Pelas comemorações do 30º aniversário da colectividade, não houve teatro. Dessa vez, houve cinema. José da Silva Ribeiro havia sido preso pela polícia política. Durante as festas comemorativas, a colectividade decorou a sua sala de espectáculos com colchas e verduras, “destacando-se, ao fundo da plateia, o retrato do seu dedicadíssimo director da secção dramática”.
Diga-se, entretanto, que José Ribeiro, durante o tempo que esteve preso, no Porto e em Angra do Heroísmo, nos Açores, escreveu uma nova peça, no seguimento das que anteriormente se haviam levado à cena. De Júlio Dinis e da obra “Serões da Província”, fez uma adaptação do conto “Justiça de Sua Majestade”, tendo como colaboradores Alberto de Lacerda, que escreveu os versos, e dos maestros Raul Ferrão e Raul Portela e do amador António Simões, na música.
A actividade teatral parou, praticamente. Em 1934, apenas deram dois espectáculos, com reposição de peças já ensaiadas e representadas. A escola nocturna, no período escolar de 1933/1934 teve enorme frequência, chegando a atingir os 72 alunos matriculados. No relatório de 1935 e a este respeito, escreveu-se: “Tem continuado a funcionar regularmente a escola nocturna, tendo este ano uma frequência excepcional, pois atingiu um número de alunos de perto de oitenta, isto sem dúvida por estar encerrada a escola oficial desta freguesia; temos feito tudo quanto é possível para os alojarmos o melhor possível, mas dada a exiguidade da nossa sala, tivemos de transformar o bufete em sala de aula e mesmo assim temos tido dificuldade em os arrumar por forma a que o ensino possa ser profícuo”.
Como curiosidade, referimos que no final de 1935 a colectividade tinha 171 sócios. Pelos elementos de que dispomos, o número mais elevado tinha acontecido em 1932, com 220 sócios.
José Ribeiro embarcou, nos Açores, para regresso, nos primeiros dias de Agosto e duas semanas depois já se encontrava em Tavarede, retomando, de imediato, a sua actividade na Sociedade de Instrução. Não lhe foi possível fazer representar a sua nova peça pelo aniversário de 1935. O chamado “espectáculo de gala” foi preenchido com duas peças em um acto cada e, para completar, houve a colaboração do Grupo Bandolinista David de Sousa “que, na execução do seu difícil programa, sob a direcção de Abinabad Nunes da Silva, mais uma vez se afirmou como um núcleo excelente, capaz de fazer boa figura em toda a parte”.
A estreia de “Justiça de Sua Majestade” constituiu um brilhante êxito. “...... a opereta firmou-se, definitivamente, no agrado do público. O entusiasmo foi invulgar. Todos os números de música aplaudidos e muitos deles bisados. E o agrado do público exteriorizou-se mais calorosamente nos finais de acto, fazendo-se chamadas ao palco e obrigando o pano a subir repetidamente.
A música é lindíssima. Dois números são do maestro Raul Portela e cinco do maestro Raul Ferrão, e confirmam os méritos já consagrados dos seus autores; mas o distinto amador, nosso patrício António Simões, que é o autor de todos os restantes números da partitura, bem mereceu as grandes manifestações de aplauso com que o público o distinguiu, porque compôs, para os formosos versos de Alberto de Lacerda, música admirável, encantadora na melodia, rica de expressão e sempre conjugando-se harmonicamente com a ideia do poeta e a situação teatral. Muito bem! António Simões tem direito a parabéns”.
E a notícia conclue: “.... é um espectáculo agradável. Bem posta em cena, com cenários lindos, bom guarda-roupa e harmoniosa interpretação é um belo êxito do grupo tavaredense”.
No dia 3 de Maio daquele ano, o grupo cénico tavaredense deslocou-se ao Porto, onde, no Teatro Sá da Bandeira e em benefício do Asilo de S. João, apresentou aquela opereta. No capítulo seguinte, transcreveremos algumas das apreciações feitas a esta récita.
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