terça-feira, 13 de julho de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 33


Embora tivessemos vontade de recordar, ou antes, de dar a conhecer aos nossos leitores, tudo quanto Mestre José Ribeiro escreveu sobre teatro e, principalmente, sobre o teatro em Tavarede, durante a sua prisão, não é possível fazê-lo. Ocupar-nos-ia imenso espaço. Mas, é pena, porque, na verdade, tudo aquilo acaba por fazer parte integrante, embora indirectamente, da história da nossa centenária colectividade.



Cortejo Etnográfico 1940


Entretanto, e que nos seja perdoado o atrevimento, ainda vamos buscar mais dois retalhos, os quais escolhemos das cartas que escreveu à amadora Violinda Medina. O primeiro foi escrito no Porto, em Março de 1939. “........ oiça lá a promessa que lhe faço: hei-de ler-lhe os 5 actos da “Psyché”, de Molière, verdadeira maravilha do género. Quero que a Violinda fique fazendo uma ideia do que já o Molière fazia no século 17. A “Psyché” devia ser um espectáculo grandioso, cheio de delicadeza e ao mesmo tempo rico de fantasia, de grandiosidade espectacular, sem falar na riqueza literária, na qual Corneille tem também grande quinhão – o principal quinhão.
Não faz ideia! O pior é que, estando em francês e tendo eu de lha ler em português, sai coisa estropiada, porque é impossível traduzir à leitura sem estragar a linguagem. Mas quero que aprecie a técnica, a construção da peça, e a grandiosidade do espectáculo. Eu não conhecia isto! Que vergonha! Sou um ignorante! E alguns que por aí andam, com ares de saberem muito, conhecem de teatro ainda menos do que eu...”.
Finalmente, e na última carta que enviou à mesma amadora, em Maio de 1939, já de Lisboa, onde foi julgado e absolvido, José Ribeiro escreveu a determinada altura: “Poderá a Violinda voltar a fazer a Clara, do Entre Giestas? E quando? Sabe, estão aqui amigos que gostam de teatro e são amigos do Ramada (Curto). De modo que, a propósito da “Recompensa”, e como alguns companheiros vindos do Porto falaram do grupo tavaredense, entabulou-se conversa teatral. Durante mais de uma hora, os meus amigos Major Areosa, dr. Basílio, Coronel Ramos, Castro e outros, ouviram-me falar da “Canção do Berço”, da crítica estrangeira, da adaptação cinematográfica e da tradução portuguesa que a Sociedade de Instrução representou. O curioso é que, quando eu lhes descrevi a peça, ao terminar reparei que todos estavam comovidos e os olhos do Coronel Ramos e do dr. Basílio tinham lágrimas. Esta boa gente escuta-me, com atenção e não me chamam maçador!”.
Como dissemos, muito mais de interessante e que podia integrar-se nas nossas histórias, se encontra nas muitas cartas trocadas. Mas, sobre este assunto, ponto final, como se costuma dizer.


Ainda em 1938, a 24 de Abril, o grupo tavaredense levou à cena outra peça que deixou fama: “Génio Alegre”. E foi com esta peça que, no dia 22 de Julho de 1939, tendo, entretanto, regressado Mestre José Ribeiro e restabelecida a saúde de Violinda Medina, retomaram a actividade teatral, depois de um interregno superior a um ano, precisamente num espectáculo de homenagem àquela amadora que “depois da sua grave doença retoma o seu lugar no nosso grupo cénico”.
Com tanta energia e vontade se dedicaram aos ensaios e récitas que, de 22 de Julho de 1939 a 1 de Janeiro de 1940, realizaram doze espectáculos em Tavarede, Buarcos, Figueira, Coimbra e Quiaios, com as peças “Génio Alegre”, “Entre Giestas” e a nova peça “Recompensa”.
E do relatório da direcção do biénio 1938/1939, transcrevemos dois breves apontamentos. O primeiro, e depois dos habituais agradecimentos aos amadores, refere “...... para os outros, isto é, para os que, com razão ou sem ela, se afastaram sem a mais leve explicação, vai a indiferença fria e serena dos que ficaram. Igualmente para os que procuram fazer facilmente a digestão sem serem incomodados; para os que tudo criticam por prazer de criticar e que nada produzem em benefício da colectividade; para os chefes de comícios rebeldes de comissões de desagregação na via pública e na taberna, vai o nosso profundo desgosto e também a nossa indiferença!”. E terminam o referido relatório com este apelo: “à direcção que nos suceder e ao director do nosso grupo cénico, pedimos que se não esqueçam de auxiliar, na medida do possível, os associados doentes ou os sem trabalho; que se lembrem, sempre, que são os componentes do grupo cénico os mais sacrificados e, por conseguinte, tanto rapazes como raparigas, homens como mulheres, os que mais direitos têm em ser auxiliados”.

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