sábado, 23 de fevereiro de 2013

O Associativismo em Tavarede -


Novo Século...
Novo Associativismo...

 Paço de Tavarede - Sede da Estudantina Tavaredense
  
Nos inícios do século vinte, tudo aparentava que o associativismo estava definitivamente estabelecido em Tavarede. Com as duas associações em plena actividade, a Estudantina dedicada ao teatro e à música, e o Grupo de Instrução, com a seu grupo cénico e o seu grupo musical, que tinham como principal missão a angariação de fundos, através dos espectáculos que realizava, para o financiamento da sua escola nocturna, que funcionava com as suas duas aulas, principiantes e mais adiantados, completamente lotadas, cumpriam a preceito a missão para que tinham sido fundadas.

Em Fevereiro de 1901, e no seu teatro Duque de Saldanha, a Estudantina apresentou um programa carnavalesco com as comédias Valentes e Medrosos, Um noivo d’Alcanhões, a cena cómica Um alho júnior e o entreacto A questão musical.  Segundo a mesma notícia, na terça-feira de entrudo haveria baile na mesma sala, com os convidados a irem com trajos de costumes.

No mês seguinte, pela Serra-a-Velha, a Estudantina apresentou as mais uma vez o mesmo programa do carnaval. E pela Páscoa repetiram este espectáculo apresentando mais uma comédia, Um capitão de lanceiros. Também a tuna cumpriu uma tradição: saíu no domingo a cumprimentar diversas entidades, sócios e amigos. Entretanto, e comemorando o seu oitavo aniversário, esta colectividade realizou uma assembleia geral para aprovação das contas, tendo sido eleitos os novos corpos gerentes, ficando a nova direcção composta por Luiz João Rosa, presidente, José Maria Cordeiro Júnior, secretário, César da Silva Cascão, tesoureiro, e Gentil da Silva Ribeiro, vogal. Integrada no programa das comemorações, no domingo de Páscoa, teve lugar uma dança, que teve uma concorrência como poucas vezes ali temos visto, e à qual os rostos mais bonitos de muitas meninas deram sempre alegria e animação.

Também não queremos deixar de aqui recordar que o nosso conterrâneo António de Almeida Cruz foi, neste ano, para Lisboa, integrando-se na companhia de teatro do Trindade, onde teve a sua primeira actuação em Setembro, desempenhando o papel de Nicolau, na ópera-cómica Os sinos de Corneville, obtendo enorme êxito, que foi o princípio de uma carreira verdadeiramente extraordinária, como actor-cantor e empresário teatral.

É claro que, durante o verão, as colectividades saíam à rua, para o que organizavam festas ao ar livre, em pavilhões que instalavam nos principais largos da aldeia. No ano de 1901 foi escolhido o Largo do Paço. Eis uma pequena nota sobre esta festa. A noite de sabbado e a tarde de domingo últimos, foram de verdadeira folia para os rapazes e raparigas, que durante longas horas se fartaram de dar á perna no Largo do Paço.
Isto de fixar horas em divertimentos d’aquella natureza, é sempre querer ser-se mais papista que o papa. Falamos assim porque, dizendo nós que a dança começaria ás 10 horas da noite, ella só principiou a funccionar perto da meia-noite, hora a que abrandou mais a furiosa nortada que tinha soprado até ali, e que impedira que se fizesse a illuminação á hora annunciada. Dansou-se até perto das 4 horas da manhã, quando o dia rompia com os seus primeiros clarões auroriaes.
Na tarde de domingo vieram aqui algumas pessoas d’essa cidade, que, gosando não só o agradável passeio, manducaram bellas merendas e famosos petiscos, viram (aquellas que chegaram pelas 5 horas) as corridas de prémios, e, além d’isto, tiveram occasião de admirar depois, ás 6, o rancho de bonitas raparigas e sympathicos rapazes que até ás 9 horas da noite deu folgas á mocidade. E sabe Deus quantas palavrinhas doces sahiram de muitos lábios apaixonados que la havia, quanto prazer não sentiriam tantos pares que se estreitavam com ternura n’aquella massa de seres cheios de amor e de vida!...
É que n’aquella edade e n’aquelles momentos nada se sente. Todas as almas trasbordam de felicidade e toda a existência sorri repleta das venturosas esperanças! E assim é que para os corpos moços d’hoje, a dansa é a única distracção que os satisfaz para gosar e que lhes deixa sempre mais ou menos recordações saudosas. Por isso, com os louvores que rapazes e raparigas teceram aos promotores d’aquella festa, vão também misturados os nossos, porque, com a sua realisação, quebraram por algumas horas a monotonia que aqui se nota continuamente.

Foi, com certa surpresa,  que não encontrámos qualquer notícia sobre os tradicionais espectáculos natalícios, pois o Presépio e Os Reis Magos foram substituídos pelas comédias Cada doido…, Uma experiência, O cornetim do meu vizinho e O capitão de lanceiros. Isto na Estudantina.

Por sua vez, o Grupo de Instrução não comemorou o carnaval com qualquer espectáculo, pois os alunos da sua escola nocturna andavam a preparar a festa comemorativa do terceiro aniversário daquela escola. Este teve lugar no dia 23 de Fevereiro de 1902. “Como tem noticiado o nosso correspondente daquela localidade, realiza-se efectivamente amanhã o sarau comemorativo do 3o aniversário da Escola Nocturna dali, e cujo programa constará do seguinte: Hino da Escola Nocturna - composição de G. Ribeiro; República das Letras, comédia em 1 acto, de F. Palha; Surpresa, valsa característica de Simões Barbas; O casamento do Alto Vareta, comédia de costumes em 1 acto, de P. de Alcântara Chaves; Tavarede, mazurka de G. Ribeiro; Ça mord, intervalo para duas crianças; Uma gavotte; Bohemios, passo ordinário, de F. Lopes de Macedo; Luctas Civis, comédia em 1 acto, de Cesar de Sá; Hino da Escola Nocturna. O desempenho da parte dramática será exibido pelos alunos da escola referida, e a parte musical executada por um grupo de rapazes também de Tavarede. De tarde servir-se-á um jantar a todos os alunos daquela aula, para o qual têm sido generosamente oferecidos donativos por vários cavalheiros”.

Foi bastante apreciado este espectáculo. Temos uma reportagem muito grande sobre o mesmo, mas vamos apenas transcrever este pequeno recorte: “… Á noite, o espectáculo em que se executou o programa já conhecido dos leitores da Gazeta, teve uma concorrência extraordinária, não havendo disponível um único canto do teatro. É suspeita a minha apreciação sobre o desempenho das duas partes do reportório: dramática e musical. Mas tenho a fazer-lhes justiça e a falarem por mim as calorosas e entusiásticas ovações feitas aos pequenos debutantes da arte de Talma, e as salvas de palmas que coroavam o final de qualquer das peças musicais tocadas por um escolhido grupo de rapazes também de Tavarede.

Por aqui se vê o agrado da récita, e o que eu posso asseverar é que nunca nesta localidade houve festa teatral que mais sensação causasse, pela novidade dos actores e pela maneira correcta como se houveram. As salas, tanto a dos espectáculos como a da escola, estavam ornamentadas com festões de verdura, palmas, bandeiras, livros, escritas, etc. Na aula liam-se alguns trechos dos Lusíadas, copiados pelos alunos mais adiantados, e viam-se também distribuídos pelas paredes os nomes de vários cavalheiros que generosamente têm contribuido com donativos para aquela casa de instrução…”.

Integrado no Grupo Instrução Tavaredense, formou-se um novo grupo musical, sob a direcção de João Nunes da Silva Proa, que tinha a finalidade de abrilhantar diversas festas. A tuna do Bijou Tavaredense, a que pertenciam muitos elementos da Figueira, já tinha acabado, pelo que a maioria dos seus componentes aderiram à nova tuna. E a sua apresentação foi feita na missa conventual do domingo de Páscoa, realizando, à noite, um baile na sede da colectividade.

Pela Páscoa de 1902, como era costume, houve novo espectáculo no Grupo de Instrução, com a participação dos alunos da sua escola. Deve ter sido um espectáculo muito interessante e não resistimos a copiar uma notícia publicada sobre o mesmo. E aqui está uma pessoa há um pedaço a olhar os linguados do papel, a hesitar, sem saber com que os há-de encher. Procuro notícias, não vejo nada de merecimento que possa aproveitar-se; tudo uma pasmaceira insípida, comparada ao silêncio que a estas horas, 10 da noite, se nota lá fora, onde se não sente viva alma; tudo se enlaçou nos lânguidos braços de Morfeu, que nas aldeias os estende logo à noitinha para reparar as fadigas que cansam tantos corpos entregues pelo dia adiante à execução dos trabalhos agrícolas, umas vezes sob esse sol tórrido que nos abrasa e sufoca, outras expostos aos rigores do inverno que com as suas neves e frios ventos nos rasga as carnes sem dó nem compaixão.

O único assunto que se nos oferece para dele podermos dizer alguma coisa, é o relato do espectáculo dado no domingo de Páscoa pelos alunos da escola nocturna. Casa a trasbordar, com concorrência superior á da primeira récita efectuada outro dia pelos mesmos amadores. Às 9 horas da noite a orquestra executa o hino na escola, que é ouvido de pé, e em seguida sobe o pano; o palco oferece-nos uma vista agradável, similhando o pátio das casas do Izidoro Vaqueiro e de seu filho Gregório, que naquele dia deve receber à face do altar a Margarida, uma das cachopas mais guapas do lugar, e para cuja festa os aldeãos preparam grande regalório. Abre-nos a comédia (Casamento do filho do Vaqueiro) com um coro de rapazes e raparigas da aldeia, e dali em diante temos por vezes em cena o pai Izidoro, a mãe Rosa, os padrinhos do casamento, e o noivo, que por sinal está pouco resolvido a ir à igreja, isto porque umas intrigas urdidas pelo tutor de Margarida lhe vêem pôr em dúvida o bom comportamento desta sua escolhida. Afinal, tudo se desvenda, averigua-se que são falsas as injúrias imputadas à pobre rapariga, e que lhe eram lançadas por conveniência do interesseiro tutor. E os noivos lá casam, cheios de prazer e satisfação. A comédia é do velho reportório e bastante conhecida, sendo já em tempos aqui representada. Mas o desempenho dado agora aos diferentes papéis por António Graça (Izidoro), Fernando Pereira (Rosa), Joaquim Terreiro (Gregório), Augusto Bertão (Margarida), António Broeiro (Fonseca), António Miguens e Jaime Broeiro nos padrinhos do casório, João da Graça (Zé das Bordoeiras) e ainda por outros tipos, foi muito mais correcto, segundo nos dizem, e isso lhes valeu os unânimes aplausos da plateia. As músicas, apesar dos poucos ensaios e de terem sido cantadas a medo, sairam muito regularmente. E acabou-se o 1o acto.

No segundo representa-se a comédia Republica das Letras, em que toda a petizada trabalha, e que pela segunda vez se pôs em cena. Os nóveis actores fizeram o que puderam, e os espectadores aplaudiram-nos com entusiasmo. Neste intervalo, o sr. Luiz Pinto, um simpático amador dessa cidade, recitou com certa correcção o monólogo dramático O Piloto, e a poesia Quando eu morrer. Luiz Pinto colheu bastas palmas da plateia Seguiram-se as comédias Casamento do Alto Vareta e Lutas civis, cujo desempenho não desmereceu em nada a boa interpretação que os diferentes personagens deram aos seus papéis no espectáculo em que debutaram. Na primeira destas comédias temos a sobressair Joaquim Terreiro no seu papel de Maria das Dores, João de Oliveíra no Alto Vareta, Fernando Pereira na pretenciosa Joana, António Broeiro no João (cabo de esquadra) e Jaime no surdo mestre Joaquim; os outros rapazes não desmancham o conjunto, dando por isso lugar que às situações mais engraçadas da peça se imprimisse bastante relevo.

Nas Lutas Civis, comédia drama cuja acção se passa nos arredores de Coimbra, dá-nos Fernando Pereira um tipo original de criado de moinho, a quem só dá prazer o pouco trabalho, e que tem por lema fazer no outro dia aquilo que não se fizer em dia de Santa Maria... Joaquim Terreiro, um dos pequenos que mais aptidões cénicas revela, disse muito bem o seu papel de Maria, filha do pobre veterano Jácome, a que João de Oliveira dá certa naturalidade, conquanto o género deste papel não seja o que mais lhe está a carácter. Os outros personagens também se sairam muito regularmente.

Eis, em massadoras linhas, a nossa opinião sobre a parte dramática do espectáculo. A parte musical, executada por um grupo de rapazes daqui, foi ouvida com agrado geral, sendo feliz a escolha das músicas que formavam o programa, e que alcançaram dos assistentes várias salvas de palmas, especialmente Una broma, jota lindíssima de Simões Barbas, e a mazurka Succés, de Backman, que foram tocadas com mimo e gosto pouco vulgares nos grupos musicais desta minha terra. Eram festas teatrais assim que desejariamos ver realizar frequentes vezes, mas é certo que a boa vontade que as leva a efeito também é gasta por muitos dissabores que se recebem durante a luta... Isto, infelizmente, é uma triste verdade... E ponto neste assunto.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Associativismo em Tavarede - 10




Estandarte do Grupo de Instrução Tavaredense

          O estandarte do Grupo de Instrução foi inaugurado no domingo de Pascoela, tendo sido benzido à missa solene. “É nos dificil fazer uma apreciação exacta do valor que possui aquela rica obra de arte, a que a exma. srª. D. Rita Jardim, sua bordadora, e o sr. Francisco Gil, seu desenhador, souberam imprimir um cunho altamente artístico, de magnífico trabalho e de inexcidivel beleza. A bandeira, de fina seda, de um lado cor de grenat e do outro verde-mar, tem ao centro daquela face um lindo emblema simbolizando a instrução, bordado a ouro, prata e matiz, e ao centro desta uma elegante lira toda bordada a prata, ao cimo da qual brilha a figura do sol, expandindo aurifulgentes raios de oiro. A franja é toda de prata, as fitas de seda e moirée, e a haste é uma pinha toda dourada. (não foi possível, devido ao seu estado, fotografar o verso do estandarte)

         Em suma, aquele estandarte é um distinto trabalho que demonstra ser feito por artistas de verdadeiro mérito, há muito evidenciado por tantos outros justamente apreciados por quem melhor do que nós sabe avaliar o merecimento de tão delicados serviços. Se o sr. Francisco Gil se esmerou em traçar um desenho simples mas muito significativo, a exma. srª. D. Rita Jardim ainda mais se esmerou interpretando belamente a ideia daquele ilustre professor, e produzindo assim uma bordadura primorosa que realça excelentemente no meio das lindíssimas cores da seda da bandeira. Honra lhes seja”. Acrescentemos, desde já, que este estandarte acabou por servir à Sociedade de Instrução Tavaredense até ao ano de 1927.

         Referimos atrás que não existia rivalidade entre as colectividades tavaredenses. Eis uma notícia que o confirma. “Na tarde do último domingo assistimos a uma das festas mais simpáticas que aqui temos presenciado.O novel Grupo Instrução Tavaredense foi cumprimentar a Estudantina, sociedade sua congénere, e a recepção afectuosa e cativante feita àquele grupo foi de todo o ponto muito honrosa para as duas corporações musicais. Agradeceu a amavel visita o director e regente da Estudantina, Gentil Ribeiro.

         O Grupo Instrução executou com muito agrado dos ouvintes uma sinfonia e algumas valsas muito bonitas, pelo que grangeou gerais aplausos.     Seguiu-se-lhe um abundante copo de água e, entre a alegria e prazer que enchia todos os corações, eram lançados calorosos vivas ao Grupo Instrução, á Estudantina, a Tavarede, etc.   O grupo visitante tocou ainda o seu hino, e durante esse tempo foram cruzados os estandartes das duas sociedades. Devemos confessar que, de toda a festa, foi este quadro o mais tocante e o que mais nos impressionou, por encerrar em si um mito de tudo quanto é admirável, sublime e honroso para uma população pequenina como é a nossa: a união fraternal de ambas as sociedades, mais uma vez assim evidenciada, e a demonstração da amizade que, com os seus sagrados laços, une todos os rapazes.    

E é assim que deve ser. Isto é um grande exemplo para outras terras em que os espíritos se não congregam para seguir o caminho da paz e união. Por isso os nossos patrícios compreendem bem o quanto é mais digno reinar entre si a franca amizade, desprezando os caprichos e questiúnculas fomentadas por cérebros rudes e pequeninos, que só provam o seu atraso moral e intelectual.       Nestes termos falou na ocasião o sócio da Estudantina, António de Almeida Cruz, o qual, depois de proferir o seu belo improviso, recebeu uma veemente salva de palmas. E nós, appoiando-o também daqui, apoiamos com mais ardor as suas últimas e vibrantes frases, que incitavam os sócios dos dois grupos ali reunidos a continuarem a estudar e a avançar no seu caminho, que é o da civilisação, do progresso e da fraternidade!

         Oxalá ele fosse imitado pelos rapazes doutras terras mais populosas e mais importantes do concelho da Figueira. Orgulhamo-nos de dizer isto, creiam-no. O Grupo Instrução retirou depois, sendo acompanhado até à sua aula pelos sócios da Estudantina. Ali foi também servido a estes um delicado copo de água, com o qual, e entre alguns vivas, terminou a simpática festa de domingo”.

         Prosseguiam os espectáculos. Não interessa registar todas as notícias, mas não resistimos a transcrever mais esta, especialmente para deixar registo de alguns amadores. “Apesar das fortes e persistentes bátegas de água com que a noite de sábado passado se dignou mimosear-nos, o teatro do nosso bom amigo sr. João dos Santos bem depressa se encheu de espectadores, que ali iam assistir à récita anunciada para aquele dia e promovida pelo Grupo Instrução Tavaredense. A primeira parte do espectáculo foi preenchida pelo grupo musical, que executou o seu hino, um bonito ordinário e a valsa Riso e Assobio. Esta música, como originalidade pouco conhecida aqui, despertou da plateia muitas gargalhadas. Nesta ocasião a exma. srª D. Maria Águas Ferreira ofereceu ao Grupo uma linda e valiosa fita de seda, colocando-a no estandarte da mesma colectividade.


         Seguiu-se a representação da comédia Aflicções d’um perdigoto, cujo desempenho foi confiado ás meninas Felismina e Leontina, e a Santos Júnior e José Augusto. Os espectadores manifestaram o seu agrado, palmeando-os com frenesi. Do entre-acto Mano João sairam-se sofrivelmente Santos Júnior e José Augusto. Fechou o espectáculo a velha e aplaudida comédia Por causa d’um algarismo. Nela tomaram parte, além de todos os amadores já acima mencionados, J. M. de Almeida Cruz, Manuel Tondela e J. Cordeiro Júnior. Os dois primeiros estavam bem nos seus papéis de Ambrósio, sacristão e de Colaço, confeiteiro. Felismina, Leontina, J. Augusto e J. Cordeiro, ainda que formassem sempre um razoável conjunto, são ainda novatos na dificil arte de Talma e necessitam de mais um pouco de prática e estudo, para poderem pisar o palco com uma certa confiança em si próprios. Ainda assim, são dignos de todos os elogios, e muito os felicitamos por verem que as suas canseiras têm sido sempre coroadas dos mais expontâneos aplausos. Ao terminar esta comédia foram atirados para o proscénio alguns bouquets, havendo também chamadas especiais de envolta com ardentes salvas de palmas. E assim se passou a noite de sábado”.

Achámos alguma piada ao acontecido à tuna do Grupo Instrução Tavaredense que, tal como a tuna da Estudantina, se deslocou a Montemor-o-Velho para abrilhantar os festejos em honra da Senhora do Desterro. “…O melhor, porém, de tudo e o que mais agradou de toda a festa pela graça que todos lhe acharam, foi que, quando à tarde, as raparigas do "Beira Alta" se achavam na praça divertindo-nos com as suas danças cheias de vivacidade, ao som das suaves harmonias do "Grupo Instrução Tavaredense", eis que de repente são surpreendidas por uma fanfarra da Ereira, regida pelo nosso amigo o sr. Henrique Fernandes Duarte, a qual, rompendo por ali dentro, seguida por um rancho do mesmo lugar, em breve ficou senhora de todo o campo. Cheguei, vi e venci. Foi a sorte que coube ao sr. Fernandes Duarte, que assim que chegou, logo derrotou e pôs tudo a um canto, devido ao mimo e grande gosto com que os seus músicos tocavam. Com efeito! Por mais esforços que os tunos de Tavarede fizessem por se ouvir, nunca o conseguiram nem conseguiriam ainda mesmo que rebentassem as cordas dos instrumentos”. Realmente teve piada e acrescentamos que, nesse ano, também a Estudantina ali foi tocar no mesmo dia.

E o século dezanove terminou com a representação do ‘Presépio’ pelo grupo da Estudantina. Mantinha-se uma tradição de muitas décadas. E, tudo o indicava, o Associativismo estava definitivamente enraizado na terra do limonete. As duas associações encontravam-se em plena actividade. Eram frequentes os espectáculos teatrais e as suas tunas desejadas em muitas festas em diversas terras.


Presépio no Grupo M.I. Tavaredense

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Associativismo em Tavarede - 9


        A Estudantina Tavaredense igualmente continuava bastante activa, muito em especial a sua tuna. Várias são as notícias com saídas, não só para cumprimentos aos seus sócios e amigos beneméritos, principalmente em dias festivos, como para participar em festas populares para que era convidada. Foi por esta ocasião que se iniciaram as visitas às termas da Amieira ou ao Buçaco, no dia de quinta-feira da Ascenção, tradição que se manteve até ao ano de 1939. Era seu regente Gentil da Silva Ribeiro.

         Começou a ganhar fama a tuna tavaredense. Os convites para actuações surgiam com frequência. Sabemos que a Estudantina Tavaredense foi há dias convidada pelo digno presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários dessa cidade para ir tocar nalguns domingos à Mata da Misericórdia. Apraz-nos registar esta agradável notícia, porque vemos nela o subido merecimento em que é tido um humilde grupo musical composto de rapazes que na sua maioria não conhecem os rudimentos musicais e que tem sabido grangear os aplausos de quantos o ouvem, pela maneira correcta como se apresenta. No entanto, não devemos ocultar que, para se obterem resultados tão satisfatórios, tem contribuido muitissimo o nosso amigo Gentil Ribeiro, regente da Estudantina, e um dos rapazes que aqui mais se tem evidenciado pelo reconhecido gosto musical de que é dotado.

         Igualmente o teatro singrava cheio de entusiasmo. Diremos, como exemplo, que a opereta O Rei Ló-Ló subiu à cena diversas vezes, sempre com  muito agrado, bem como diversas comédias, especialmente na velha Sociedade do Terreiro. Também devemos aqui referir que um dos elementos mais valiosos no grupo dramático da Estudantina foi António de Almeida Cruz, que, poucos anos depois, ingressaria no teatro profissional onde se tornaria das primeiras figuras masculinas, em especial em operetas, pois era possuidor de uma voz extraordinária.     


António de Almeida Cruz

Entretanto o teatro Bijou Tavaredense, certamente por divergências internas, acabou a sua actividade. De notar que, pelo que conseguimos apurar, esta colectividade nunca se chegou a legalizar oficialmente, não conseguindo nós obter fotografia do seu estandarte. Um grupo dos seus colaboradores resolveu, então, formar uma nova associação. Por acordo, instalou-se na Casa do Terreiro, cedida por João dos Santos. Deram-lhe o nome de Grupo de Instrução Tavaredense.

O primeiro espectáculo da nova colectividade foi em Janeiro de 1900. “Em Tavarede realizou-se no pretérito sábado um espectáculo pelo grupo dramático-musical que está instalado no teatro do sr. João dos Santos. A sala achava-se vistosamente ornamentada com grandes palmas e festões de verdura. Abriu-se o espectáculo com o hino do Grupo, tocado no palco pelos sócios executantes. Receberam muitas palmas e a João Proa, seu regente, foram oferecidos dois bouquets de flores. Executaram depois mais uma valsa, que também lhes mereceu muitos aplausos.    Representou-se a Espadelada, bela comédia de costumes populares, de um entrecho simples, como simplesmente agradáveis nos são as cenas que nela se desenvolvem, e a que todos os amadores souberam dar um razoável desempenho.

         J. Santos Júnior disse a cena cómica Atribulações dum correio, e seguidamente o Grupo musical executou uma pequena sinfonia e o seu hino. Fechou a récita com a velha e engraçada comédia José Canaia. Durante a sua representação os assistentes conservaram-se quase sempre em hilaridade.No final dos diferentes actos todos os amadores eram alvo de muitos aplausos, demonstrados pelas grandes salvas de palmas que ecoavam pela animada plateia, aonde estavam bastantes pessoas desta cidade. Em resumo: o programa bem escolhido e o desempenho muito regular, notando-se simplesmente nos rapazes e raparigas um pouco de acanhamento, que depressa desaparecerá se continuarem a passar tão louvavelmente as suas horas de ócio, recreando-nos assim com espectáculos agradáveis como o do último sábado”.

A actividade das duas colectividades manteve-se entusiástica, tanto no teatro como na música. E em Março de 1900, foram eleitos os primeiros directores do Grupo de Instrução Tavaredense. Foram eleitos, para a Direcção: João dos Santos Júnior, presidente; Manuel Rodrigues Tondela, secretário; e José Maria Cordeiro Júnior, tesoureiro. A escola nocturna tinha tido notável desenvolvendo, registando 57 alunos, entre adultos e menores.

         Também a Estudantina, comemorando o 7º. Aniversário, realizou uma sessão em que foram eleitos os seus corpos gerentes. Para a Assembleia Geral foi eleito presidente José Maria de Almeida Cruz, para a Direcção, Luís João Rosa, presidente, César Cascão, tesoureiro e Gentil Ribeiro, vogal.

A Páscoa daquele ano, a data foi festejada. “Não pode dizer-se que a Páscoa deste ano aqui passasse desapercebida. Pelo menos, de sábado de Aleluia até ontem, temos assistido a algumas diversões com que se pretendeu marcar entre nós aquela data tão memorável e sublime para a cristandade. No sábado, como outro dia anunciámos, houve no teatro do Grupo Instrução o espectáculo particular promovido pela mesma sociedade, abrindo-o o grupo musical que, sob a regência do nosso amigo João da Silva Proa, executou o seu hino, uma valsa e um ordinário, músicas estas que foram aplaudidas com fervor pelos espectadores que enchiam a plateia.         Se foi imponente a ovação patenteada a estes briosos rapazes, não menor foi a que receberam os personagens das comédias – Por causa d’um algarismo e José Canaia. As peripécias e ditos engraçados que as revestem e o regular desempenho que os amadores souberam dar aos seus papéis, tudo isso fez com que de instante a instante resoassem por toda a sala estrepitosas gargalhadas.

         Enfim, a noite passou-se ali muito agradavelmente, e todos os assistentes se retiraram bem impressionados. Ouvimos que há a ideia de em breve se dar uma outra récita no mesmo teatro.

 = Com toda a solenidade celebrou-se a procissão da Ressurreição pelas 8 horas da manhã de domingo. Ia muito numerosa. Em seguida rezou se a missa, sendo ouvido durante este acto religioso o Grupo Instrução, que executou as peças que já aqui anunciámos aos nossos bons leitores (sinfonia ‘A Negra’ e a valsa ‘O Brinco’). Este grupo conta estrear no próximo domingo o seu estandarte, que nos dizem ser um rico primor de arte, e irá novamente tocar à missa conventual. Depois cumprimentará os seus associados.

         = Saíu efectivamente na tarde do último domingo a Estudantina Tavaredense. Depois de ter feito aqui vários cumprimentos, foram os sócios desta agremiação tomar parte no baile que se realizou em casa do sr. Luiz Rosa, cavalheiro que em Tavarede é muito estimado. Ali reinou sempre extraordinária animação, vendo-se a sala repleta de simpáticas raparigas e alegres rapazes. Ontem repetiu-se a mesma distração, dançando-se animadamente até às 10 horas da noite”.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O Associativismo em Tavarede - 8


As primeiras associações - 4

           O Associativismo firmava-se na nossa freguesia. E num jornal de Maio de 1897, fomos surpreendidos com esta notícia: “No casal da Robala, pequena povoação nos aros da Figueira, inaugurou-se no domingo passado uma sociedade de recreio, constituida por alguns rapazes do sitio e desta cidade. A casa em que foi instalada a sociedade, achava-se lindamente ornamentada com verduras e flores. Dançou-se animadamente até à meia noite, reinando sempre a mais franca alegria entre os convidados e os organizadores da sociedade”. Tinha o nome de Sociedade de Recreio Robalense.

         Sabemos que em 1864 já se representava em Tavarede, pelo Natal, o ‘Presépio’. Era a peça favorita do velho Joaquim Águas. Julgamos oportuno, por isso, e até porque estes Autos foram representados primeiro em Tavarede do que na Figueira, transcrever uma nota descritiva, escrita pelo estudioso deste tema Armando Coimbra, que foi publicada na década trinta do século passado. Naqueles bons tempos em que nas velhas ruas da Figueira não cintilava ainda a luz eléctrica, em que se corria o risco de ser atropelado por algum transeunte noctívago mais apressado, nesses bons e recuados tempos da candeia de azeite e dos candeeiros de petróleo, a representação dos Autos Pastoris ou ‘Presépio’, como lhes chama o povo da Figueira, era ponto de reunião das veneráveis famílias figueirenses. Pobres e remediados, nobres e plebeus, todos esperavam com ansiedade o mês de Dezembro e a representação dos Autos, em que amadores populares punham à prova, exuberantemente, o seu talento cénico…
         … Ditosos tempos esses, em que as representações do Deus-Menino tinham um cunho de acentuada religiosidade e um vago perfume de crença que embalava a alma ingénua dos nossos avós. Perdeu-se a pouco e pouco essa característica religiosa que dominava as representações dos Autos, e até os armazéns em que elas se faziam, quási sempre ornamentados de venerandas teias de aranha, que, como fiéis espectadores ficavam esquecidas nos travejamentos duns anos para os outros, até esses cederam o lugar aos teatros, elegantes e modernos, profusamente iluminados a electricidade. O armazém, cardenho ou palheiro, iluminado a velas ou azeite, era o local cacterístico e preferido para as representações do Natal e Ano Bom. Escolhia-se sempre o mais vasto, para que pudesse conter o maior número de espectadores. Ornamentava-se todo com festões de plantas verdes (musgo, buxo, louro, azinho) e ao fundo improvisava-se o palco, também armado de buxo e louro com a competente gruta, onde se exibia a Virgem, o Menino Jesus, S. José, a vaquinha, etc., figuras do presépio, razão por que aos Autos Pastoris se lhes dá também aquele nome.
         Por detrás da lapinha, em segundo plano, um monte, pelo qual sobem e descem os zagais e zagalas e todo o cortejo de personagens que vêem em adoração ao Deus Menino a Belém entregar as suas oferendas de bolos, rosários de pinhões, cestinhas com queijos, cambos de cebolas e résteas de alhos, de mistura com apitos, chocalhos, etc., para o Menino brincar…
         … Na plateia, que em alguns armazéns não tinha a honra de ser assobradada, nos intervalos dos Autos saboreavam os nossos maiores os tradicionais filhós, acompanhados de bons nacos de torta doce, das Alhadas, e de uns copitos de vinho ou geropiga que cada um levava em garrafas e acomodava cuidadosamente junto de si…
         … O cenário dos Autos é o mais resumido que se possa imaginar e é único em toda a representação. Uma serra, ao fundo, de onde descem os romeiros, e no sopé, a meio da cena e entalhada na própria serra, a lapinha de Belém, onde jaz o Menino Jesus, cercado de figuras do presépio, perante o qual todos se prosternam em adoração. Esta lapinha está oculta por um taipal de madeira, que é corrido na altura própria por um cordel ou arame puxado dos bastidores.
         Passam romeiros, zagais e zagalas, devotos e todas as personagens dos autos de longada até Belém para verem o Messias recém-nascido, e o portal não revela a existência da lapinha ou gruta onde ele jaz. Depois de os figurantes terem passado e subido a encosta da serra até ao cume, à vista do público, é que o taipal é corrido, e a lapinha aparece à vista deslumbrada dos romeiros que, descida a encosta, entram de novo em cena…
         … O Sol, a Lua e a Noite tomam nos Autos forma humana, com indumentária própria e com os respectivos símbolos. Vem de amarelo o Sol, de branco a Lua, e a Noite traz vestido preto recamado de estrelas de papel prateado. Satanaz ou Lúcifer, tem indumentária especial. Fato vermelho inteiro, barbicha aguçada de bode, cabeleira ornada de vistosos chifres. Por sobre os ombros, envolvendo-o todo da cabeça aos pés, comprida capa negra, à espanhola. Todo ele é chama rubra e ardente, como cumpre ao Senhor Supremo dos Infernos.
         A sua entrada em cena tem qualquer coisa de patético e sobrenatural. Uma pancada seca e simultânea nos pratos e no bombo dentro da cena; uma chama vermelha que irrompe dos bastidores e envolve o ambiente de fumarada espessa; um alçapão que se abre a meio do palco, e eis sua excelência fazendo a sua aparição perante os espectadores assombrados e receosos dos seus malefícios infernais. Tudo isto se passa em segundos. O som cavo e surdo do bombo assemelha-se à trovoada longínqua… 

         Alongámo-nos um pouco nesta transcrição, mas não nos podemos esquecer que o ‘Presépio’ terá sido uma das peças mais representadas de sempre e que, como atrás se refere, era esperada com ansiedade pelos nossos antepassados.      Continuemos…


João dos Santos

Após o falecimento de João José da Costa, foi João dos Santos    , administrador da casa dos Condados e posteriormente seu herdeiro, conforme já referimos, quem tomou a direcção do grupo dramático instalado na Casa do Terreiro, que, pela herança, passou a pertencer-lhe. Em Novembro de 1898 deu o primeiro espectáculo. “Realizou-se no sábado à noite como noticiámos, no elegante teatro daquela povoação, o espectáculo por amadores promovido e ensaiado pelo sr. João dos Santos, subindo à scena o Rei-Ló-Ló, a engraçada opereta do nosso amigo Carlos de Almeida, a cançoneta U-lá-lá, e as velhas e aplaudidas comédias Para as eleições e Juiz eleito. Os rapazes amadores desempenharam a contento dos espectadores os papéis de que se encarregaram, no que foram secundados por algumas raparigas que, pisando pela primeira vez o palco, mostraram boas disposições, apesar do natural acanhamento que resulta a falta de prática. Das comédias a que mais agradou foi o Juiz eleito, onde nalgumas cenas os seus personagens souberam arrancar aos espectadores estrepitosas gargalhadas. No fim da cada acto houve chamadas especiais a alguns dos amadores, especialmente a José Medina. Ao espectáculo assistiram muitas famílias tanto de Tavarede como da Figueira. Que os modestos amadores não desanimem e progridam, são os nossos desejos, e felicitamos o sr. João dos Santos por ver coroados de bom êxito os esforços que empregou para a realização deste espectáculo”.

 
          Podemos dizer que, naqueles recuados tempos, não existia rivalidade entre as colectividades tavaredenses. Tanto dirigentes como amadores, actuavam e exerciam actividade em todas elas. Talvez por melhor apetrechado para o teatro, a Casa do Terreiro era onde se apresentavam mais espectáculos. Vejamos mais este apontamento de Fevereiro de 1899. “Como estava anunciado, realizou-se no sábado, no elegante teatro daquela povoação, o espectáculo pelo grupo de operários que ali funciona, com as aplaudidas comédias em 1 acto “Descasca milho”, “Perdão d’acto” e “Ceia amargurada”.

         Num dos intervalos, foi dita pelo sr. Medina, com a verve que lhe é peculiar, a cena cómica “Casar por uma burra”, escrita por um operário daquela terra. O assunto, apesar de já bastante “escorrido”, não deixou de agradar, devido sem dúvida ao desempenho correcto, que teve. Contudo, o autor não pôde dar mais e já fizera o que muitos não fariam. O “Descasca milho” foi desempenhado graciosamente por parte dos seus intérpretes. A engraçadíssima comédia “Perdão de acto”, ensaiada pelo ilustre advogado sr. dr. Cruz, atingiu o auge de naturalidade. Imagine-se uma casa de estudantes, boémios, onde não há livros, mas em compensação onde todos, os  cinco, desejam dinheiro, mulheres e vinho, e onde no final acabam por possuir essa trindade tão dificil de englobar, principalmente se o primeiro apêndice não aparece! Bastava só este, porque champanhe e viscondessas tão faltariam!

         A música, de que a comédia era ornada, duma suavidade graciosa, sem pretenções e cheia de um colorido pouco vulgar – conforme as situações – produziu um efeito magnífico quando cantada por aquele punhado de rapazes que tão bem compreenderam o seu autor, sr. J. Proa, filho do conhecido e hábil escultor do mesmo apelido. Na “Ceia amargurada” distinguiram-se duma maneira assáz brilhante, Medina, na cena de escárneo com Libório, o guarda nocturno. Este portou-se bem e conservou-se firme, até final, no seu difícil papel de gago, arrancando estridentes gargalhadas.  Santos e o criado concorreram para o agrado da comédia.

         Emfim, todos bem e isto sem dúvida devido à grande vontade e paciência dos ensaiadores srs. dr. Cruz e João dos Santos. Bem hajam! Num dos intervalos foi chamado ao palco o regente da orquestra, sendo-lhe nessa ocasião oferecido pelo autor destas linhas um lindo bouquet de flores naturais, em nome de alguns oficiais inferiores das baterias aqui aquartelladas e do sargento do 23 sr. Cardoso.
                                
Antes, porém, de findarmos esta mais que modesta notícia, não podemos deixar de louvar o sr. dr. Cruz, pelo facto deste mesmo cavalheiro abrir, para analfabetos, um curso nocturno pelo método do imortal poeta João de Deus, e, pela cedência da casa, o sr. João dos Santos. Ouvimos que só serão admitidos os associados do teatro. Parabéns a todos, desejando que estas festas, que tanto têm de simpáticas como de instrutivas, se repitam amiudadas vezes”. A escola nocturna, que se manteve em actividade ininterrupta até ao ano de 1942, teve um papel muito importante, quer na instrução dos tavaredenses quer no associativismo, como teremos oportunidade de referir alguns factos.


Dr. Manuel Gomes Cruz