segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

João Rodrigues Medina

O meu primo João Medina é um dos mais antigos amadores do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense ainda vivos, felizmente. Embora retirado do palco, a última vez que representou foi na peça "Marcha do Centenário", em 2004, onde reviveu o papel do 'pai Malafaia, que já havia representado, trinta anos antes, ao lado da inesquecível Violinda Medina.


Começou a representar no ano de 1948, julgo que num espectáculo intitulado 'Noite de Teatro Português', como participante na peça 'Entre Giestas'. A partir de então nunca mais parou. Pelos meus apontamentos (falíveis) representou 108 personagens, nalgumas dezenas de peças.

Será dificil, mesmo para ele, destacar quais as suas melhores e mais bem sucedidas criações. "... Naqueles tempos já distantes (em 1948), era normal os rapazes e as raparigas da minha idade começarem a fazer parte dos elencos teatrais da SIT. Coneçávamos como meros figurantes, cantávamos nos coros, numa ou noutra peça, e conforme o jeito que Mestre José Ribeiro descobria em nós, lá nos dava um pequenino papel, com meia dúzia de falas... Era o rastilho! Começávamos a sentir a responsabilidade de pisar o palco, de representar ao lado daquele extraordinário grupo que, durante tantos anos, formaram um conjunto bem raro em grupos de amadores, e com eles aprendemos a falar, a gesticular e, sobretudo, a ouvir. Era uma honra para nós, rapaziada ainda quase imberbe, estar no mesmo palco em que estavam Violinda Medina, minha saudosa prima, Maria Teresa de Oliveira, João Cascão, António Graça, Fernando Reis, António Jorge, João de Oliveira Júnior e tantos mais. Que me desculpe a memória dos muitos outros que não recordo, mas foram muitos, foram muitos, elas e eles, que acompanhei ao longo de toda a minha carreira teatral e que, com o seu exemplo, tanto me ensinaram, sempre com a melhor amizade e boa vontade...". (retirado do depoimento que escreveu para o livro do centenário da SIT).


Mestre José Ribeiro encontrou no João Medina uma verdadeira aptidão para papéis de composição. Seria hereditário... Mestre José Ribeiro já havia ensaiado seu avô, José Medina, de quem referiu ser "um amador dotado de excepcionais faculdades histriónicas, cómico de grande naturalidade e que no drama se impunha pelo vigor e verdade da sua representação". Tinha a quem sair, não haja dúvidas. Aliás, e da sua família, muitas e muitos foram os amadores que se distinguiram na representação teatral. Temos o exemplo de seu irmão, José, que ainda hoje é dos principais elementos daquele grupo cénico.


No ano de 1998, comemorando os seus 50 anos de actividade teatral, a Sociedade de Instrução Tavaredense prestou-lhe uma justíssima homenagem. Eis um breve comentário da imprensa figueirense: "Podemos dizer que o ponto alto da sessão solene do 94o aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, (ocorrida na tarde do dia 21) foi atingido com a homenagem a um dos seus mais dedicados amadores a pisar palco, sem desfalecimentos, vai para 50 anos: João Medina, o barbeiro-artista da terra do limonete.
Efectivamente, a emoção do momento contagiou tudo e todos, e o próprio amador não resistiu a ela, deixando brotar ao canto do olho a lágrima de quem vive e sente a arte de Talma com aquela humildade que lhe conhecemos... ... Posteriormente, a directora cénica Ilda Simões, disse algumas palavras sobre a récita apresentada anteriormente, assim como sobre o grande amador teatral, João Medina, distinguido nesta sessão.

Também o Lion Clube da Figueira da Foz lhe prestou homenagem: "... Assim, o que era, tradicionalmente, um circunspecto acto transformou-se numa festa em honra do teatro e da solidariedade, com diversas gerações a marcarem consoladora presença, não regateando aplausos tanto aos que serviram sob a bandeira de modestas colectividades como aos que se guindaram aos pináculos da fama, como é o caso de Eunice Muñoz e Rui de Carvalho.
E foi assim que Jorge Bracourt (Caras Direitas), João Medina (Sociedade de Instrução Tavaredense) e Alfredo Cardoso (Troupe Recreativa Brenhense) puderam constatar que não foi em vão que se dedicaram de alma e coração à mais humana das formas de arte, quando tiveram a honra de receber as Medalhas de Mérito com que foram agraciados pela Câmara, das mãos de Eunice…., sem qualquer vislumbre de representação, encheram de emoção e beleza a sala do Casino na forma como se identificaram como “amadores teatrais”.

Muito mais haveria a contar sobre este excepcional amador dramático. Mas, hoje, ficamos por aqui. Recordamos somente um pequenino apontamento escrito sobre a sessão solene em que foi homenageado pela SIT:

"Para exaltar o amor que há 50 anos João Medina dedica ao teatro e aproveitar o sucesso da sua interpretação modelar em “A Forja” representada na véspera (30 anos depois de a ter representado pela mão dessa saudade, sempre presente que foi Mestre José Ribeiro) para lhe prestar comovente homenagem bem expressa na “placa de prata” da SIT a que a Junta de Freguesia se associou com uma “salva de prata” e os familiares com um quadro alusivo à sua passagem pelo palco, a drª Ilda Manuela aproveitou a oportunidade – saudada de pé pelo público ao som do hino da colectividade pela Tuna – para transmitir aquele nobre exemplo aos muitos acomodados que hoje põem em risco a continuidade do teatro em Tavarede com o seu alheamento e críticas".

E mais um retalho sobre a homenagem do Lions de Santa Catarina:

" João Medina –cidadão figueirense/99 – Celso Morais, responsável pela direcção da sessão, deu então conhecimento da escolha de João Medina, essa dedicação de meio século à causa do teatro, para a distinção de Cidadão Figueirense/99 com que o Clube honra, anualmente, aqueles que se evidenciam na nossa comunidade, traçando o percurso daquele “homem que trata o teatro por tu” e fez do palco da S.I.Tavaredense “a universidade da sua vida”, em que representou mais de sessenta peças.
E foi com indisfarçável emoção que João Medina recebeu a “Placa de Cidadão Figueirense” afirmando no acto de agradecê-la que “eu é que muito devo ao teatro, o teatro nada me deve!”. E depois de associar à homenagem a figura inesquecível de Mestre José Ribeiro, disse ainda que “o teatro tem sido a razão da minha vida”, razão por que “gostaria de continuar a representar até ao fim da vida”, deixando como desabafo aos presentes que “o teatro é uma mensagem de amor!”.
Associando-se à homenagem o grupo cénico de Tavarede representou, no intervalo do jantar, excertos de peças onde João Medina havia alcançado grandes êxitos – Frei Luís de Sousa, A Forja, e uma comédia – numa actuação brilhante a constituir momento alto da sessão
.".
Fotos: 1 - No papel de Velho da Horta; 2 - Com José Luís do Nascimento, durante a homenagem prestada a estes amadores; 3 - A ser caracterizado por Mestre José Ribeiro, para uma peça de Shakespeare; 4 - Com seu irmão José, protagonistas da peça 'Monserrate'.

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