vento, Chá de Limonete, Frei Luís de Sousa, Serão Homens Amanhã, Catão, O Tio Simplício, Israel, Ana Maria, Peraltas e Sécias, A Conspiradora, Os Velhos, As Árvores Morrem de Pé, O Beijo do Infante, Terra do Limonete e tantas mais.
“Merece referência especial. Dispõe de invulgares aptidões histriónicas e adapta-se, sem dificuldade, a qualquer personagem. No papel de ébrio (David Seco) é inexcedível. Consideramo-lo o amador nº 1 do elenco masculino do núcleo de Tavarede” (Chá de Limonete).
“Calorosos aplausos merece, sem dúvida, António Jorge da Silva, pelo seu Hermenegildo, cheio de ternura e à-vontade. Esquecemo-nos, ao vê-lo contracenar com a sua Delfina, que estamos defronte de um amador e cremos ser este o maior elogio que podemos render à sua intervenção na referida peça” (Serão Homens Amanhã).
”Deu-nos um Telmo Pais do melhor quilate, excelente retrato da personagem, a contrastar com a caricatura que é o Frei Tomás, dos Peraltas, desenhada pelo intérprete com perfeita correcção”. (Frei Luís de Sousa e Peraltas e Sécias).
“Entregou-se de corpo e alma a um Bento sadio e aberto, homem sem “papas na língua”, desses que retratam todo um tipo de aldeão que ainda, felizmente, se encontram” (Os Velhos).
“Arca com a pesada responsabilidade de um papel que é a verdadeira prova de exame para alunos de um conservatório dramático e o faz com direito a obter justíssima distinção. Perfeito na arte de dizer e na arte de escutar. Artista e não amador na forma como encarnou, viveu e sentiu o personagem. Comprova com o seu André, mais uma vez, que está ali um dos grandes, um dos melhores amadores figueirenses de todos os tempos, demonstrando cabalmente que nem só na comédia ocupa lugar destacado entre os amadores portugueses (O Beijo do Infante).

No ano de 1959, no concurso de arte dramática organizado pelo Secretariado Nacional da Informação, foi-lhe atribuído o prémio “Chaby Pinheiro”, melhor interpretação masculina, na comédia Os Velhos.
A Sociedade de Instrução Tavaredense homenageou a sua memória, em Janeiro de 1993, descerrando o seu retrato que se encontra exposto no seu salão nobre.
Mas, talvez a melhor crítica que terá sido feito a António Jorge da Silva e, igualmente, ao amador Fernando Reis, terá sido a proferida por Mestre José Ribeiro que, em pleno ensaio da peça Frei Luís de Sousa, quando estavam em cena, no terceiro acto, interpretando as figuras de Telmo Pais e Romeiro, desempenhavam os seus papéis com tal perfeição e consciência, que ele se levantou do seu lugar na plateia, donde dirigia o ensaio, e batendo as palmas, exclama, cheio de entusiasmo: “Basta! Acabou o ensaio! Não dou licença a filhos de p… nenhuns, que façam isto melhor do que vocês!…”. E Mestre José Ribeiro não era muito pródigo em elogios aos seus amadores…
Sua esposa, Estrela Reis, também foi amadora do grupo cénico da Sociedade de Instrução, no qual participou de 1932 a 1940. Julgamos que igualmente terá feito parte da extinta secção dramática do Grupo Musical.

Caderno: Tavaredenses com História
Fotos: 1 - António Jorge da Silva e esposa, Estrela Reis; 2 - Na peça 'Frei Luis de Sousa', como 'Telmo Pais'; 3 - Em 'O Beijo do Infante', no papel de André.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 9

11 ANOS DOURADOS
Ao intitular este capítulo como “Um período dourado”, tive, como motivo, o grande desenvolvimento artístico verificado na colectividade entre os anos de 1917 a 1928. O despique com os amadores vizinhos da Sociedade de Instrução, que, sem dúvida, teve capital importância no nível atingido em Tavarede, muito em especial nesta última colectividade que, de forma brilhante e sob a sábia batuta de Mestre José Ribeiro, levaram o nome da nossa terra por esse Portugal fora, alcançando êxitos inesquecíveis, obrugou os directores do Grupo Musical, em 1924, a tomarem decisões importantíssimas para o futuro da progressiva colectividade.

As suas instalações, apesar de boas para o pequeno meio que era Tavarede, breve se tornaram insuficientes perante o desenvolvimento das multiplas actividades. E a abertura encontrada perante o proprietário da casa onde se encontravam sediados, o sócio benemérito e protector Manuel da Silva Jordão, para a venda do edifício em condições financeiras consideradas boas, especialmente pela facilidade do seu pagamento, levou a início das negociações.

Obtido o acordo com aquele proprietário, no dia 15 de Abril de 1924 reuniu a Assembleia Geral para aprovar o negócio e autorizar o financiamento necessário, pela emissão de acções do valor nominal de cinquenta escudos cada uma. Igualmente, e com a “missão de se ocuparem denodadamente nos bons serviços do Grupo”, foram eleitos os seguintes corpos gerentes:

Assembleia Geral
Presidente – António Medina Júnior
Vice-Presidente – António Marques Lontro
1º. Secretário – António de Oliveira Lopes
2º. Secretário – César de Figueiredo
Direcção
Presidente – João de Oliveira
Vice-Presidente – António Francisco da Silva
1º. Secretário – José Francisco da Silva
2º. Secretário – Armando Amorim
Tesoureiro – António Medina
Vogais – António Ribeiro Júnior, António Miguéis Fadigas, José Medina, José Maria Gomes de Apolónia e António da Costa Madrugada
Conselho Fiscal
Efectivos – José Maria Costa, António Victor Guerra e Francisco Silva Prôa
Substitutos – António Custódio, António Augusto de Figueiredo e José Fernandes Mota
Bibliotecário – Adriano Augusto Silva.


Registe-se o facto de que esta é a primeira acta da Assembleia Geral existente, enquanto que a primeira acta da Direcção tem a data de 20 de Março de 1924, sendo precisamente o primeiro registo existente o auto da tomada de posse dos corpos directivos acima referidos. Deste auto de posse consta o seguinte: “O saldo líquido transitado foi de 276$10 e foi procedido ao exame do inventário de todos os objectos que pertencem ao Grupo Musical e de Instrução Tavaredense e verificou-se que está conforme, sendo-lhes dada, seguidamente, a respectiva posse pelo presidente da Assembleia Geral cessante, sr. António Victor Guerra, comprometendo-se os novos corpos gerentes, sob sua palavra de honra, de bem e fielmente se desempenharem dos cargos para que foram eleitos e de que acabam de tomar posse”.

No dia 21 de Abril, a pedido da Direcção, reuniu a Assembleia Geral para discussão da seguinte proposta:



- abrir-se para a compra e adaptação do prédio para a nossa sede, um crédito de 25 000$00 (vinte e cinco mil escudos) em 500 acções de 50$00 cada:
- que essas acções fossem divididas por todos os sócios do Grupo, afim de evitar que pessoas estranhas ao Grupo fossem portadores delas;
- que cada sócio fosse obrigado a subscrever pelo menos duas acções;
- que dada a desvalorização da moeda fosse aberto um juro, que ficou assente ser de 5% para indemnizar de algum modo os dignos sócios portadores das mesmas, excluindo deste número os que subscreveram apenas as duas exigidas;
- que as acções fossem sorteadas todos os anos se a situação financeira do Grupo o permitisse, sendo este sorteio feito na nossa sede no dia do aniversário;
- que todos os sócios que comprarem já acções até duas o mínimo, sejam considerados sócios efectivos e donos da sede do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense e os restantes sócios que por qualquer circunstância não possam adquirir de momento acções fiquem considerados sócios auxiliares, mas com os mesmos direitos dos sócios efectivos no que diz respeito a assuntos da Sociedade;
- que todos os sócios efectivos portadores de acções em número superior a duas, sejam obrigados a cedê-las aos sócios auxiliares em qualquer ocasião que estes se encontrem habilitados a adquirir o mínimo delas (duas) pagando o juro correspondente 5% aos portadores que lh’as cederem, tendo de dar conhecimento deste facto à Direcção que o nomeará na sua primeira sessão sócios efectivos e donos do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense;
- que a operação da cedência das acções principie pelo sócio que tiver maior número destas e em caso de empate proceder-se-há a sorteio;
- que a quota mensal passasse de ctos. $50 a ctos. $75, ficando este aumento a vigorar de Julho em deante assim como a respectiva joia de entrada que passou de Esc. 2$50 ctos. a Esc. 5$00;
- que para fêcho destas suas propostas fazia um apêlo a todos os dignos consócios que comprassem acções em qualquer quantidade isentassem as duas primeiras do juro estipulado o que ainda foi aprovado como obrigatório pois que representa uma economia para a nossa querida Associação.

Pelo presidente da Direcção foi ainda proposto, e foi aprovado, que: “fosse criada dentro da nossa sede uma Caixa Económica onde todo o sócio auxiliar depositasse obrigatoriamente todas as semanas Esc. 1$00 ou daí para cima, a seu arbítrio, afim de com mais facilidade poder adquirir as duas acções exigidas passando por isso mesmo a sócio efectivo e dono de Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense e que para retardatários a esta obrigação fossem dados quinze dias depois da primeira falta para satisfazerem este compromisso justificando o seu relaxe e caso não o fizessem ficam considerados ipso facto como não sócios, perdendo todos os direitos e haveres que na sede tenham, pois que mostraram claramente com este procedimento serem inimigos da nossa colectividade, que esta mesma Caixa funcionasse para os sócios efectivos notando que, para estes, era, porem, simplesmente, facultativa...”

Os documentos, depois de amplamente debatidos, foram aprovados, tendo no final o membro do Conselho Fiscal, António Victor Guerra, proposto que “fosse estabelecida uma penalidade para os sócios efectivos que porventura haja pouco escrupulosos, que de algum modo menosprezem os sócios auxiliares, indicando, com qualquer título, valerem mais por serem donos da sede”.

Obtida a indispensável aprovação da Assembleia Geral para a compra se efectuar, a Direcção mandatou alguns dos seus componentes para uma reunião com o proprietário da casa para assentar, em definitivo, o negócio. Transcrevo, na íntegra, o relatório desta diligência:

“A conferência teve lugar do dia 25 de Maio de 1924, tendo pelo sr. Vice-Presidente, António Francisco da Silva, sido abordado o assunto da sede, de alta importância para todos os associados, passando a expôr ao sr. Jordão o andamento e funcionamento do Grupo até à data em que a noda Direcção tomou posse, que era para lastimar, fazendo-o sciente dos projectos que se estudavam para a modificação completa da sala de espectáculos e outros melhoramentos que se pensava introduzir das varias dependencias do mesmo prédio, que dentro em breve serão um facto, para os quaes se trabalhava com afinco e boa vontade da parte de um limitado numero de sócios, afim de que os trabalhos a executar ficassem ultimados até ao dia do aniversário (17 de Agosto do corrente ano).
Pelo sr. Jordão foi ouvida com agrado a exposição daquele senhor, com a qual ficou deveras satisfeito, incitando-nos a que proseguissimos, com a mesma boa vonte, os melhoramentos e benefícios a que nos propuzemos, elogiando a nossa acção e informando-nos que havia concedido o prazo de 6 mezes para lhe ser entregue a quantia correspondente à venda do prédio (20 000$00), mas que, ficando bem ao facto do que se tencionava fazer, prorogava aquele prazo com egual período de tempo (mais 6 mezes), o que agradecemos, e que seria muito do seu gosto continuar a ficar sendo dono do citado prédio, como qualquer outro possuidor de acções, do que se depreendeu, pois, que nos dava a honra de ser inscrito o seu nome no nosso Registo de sócios, pedindo para que lhe fossem dispensadas 20 acções.
Em seguida, o mesmo sr. Vice-Presidente pediu ao sr. Jordão para nos indicar a ocasião em que podia ser feita a escritura da citada compra, respondendo aquele senhor, acto continuo, que se punha à nossa disposição desde aquele dia (25 de Maio) para satisfazer o desejo por nós manifestado, o que fazia com vontade, ainda mesmo sem que lhe fosse apresentada a quantia a que acima se faz referência (20 000$00), ou qualquer outra, pois que confiava, em absoluto, nos dirigentes do nosso Grupo (palavras estas que agradecemos reconhecidos), terminando o sr. Jordão por nos declarar peremptoriamente que podiamos considerar nosso o prédio, desde aquele dia, e que esperaria pela importância que se lhe ficasse a dever durante o período de 1, 2 ou 3 anos, emfim, até nós conseguirmos arranjál-o e, mais ainda, que não nos cobraria qualquer juro.
Depois das agradáveis e satisfatórias palavras do sr. Jordão, que novamente agradecemos efusivamente, ficou assente que se pensaria nas escrituras quando possuissemos alguns milhares de escudos, para naquela data lhe serem entregues à conta da importancia total.
Depois de mil e um agradecimentos que apresentámos ao sr. Jordão, retirámos entusiasmados e satisfeitissimos, e é possuidos ainda da mesma satisfação que por esta fórma vimos esclarecer aos nossos dignos colegas que não tiveram o prazer de assistir àquela conferencia, o assunto importante de que nos ocupámos e os pontos principaes que se trataram e discutiram, o que não podiamos deixar de fazer, atendendo a que todos os membros da direcção de qualquer colectividade devem ser conhecedores de todas as coisas, ainda as mais pequenas, que se passam das suas portas adentro”.

E no dia 6 de Novembro de 1924 novamente se reuniu a Assembleia Geral para deliberar sobre o mesmo assunto. Curiosamente há duas actas desta Assembleia. A primeira, e maior, foi considerada sem efeito com um traço diagonal e e a assinatura do 1º. secretário, António Oliveira Lopes.


Teria sido uma reunião extraordinariamente importante, tendo no final da acta inutilizada sido selada com selos fiscais no valor de 1$50, certamente para tirar cópia oficial para os fins descritos na acta, que, apesar de inutilizada, vamos transcrever nalguns pontos.
Conforme os avisos convocatórios, tratou-se de “compra d’um prédio para instalação da sede e forma de contrair um empréstimo para a sua aquisição”. Pela Direcção foi referido que, relativamente ao deliberado na Assembleia Geral de 21 de Abril de 1924, se verificou “a falta de brio e vontade de certos sócios, que teem olvidado, com o maior desrespeito às leis do Grupo e portanto dos seus corpos dirigentes, o preceituado na devida acta por êles aprovado. Com bastante desgosto diz que, em virtude da maior parte dos n/consócios até ao presente, não terem cumprido com êsses preceituados, isto é, a acquisição de acções e a subscrição para a n/Caixa Económica, dando origem, por conseguinte, a que a Direcção não tenha verba alguma em seu poder, visto as importancias recebidas terem sido empregues na obras a que meteu ombros e precisando esta entidade de fazer a escritura da compra do prédio em que estamos instalados provisoriamente, pedia à assembleia se dignasse aprovar fosse contraído um empréstimo de Esc. 20 000$00, sendo Esc. 10 000$00 por meio de letra aceite por três ou mais sócios da confiança do sacador, e que os outros Esc. 10 000$00 fossem emprestados pelo dono da casa, sr. Manuel da Silva Jordão, por meio de hipoteca do aludido prédio”. Depois de discutido este assunto, foi aprovado, tendo os sócios João de Oliveira, António Francisco da Silva e António Medina se oferecido para aceitantes da letra, frisando-se que ”o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense não tem, nesta operação, responsabilidade alguma, a não ser a do pagamento dos respectivos juros, que são de 20% ao ano.
O membro do Conselho Fiscal, sr. José Maria Costa, vendo o sacrifício a que aqueles consócios se iam expor, ofereceu-se, também e com bastante prazer, para os ajudar, fazendo parte do número dos aceitantes.
Na acta de substituição, e referindo a mesma ordem de trabalhos, diz-se: “este assunto foi largamente discutido, sendo afinal, aprovado, por unanimidade, que a Direcção, usando de todos os poderes concedidos pela Assembleia contraísse o empréstimo da quantia necessária para a compra do prédio e efectuasse a compra dêste pelo melhor dos nossos interesses”.
O presidente da Assembleia “dirige um apelo a todos os consócios incitando-os a que já não quere mais, exclama, senão que cumpram o que está regulamentado, porque isso é o suficiente para levantar bem alto o nome já glorioso do nosso querido Grupo e, portanto, o da nossa terra”.
Antes de terminar “o sr. presidente da Assembleia lavrando o seu mais veemente protesto ao qual se associaram todos os membros da Assembleia Geral, Direcção e Conselho Fiscal, assim como todos os demais sócios presentes , contra a blague infame que pessoas mal intencionadas levantaram procurando tornar tensas as boas relações de amisade que existem entre os n/consócios e os sócios da Sociedade d’Instrução Tavaredense, encerrou a sessão no meio do maior entusiasmo.

Fotos: 1 - Auto da tomada de posse dos corpos gerentes; 2 - João de Oliveira; 3 - José Francisco da Silva; 4 - António de Oliveira Lopes.

Sociedade de Instrução Tavaredense - 12

No ano de 1925, dá-se uma situação pouco vulgar. As duas colectividades locais apresentam, em simultâneo, operetas de autores figueirenses. A Sociedade de Instrução leva à cena “Em busca da Lúcia-Lima”, opereta em 3 actos, escrita por João Gaspar de Lemos Amorim e musicada por António Maria de Oliveira Simões.
O Grupo Musical e de Instrução representa “Ninotte”, também uma opereta em 3 actos, da autoria de António Amargo, com música de Eduardo Pinto de Almeida. Como breve apontamento, referimos que a grande figura da secção dramática do Grupo era Violinda Nunes Medina, “... que nos surpreendeu pela facilidade com que resolve as dificuldades cénicas e nos encantou pela forma correctíssima como cantou os números do seu papel, que requerem um “à vontade” que só uma boa amadora pode conseguir, sem defeitos”.
“Em busca da Lúcia-Lima está escrita com graça, com beleza, aqui e ali com um pitoresco feliz”. O autor situou a acção dos primeiro e terceiro actos em Tavarede e o segundo na longínqua China. Quanto à música “uma partitura soberba, feliz na inspiração e na beleza da orquestração, em números originais tão perfeitos como apropriada é a adaptação dos coordenados”.

Com esta peça, surgiram valores que se distinguiram na cena tavaredense. Além dos consagrados irmãos Broeiros e António Graça, um novo amador se revelou: João da Silva Cascão. Tornar-se-ia no “grande senhor” do grupo da Sociedade de Instrução, durante várias décadas, em que protagonizou e criou figuras verdadeiramente extraordinárias. No grupo das amadores, tomam os primeiros lugares, Maria Teresa de Oliveira, as irmãs Virgínia e Emília Monteiro, Idalina Fernandes e outras.
Em Junho de 1925, acedendo a um pedido da Santa Casa da Misericórdia, da Figueira, representam esta opereta no Parque-Cine. Vejamos, muito resumidamente, as opiniões dos jornais figueirenses de então. Para a “Voz da Justiça”, é “... uma linda opereta com todas as condições de agrado..... está escrita com graça, com beleza, aqui e ali com um pitoresco feliz”. A “Gazeta da Figueira”, depois de referir que o espectáculo satisfez, acrescenta “o Parque não tinha poiso vago. De galerias, balcão, camarotes, frisas, descia uma bicha humana que alastrava pela plateia. E toda a gente quer pontuando com salvas quentes de palmas, a maior parte dos coros...... numa chamada ao proscénio vibrante de sinceridade – claramente demonstrou o seu agrado”. Quanto à peça, escreve a seguir “numa opereta, vulgarmente, há apenas um motivo ligeiro, um fio leve de entrecho, para se fazer ouvir música. “Em busca da Lúcia-Lima”, tem mais que isso, tem seu enredo, começo, meio, fim, tudo afinado e certo”.
Mas, o crítico de “O Figueirense” não afinou pelo mesmo diapasão. “A peça vive dum disparate carnavalesco e quase todo o seu enredo é um disparate completo. Não é admissível, nem mesmo em teatro, que um anúncio carnavalesco publicado num jornal de província, trouxesse a Tavarede, e de aeroplano, dois comerciantes brasileiros, que se faziam acompanhar dum “muléque”, para verem uma mulher, que o já referido anúncio dizia ser formosa... Como se no Brasil não houvesse mulheres bonitas...” Um pouco à frente continua “... e para rematar as minhas considerações acerca da peça, devo dizer que era perfeitamente dispensável a pornografia que a esmalta, que para mais nada serve senão para gáudio da gente ignorante que gosta sempre de ouvir porcarias...”.
Confessamos, muito sinceramente, que já lemos a peça, até mais de uma vez, e não encontrámos uma palavra, sequer, que nos faça entender aquele comentário!


Mas, quanto à música e montagem, todos os críticos foram unâmimes. Muito bem! E terminamos os comentários a esta récita com o que escreveu aquele crítico da pornografia, quanto ao trabalho do ensaiador, José Ribeiro. “Só quem sabe o que é ensaiar amadores, sejam de que arte forem, é que pode avaliar o trabalhão que ele teve para fazer representar a opereta Em busca da Lúcia-Lima, como ela foi apresentada. Boas marcas e muita ordem na entrada e saída dos diversos personagens. Se tivesse duas mulheres que cantassem bem, e um rapaz que tivesse boa figura e boa voz, o sr. José Ribeiro podia abalançar-se a representar operetas, já não digo de autores consagrados, mas peças escritas com ordem e que um público ilustrado ouvisse com agrado, porque tem jeito para ensaiar e sabe disciplinar a sua gente”.

Fotos: 1 - Cenário do 2º. acto de 'Em busca da Lúcia Lima'; 2 - Gaspar de Lemos, autor do texto; 3 - António Simões - autor da música.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Cultura - Arte Menor

Do Exmo. Sr. Vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz, dr. António Tavares, recebi, há já alguns dias, um mail onde se refere a um comentário que inseri neste blogue, no dia 21 de Novembro do ano passado, acerca de uma entrevista concedida e publicada num jornal figueirense.
Na verdade, reconheço-o, uma notícia com afirmações descontextualizadas, conduz, na maior parte das vezes, a interpretações que, por vezes, são menos verdadeiras. Foi o que aconteceu neste caso. No entanto, e certamente que o senhor Vereador concordará comigo, a notícia, tal como foi publicada, não poderia deixar de causar alguma tristeza àqueles que, como eu, desde sempre procuraram dar o seu melhor em prol das associações de cultura popular e recreio. Tenho acompanhado as pequenas notícias publicadas na imprensa local sobre as 'sessões solenes' comemorativas dos aniversários das colectividades e, efectivamente, do que tenho lido, depreendo que as intervenções do senhor Vereador da Cultura, têm sido no sentido precisamente contrário ao depreendido daquela entrevista.
Aceito que tenha sido injusto no meu comentário. Ainda bem. E, já agora, aproveito para solicitar ao senhor Vereador dr. António Tavares, a possível colaboração com estas associações populares. Cada vez mais me parecem indispensáveis e úteis. Mas, se não tiverem apoios e incitamentos oficiais, com muita dificuldade poderão prosseguir nas suas múltiplas actividades. E noto, igualmente, que, como V.Exa. disse, não há falta de mocidade interessada mas, sim, falta de dirigentes, dispostos a sacrificar um pouco da sua vida particular. Talvez a iniciativa anunciada pelo senhor Vereador numa das últimas sessões solenes, quanto ao dirigismo associativo, seja uma medida bem recebida e frutificante. Por mim, confesso, tenho imensa mágoa de não ter saúde que me permita continuar a dedicar-me ao Associativismo, como o fiz durante tantos anos, com imenso prazer e proveito próprio, pois muito do que sou e do que sei, o devo às Colectividades da minha terra.
Permito-me transcrever o mail recebido e, espero ter esclarecido uma situação devida, precisamente, à minha dedicação ao Associativismo.
Exmº Senhor
Um amigo avisado fez-me chegar o texto que V. Exª inseriu no seu blog a propósito de intervenções por mim feitas num debate organizado pelo Casino da FIgueira da Foz sobre as dificuldades de levar por diante projectos culturais pelas autarquias. Antes de mais, devo dizer-lhe que as minhas afirmações estão desenquadradas do contexto em que as proferi. Nada pior do que comentar afirmações descontextualizadas. Na verdade, limitei-me a constatar e a lamentar o facto de uma boa parte do meu tempo estar coartado por outras funções. Muito gostaria, e disse-o, de apenas ter como pelouro a cultura para poder ter uma entrega total a esta função. Lamentavelmente isto não é possível, mas eu sou o primeiro a lamentá-lo. Em relação às minhas declarações sobre o teatro na Figueira lamento ter de dizer o que disse mas é o que penso. V. Exª pensará o contrário mas cada um pensa como quiser. Devo, no entanto, dizer-lhe que mais uma vez interpretou mal o que eu disse. Obviamente que a minha abordagem se referia à actividade teatral no concelho em geral. Sei que existem excepções e a SIT é uma delas, mas reputo a declaração como válida numa análise geral. Desde o início do anos 80 que acompanho o teatro amador na Figueira, fui animador de teatro escolar durante mais de uma década, e participei em muitas edições das jornadas. Sei do que falo. Ao nível dos reportórios e dos géneros, da estética ligada à encenação e do trabalho de actor, o nosso teatro está, na generalidade e na esmagadora maioria dos casos, ultrapassado. Este afecto é indesmentível. Já agora devo dizer-lhe que o Lions Clube pensa exactamente o mesmo que eu. Enfim, resta-me esperar que estes esclarecimentos reponham a injustiça que me faz no seu texto. Com os mais respeitosos cumprimentos. António Tavares