“A garridice dos Trajos Portugueses, a que deve o título a festa, apresentou-se bem, em quantidade e em qualidade, quer por parte dos rapazes como por parte das raparigas. Vistosos trajos vestiam as mais lindas cachopas da alegre terra do limonete e das cercanias. O júri viu-se em palpos de aranha, quando quis classificar os três trajos mais expressivos que se apresentaram na festa, pois o salão regorgitava de pares dançantes, vestindo trajos de fantasia ou característicos das regiões portuguesas”. Foi assim que “Notícias da Figueira” comentou uma festa realizada na colectividade, em Outubro de 1946.
Além do concurso dos “Trajos”, também houve concurso de quadras, com referência obrigatória a trajos portugueses. E a notícia conclui: “Mas a terra do limonete não se fica por aqui! A festa continua – no dia 9 de Novembro, com a representação do seu excelente grupo cénico, numa “Noite de Teatro Português”, que há-de ficar memorável e, naturalmente, exige repetição, pois o teatro é pequenino demais para se levar à cena, apenas uma vez, coisa de tal envergadura. Três épocas do nosso teatro serão interpretadas, com as suas características das respectivas épocas e da Arte de Representar. Teatro hierático, com o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente; Teatro romântico, com o 2º acto da “Morgadinha de Valflor”, de Pinheiro Chagas; e Teatro realista, com o 3º acto de “Entre Giestas”, de Carlos Selvagem. O velho Sílvio Pélico dizia a propósito de uns goivos, que eram verdadeiras maravilhas: “Goivos assim, ou de Nice... ou de Pereira!”. Podemos dizer agora “Uma coisa destas... só em Tavarede!”.
A propósito desta notícia, lemos no relatório daquele ano: “Foi um ano infeliz no que diz respeito à actividade da secção dramática... ... não se deu, nem afrouxamento da vontade de trabalhar por parte de todos, nem a mudança de orientação, mas tão somente a motivos de força maior, contra os quais nada podemos”. A ausência ou doenças de amadores e amadoras e o falecimento de familiares próximos, foram obstáculos intransponíveis. Este programa foi apresentado mais tarde, em Tavarede e, também, na Figueira e em Coimbra. E se “na Figueira fôra excepcionalmente apreciado, em Coimbra o êxito foi maior ainda, como ficou bem documentado no que disse a imprensa. Pelo seu valor cultural, pela sua apresentação e pelo desempenho, este espectáculo honra o grupo que o realizou. É nossa opinião que nunca a SIT apresentou programa mais valioso, sob todos os aspectos”.
Em Janeiro de 1947, no Parque Cine, foi apresentado o “Auto da Mofina Mendes”, “uma das mais belas obras de teatro histórico que nos deixou o genial fundador do teatro português e que pela primeira vez se representou na Figueira”. “É de notar como o grupo cénico da SIT enquadrou as personagens simbólicas num cenário propositadamente frio, rígido, representado como cumpria, quase sem “movimento de cena”, a contrastar com as personagens do primeiro plano, que representavam para aquém da cortina: os pastores e a Mofina, aqueles interpretando o “maravilhoso”; estes a “vida terrena””.
Pelo Natal e Ano Bom, foi apresentado um novo programa. “A SIT organizou, para recreio espiritual dos seus associados e pessoas de família, um interessantíssimo serão de arte dramática, ao qual foi dado o título genérico de “O Natal no Teatro”. ... o mais interessante de O Natal no Teatro e da interpretação e da montagem das três pequenas peças – que, como poderá supor-se, visto tratar-se do grupo cénico da SIT, foi impecável – na indumentária, nas caracterizações, nos belos cenários expressamente feitos pelo artista Rogério Reynaud e na boa música do distinto amador António Simões, na montagem, em suma – é que cada uma das peças mereceu especial encenação, visto tratar-se, embora com o mesmo tema, de épocas de teatro e “maneiras” consideravelmente distanciadas. E todos se houveram bem, como, aliás, era de esperar e de harmonia com o que explicou à assistência o director do grupo cénico, José Ribeiro, numa espécie de prólogo ou introdução ao que ia ver-se e ouvir-se, e no qual, em breve escorço, se referiu ao Teatro e à sua evolução, através dos tempos.
Assim, os “Mistérios”, escritos por Gil Vicente para serem “representados ao Príncipe D. João III endereçado às matinas do Natal, na era do Senhor de 1534”, são incluídos no Teatro
hierático, embora interessados com o entremês da “Mofina”; o “Presépio” foi representado conforme a tradição local (afinal mais antiga em Tavarede do que na Figueira), em perfeita liberdade de movimentos dos intérpretes, com os consabidos anacronismos de guarda-roupa, de referências de época, de situação geográfica, etc., tal qual o temos visto durante gerações e gerações, que lhe têm imprimido “coisas de sua casa” e chalaças de ocasião, nos conhecidos quadros dos “Pastores Brutos”, de “As Cinco Pastoras”, de “O Moço e o Cego”, da “Romagem do Diabo” (nesta particularidade está o segredo de jamais ter sido “retirado do cartaz”, em anos e mais anos, através de gerações e gerações, deliciando a assistência e tornando-se motivo de... orgulho de tantos conterrâneos nossos que têm cultivado a chamada arte de Talma. Finalmente subiu o pano e abriram-se as cortinas para a representação da peça bíblica em 1 acto e 4 cenas “O Nascimento do Messias”, com acção desenrolada em Nazaré e em Belém de Judá, no ano de 752 de Roma, peça sem indicação do nome do autor, mas que sabemos expressamente estudada e escrita para esta interessante e curiosa festa e que, muito justamente, agradou a todos!”.
Além do concurso dos “Trajos”, também houve concurso de quadras, com referência obrigatória a trajos portugueses. E a notícia conclui: “Mas a terra do limonete não se fica por aqui! A festa continua – no dia 9 de Novembro, com a representação do seu excelente grupo cénico, numa “Noite de Teatro Português”, que há-de ficar memorável e, naturalmente, exige repetição, pois o teatro é pequenino demais para se levar à cena, apenas uma vez, coisa de tal envergadura. Três épocas do nosso teatro serão interpretadas, com as suas características das respectivas épocas e da Arte de Representar. Teatro hierático, com o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente; Teatro romântico, com o 2º acto da “Morgadinha de Valflor”, de Pinheiro Chagas; e Teatro realista, com o 3º acto de “Entre Giestas”, de Carlos Selvagem. O velho Sílvio Pélico dizia a propósito de uns goivos, que eram verdadeiras maravilhas: “Goivos assim, ou de Nice... ou de Pereira!”. Podemos dizer agora “Uma coisa destas... só em Tavarede!”.
A propósito desta notícia, lemos no relatório daquele ano: “Foi um ano infeliz no que diz respeito à actividade da secção dramática... ... não se deu, nem afrouxamento da vontade de trabalhar por parte de todos, nem a mudança de orientação, mas tão somente a motivos de força maior, contra os quais nada podemos”. A ausência ou doenças de amadores e amadoras e o falecimento de familiares próximos, foram obstáculos intransponíveis. Este programa foi apresentado mais tarde, em Tavarede e, também, na Figueira e em Coimbra. E se “na Figueira fôra excepcionalmente apreciado, em Coimbra o êxito foi maior ainda, como ficou bem documentado no que disse a imprensa. Pelo seu valor cultural, pela sua apresentação e pelo desempenho, este espectáculo honra o grupo que o realizou. É nossa opinião que nunca a SIT apresentou programa mais valioso, sob todos os aspectos”.
Em Janeiro de 1947, no Parque Cine, foi apresentado o “Auto da Mofina Mendes”, “uma das mais belas obras de teatro histórico que nos deixou o genial fundador do teatro português e que pela primeira vez se representou na Figueira”. “É de notar como o grupo cénico da SIT enquadrou as personagens simbólicas num cenário propositadamente frio, rígido, representado como cumpria, quase sem “movimento de cena”, a contrastar com as personagens do primeiro plano, que representavam para aquém da cortina: os pastores e a Mofina, aqueles interpretando o “maravilhoso”; estes a “vida terrena””.
Pelo Natal e Ano Bom, foi apresentado um novo programa. “A SIT organizou, para recreio espiritual dos seus associados e pessoas de família, um interessantíssimo serão de arte dramática, ao qual foi dado o título genérico de “O Natal no Teatro”. ... o mais interessante de O Natal no Teatro e da interpretação e da montagem das três pequenas peças – que, como poderá supor-se, visto tratar-se do grupo cénico da SIT, foi impecável – na indumentária, nas caracterizações, nos belos cenários expressamente feitos pelo artista Rogério Reynaud e na boa música do distinto amador António Simões, na montagem, em suma – é que cada uma das peças mereceu especial encenação, visto tratar-se, embora com o mesmo tema, de épocas de teatro e “maneiras” consideravelmente distanciadas. E todos se houveram bem, como, aliás, era de esperar e de harmonia com o que explicou à assistência o director do grupo cénico, José Ribeiro, numa espécie de prólogo ou introdução ao que ia ver-se e ouvir-se, e no qual, em breve escorço, se referiu ao Teatro e à sua evolução, através dos tempos.
Assim, os “Mistérios”, escritos por Gil Vicente para serem “representados ao Príncipe D. João III endereçado às matinas do Natal, na era do Senhor de 1534”, são incluídos no Teatro
hierático, embora interessados com o entremês da “Mofina”; o “Presépio” foi representado conforme a tradição local (afinal mais antiga em Tavarede do que na Figueira), em perfeita liberdade de movimentos dos intérpretes, com os consabidos anacronismos de guarda-roupa, de referências de época, de situação geográfica, etc., tal qual o temos visto durante gerações e gerações, que lhe têm imprimido “coisas de sua casa” e chalaças de ocasião, nos conhecidos quadros dos “Pastores Brutos”, de “As Cinco Pastoras”, de “O Moço e o Cego”, da “Romagem do Diabo” (nesta particularidade está o segredo de jamais ter sido “retirado do cartaz”, em anos e mais anos, através de gerações e gerações, deliciando a assistência e tornando-se motivo de... orgulho de tantos conterrâneos nossos que têm cultivado a chamada arte de Talma. Finalmente subiu o pano e abriram-se as cortinas para a representação da peça bíblica em 1 acto e 4 cenas “O Nascimento do Messias”, com acção desenrolada em Nazaré e em Belém de Judá, no ano de 752 de Roma, peça sem indicação do nome do autor, mas que sabemos expressamente estudada e escrita para esta interessante e curiosa festa e que, muito justamente, agradou a todos!”.
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