sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 40

Em Janeiro de 1947 foi inaugurado novo estandarte, do qual foi madrinha a srª D. Asta Willing da Cunha Esteves, esposa do sócio Capitão José da Cunha Esteves, da Quinta do Peso.
A Assembleia Figueirense, no dia 28 de Fevereiro de 1948, levou a efeito, no Parque Cine, uma festa em homenagem a Rogério Reynaud. Depois de um prólogo, em que foram apresentadas as cenas “Sol na Charneca”, “Beira-Mar” e “Desfolhada ao Luar”, houve mais quatro partes, a última das quais esteve a cargo do nosso grupo cénico. “A encantadora peça bíblica “O Nascimento do Messias”, foi escolhida expressamente para permitir serem postos em evidência quatro maravilhosos trabalhos de cenografia da autoria do homenageado”.


No ano de 1949 foi levada à cena, pela primeira vez, a peça “Raça”, e em Junho de 1950, foi a vez da comédia, dos Irmãos Quintero, “Pé de Vento”. Foram mais dois triunfos para a SIT. Mas, ainda mais um extraordinário êxito chegou neste último ano. No dia 28 de Outubro de 1950, na nossa sala de espectáculos, foi apresentada, em estreia, a fantasia “Chá de Limonete”, da autoria de José da Silva Ribeiro, com música de António Maria de Oliveira Simões. Encontrámos muitas críticas e comentários a esta fantasia. No entanto, entendemos que será interessante transcrever o que a direcção da colectividade escreveu no seu relatório daquele ano.
“Esta peça exigiu dos seus Autores um trabalho exaustivo, só muito palidamente avaliado por quem de mais perto com eles tratava. Tanto os amadores antigos como os que agora entraram de novo, tiveram nesta peça ensejo de demonstrar a sua boa vontade ensaiando sem descanço, todas as noites, durante cerca de dois meses, para que a peça fosse apresentada na data marcada, o que, por várias razões, era muito importante. Foi um esforço fora do vulgar que a direcção muito sinceramente agradece e que torna os componentes da nossa já famosa secção dramática cada vez mais dignos do reconhecimento da assembleia geral.
Na impossibilidade de registar aqui os nomes de todos os figurantes e demais os numerosos amigos que, de qualquer forma, prestaram o seu concurso, contribuindo assim para o êxito que “Chá de Limonete” obteve, seja-nos permitido citar o sr. José Nunes Medina que, tomando a seu cargo a parte musicada, foi um bom auxiliar do sr. José Ribeiro. Quando se pensou pôr em cena esta peça, foi posta de parte qualquer ideia de lucro; antes pelo contrário: contava-se em que a receita nunca chegaria a cobrir a elevada despesa que a mesma acarretaria. Porém, como se tratava duma peça educativa, com fundo histórico, que mostrava aos tavaredenses (e aos estranhos) muita coisa que desconheciam sobre a sua terra, resolveu-se ir para a frente, isto é, pô-la em cena, embora o resultado financeiro fosse mais que duvidoso”.
Verificou-se, porém, que depois de 14 representações seguidas, uma das quais no Casino Peninsular, “sempre com o maior agrado do público e as mais elogiosas, e algumas delas, honrosas referências, tanto à peça como ao desempenho, “Chá de Limonete” não só está pago mas ainda apresenta saldo”.
Aconteceu, e logo no dia da estreia, um lamentável acidente. “No final, foi feita uma chamada especial a Rogério Reynaud, autor de alguns dos belos cenários da peça. Quando aquele distinto artista descia a escada duma casa anexa para se furtar aos aplausos, caíu tão desastrosamente que sofreu fractura do crâneo e de uma clavícula”.
“A montagem da peça é sumptuosa: cenários, guarda-roupa, até os mais insignificantes adereços, tudo assinala a preocupação de impressionar bem o espectador. Até na urdidura da peça o autor, evitando o clássico “compère” para a ligação dos respectivos números, mostrou o propósito de apresentar obra diferente das outras revistas. Tratando-se, aliás, dum trabalho composto sobre fundo histórico, esse facto lhe conferia já assinalada diferença. A fantasia só colaborou o bastante para quebrar a aridez dos factos históricos, amenizar o espectáculo e levar o espectador a recebê-lo sem enfado. Consistiu nisso o principal e grande esforço do autor. Conseguiu seus fins”. Um pouco adiante, continua a notícia:
“Há até a assinalar quadros e passagens em que faz crítica salutar e construtiva, bem patente no elogio da vida rural, na condenação do vício da taberna, da psicose futebolística, do endeusamento ao fado, em contraste com a indiferença e menosprezo a que são votados os grandes valores intelectuais da Nação. Estamos também com o autor quando pela boca do “Endireita” condena indignamente o “mentiroso” e o “velhaco” que anda pelas igrejas a pretender alardear princípios que não vive. O hipócrita é um ser desprezível, abominável, monstruoso, onde quer que apareça e por maioria da razão quando desce a comprometer, com a doblez do seu procedimento, a causa sacratíssima de Deus”.
A rematar a nossa história de hoje, copiamos um protesto enviado ao fogueteiro habitual. “Embora com profundo desgosto, não podemos deixar de lhe apresentar o nosso veemente protesto pela sucata que nos enviou. Os morteiros de carga inteira para a salva iam-nos acarretando sérios dissabores, pois uma parte deles só rebentavam no chão e outra parte nem sequer rebentavam. Se deseja ter a confirmação do que afirmamos, dirija-se V.Sª. ao Presidente da Junta de Tavarede, que nos quis proibir de acabar de atirar a salva, em virtude do perigo que representavam, caíndo em plena via pública. Os foguetes de bataria também eram bastante fracos não subindo bem e rebentando mal”.

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