Nos dias 27 e 28 de Maio de 1944, a Sociedade de Instrução foi a Pombal dar dois espectáculos, com as peças “O Sonho do Cavador” e “O Grande Industrial”, a favor da “Obra dos Pobresinhos de Pombal” e dos Bombeiros Voluntários daquela localidade. No regresso “por interrupção de luz nos faróis do veículo, este saíu fora do leito da estrada, a pouca distância da referida vila, e tombou-se sobre uma das árvores das margens, a qual evitou uma queda de alguns metros de altura, que podia ter graves consequências”. Felizmente, diz a notícia, foi apenas o susto e este não foi pequeno.
A nossa colectividade não ficou indiferente aos horrores da guerra, e em colaboração com a colónia francesa residente em Portugal, realizou no Parque Cine um espectáculo, a favor das crianças francesas vítimas da guerra, com a peça “Entre Giestas”.
“No “écran” foi passado o mais recente documentário da guerra sobre a libertação de Paris com episódios impressionantes, e cenas de luta, de sangue, de alegria e patriotismo, que ficará como fiel documento pela história fora”. Pelo representante em Portugal do Governo provisório da República Francesa, que estava acompanhado por duas senhoras francesas, vestindo os trajos nacionais da Alsácia e Lorena, foi feito expressivo agradecimento à nossa colectividade.
Entre Giestas
Também, por esta ocasião, recomeçaram as palestras dedicadas, em especial, aos elementos da secção dramática. A primeira, de uma série intitulada “Origem e evolução do Teatro” mereceu, num jornal figueirense, o seguinte comentário:
“Mais vale tarde que nunca... e José Ribeiro, que é profundo em matéria teatral, descreveu-nos, com uma clareza extraordinária – acompanhada de algumas projecções – como foi criado o teatro e a sua origem. Era na verdade indispensável que o soubessem, quem há muitos anos se dedica à nobre arte de Talma. Com o seu formidável improviso e um invulgar poder descritivo, deu-nos imagens maravilhosas de beleza e realismo. Tão belas, que não foram necessários diapositivos nem lanternas para nós as vermos como se fossem projectadas num “écran”. José Ribeiro levou-nos – em pouco tempo – como se fossemos de avião, à Grécia, à Itália, à Inglaterra, à França e à Espanha. Depois desta “viagem” ninguém saía do seu lugar: todos queriam “viajar” mais... É que José Ribeiro descreve com uma facilidade e uma clareza admiráveis”.
Um ano depois, e para inauguração da época 1945/46, realizou-se a segunda palestra sobre o mesmo tema. O mesmo jornal escreve novo apontamento, de que retiramos: “Os amadores de Tavarede sentem-se orgulhosos por terem um ensaiador que conhece profundamente de teatro. Técnico distinto, ensaia duma forma admirável: conhecendo os segredos da Arte, ele consegue que os seus colaboradores façam milagres. Para conseguir o seu fim educativo não se limita só aos ensaios, quere que os amadores tenham um mínimo de cultura. E então resolveu ensinar, através das suas palestras, um pouco do muito que ele conhece sobre a arte de Talma. A segunda palestra não foi inferior à primeira. Apesar de não ter sido acompanhada de projecções – por não se conseguir lanterna para projectar gravuras – ela não deixou de ser brilhante. José Ribeiro consegue dar-nos através do seu grande poder descritivo imagens cheias de vida. Formidável diseur, leu-nos o célebre “Monólogo do Vaqueiro”, uma passagem de “A Castro” e os finais do 2º e 3º actos de “Frei Luís de Sousa”, que impressionaram a assistência pela maneira como foram ditos”.
Esta notícia está assinada por “Um dos amadores” e não erraremos se indicarmos o nome de António Jorge da Silva, como seu autor. A terceira e última palestra desta série, teve lugar no dia 20 de Julho de 1947, mas, contrariamente às primeiras, não encontrámos qualquer notícia.
No relatório do exercício de 1945, está exarado o seguinte “Reconhecimento - ..... uma especial referência ao exmo. sr. Manuel Frederico Pressler, cumprindo-nos o grato dever de levar ao conhecimento de todos os consócios que, além de lhe ficarmos a dever uma peça admirável como é o “Horizonte”, que mais veio enriquecer o nosso repertório, devemos-lhe, também, a cedência, em proveito do nosso fundo de obras, dos seus direitos de autor, que impôs como condição teríamos de receber mesmo nos espectáculos dados por nós em prol de instituições de assistência..... reconhecimento sincero que já uma vez tivemos o prazer de lhe testemunhar, convidando-o para assistir a um jantar que lhe dedicámos, na nossa sede, e a que nos deu a honra de assistir, tendo este decorrido num ambiente de franca cordialidade, de maneira a deixar todos satisfeitos”.
O ilustre dramaturgo respondeu “... agradecer as palavras tão gentis exaradas no vosso relatório e a grande honra que me fizeram nomeando-me Sócio Honorário dessa prestimosa Colectividade. Mais uma vez quero afirmar o prazer que tive em que “Horizonte” fosse representado pelo vosso Grupo Dramático que, em todas as representações desta peça, actuou de maneira notável. Quanto à cedência dos direitos, nada há a agradecer-me. Servindo a Sociedade de Instrução Tavaredense, mesmo modestamente como fiz, prestei um serviço ao Teatro português; e, se o Teatro é a vossa causa, é também a minha causa”.
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