quarta-feira, 30 de junho de 2010

João Carlos Oliveira Santos


João Carlos


Chegou a tua hora. Foi agora a tua vez de partir. Um a um, aquele grupo de crianças amigas que viviam nas proximidades da Sociedade de Instrução Tavaredense, vão desaparecendo. É pena, mas a vida é mesmo assim.

Recordo, com que imensa ternura, aqueles bocados da nossa meninice, em que brincávamos todos juntos. Tu moravas com os teus avós, na casa da SIT, com a entrada junto ao terreno onde jogávamos à bola (de trapos), e onde mais tarde fizeram um campo de basquete e, já recentemente, um pavilhão gimnodesportivo.

Quando o tempo não permitia brincadeiras na rua, juntávamo-nos naquele quartito, logo à entrada e do lado esquerdo, onde estava guardada, entre muitas bugigangas, uma velha máquina de projectar. E também lá havia umas bobines de filmes, bem antigos. Tu eras muito habilidoso e conseguias pôr a velha máquina a projectar aqueles filmes. O écran era a parede.

Lá havia, ainda, uma velha grafonola, daquelas que era preciso dar à manivela para trabalhar, e alguns discos. Tu lá conseguias arranjar música. Para dar ambiente às nossas sessões cinematográficas...

Uma vez, a SIT realizou um baile de passagem do ano. Ainda era a casa antiga. Uma janela que do palco dava para a rua, tinha sido tapada com papel de cenário. Quando tocaram as doze badaladas, uma criança, vestida como um 'S. João', rompe o papel e salta da janela para o palco. Eras tu, que figuravas o Novo Ano acabado de entrar...

Fizémos parte do grupo cénico. Uma vez, por um Carnaval, o Mestre José Ribeiro ensaiou-nos aos dois para representarmos 'As Comadres' do Sonho do Cavador. Nunca me esqueceu. Eu, com o pote da água à cabeça e de chinelas e tu com o molho da lenha... Quando recordo tudo isto não posso deixar de me comover. Mas a verdade é que, a pouco e pouco, aquele grupinho brincalhão vai desaparecendo para sempre...

Como habilidoso que eras seguiste a música. Além de bom executante, o que não admira pois teu Pai havia sido músico da Orquestra Ginásio e foi o último regente da célebre tuna do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, também foste compositor. Tinhas talento.

Mas agora, e depois de, infelizmente, longo período de sofrimento, partiste e não mais regressas. Os teus amigos e companheiros da actual tuna de Tavarede vão sentir a tua falta. Paciência, é a lei da vida.

Até sempre, João Carlos.

Sem comentários:

Enviar um comentário