sexta-feira, 25 de junho de 2010

Reveles

Tenho uma costela Revelense, pois minha Mãe era dali natural. Curiosamente, por parte de meu Pai, também tenho origens de Verride, bem perto de Reveles.

Hoje vou recordar esta terra, onde eu tanto gostava de ir, especialmente pelas festas à Senhora da Saúde, porque encontrei uns retalhos muito interessantes.

"Foi no domingo passado a romaria da Senhora da Saúde, que se venera n’uma poetica ermida situada na encosta do monte de Revelles, à beira do nosso indolente Mondego. Esteve muito concorrida, e contra o costume dos outros annos, não houve d’esta vez a lamentar desordem alguma. De tarde viam-se numerosos ranchos de romeiros em alegres descantes". Foi publicado em Agosto de 1876.

Mas aqui vai uma descrição de Reveles, que também encontrei publicada na imprensa figueirense: "Vários escritores se têm referido com justificado louvor aos passeios que da Figueira, como centro de turismo, se poderão realizar em curtas horas a sítios que merecem ser visitados, quer pelos seus panoramas, quer pelos seus monumentos, como sejam entre outros: - Lagoas de Quiaios, Quinta do Canal, Montemor-o-Velho, S. Marcos, Conímbriga, Coimbra, Alcobaça, Batalha, Buçaco, etc..
Não temos lido, porém, alusão alguma a Reveles, donde se avista um dos mais belos panoramas do nosso distrito, o que atribuímos ao desconhecimento da existência desse recanto maravilhoso.
A viagem pode ser feita de automóvel por Santa Olaia, Ereira e Verride ou pelo caminho de ferro, cujo apeadeiro, que tem o seu nome, está situado muito próximo da localidade, e serve também Abrunheira e lugares circunvizinhos.
O lugar de Reveles, freguesia de Abrunheira, concelho de Montemor-o-Velho, era conhecido no século XII por Reebelles, e no século XV por Revelleis, foi habitado em tempos pré-históricos e durante a ocupação romana, como é comprovado pelos achados arquelógicos existentes no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, da Figueira.
A Igreja Matriz, restaurada em 1640, está edificada no picoto da povoação e do seu adro contempla-se uma área enorme e surpreendente, que abrange dezoito freguesias, em vários sentidos, a saber: Verride, Vila Nova da Barca, Montemor-o-Velho, Means, Carapinheira, Tentúgal, Gatões, Seixo. Liceia, Lavos, Paião, Vinha da Raínha, Abrunheira, Ferreira-a-Nova, Maiorca, Alqueidão, Alfarelos e Santo Varão.
De ali se avista também uma grande parte de Coimbra, as serras do Buçaco e da Lousã, o Outeiro de Santa Olaia, a Insua da Morraceira, a montanha de Degracias, a Linha de Torres, o Mondego e os ribeiros nas diversas evoluções por férteis campos de diversa cultura, extensos vinhedos e arrozais, marinhas de sal com os seus talhos demarcados geometricamente, e os montes revestidos de pinhais e de tapetes de vegetação em diversos cambiantes que o divino sol fornece, desde o verde esmeraldino até ao amarelo topázio, num cenário maravilhoso que nos extasia por longo tempo.
Do alto mar se avista a Igreja. Os marinheiros e pescadores buarquenses do século passado, repartiam as suas promessas pela Senhora da Encarnação da sua terra natal, e a Senhora do Ó (também conhecida pela Senhora da Expectação, do Porto ou da Esperança), em paga de milagres de salvamento em momentos aflitivos ou de uma pesca abundante.
A Senhora do Ó que, no dizer de Frei Agostinho, “é de peregrina escultura, e mediana estatura, em forma nazarena, mas em tudo admirável que atrai a si os corações de quantos nela põem os olhos”, foi raptada do seu altar há muitos anos, havendo quem afirme que a mesma imagem existe na Igreja de Santa Maria da Alcaçova de Montemor-o-Velho, o que é crível, pois Reveles “em tempos remotos pertenceu à freguesia de Nossa Senhora da Alcaçova”, segundo nos informa Pinho Leal.
Reveles possui também uma antiquíssima capela dedicada à Nossa Senhora da Saúde, que ainda hoje tem muitos devotos, e que ali vão em romaria anual no primeiro domingo de Agosto.
Teve em séculos idos uma feira franca com a duração de três dias do mês de Julho, que era muito frequentada.
São muito apreciadas as cerejas desta região com largo consumo em Coimbra e Figueira.
Dos muitos homens ilustres naturais de Reveles, recorda-nos agora os seguintes: - Os irmãos desembargadores de apelido Neves, os irmãos Caldas - um médico e outro advogado, José Luís Ferreira, lente de Física pela Universidade de Coimbra e pai da Viscondessa da Ponte da Barca, o dr. José Pinto Ramos, preceptor de D. Miguel, que comprometeu a sua grande fortuna pela causa legitimista e se suicidou lentamente com sucessivos jejuns, o dr. Elísio Freire de Abreu Pessoa, que possuía um solar no lugar de Peres-Alves, próximo de Reveles, etc.
Aos que desconheçam este miradoiro de tanta grandeza, recomendamos uma visita, na certeza antecipada de que darão por bem empregado o seu tempo.
Só pedimos que não reparem nas faltas de uma boa estrada e de luz eléctrica, apesar da feliz Abrunheira - a dois passos - possuir o benefício dessa boa iluminação.
Reveles está como certas mulheres esbeltas, que não conseguem atrair os homens, apesar da sua beleza, por não terem - Sorte"
.

Pinho Leal, no seu Dicionário 'Portugal Antigo e Moderno, tem a seguinte descrição desta povoação:
Reveles - Freguezia, Douro, comarca de Montemor-o-Velho (foi comarca de Soure, concelho extinto da Abrunheira). 30 kms. a Oeste de Coimbra, 190 ao Norte de Lisboa, 250 fogos.
Em 1757 tinha 257 fogos.
Orago Nossa Senhora do Ó (ou da Ezperactação, do Porto, ou da Esperança, pois com todos esses nomes é conhecido).
Bispado e distrito de Coimbra.
A mitra apresentava o vigário, que tinha 170$000 réis de rendimento.
É terra fertil, e freguezia muito antiga.
Em tempos remotos, pertencia à freguesia de Nossa Senhora da Alcáçova, da villa de Montemor-o-Velho.
A egreja matriz está situada no alto do monte, proximo à povoação de Reveles.
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A capela dedicada antigamente a Nossa Senhora a Velha, e, depois, a Nossa Senhora da Saude, é antiquissima, e consta que foi a primeira matriz da freguezia. Está situada ao pé de um monte, e junto ao Rio Mondego, a pouca distancia da quinta da Galêta, que foi dos jesuitas, de Coimbra.
Fica a ermida entre a freguezia de Reveles e a extinta de Peras-Alvas, e por isso tambem a denominavam Senhora de Reveles ou Senhora de Peras-Alvas.
Tambem fica perto da quinta da Alumieira, que foi dos cónegos de Santa Cruz, de Coimbra, e não muito distante da vila de Buarcos.
A imagem é de pedra, e de boa escultura, apesar da sua antiguidade. Tem um metro de altura.
A capela é de boa construção e ampla: tem altar-mor, e dous lateraes; sachristia e grande atrio. Está cercada de alpendres em volta, sustentados por colunas de pedra.
Faz-se a sua festa em dia de Sant’Ana, mãe de Nossa Senhora (a 30 de Julho). O rei lhe concedeu uma feira franca de trez dias, por tempo de cinco anos, na ocasião da festa; depois se lhe concedeu que fosse perpétua. Principiava no dia 26 de Julho, mas já há muitos anos que se não faz esta feira.
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A nova matriz principiou a edificar-se em 1638, e continuaram as obras até 1640.
Com a restauração, se deu mais desenvolvimento às obras e foi a egreja acrescentada. É um bom templo.
Do seu adro se vê o Oceano, a barra da Figueira, Buarcos, o rio Mondego e varias povoações. Vê-se o mar a grande distancia.

Fotos tiradas cerca de 1950, por ocasião das festas à Senhora da Saúde

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