sexta-feira, 2 de julho de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 29

É digno de registo o facto de, só nos anos de 1935 e 1936, o grupo tavaredense se ter deslocado a Coimbra efectuar oito espectáculos, sete em benefício e o último, em 14 de Dezembro de 1936, com a peça “O Sonho do Cavador”, numa organização de todas as instituições beneficentes daquela cidade e cuja receita ofereceram à colectividade.
“... teve uma receita líquida de 6.112$50. As casas de caridade que tinham convidado o nosso grupo dramático a ir ali, prepararam tudo de forma a que aos nossos amadores fosse fornecida uma refeição, o que demonstra que se não esquecem dos benefícios que o nosso grupo tem prestado às referidas casas de caridade”.
A reposição de “O Sonho do Cavador”, segundo o relatório da direcção, “... de tão gloriosas tradições, era pensamento que há muito animava o nosso director cénico, mas só agora levou a efeito essa ideia, para o que refundiu esta peça, tanto na parte literária, como na musical, que o nosso querido amigo e maestro desta Sociedade, sr. António Simões, encheu de lindíssimos números de música...”.
Como sabemos, uma das peças do reportório, naqueles anos, era “As pupilas do Senhor Reitor”. Do romance de Júlio Dinis, também foi feita uma adaptação cinematográfica. A este propósito, José Ribeiro recebeu uma carta de que transcrevemos: “Há largos meses, encontrava-me por acaso em Tomar, vi anunciado para essa noite um espectáculo com a opereta As pupilas do Sr. Reitor, por amadores de Tavarede. Fez-me o caso espécie e resolvi ir ao teatro. Julgava eu ir desopilar largamente a figadeira. Ao finalizar o primeiro acto – e repare que não digo ao principiar... – estava entusiasmado. O libretto é defeituoso. E compreende-se, em opereta extraída de romance. Mas o desempenho, os cenários, a indumentária e a música, formam um todo que não esquece facilmente. Em especial, colhe-se desse espectáculo o espírito das autênticas Pupilas. Respeita-se, com todo o escrúpulo, o intuito do autor.
Quis saber a que título vinha de tão longe da Figueira da Foz, um núcleo de amadores assim; quem o fizera, quais os objectivos. Para encurtar, porque V. era capaz de não consentir pormenores: fui-lhe apresentado e formei a par dos admiradores da sua Sociedade. E – deixe lá passar esta – ao sair do Parque, há dias, após a projecção da fita, tive pena, sincera mágoa, de não acompanhar de perto, desde o início, a filmagem. É que ter-me-ia permitido sugerir ao realizador, a preciosa ideia de obter uma representação das Pupilas do Senhor Reitor, pela companhia de Tavarede, para ver bem como pode fazer-se arte, com as Pupilas, as do Júlio Dinis”.


Na comemoração do 32º aniversário, o grupo cénico apresentou um espectáculo diferente. “..... os sócios acorreram com suas famílias à récita de gala, que foi uma bela noite de arte. A representação da encantadora peça “Canção do Berço”, oferecida à SIT pelo seu tradutor, o ilustre poeta dr. Carlos Amaro e que três dias antes fôra vista no cinema, na Figueira, sob o nome de “Filha de Maria”, serviu para nos mostrar um esplêndido grupo de dez amadoras, como só dificilmente se reunirá, algumas das quais estreantes e que fizeram figura brilhante”. Voltaremos, lá mais para a frente, a esta peça e a este filme, a propósito de um espectáculo organizado pela Misericórdia da Figueira.
A sessão solene daquele aniversário ficou memorável. Diversas instituições filantrópicas de Coimbra, gratas pelos espectáculos de beneficência dados, naquela cidade, pelo nosso grupo, vieram trazer expressivas mensagens de saudação e gratidão. Seria descabido estar aqui a transcrevê-las. Para a nossa história, somente deixamos uns pequenos recortes.
Da Associação dos Diabéticos Pobres: “... verdadeira justiça, que todos vós soubestes conquistar, honrando e enaltecendo a terra que vos foi berço, levando por toda a parte o nome de Tavarede a ser respeitado e considerado por todos, porque a vossa benemerente Sociedade espalha o BEM e exerce a CARIDADE, com tanta singeleza, com tanta modéstia, que a todos enternece, impressiona e encanta”.
Do Grémio dos Empregados no Comércio e Indústria de Coimbra: “... Coimbra, numa soma bem elevada, é, já hoje, devedora à benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense de muitas e muitas parcelas de gratidão. As colectividades beneficiárias têm podido, com o generoso auxílio de tão útil como benemérita instituição, levar algum bem-estar, alguns sorrisos aos seus respectivos protegidos”.

Foto - Entre Giestas (arquivo da SIT)

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