quarta-feira, 23 de junho de 2010

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 23


Sabemos, por exemplo, que a casa teve que ser penhorada para liquidar o débito da metade da compra, pelo facto do sr. Manuel Jordão, sócio benemérito e protector, exigir o pagamento da dívida. Sabemos que no contrato da venda constava a condição de continuarem como arrendatários, mediante o pagamento de uma renda. Sabemos, também, que o adquirente do prédio, António Oliveira Lopes, director e dedicado elemento da colectividade, mal houve o atraso no pagamento da renda por dois ou três meses, ameaçou uma acção de despejo, ameaça concretizada cerca de meio ano depois. É do conhecimento de todos que logo que o Grupo Musical teve de deixar a casa e se transferiu para o Paço, o proprietário a vendeu à Diocese de Coimbra e sabemos, igualmente, que de imediato o padre Cruz Diniz tomou posse da casa e ali instalou, como pretendia, uma nova colectividade, o Grémio Educativo e de Instrução Tavaredense.
Nesta nova colectividade, que dispunha de todas as condições necessárias, continuou o teatro com alguns elementos que pertenciam ao grupo cénico do Grupo Musical, enquanto outros abandonaram o palco ou mudaram-se para a Sociedade de Instrução. E não menos curioso de tudo isto, relembramos que, depois de ter sido nomeado sócio benemérito e protector do Grupo Musical, o sr. Manuel da Silva Jordão, que lhes vendeu o edifício para a sede, em condições excepcionais, tendo-lhe sido prestada homenagem e descerrado o retrato, quando lhes exigiu o pagamento do débito, desconhecemos tudo além da carta que escreveu, foi riscado de sócio, por difamação, e retirado o retrato. Afinal, na célebre Assembleia Geral de 11 de Junho de 1930, ele foi um dos vários sócios que ofereceram ao Grupo as acções que detinham em seu nome. Eram vinte as que ainda possuía e que ofereceu, depreendendo-se que estaria presente naquela reunião.
Cada qual tirará as ilações que entenda. Mas ainda temos outras curiosidades. A imprensa, melhor dizendo, os correspondentes locais dos jornais figueirenses, acabaram por mudar de opinião, precisamente neste período. O “Figueirense”, que era como que o “porta-voz” local da colectividade, passou a ignorá-lo, a louvar e engrandecer o Grémio e atacar, com certa violência, quem se mudou para a Sociedade. A “Voz da Justiça”, que tantas polémicas teve para atacar o Grupo e seus directores, passou a elogiá-lo, de tal forma que foi nomeado sócio honorário. Aliás, é de referir que na sessão solene comemorativa do 20º aniversário, tomaram posse, como membros dos corpos gerentes, muitos elementos que até então eram exclusivos da Sociedade de Instrução.
Terminamos esta parte, que tão longa foi, com um recorte extraído do jornal “A Voz da Justiça”, datado de 15 de Agosto de 1931.
“Mais uma manobra do padre da freguesia, ajudado pelas duas ou três pessoas da terra que o acompanham, que falhou estrondosamente. Encaminhavam-se as coisas para que o padre, com 20 e tantos contos que para isso lhe entregavam – a Igreja é rica e dinheiro foi coisa que nunca faltou aos jesuítas – comprasse o edifício da sede do Grupo Musical, continuando este ali a servir de instrumento nas mãos do clericalismo. Descoberta a manobra, a assembleia geral do Grupo que se não deixou conduzir como imbecilmente supunham que era fácil conseguir, repeliu altivamente a manobra e abandonou a casa, mantendo a sua independência e colocando a descoberto e no seu lugar o padre e os sacristães.
A casa foi efectivamente comprada, e nele gastará o padre uns bons 30 contos – o que não é nada para quem de tanto dispõe – mas já não é possível qualquer equívoco porque toda a gente sabe para que aquilo vem a ser.
Ora assim é que é. Bem fez o Grupo Musical em desmascarar os embusteiros e livrar-se das suas garras”.
Não tiveram razão, no nosso entender. O Grupo Musical é que ficou a perder e a cultura em Tavarede acabou por ficar mais pobre.

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