quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 32


Encontram-se muitas críticas e comentários às diversas representações de “O Grande Industrial”. Recolhemos este apontamento: “...... Já nos tinham falado com admiração, dos amadores que aqui representaram (Coimbra) “O Grande Industrial”, no Teatro Avenida. Na verdade, é preciso raro talento da parte de quem escolheu entre humildes trabalhadores, as personagens que haviam de interpretar, não só as figuras exteriores, de casacas e vestidos elegantes, como o “interior”, a alma tão diferente, tão afastada, da dos seus intérpretes, pela sua condição..... Mas seria injusto deixar de confessar que entre os elementos do grupo de Tavarede existem surpreendentes vocações, alguns amadores tão bons como certos profissionais da cena”.
Pelas festas comemorativas do 34º aniversário da fundação, um novo êxito subiu à cena no palco de Tavarede. Estreou-se, no dia 22 de Janeiro de 1938, a peça “Entre Giestas”, do dramaturgo Carlos Selvagem.
Devemos referir que, em Julho de 1937, a polícia política havia suspendido a publicação do jornal figueirense “A Voz da Justiça”, dos tavaredenses Manuel Jorge Cruz e José da Silva Ribeiro, entre outros sócios da Tipografia Popular, saqueando e roubando todo o equipamento e maquinaria. A Sociedade de Instrução Tavaredense foi bastante prejudicada. Aquele jornal foi, desde a sua fundação, um verdadeiro “porta-voz” da colectividade. José Ribeiro, com a intenção de ajudar os operários daquela tipografia, que ficaram desempregados, tentou um novo periódico, “Jornal da Figueira”. Também por problemas políticos, esta publicação não vingou. Teve uma curtíssima existência, somente entre Abril e Julho de 1938. Com mais uma prisão do seu ensaiador, novamente o grupo cénico tavaredense se viu forçado a interromper a sua actividade, que, naquela ocasião, era já enorme, graças ao repertório em cena.







O Grande Industrial (Manuel Nogueira, António Graça e Violinda Medina)





Durante o seu cativeiro, desta vez na prisão do Aljube, no Porto, José Ribeiro esteve com o seu pensamento sempre em Tavarede e no teatro. A sua principal amadora, Violinda Medina e Silva, havia novamente adoecido. As notícias que José Ribeiro recebeu, sobre esta doença, afligiram-no. Escreveu-lhe, então, uma longa carta.
“........ Calcule a Violinda com que saudades lembro os ensaios... O meu grande desejo conhece-o a Violinda, conhece-o toda a sua família e conhecem-no todos os nossos amigos do teatro: que se restabeleça completamente. Com a saúde há-de voltar-lhe a alegria, que tanto lhe admiramos. A sua saúde é preciosa, para a sua filha, para a sua família, para mim e para os nossos companheiros do grupo. Olhe que o grupo não pode passar sem a Violinda! Esta afirmação, que é verdadeira, não pode servir para considerar interesseiros os meus desejos de melhoras. Não: acima de tudo a saúde da Violinda, mesmo com sacrifício do teatro, se tanto fosse preciso. E olhe que, se a Violinda agora deixasse o grupo, já lhe tinha prestado serviços relevantíssimos, inesquecíveis e que não podem ser-lhe pagos senão com a gratidão de todos nós – e à frente de todos, nesse preito de gratidão, coloco-me eu. Pense, pois, na sua saúde como primeira razão”.


Entre Giestas (Francisco Carvalho,Fernando Reis e João Cascão)


Também escreveu à direcção da colectividade, lembrando que “a exemplo de casos idênticos, era conveniente auxiliar-se, devido ao seu estado de saúde, a nossa amadora Violinda Medina, caso se verificasse que, efectivamente, ela necessitava de qualquer auxílio”. Como a direcção tivesse conhecimento de que, na verdade, “a doente tinha feito grandes despesas, logo que assentou no quantitativo a conceder, com a condição de se não divulgar, razão porque aqui é omitida”.
Realmente, e consultando o livro de caixa, não se encontra qualquer vestígio deste auxílio. Encontramos, sim, a compra de um aparelho de telefonia, da marca RCA, usado, por 700$00 e uma mobília com 13 peças, por 1.600$00!!! Como termo de comparação, registe-se que um espectáculo no Casino Peninsular, com a peça “O Grande Industrial” teve uma receita bruta de 2.288$00 e uma despesaa de 1.174$10. Acrescentemos que, naqueles tempos, os foguetes para o aniversário custaram 140$00 e que um almoço, oferecido por ocasião do Natal, aos amadores e colaboradores do grupo dramático, importou em 851$95, mais 100$00 pagos à orquestra “Caixeiros Melody-Jazz”, que abrilhantou o mesmo!

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