terça-feira, 6 de julho de 2010

José Martins da Cruz Dinis (Padre)

Em consequência da morte do padre Manuel Vicente, ocorrida em Agosto de 1928 devido a um acidente com a camioneta de excursionistas a Fátima, a paróquia de Tavarede foi entregue, interinamente, ao padre Alfredo Amado de Abrantes Couto, pároco de Buarcos. No mês de Dezembro seguinte assumiu o cargo da paróquia tavaredense o reverendo José Martins da Cruz Dinis.
Não foi fácil a sua integração na nossa terra. Recentemente formado, cheio de ideias conservadoras, veio encontrar uma freguesia em que os paroquianos se encontravam muito divididos religiosamente.
O seu antecessor, padre Manuel Vicente, por temperamento muito chegado ao povo e às suas tarefas quotidianas, havia ultrapassado, com relativa facilidade, dois períodos bastante difíceis para a Igreja: a implantação da República em 1910, e a consequente lei da separação da Igreja do Estado, e a revolução de 28 de Maio de 1926, que alterou profundamente a situação religiosa, com a Igreja a retomar muitos dos seus anteriores privilégios.
O padre Cruz Dinis, que ficou conhecido na nossa terra pela alcunha de “Papa-léguas”, certamente por muito caminhar no desempenho da sua missão, de imediato procurou o desenvolvimento da religião cristã e o chamamento a si dos fiéis que, entretanto, se haviam afastado das práticas religiosas.
Como sabemos, Tavarede tinha grande parte dos seus naturais fervorosamente arreigados ao regime republicano. Os métodos seguidos pelo padre Dinis para atrair os seus paroquianos, não foram do agrado de todos. O choque foi inevitável, mas uma verdade se impõe. Além da parte religiosa, ele de imediato procurou desenvolver a instrução e a educação em Tavarede. Encontram-se imensas notícias pró e contra as suas atitudes. Despertou, como se calcula, “ódios e paixões” entre os tavaredenses.



O Grupo Musical, por motivos ainda não totalmente esclarecidos, teve de vender a sua sede, o que o levou a acabar com a sua secção dramática. O padre Dinis conseguiu que a Diocese de Coimbra comprasse a casa e lhe cedesse a mesma, para ali instalar uma nova associação onde pudesse desenvolver a sua actividade de cultura popular, estreitamente ligada à Igreja local.
Fundou, então, o Grémio Educativo e de Instrução Tavaredense, assumindo o cargo de presidente da Direcção. Procurou manter a actividade teatral, e, aliás, foram muitos os anteriores amadores que ali continuaram. Teve, até, o cuidado de, além da escola que ali instalou e que chegou a albergar largas dezenas de crianças, criar uma secção cénica juvenil, levando à cena algumas peças, de cariz religioso, interpretadas por jovens.
Travou-se, na imprensa figueirense, dura luta entre ele e alguns seus amigos, que o defendiam acerrimamente, e os seus adversários religiosos e políticos. Talvez que alguns dos seus procedimentos, na igreja de que era pastor, não tivessem sido os melhores. É difícil, a quem não viveu a situação, julgar o ocorrido através das notícias publicadas. No entanto, e disso não temos dúvidas, desempenhou importante papel educativo e cultural em Tavarede durante a sua permanência na paróquia.
O ambiente, porém, acabou por se lhe tornar demasiado hostil e, em 1935, foi transferido, a seu pedido, para a freguesia de S. Paulo dos Frades, em Coimbra. O Grémio Educativo, de que ele era a alma, também não resistiu e fechou as portas.
Um caso curioso. Cerca de quatro anos depois da sua saída de Tavarede, foi encontrar-se, preso, com o seu grande adversário tavaredense, José Ribeiro, que estava igualmente detido por motivos políticos. Parece que houve reconciliação. A luta em Tavarede, aliás, já acabara.




Caderno: Tavaredenses com história

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