sábado, 24 de julho de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 37

No dia 10 de Outubro de 1942, foi levado à cena “O Sonho do Cavador”. Calculou a direcção que seria a 50ª representação e pensou comemorar o facto. “Pode haver uma pequena diferença para mais ou para menos, pois apesar dos esforços feitos nesse sentido, ainda não nos foi possível precisar ao certo o número de representações, por falta de elementos”. Por este motivo, e atendendo a que a peça nunca pagou quaisquer direitos aos seus autores, foi deliberado que num dos intervalos daquela representação se homenageassem os referidos autores.
Foi uma festa surpresa. E, além de vários ramos de flores, foi feita a oferta ao ensaiador sr. José Ribeiro de um relógio de pulso e ao maestro e compositor sr. António Simões um objecto de prata. O nosso conterrâneo não gostou da atitude tomada e, de imediato, enviou à direcção a seguinte carta:





“A linda festa com que fui surpreendido comoveu-me e aviva mais ainda os motivos de reconhecimento que já tenho para com os componentes do grupo cénico. Lamento, sinceramente, que a vossa amisade não respeitasse as conveniências de todos – as da SIT e as minhas. O objecto que me ofereceram era dispensável: só serviu para empanar um tanto a grande alegria que a vossa festa me deu. O dinheiro da SIT, ganho com tanto esforço por todos nós, não é para ser mal gasto. Foi um mau acto que praticaram, tanto como de administração perdulária como incitamento à indisciplina. Não se devia esquecer isto, que agora pode dizer-se: o ensaiador tem obrigação de aturar porque... recebe presentes. Acresce que, não estando eu sozinho como presenteado, nem sequer posso corrigir o vosso erro pela única maneira viável, porque poderia ofender quem não deve ser ofendido”.
Como se costuma dizer, Mestre José Ribeiro “cavou sempre com a mesma enxada”. Num dia do seu aniversário natalício, a direcção, em colaboração com os amadores e amadoras do grupo cénico, resolveu ir cumprimentá-lo a sua casa. A amadora Violinda Medina, a pedido dos directores, havia comprado uma camisa para lhe oferecer. Aceitou-a, mas, depois, exigiu saber o seu custo e entregou à colectividade o respectivo valor... para não ficar em dívida!
Durante várias décadas, a nossa terra foi um verdadeiro “alfobre” de músicos. As tunas que aqui existiram bem o confirmam. No entanto, e por motivos que desconhecemos, esta arte passou a ser um pouco esquecida pelos tavaredenses. Para as peças musicadas, muito em especial a partir da segunda metade dos anos vinte, a orquestra passou a ter a colaboração de grandes e dedicados amigos da colectividade, nomeadamente de Brenha e Alhadas. A ilustre Família dos “Cardosos”, foi a principal fornecedora, praticamente única, em instrumentos de corda (violinos e violoncelo).
Pois é de dois músicos brenhenses que vamos transcrever dois apontamentos que encontrámos em cartões que enviaram por ocasião do aniversário comemorado em 1942. A sua dedicação à causa do teatro tavaredense merece bem esta breve evocação. O primeiro, é de Joaquim Cardoso, o mais velho na colaboração: “Sem a Sociedade de Instrução Tavaredense eu não saberia o que sei, não conheceria o que conheço nem sentiria o que de belo senti no decorrer dos anos que me foi grato conviver no seio de tão filantrópica colectividade. Por isso um abraço de agradecimento aos velhos veteranos da Sociedade, especializando o seu chefe da Secção Dramática, figura de inegualável valor e saber que é o meu querido amigo José da Silva Ribeiro”.
O outro apontamento foi enviado, na mesma data, por um outro velho amigo e colaborador brenhense, Eugénio Gomes Luís. Escreveu então: “Faço votos para que as novas gerações saibam compreender os esforços que os veteranos e os que já descansam a vida eterna, dispensaram em proveito da instrução de Tavarede, e regozijo-me por saber que acabam de adquirir a sede. Ávante, rapazes! Dos fracos não reza a história! Eu já estou velho e quase caduco, mas se mesmo assim vos prestar para alguma coisa, mandem sempre”.


Em Tomar, a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais resolveu atribuir à nossa colectividade o diploma de Sócio Honorário. E, juntamente com uma cópia da proposta, enviaram a carta de que copiamos: “....... atitudes como a vossa, deslumbram-nos; servindo de Exemplo do melhor e bem dignos de seguir, porquanto se nos depara surpreendente, pelo trabalho árduo e vivificador, cheio de beleza e sentimento de Arte Humana pela Vida, e de Vida pela Arte. Maravilhosa concepção esta, dum forte espírito disciplinado e criador, nas pessoas de todos os componentes do Grupo, e do eloquente e incontestados mérito e inteligência do nosso querido Amigo, José da Silva Ribeiro, que tão proficientemente sabe cimentar, mesmo no mais rude elemento, os melhores e salutares princípios de Solidariedade”.
Fotos: 1 - Auto da Mofina Mendes; 2 - O Grande Industrial

Sem comentários:

Enviar um comentário