domingo, 13 de junho de 2010

A Escola dos Quatro Caminhos

Há poucos dias fui à Escola Primária dos Quatro Caminhos do Senhor do Arieiro conversar com alguns alunos sobre o teatro em Tavarede e outros assuntos que ocorriam de momento.

Está quase a fazer 68 anos em que eu, pela primeira vez, entrei naquela Escola para frequentar a instrução primária. Mas, exteriormente, embora tenham sido feitas algumas alterações, o edifício está absolutamente reconhecível. Interiormente é que não. Está muito diferente, para melhor, naturalmente.

No fim da conversa houve algumas perguntas. Entre elas achei deveras curiosa a seguinte: "Para si, qual é a melhor época da história de Tavarede?". Não tive qualquer dúvida na resposta. "Para mim, a época que é mais interessante de estudar e conhecer, é a década de 1920 a 1930".

É claro que para muitos tavaredenses aquela década pouco ou nada diga. Têm as suas razões, assim como eu tenho as minhas. Mas, vejamos os motivos que me levaram a escolher aquele período.

E começo pelo associativismo. A Sociedade de Instrução Tavaredense, depois do regresso de Mestre José Ribeiro do serviço militar, iniciava um percurso extraordinário. Além da reposição e estreia de algumas operetas, começou, em 1925, a representar peças escritas propositadamente para o seu grupo cénico, versando os temas da história, dos costumes e dos usos e tradições, com a peça "Em busca da Lúcia-Lima", de Gaspar de Lemos, a que se seguiram "Pátria Livre", "Grão Ducado de Tavarede" (já com a colaboração no texto de José Ribeiro), "Retalhos e Fitas" e dois grandes êxitos que ainda hoje são recordados "O Sonho do Cavador", em 1928, e "A Cigarra e a Formiga", em 1929. Destas peças, todas elas com música do saudoso maestro amador António Maria de Oliveira Simões, são agora recordadas, felizmente, pelo grupo coral "Cantigas de Tavarede", daquela colectividade, muitas das canções que, quando escutadas pelos mais saudosistas, sempre lhes trazem, ao canto do olho, algumas lágrimas saudosas.

A outra colectividade, o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, teve o seu períodio áureo naquela época. O seu grupo dramático, onde estava integrada a enorme e talentosa amadora Violinda Medina e Silva, dirigido, então, por Vicente Ferreira e, entre mais alguns, por Raul Martins, conheceu enormes triunfos, com a representação de dramas, comédias e operetas, a maior parte também escritas propositadamente por este grupo cénico. Outra actividade da colectividade foi a música. A sua tuna, considerada a mais bem organizada deste concelho, obteve constantes êxitos
nas terras para onde era convidada a actuar. É desta época, depois de uma actuação em Martingança, que a tuna do Grupo Musical entregou, no Mosteiro da Batalha, uma placa de homenagem ao Soldado Desconhecido e que ainda lá existe.

Também em 1921 foi fundado o Grupo Musical Carritense, que manteve, durante muitos anos, uma tuna que igualmente teve muita fama, e um grupo de teatro, ainda em actividade.

No desporto recordamos o Atlético Clube Tavaredense, o Sportzinhos Futebol Clube e o Tavarede Futebol Clube. Embora modestas, exerceram a sua actividade desportiva durante vários anos e não só no futebol.

Política e religiosamente, também foi um período extraordinariamente importante para Tavarede. O movimento do 28 de Maio de 1926, e a posterior implantação do chamado Estado Novo, de Salazar, foi movimento de enormes desavenças na nossa terra. Coincidiu com a morte do padre Vicente e a vinda, para paroquiar Tavarede, do padre José Martins da Cruz Dinis. As questões emergentes daquele movimento foram muitas. O conservadorismo que o padre Dinis quis fazer renascer, o liberalismo e o republicanismo da maioria dos tavaredenses foram motivo de duras lutas, especialmente em várias polémicas travadas nos jornais figueirenses.



Claro que muitos outros assuntos, vividos naqueles conturbados anos, são aliciantes para um estudo mais detalhado. Para mim, naturalmente.

Mas foi, principalmente, o associativismo, a política e a religião os temas que me levaram a considerar a década de 1920 a 1930 como a mais aliciante da história da minha terra natal.

2 comentários:

  1. Querido Amigo Vítor :
    Espero que este teu regresso signifique que foi conseguida a recuperação do disco rígido, pois o contrário seria uma péssima notícia, direi mesmo, uma verdadeira catástrofe.
    Um grande abraço !
    J. Cascão

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  2. Meu caro Maestro

    Tenho imensa pena de te dar uma desilusão, mas, na verdade, ainda não tenho a resposta da casa para onde mandaram o disco avariado. Tenho-me valido das 'pens' e de alguns CDs.
    Mas o que me faz mais falta são imensas fotografias que lá tinha. Paciência.
    Por azar, também com o novo disco me retiraram a 'drive' de leitura das disquetes. Já pedi para ver se me podem rsolver o assunto.
    Como diz o outro: Haja Deus, pois melhores dias virão.

    Um grande abraço do amigo às ordens
    Vitor Medina

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