Bastará atentar-se nos números: 147 espectáculos durante esses dez anos, dos quais 49 em benefício de diversas instituições. Como peças, além das já referidas anteriormente, “Recompensa”, “A Morgadinha de Valflor”, “Génio Alegre”, “O Grande Industrial”, “Entre Giestas”, “Envelhecer”, “Horizonte”, outras passaram a fazer parte do repertório do grupo cénico, como "Sonho duma Noite de Verão”, “O sr. Tibúrcio”, “A Nossa Casa”, “Injustiça da Lei”, “Cobardias”, “Raça” e algumas comédias, tendo, também, sido renovado “O Sonho do Cavador” e apresentado ao povo tavaredense, pela primeira vez, Gil Vicente, com os autos “Mofina Mendes” e “Barca do Inferno”. Grande êxito, neste período, alcançou igualmente o espectáculo “Noite de Teatro Português”, uma compilação de Mestre José Ribeiro, que recebeu elogiosas críticas, como adiante veremos.
Se contarmos as peças que o grupo tavaredense tinha em representação, naqueles dez anos, (cerca de quinze), teremos de reconhecer que era enorme o esforço e a dedicação dos amadores e do seu ensaiador.
Os espectáculos para fins beneficentes eram sempre bem acolhidos. São inúmeros os agradecimentos recebidos pela colectividade. Deles, escolhemos este, que consta duma carta recebida da Comissão de Assistência da Pampilhosa do Botão: “Foi valioso o seu auxílio e não temos palavras com que vo-lo agradeçamos. Sentimos comoção só em pensá-lo. O melhor agradecimento que podemos fazer-vos é dar-vos a certeza de que, a vossa vinda aqui, contribuíu para matar a fome a muitos desgraçados e para vestir alguns esfarrapados: dar esmolas já que a justiça não existe. Para vós, que sabeis sentir, esta será a mais valiosa recompensa. Depomo-la nas vossas mãos com a mesma comoção com que temos ouvido as súplicas de mães com fome e semi-nuas que se nos dirigem. São as suas lágrimas e os sorrisos das crianças que temos para vos ofertar. Aceitai-as, pois, com a nossa Gratidão”.
A escola nocturna prestou inestimáveis serviços na instrução e educação do povo tavaredense. Mas, em 1942, não abriu as suas aulas. Um decreto, que regulamentava o ensino particular, a partir daquele ano, impunha que, como escola de ensino particular requeresse o correspondente alvará e os seus professores teriam de ter as habilitações académicas iguais aos professores do ensino oficial. Impossível cumprir estas determinações.
Em Abril de 1942, e para cumprimento do decreto 31908, foi escrita uma carta ao Comissário Adjunto da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa: “Durante mais de 30 anos esta colectividade manteve a sua escola nocturna, especialmente frequentada por adultos e na qual se ministrava o ensino das primeiras letras, ensinando-se a ler, escrever e contar. O seu fim era reduzir o número de analfabetos que, por trabalharem durante o dia, só à noite podiam frequentar a escola. Felizmente, com o decorrer dos anos, pode hoje quase dizer-se que não há analfabetos nesta localidade. E como as crianças em idade escolar frequentam as escolas primárias oficiais diurnas que funcionam nesta freguesia, a frequência da nossa escola nocturna foi sensivelmente diminuindo. Presentemente esta escola já não funciona”.
Ainda houve, posteriormente, várias tentativas de reabrir a escola nocturna, mas não se conseguiu forma de ultrapassar os obstáculos legalmente impostos. E terminamos as nossas histórias sobre a escola nocturna da SIT com este retalho que retirámos do livro “50 Anos ao Serviço do Povo”
“Escrevemos estas notas e vemos surgir diante de nós a figura de António da Silva Broeiro. Estamos a ouvi-lo naquela sessão solene em que, pouco antes de morrer, a todos surpreendeu e comoveu com a sua expontânea e impressionante confissão. Apresentava-se como produto da Sociedade de Instrução Tavaredense: Eu sou, dizia ele, o que a Sociedade de Instrução Tavaredense de mim fez. Devo-lhe tudo. Comecei lá em baixo, na escola da noite, onde me ensinaram a ler, escrever e contar. Só à noite podia ir à escola: teria ficado analfabeto se não fosse a escola nocturna. Depois trouxeram-me para o teatro (e recordava o nome de João dos Santos), ensinaram-me a compreender o que lia, ensinaram-me a falar, a conversar, a ouvir. Aqui fui instruído e educado. Recebi lições, aprendi coisas, tive ensinamentos, fixei exemplos que me serviram pela vida fora. A acção da Sociedade de Instrução Tavaredense exemplifico-a em mim próprio”.
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