O trabalhador é o braço forte do rico proprietario, porque este sem elle não terá o celleiro e a adega a trasbordar.
É do cavador que eu quero falar, d’esse operario que nenhuns direitos tem, o que menos instruido é, o que trabalha incansavelmente para garantir á familia o pão d’ámanhã. D’esse operario que cava a terra para fazer sahir d’ella loiras estrigas e que tem por lar uma casa infecta, onde vê morrer de fome os filhos.
Por toda a parte o cavador é dos operários que mais vive nas trevas da ignorancia, sendo raro o que frequenta a escola e o que manda para ella os seus filhos.
A escola d’elles é a taberna, esse covil de vicios e de crimes, onde todas as noites se juntam para jogar.
Francisco Loureiro - cavador e tocador de violino na Tuna do Grupo Musical
Já o temos dito muitas vezes e hoje repetimol-o: a taberna é o grande mal das classes trabalhadoras, porque é n’ella que o operario vae gastar – jogando e embriagando-se – o que ganha durante uma semana para sustentar a sua familia, que, faminta, se vê morrer n’uma casa infecta, victimada pela terrivel tuberculose.
Os meus patricios, esses escravos que de madrugada, descalços, de enxada ao hombro, encolhidos de frio, caminham para o seu trabalho, não comprehendem bem o que é a taberna, porque se o comprehendessem veriam n’ella todos os males da sociedade, todas as ruinas do operariado, e trabalhariam logo para a demolir.
Quereis passar bem as aborrecidas noites de inverno? Ide para a associação, porque n’esta localidade há uma, que muitas terras mais civilisadas do que a nossa, não possuem. Terão n’ella uma escola para aprenderem a lêr, arrancando se assim da sombra da ignorancia em que se envolvem, e para então comprehenderem os vossos deveres; terão um bom theatro para passarem algumas noites com vossas familias em fraternal alegria, como tambem se instruem, porque o theatro é uma escola.
É a Sociedade d’Instrucção Tavaredense a única associação que temos aqui, por isso todos os trabalhadores devem dar-lhe o seu apoio, reunindo-se n’ella todas as noites e fazendo os seus filhos frequentar a escola, affastando-os o mais possivel das casas dos vicios.
Sabemos que esta benemerita aggremiação dará esta época uma série de récitas aos seus associados, sendo muito breve a primeira com o sensacional drama – A Filha do Saltimbanco, que será desempenhada por alguns moços d’esta localidade e da Figueira.
A boa vontade da direcção da Sociedade d’Instrucção Tavaredense merece os applausos de todos aquelles que desejam vêl-a progredir.
Para a Associação, pois, trabalhadores, porque é ella a nossa escola, onde devemos, primeiro de tudo, instruirmo-nos para que, n’uma patria nova, como a nossa, possamos ser cidadãos conscientes!
(Publicada em 'Gazeta da Figueira - 10.11.1910)
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