quarta-feira, 30 de junho de 2010
João Carlos Oliveira Santos
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Reveles
"Foi no domingo passado a romaria da Senhora da Saúde, que se venera n’uma poetica ermida situada na encosta do monte de Revelles, à beira do nosso indolente Mondego. Esteve muito concorrida, e contra o costume dos outros annos, não houve d’esta vez a lamentar desordem alguma. De tarde viam-se numerosos ranchos de romeiros em alegres descantes". Foi publicado em Agosto de 1876.
Não temos lido, porém, alusão alguma a Reveles, donde se avista um dos mais belos panoramas do nosso distrito, o que atribuímos ao desconhecimento da existência desse recanto maravilhoso.
A viagem pode ser feita de automóvel por Santa Olaia, Ereira e Verride ou pelo caminho de ferro, cujo apeadeiro, que tem o seu nome, está situado muito próximo da localidade, e serve também Abrunheira e lugares circunvizinhos.
O lugar de Reveles, freguesia de Abrunheira, concelho de Montemor-o-Velho, era conhecido no século XII por Reebelles, e no século XV por Revelleis, foi habitado em tempos pré-históricos e durante a ocupação romana, como é comprovado pelos achados arquelógicos existentes no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, da Figueira.
A Igreja Matriz, restaurada em 1640, está edificada no picoto da povoação e do seu adro contempla-se uma área enorme e surpreendente, que abrange dezoito freguesias, em vários sentidos, a saber: Verride, Vila Nova da Barca, Montemor-o-Velho, Means, Carapinheira, Tentúgal, Gatões, Seixo. Liceia, Lavos, Paião, Vinha da Raínha, Abrunheira, Ferreira-a-Nova, Maiorca, Alqueidão, Alfarelos e Santo Varão.
De ali se avista também uma grande parte de Coimbra, as serras do Buçaco e da Lousã, o Outeiro de Santa Olaia, a Insua da Morraceira, a montanha de Degracias, a Linha de Torres, o Mondego e os ribeiros nas diversas evoluções por férteis campos de diversa cultura, extensos vinhedos e arrozais, marinhas de sal com os seus talhos demarcados geometricamente, e os montes revestidos de pinhais e de tapetes de vegetação em diversos cambiantes que o divino sol fornece, desde o verde esmeraldino até ao amarelo topázio, num cenário maravilhoso que nos extasia por longo tempo.
Do alto mar se avista a Igreja. Os marinheiros e pescadores buarquenses do século passado, repartiam as suas promessas pela Senhora da Encarnação da sua terra natal, e a Senhora do Ó (também conhecida pela Senhora da Expectação, do Porto ou da Esperança), em paga de milagres de salvamento em momentos aflitivos ou de uma pesca abundante.
A Senhora do Ó que, no dizer de Frei Agostinho, “é de peregrina escultura, e mediana estatura, em forma nazarena, mas em tudo admirável que atrai a si os corações de quantos nela põem os olhos”, foi raptada do seu altar há muitos anos, havendo quem afirme que a mesma imagem existe na Igreja de Santa Maria da Alcaçova de Montemor-o-Velho, o que é crível, pois Reveles “em tempos remotos pertenceu à freguesia de Nossa Senhora da Alcaçova”, segundo nos informa Pinho Leal.
Reveles possui também uma antiquíssima capela dedicada à Nossa Senhora da Saúde, que ainda hoje tem muitos devotos, e que ali vão em romaria anual no primeiro domingo de Agosto.
Teve em séculos idos uma feira franca com a duração de três dias do mês de Julho, que era muito frequentada.
São muito apreciadas as cerejas desta região com largo consumo em Coimbra e Figueira.
Dos muitos homens ilustres naturais de Reveles, recorda-nos agora os seguintes: - Os irmãos desembargadores de apelido Neves, os irmãos Caldas - um médico e outro advogado, José Luís Ferreira, lente de Física pela Universidade de Coimbra e pai da Viscondessa da Ponte da Barca, o dr. José Pinto Ramos, preceptor de D. Miguel, que comprometeu a sua grande fortuna pela causa legitimista e se suicidou lentamente com sucessivos jejuns, o dr. Elísio Freire de Abreu Pessoa, que possuía um solar no lugar de Peres-Alves, próximo de Reveles, etc.
Aos que desconheçam este miradoiro de tanta grandeza, recomendamos uma visita, na certeza antecipada de que darão por bem empregado o seu tempo.
Só pedimos que não reparem nas faltas de uma boa estrada e de luz eléctrica, apesar da feliz Abrunheira - a dois passos - possuir o benefício dessa boa iluminação.
Reveles está como certas mulheres esbeltas, que não conseguem atrair os homens, apesar da sua beleza, por não terem - Sorte".
Em 1757 tinha 257 fogos.
Orago Nossa Senhora do Ó (ou da Ezperactação, do Porto, ou da Esperança, pois com todos esses nomes é conhecido).
Bispado e distrito de Coimbra.
A mitra apresentava o vigário, que tinha 170$000 réis de rendimento.
É terra fertil, e freguezia muito antiga.
Em tempos remotos, pertencia à freguesia de Nossa Senhora da Alcáçova, da villa de Montemor-o-Velho.
A egreja matriz está situada no alto do monte, proximo à povoação de Reveles.
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A capela dedicada antigamente a Nossa Senhora a Velha, e, depois, a Nossa Senhora da Saude, é antiquissima, e consta que foi a primeira matriz da freguezia. Está situada ao pé de um monte, e junto ao Rio Mondego, a pouca distancia da quinta da Galêta, que foi dos jesuitas, de Coimbra.
Fica a ermida entre a freguezia de Reveles e a extinta de Peras-Alvas, e por isso tambem a denominavam Senhora de Reveles ou Senhora de Peras-Alvas.
Tambem fica perto da quinta da Alumieira, que foi dos cónegos de Santa Cruz, de Coimbra, e não muito distante da vila de Buarcos.
A imagem é de pedra, e de boa escultura, apesar da sua antiguidade. Tem um metro de altura.
A capela é de boa construção e ampla: tem altar-mor, e dous lateraes; sachristia e grande atrio. Está cercada de alpendres em volta, sustentados por colunas de pedra.
Faz-se a sua festa em dia de Sant’Ana, mãe de Nossa Senhora (a 30 de Julho). O rei lhe concedeu uma feira franca de trez dias, por tempo de cinco anos, na ocasião da festa; depois se lhe concedeu que fosse perpétua. Principiava no dia 26 de Julho, mas já há muitos anos que se não faz esta feira.
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A nova matriz principiou a edificar-se em 1638, e continuaram as obras até 1640.
Com a restauração, se deu mais desenvolvimento às obras e foi a egreja acrescentada. É um bom templo.
Do seu adro se vê o Oceano, a barra da Figueira, Buarcos, o rio Mondego e varias povoações. Vê-se o mar a grande distancia.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 24
Novo período começou na história do Grupo Musical. Em Outubro de 1931 terminaram as obras de adaptação das salas que o proprietário da Casa do Paço, sr. Marcelino Duarte Pinto, lhes cedera para a instalação da nova sede. “As instalações ficarão muito boas, permitindo a realização de festas que a esplêndida tuna do Grupo abrilhantará”, escreve-se numa notícia.
E foi nos dias 17 e 18 daquele mês que tiveram lugar as festas comemorativas do 20º aniversário da fundação da colectividade, que coincidiram “com a inauguração das suas novas instalações na casa do Paço”. “Um entusiasmo grande animou todos os números do programa, cuja execução, pode dizer-se, pôs Tavarede em festa, festa a que jubilosamente se associou toda a população tavaredense, com insignificantíssimas excepções.
O Grupo Musical entrou numa fase de desenvolvimento consciente, mostrando-se agora decidido a caminhar desembaraçadamente e com firmeza, escolhendo com decisão o caminho que quer seguir. Com um esforço enorme, admirável - e quando alguém poderia supor que o Grupo ia morrer ingloriamente e sem o conforto dos sacramentos da Igreja - os rapazes do Grupo Musical conseguiram já reorganizar a sua tuna, agora constituída com muitos e valiosos elementos, e instalar-se na nova sede.
Começaram as festas comemorativas no sábado à noite, com um baile. Uma enorme concorrência afluiu à sede do Grupo Musical, que tinha sido engalanada e apresentava um aspecto festivo. O baile realizou-se no salão, que se encheu de pares que dançaram animadamente até de madrugada ao som duma excelente orquestra”.
No domingo, a tuna fez a alvorada pelas ruas da povoação e, depois de um almoço de confraternização, teve lugar a sessão solene, “brilhante, sob todos os pontos de vista. Foram duas horas de alegria, de comoção e entusiasmo em que vibrou a população tavaredense, que enchia o salão”. Presidiu a esta sessão o dr. José Gomes Cruz e, além dele, usaram da palavra o dr. Manuel Gomes Cruz, sargento ajudante de artilharia Sanches, dr. Manuel Lontro Mariano, professor Rui Martins e José da Silva Ribeiro, encerrando-se a sessão “entre ovações calorosas e repetidos vivas ao povo de Tavarede e ao Grupo Musical”. As festas terminaram com o costumado baile.
Uma nova polémica, entretanto, estalou. Acabou o teatro no Grupo Musical mas, como sabemos, alguns amadores integraram-se na Sociedade de Instrução. Eis uma pequena amostra. “Tem sido bastante censurado o facto de vários amadores do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense, se prestarem a fazer parte do Grupo Cénico da Sociedade de Cima. É deveras lamentável tal atitude, que só revela o pouco amor associativo e a pouca consideração pelas lutas antagónicas de há 19 anos! E viva a fraternidade! Pois se Zé Medina revivesse seria o primeiro a apertar-lhe as... mãos e certamente a dizer-lhe muito obrigado...”.
É claro que tudo isto foi motivado pelo facto de muitos amadores não terem querido ficar integrados no Grémio Educativo. “… não há melhor testemunha que o jornal para tempos futuros. Por tal motivo, sou de parecer que os nomes desses cavalheiros, que se diziam “Grupistas”, e que a Sociedade era uma sombra má… e muito mais, que se lhes deparava a todo o momento, sejam publicados numa das suas correspondências, assim que eles aderirem à Sociedade, para que os tavaredenses que mourejam o pão de cada dia, longe da sua terra, façam um juízo desses “Grupistas ferrenhos”.
A polémica ainda continuou durante mais algum tempo. Acabaram por misturar colectividades e religião, mas, para a nossa história, já chega o que transcrevemos.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 23
Sabemos, por exemplo, que a casa teve que ser penhorada para liquidar o débito da metade da compra, pelo facto do sr. Manuel Jordão, sócio benemérito e protector, exigir o pagamento da dívida. Sabemos que no contrato da venda constava a condição de continuarem como arrendatários, mediante o pagamento de uma renda. Sabemos, também, que o adquirente do prédio, António Oliveira Lopes, director e dedicado elemento da colectividade, mal houve o atraso no pagamento da renda por dois ou três meses, ameaçou uma acção de despejo, ameaça concretizada cerca de meio ano depois. É do conhecimento de todos que logo que o Grupo Musical teve de deixar a casa e se transferiu para o Paço, o proprietário a vendeu à Diocese de Coimbra e sabemos, igualmente, que de imediato o padre Cruz Diniz tomou posse da casa e ali instalou, como pretendia, uma nova colectividade, o Grémio Educativo e de Instrução Tavaredense.
Nesta nova colectividade, que dispunha de todas as condições necessárias, continuou o teatro com alguns elementos que pertenciam ao grupo cénico do Grupo Musical, enquanto outros abandonaram o palco ou mudaram-se para a Sociedade de Instrução. E não menos curioso de tudo isto, relembramos que, depois de ter sido nomeado sócio benemérito e protector do Grupo Musical, o sr. Manuel da Silva Jordão, que lhes vendeu o edifício para a sede, em condições excepcionais, tendo-lhe sido prestada homenagem e descerrado o retrato, quando lhes exigiu o pagamento do débito, desconhecemos tudo além da carta que escreveu, foi riscado de sócio, por difamação, e retirado o retrato. Afinal, na célebre Assembleia Geral de 11 de Junho de 1930, ele foi um dos vários sócios que ofereceram ao Grupo as acções que detinham em seu nome. Eram vinte as que ainda possuía e que ofereceu, depreendendo-se que estaria presente naquela reunião.
Cada qual tirará as ilações que entenda. Mas ainda temos outras curiosidades. A imprensa, melhor dizendo, os correspondentes locais dos jornais figueirenses, acabaram por mudar de opinião, precisamente neste período. O “Figueirense”, que era como que o “porta-voz” local da colectividade, passou a ignorá-lo, a louvar e engrandecer o Grémio e atacar, com certa violência, quem se mudou para a Sociedade. A “Voz da Justiça”, que tantas polémicas teve para atacar o Grupo e seus directores, passou a elogiá-lo, de tal forma que foi nomeado sócio honorário. Aliás, é de referir que na sessão solene comemorativa do 20º aniversário, tomaram posse, como membros dos corpos gerentes, muitos elementos que até então eram exclusivos da Sociedade de Instrução.
Terminamos esta parte, que tão longa foi, com um recorte extraído do jornal “A Voz da Justiça”, datado de 15 de Agosto de 1931.
“Mais uma manobra do padre da freguesia, ajudado pelas duas ou três pessoas da terra que o acompanham, que falhou estrondosamente. Encaminhavam-se as coisas para que o padre, com 20 e tantos contos que para isso lhe entregavam – a Igreja é rica e dinheiro foi coisa que nunca faltou aos jesuítas – comprasse o edifício da sede do Grupo Musical, continuando este ali a servir de instrumento nas mãos do clericalismo. Descoberta a manobra, a assembleia geral do Grupo que se não deixou conduzir como imbecilmente supunham que era fácil conseguir, repeliu altivamente a manobra e abandonou a casa, mantendo a sua independência e colocando a descoberto e no seu lugar o padre e os sacristães.
A casa foi efectivamente comprada, e nele gastará o padre uns bons 30 contos – o que não é nada para quem de tanto dispõe – mas já não é possível qualquer equívoco porque toda a gente sabe para que aquilo vem a ser.
Ora assim é que é. Bem fez o Grupo Musical em desmascarar os embusteiros e livrar-se das suas garras”.
Não tiveram razão, no nosso entender. O Grupo Musical é que ficou a perder e a cultura em Tavarede acabou por ficar mais pobre.
Sociedade de Instrução Tavaredense - 28
No capítulo anterior, referimo-nos à prisão do director cénico, pela polícia política, deportando-o para Angra do Heroísmo, ali permanecendo detido cerca de um ano, do que se ressentiu a acção do grupo dramático, cuja actividade, em 1934, praticamente foi inexistente.
Também sabemos que, entre 1931 a 1933, haviam sido postas em cena, com geral agrado, três peças adaptadas dos popularíssimos romances de Julio Dinis. Numa carta, que então escreveu à amadora Violinda Medina, dizia a determinado passo: “..... Não me esqueço de nada nem de ninguém, não só porque a prisão dá tempo para pensar em tudo, mas também porque não sou atreito a esquecimentos. Estou convencido de que ainda este ano (escreveu em Janeiro de 1934) terei o prazer de ver a Violinda interpretando a minha nova opereta “Justiça de Sua Majestade”, que já comecei e a que vou dedicar-me com mais entusiasmo, embora as condições em que vivo não sejam favoráveis a estes trabalhos intelectuais...”.
A apresentação desta opereta no Porto, em Maio de 1935, foi um sucesso. O jornal “O Primeiro de Janeiro” escreveu que “..... a récita decorreu com entusiasmo e, por vezes, até com brilho mercê, principalmente, da peça representada e da segurança que mostraram no desempenho dos seus papeis os bons elementos que constituem o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense....”. Por sua vez, o crítico teatral do jornal “Povo do Norte” não poupou elogios aos tavaredenses. “... Há, no meio jornalístico profissional do Porto, a monomania de ligar pouca importância aos grupos de amadores teatrais da província. Ainda na última sexta-feira, num espectáculo que se realizou, no Teatro Sá da Bandeira, em benefício do Asilo de S. João, tivemos o ensejo de verificar esta lastimável verdade. Talvez porque se exibia ali um grupo de amadores de Tavarede, interessante aldeia vizinha da Figueira da Foz, não compareceu, naquele teatro, um único redactor dos diários portuenses a cumprir o dever de apreciar aquela tão simpática festa para, sobre ela, bem informar depois a curiosidade do público. E foi pena que assim acontecesse porque o espectáculo marcou, sem dúvida, uma nota artística digna de registo. Devemos confessar que nos surpreendeu o conjunto, que é mais harmónico que muitas companhias de profissionais que algumas vezes nos têm visitado”.
Mais adiante, acrescenta: “.... Não faltou o mais insignificante detalhe de observação nos cenários e guarda-roupa, confeccionados de acordo com as exigências da época. Notou-se nas mais pequeninas coisas que andou ali dedo de quem percebia de teatro... E só assim se compreende o êxito alcançado por um conjunto de amadores, filhos do povo e do trabalho, que nas horas vagas se dedicam àquele modo de se instruirem e civilizarem, em vez de fugirem para os centros maléficos do vício e do crime”.
Ainda no mesmo mês, o grupo deslocou-se a Coimbra, nos dias 13 e 14 para apresentarem, no Teatro Avenida e em espectáculos em benefício do Asilo da Infância Desvalida, obra extraordinária do Professor Doutor Elísio de Moura, as peças “Justiça de Sua Majestade” e “A Cigarra e a Formiga”. A crítica desfez-se em elogios, mas limitamo-nos a transcrever um pequeno retalho da notícia publicada no “Diário de Coimbra”:
“É um trabalho são, que bem merece ser exaltado, pela sua eficiência moral, desviando o povo nas suas horas de ócio, para uma obra de assistência, paralelamente à da instrução. Independentemente de constituir por todos um divertimento salutar, é ainda uma forma inteligente de dar vida a uma sociedade onde todos se educam. Quanto a nós, são estes os principais predicados dos grupos dramáticos. Particularmente, e objectivamente a este que acabamos de ver, manda a verdade que traduzamos o seu valor com esta afirmação: existem em Portugal muitos profissionais do teatro, que muito aprenderiam ingressando no grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Não pretendemos depois disto, ferir susceptibilidades, apontando nomes. Todos muito bem. Se é certo que podemos apontar alguns nomes que o público sentiu melhor, não é menos certo que isso se deve apenas à beleza dos papeis, e não ao valor pessoal dos seus intérpretes”.
Entretanto, a escola nocturna continuava a cumprir, plenamente, a sua missão. No relatório de 1935, a direcção escreveu: “Tem continuado a funcionar regularmente, tendo este ano uma frequência excepcional pois atingiu um número de alunos de perto dos oitenta, isto sem dúvida por estar encerrada a escola oficial desta freguesia. Temos feito tudo quanto é possível para os alojarmos o melhor possível, mas dada a exiguidade da nossa sala tivemos de transformar o bufete em sala de aula e mesmo assim temos tido dificuldade em os arrumar por forma a que o ensino possa ser profícuo”. Acrescentamos, como nota, que a escola oficial estava sem professor, e assim se manteve largos meses, devido a ter sido transferido para a Figueira o saudoso professor Rui Fernandes Martins que, até à sua morte, foi presidente da Assembleia Geral desta colectividade.
Sociedade de Instrução Tavaredense - 27
Pelas comemorações do 30º aniversário da colectividade, não houve teatro. Dessa vez, houve cinema. José da Silva Ribeiro havia sido preso pela polícia política. Durante as festas comemorativas, a colectividade decorou a sua sala de espectáculos com colchas e verduras, “destacando-se, ao fundo da plateia, o retrato do seu dedicadíssimo director da secção dramática”.
Diga-se, entretanto, que José Ribeiro, durante o tempo que esteve preso, no Porto e em Angra do Heroísmo, nos Açores, escreveu uma nova peça, no seguimento das que anteriormente se haviam levado à cena. De Júlio Dinis e da obra “Serões da Província”, fez uma adaptação do conto “Justiça de Sua Majestade”, tendo como colaboradores Alberto de Lacerda, que escreveu os versos, e dos maestros Raul Ferrão e Raul Portela e do amador António Simões, na música.
A actividade teatral parou, praticamente. Em 1934, apenas deram dois espectáculos, com reposição de peças já ensaiadas e representadas. A escola nocturna, no período escolar de 1933/1934 teve enorme frequência, chegando a atingir os 72 alunos matriculados. No relatório de 1935 e a este respeito, escreveu-se: “Tem continuado a funcionar regularmente a escola nocturna, tendo este ano uma frequência excepcional, pois atingiu um número de alunos de perto de oitenta, isto sem dúvida por estar encerrada a escola oficial desta freguesia; temos feito tudo quanto é possível para os alojarmos o melhor possível, mas dada a exiguidade da nossa sala, tivemos de transformar o bufete em sala de aula e mesmo assim temos tido dificuldade em os arrumar por forma a que o ensino possa ser profícuo”.
Como curiosidade, referimos que no final de 1935 a colectividade tinha 171 sócios. Pelos elementos de que dispomos, o número mais elevado tinha acontecido em 1932, com 220 sócios.
José Ribeiro embarcou, nos Açores, para regresso, nos primeiros dias de Agosto e duas semanas depois já se encontrava em Tavarede, retomando, de imediato, a sua actividade na Sociedade de Instrução. Não lhe foi possível fazer representar a sua nova peça pelo aniversário de 1935. O chamado “espectáculo de gala” foi preenchido com duas peças em um acto cada e, para completar, houve a colaboração do Grupo Bandolinista David de Sousa “que, na execução do seu difícil programa, sob a direcção de Abinabad Nunes da Silva, mais uma vez se afirmou como um núcleo excelente, capaz de fazer boa figura em toda a parte”.
A estreia de “Justiça de Sua Majestade” constituiu um brilhante êxito. “...... a opereta firmou-se, definitivamente, no agrado do público. O entusiasmo foi invulgar. Todos os números de música aplaudidos e muitos deles bisados. E o agrado do público exteriorizou-se mais calorosamente nos finais de acto, fazendo-se chamadas ao palco e obrigando o pano a subir repetidamente.
A música é lindíssima. Dois números são do maestro Raul Portela e cinco do maestro Raul Ferrão, e confirmam os méritos já consagrados dos seus autores; mas o distinto amador, nosso patrício António Simões, que é o autor de todos os restantes números da partitura, bem mereceu as grandes manifestações de aplauso com que o público o distinguiu, porque compôs, para os formosos versos de Alberto de Lacerda, música admirável, encantadora na melodia, rica de expressão e sempre conjugando-se harmonicamente com a ideia do poeta e a situação teatral. Muito bem! António Simões tem direito a parabéns”.
E a notícia conclue: “.... é um espectáculo agradável. Bem posta em cena, com cenários lindos, bom guarda-roupa e harmoniosa interpretação é um belo êxito do grupo tavaredense”.
No dia 3 de Maio daquele ano, o grupo cénico tavaredense deslocou-se ao Porto, onde, no Teatro Sá da Bandeira e em benefício do Asilo de S. João, apresentou aquela opereta. No capítulo seguinte, transcreveremos algumas das apreciações feitas a esta récita.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Sociedade de Instrução Tavaredense - 26
João da Silva Cascão
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Virgínia Licungo
Vulgarmente era conhecida por todos como a “Virgínia Preta”. Era natural de Quelimane, Moçambique, donde a trouxera, muito pequena, João Gaspar de Lemos Amorim. Morreu, com 64 anos de idade, em Fevereiro de 1960.
“De pequenito nos habituámos a ver esta mulher de cor, com uma simpatia muito grande, dada a maneira como nos tratava. Fomos crescendo e sempre vimos nessa figura curiosa, uma amizade por nós, que justifica uma referência muito especial à sua memória.
… Faz-nos pensar nos ódios raciais, nas lutas diárias que se observam nalguns pontos do mundo. … Durante anos e anos vimo-la passar, de manhã cedo, ao lado da carroça que conduzia a fruta, a hortaliça e as flores para a venda. Era bondosa, alegre, sorridente, um tipo popular a que Tavarede se habituou e muito estimava”.
José Maria de Carvalho
Feita a instrução primária, logo se iniciou nas artes gráficas, aprendendo o ofício de tipógrafo. Integrou-se, também, no meio associativo local, com o maior entusiasmo. Foi dedicado amador teatral e director do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, até à extinção da sua secção dramática no ano de 1931, passando a fazer parte, nas mesmas actividades, no Grémio Educativo e de Instrução Tavaredense, que foi fundado em 1932, por iniciativa do pároco local, José Martins da Cruz Dinis, de quem foi grande amigo.
Durante muitos anos foi o correspondente local do jornal “O Figueirense”. Foi, também, presidente da Junta de Freguesia de Tavarede.
Foi sócio gerente da Escola Gráfica Figueirense e fundador do jornal “A Voz da Figueira”, cujo primeiro número saiu no dia 1 de Janeiro de 1953.
Casou com Maria Evangelina Lopes Migueis, (que faleceu no dia 4 de Fevereiro de 1951, com 42 anos de idade), tendo tido três filhos: Maria de Lourdes, Carlos Alberto e Maria Celeste. Enviuvando, casou, em segundas núpcias, com Carmina Tondela dos Reis Carvalho, (falecida em 13 de Fevereiro de 1983, com a idade de 69 anos) não havendo descendentes desta união.
Tinha 78 anos de idade, quando faleceu no dia 4 de Maio de 1986.
José Maria de Carvalho com a esposa, Carmina Tondela dos Reis Carvalho
“Era um homem ainda não acabado, mas ciente de que o fim estava próximo. Várias vezes afirmava isso mesmo: - ‘Para o ano já cá não estarei. Sinto-me cansado, mesmo muito cansado!’. Mas dizia isto trabalhando na sua tipografia, compondo e executando os diversos afazeres do dia a dia. No dia seguinte, lá estava às nove horas, para a abertura da sua oficina, que é também a redacção do jornal. … ou até mais tarde, a cavaquear em ambiente de lanche, sem restrições, a consolar um amigo, a preocupar-se com qualquer situação adversa, dando indicações e conselhos úteis, fruto da sua experiência e sabedoria geral”.
Por ocasião das “Bodas de Prata” do seu jornal, em Janeiro de 1978, reuniu, em confraternização, todos os seus colaboradores. Pronunciou, então, um comovente e apaixonado discurso de que destacamos:
“… Estamos em festa. Dou-vos as boas vindas e agradeço, do fundo do meu coração, a vossa presença neste acto (.....). O apoio humano torna possível a realização de grandes obras, a sua projecção, a sua continuidade; e o calor e a amizade da vossa presença neste acto é, só por si, sinónimo de que devemos continuar: “No Mundo por Portugal, e em Portugal pela Figueira”.
Bem hajam.
Há 25 anos que “A Voz da Figueira” é a voz firme desta linda, encantadora e muito querida cidade da Figueira da Foz. Servimo-la com toda a dedicação na defesa dos seus legítimos interesses e na expansão e engrandecimento das suas inigualáveis belezas de cidade praia-mar-serra. Só por isso – e não só – todos, mas todos, sabem que “A Voz da Figueira” tem cumprido com independência e dignidade, o seu dever de jornal figueirense e é verdade – é imperioso que se diga – que bons e leais timoneiros ela encontrou ao longo destes 25 anos vividos!”.
Caderno: Tavaredenses com História
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Sociedade de Instrução Tavaredense - 26
Começamos este capítulo com um apontamento que julgamos interessante. Em Dezembro de 1932 e Janeiro de 1933, a peça “O Sonho do Cavador” foi representada pelo grupo cénico do Grupo Instrução e Recreio, de Quiaios, a quem foi emprestada. Colaborou nas representações, como protagonista, o amador tavaredense João da Silva Cascão, que já a havia protagonizado na nossa terra, e que, segundo lemos, foi sempre muito aplaudido.
Na sessão solene realizada no dia 15 de Janeiro de 1933, foi descerrada uma fotografia “que se encontrava coberta pelo velho estandarte”, a do benemérito Joaquim Felisberto Sotto Maior. Esta sessão foi presidida pelo Desembargador Dr. João Massagró que, a propósito do homenageado, “traçou o seu perfil moral, mostrando como a bondade da sua alma e as virtudes cívicas souberam conquistar a veneração de todo o povo do concelho da Figueira. O seu nome está inscrito a ouro na história das instituições de beneficência e de instrução que tem auxiliado, como está indelevelmente gravado no coração de tantos e tantos infelizes que lhe devem socorro inesquecível. Se todos os homens que possuem fortuna tomassem como exemplo a vida deste benemérito cidadão, nenhum pobre teria palavras de maldição para os ricos.....”.
Entretanto... “Teatro do Povo, pelo Povo e para o Povo” podia ser a divisa da Sociedade de Instrução naqueles já recuados tempos. Aos “Fidalgos” e às “Pupilas”, mais uma outra obra popular de Júlio Dinis foi posta em cena: “A Morgadinha dos Canaviais”. Deu a primeira representação no dia 27 de Maio de 1933.
Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 22
Havia, segundo o conteúdo desta acta, a hipótese de acabar com o Grupo Musical e fundar uma outra colectividade, pois que foi apresentada uma proposta em que se diz “se o Grupo deve ficar ou não com o mesmo título, sendo aprovado por maioria que o Grupo conserve o mesmo nome”. Continuava o problema de sempre, que eram as dívidas. Foi então nomeada uma Comissão de Contas para estudar a situação financeira da colectividade e aprovada uma proposta para que se publicasse, nos jornais figueirenses, um anúncio para que, no prazo de 8 dias a contar da publicação, os credores do Grupo apresentasse as suas contas. Devido a esta proposta, a assembleia foi suspensa, tendo recomeçado os trabalhos no dia 12 de Setembro seguinte.
A conclusão daquele grupo de trabalho foi a seguinte: “O total das contas recebidas atinge o valor de 2 408$10 a que acrescentando uma letra de 1 000$00 de que é credor o sócio Armando Amorim, se atinge o total de 3 408$10. Entretanto, alguns dos membros da Comissão de contas avistaram-se com todos os credores, pedindo-lhes uma redução entre 40 a 50% garantindo-lhes, sob sua palavra, a liquidação das que lhe diziam respeito, dentro do mais curto prazo de tempo possível, e informando-os ao mesmo tempo de que, se não anuíssem ao pedido feito, ficariam na eminência de nada receberem, porque se faria a entrega de todos os haveres a uma comissão liquidatária. Todos concordaram e a dívida ficou reduzida a 2 412$50. Considerava também a Comissão que a própria letra de 1 000$00 do sócio credor Armando Amorim não ofereceria qualquer problema pois este, certamente, daria todas as facilidades de prorrogação, com a indispensável reforma e garantia dos fiadores actuais”.
A última acta deste período diz respeito a uma assembleia realizada em 13 de Outubro de 1932, na qual são nomeados dois sócios honorários e um benemérito (Marcelino Duarte Pinto), sendo de seguida apresentada a seguinte proposta: “Que fique exarado na acta desta Assembleia Geral um voto de muito reconhecimento à benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense, pelo grande auxílio prestado ao Grupo aquando da representação em nosso benefício da peça Os Fidalgos da Casa Mourisca. Um voto de muito reconhecimento ao ensaiador sr. José da Silva Ribeiro e a todos os amadores e pessoal de cena que na mesma peça prestaram o seu auxílio. Um voto de agradecimento ao jornal A Voz da Justiça, na pessoa do seu Director, sr. Manuel Jorge Cruz, pela propaganda desinteressada que do nosso Grupo o mesmo jornal tem feito nas suas colunas”.
Vamos, agora, muito resumidamente, dar nota da actividade desenvolvida pelo Grupo, apesar de todos os problemas mencionados.
Para que pudessem levar sessões cinematográficas, foi necessário pedir uma vistoria à Inspecção Geral dos Teatros e o resultado foi que “se encontra em óptimas condições para tais efeitos, podendo funcionar”. Foram vários os filmes apresentados. No dia 23 de Abril de 1930, uma notícia diz que “nos próximos domingo e segunda-feira vão os amadores do Grupo Musical, de Tavarede, representar a Leiria as operetas Entre duas Ave-Marias, Rosas de Nossa Senhora e Herança do 103. Os amadores vão animados do desejo de agradar em ambos os espectáculos”. Não encontrámos qualquer outra notícia sobre esta deslocação, mas no dia 13 de Julho houve récita na sede com aquelas duas últimas operetas, e no sábado seguinte, em espectáculo organizado pelos Sargentos da Guarnição Militar da Figueira, em benefício do Sanatório dos Sargentos, realizado no Teatro do Peninsular, o Grupo deu a sua colaboração com a representação do drama A cruz de guerra e a comédia Educação Inglesa. Pela noite de Natal, depois de vários anos de interrupção, o grupo cénico voltou a representar os Autos Pastoris.
Pelo Carnaval de 1931 foram apresentadas as comédias A propósito, Casar para morrer e Hospedaria infernal. Apesar da crise este espectáculo foi grátis para sócios e famílias. Em Abril foram a Maiorca apresentar Os dois nenés, Casar para morrer e Herança do 103. Certamente que terão havido outros espectáculos na sede, mas não temos registo. Em Agosto realizou-se uma reunião para se tentar a reorganização da tuna. Foi eleito, por maioria de votos, José Francisco da Silva para regente. Teve logo uma adesão de mais de 35 elementos e, ainda nesse mês, efectuaram diversas saídas para abrilhantar festas na Figueira, no Casal da Robala e em Gatões.
Com a mudança para a casa do Paço, o grupo cénico acabou. Ficou a música e, surge, pouco depois, esta informação na imprensa “na nova sede do Grupo Musical, que entrou numa fase de firme desenvolvimento, continuam as obras. As instalações ficarão muito boas, permitindo a realização de festas que a esplêndida tuna do Grupo abrilhantará”. A inauguração desta sede teve lugar no dia 18 de Outubro de 1931, festejando, também, o 20º aniversário da fundação. “O Grupo Musical entrou numa fase de desenvolvimento consciente e com firmeza, escolhendo com decisão o caminho que quer seguir. Com um esforço enorme, admirável – e quando alguém poderia supor que o Grupo ia morrer ingloriamente e sem o conforto dos sacramentos da Igreja – os rapazes do Grupo Musical conseguiram já reorganizar a sua tuna, agora constituída com muitos e valiosos elementos, e instalar-se na sua nova sede”. O programa constou de bailes, alvorada, almoço de confraternização e sessão solene.
Terminara, digamos que de forma inglória, um período cultural extraordinário. O teatro, com um grupo dramático composto por muitos valiosos elementos, saíra da sua sede e fora apresentar-se em vários palcos, frente a plateias conhecedoras e exigentes. A música, com a sua tuna considerada como a mais completa e bem organizada do concelho, alternou períodos bons com outros menos bons. As aulas nocturnas, de instrução primária, desenho, música e ginástica, deixaram de ter as condições necessárias ao seu funcionamento. Na nova sede, como veremos, a música ainda teve continuidade, assim como, durante algum tempo, as aulas da instrução primária.
Mas, antes de continuarmos, permitam-nos algumas reflexões. Para colmatar a falta do padre Manuel Vicente, morto devido ao acidente de viação ocorrido a caminho de Fátima, foi nomeado pároco da freguesia o padre José Martins da Cruz Dinis. Quando este aqui chegou, constatou que a Igreja era pouco frequentada pelos tavaredenses e pensou alterar a situação. Acabado de sair do Seminário, conservador convicto e admirar professo das ideias do Estado Novo, logo iniciou árduo trabalho para conseguir os seus objectivos. Não cabe aqui narrar a luta travada. Tavarede tinha bem arreigados no seu povo os princípios republicanos e bastará ler os jornais figueirenses da época para nos apercebermos do que foram aqueles tempos na terra do limonete. O padre Cruz Dinis, pessoa muito inteligente, procurou cativar os seus paroquianos através da instrução. As duas colectividades tinham aulas nocturnas e havia a escola primária oficial. No entanto, a freguesia era muito populosa e muitas crianças, e até adultos, não conseguiam frequentar aquelas aulas por falta de vagas. Resolveu, portanto, abrir nova aula para ensino das primeiras letras. Em breve a frequência atingiria os 40 a 50 alunos. A sua casa não tinha condições para manter as lições. Havia que procurar outro local capaz.
Além disso, também sabia que o teatro e a música, como antigas tradições locais, eram meios ideais para atrair a si novos fiéis. Porque não fundar nova colectividade estreitamente ligada à Igreja? Era difícil num meio tão pequeno e pobre. Haveria, talvez, uma outra solução. Certamente que nas colectividades já existentes haveriam muitos católicos, até mesmo praticantes... O Grupo Musical terá sido o alvo escolhido. Como conseguiu chamar a si e trazer para seu lado tantos grupistas que, esquecendo-se do trabalho desenvolvido pela colectividade em benefício da terra, permitiram e, mesmo, colaboraram na queda do Grupo, obrigando-o a vender a sua sede?
Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 21
Dois dos principais intervenientes nestas histórias e dos quais recordamos alguns apontamentos
uma inscrição dos sócios que quiserem contribuir com uma cota mensal de 5$00, ficando ilibados da cota mensal de 1$50, para que depois de conseguida essa inscrição com o número de sócios suficientes se procedesse à respectiva cobrança, com o fim de se pagar pontualmente a renda da casa e que é de…”. O valor está em branco mas sabemos que a renda estabelecida era de 2 000$00 anuais, ou 166$70 mensais.
A tentativa não resultou, pois aqueles enviados informaram a Direcção (Comissão Administrativa) que aquela casa não aceitava a nossa máquina para vender, pois não vendiam artigos em segunda mão e que também não a aceitavam por conta de uma outra, bem como “a máquina que nos convinha custava perto de dez mil escudos e que devíamos entrar de princípio com quatro mil escudos e depois em prestações mensais de mil escudos”. O negócio não se concretizou e também não encontrámos qualquer outra informação quanto à máquina que o Grupo tinha enviado para Lisboa.
1º. “Que a Direcção, apresentando pessoa que se responsabilize pelas dívidas contraídas, após a data da concordata negociada conforme Acta da Assembleia, que acaba de ser lida, pode sair livremente, logo que aos credores essa pessoa ou pessoas, mereçam confiança.
2º. (acaba aqui a acta, havendo somente linhas em branco até ao final da página).
No dia 27 de Agosto de 1931 houve nova assembleia extraordinária. A acta respectiva começa por referir que “depois de lida a acta anterior”, foi referido o facto da mesma não ter sido concluída, pediu-se para que a mesma fosse terminada mas, mesmo como estava, foi aprovada. Parece, portanto, que a indicação que lhe foi acrescentada de que era falsa, não está correcta. Também se refere que a reunião se efectua na nova sede do Grupo, portanto, já na casa do Paço.