sábado, 2 de maio de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete - 126

         O espectáculo de gala, concebido e ensaiado pelas amadoras Ilda Manuela Simões e Ana Maria Caetano, evocou o passado teatral da colectividade. A comemorar os cem anos (1904-2004), de intensas e prodigiosas actividades teatrais, recordam-se os seus fundadores e todos os obreiros do teatro da terra do limonete.
Enaltece-se na efeméride o inesquecível José da Silva Ribeiro, que desapareceu fisicamente há 16 anos, mas vive na memória de todos quantos ainda se regem pelos ensinamentos, subsistindo a sua escola no trabalho artístico dos actores da Sociedade de Instrução Tavaredense.
Diríamos que a arte e o sonho são uma constante neste grupo de jovens e menos jovens que aliam a sua arte à solidariedade, sendo eles próprios a seiva renovadora desta colectividade que se movimenta para o povo e dele terá, sempre, o seu carinho e aplausos merecidos. 
É sobretudo poesia, através da qual nos é dado conhecer as raízes do povo de Tavarede, a sua simplicidade, o seu trabalho, sua espontaneidade e alegria.
Também os trajes complementam o quadro, e a música que gentes simples cantavam, ao compasso da enxada, cavando a terra.
No trabalho duro, mas honrado. Mas regista, também, ao longo da sua apresentação alguns confrontos interpretativos do melhor que os actores sabem assumir nos textos que lhes cabem, transmitindo à plateia o que o autor pretende em razão e emoção.
Provou-se nesta Marcha do Centenário não serem necessários os quadros estéticos das cenografias para contagiar as plateias, já que neste espectáculo se revitaliza a cor e a graciosidade, os tons (e o cheiro) da terra, face a uma plateia que ri, e se emociona até às lágrimas, batendo palmas sem fim numa apoteose inesquecível.
Porque se entende, e é necessário  entender para sentir a arte e o sonho de um espectáculo riquíssimo de amor às tradições de uma terra que nos ensina a reviver a nobre cultura de gentes que são nossas, porque iguais nas alegrias e tristezas da vida, que caminha sempre para o nada.
E neste constante marchar de cada um, saibamos marchar também com as nossas palmas, marcando presença e gratidão no sonho e por forma a vencer os nossos dramas.
E de tudo isto, Fernando Romeiro, o anfitrião, nos deu conta, na boca da cena, que foram 15, num ritmo profissionalizado, envolvente, vigoroso e expressivo, convidando a plateia ao espectáculo da Marcha do Centenário, de cena em cena, para rir e pensar, pois então.
O chá da terra do limonete, génio alegre, as árvores morrem de pé, brasão de Tavarede, pote florido nos jardins de Tavarede, os velhos, Maria Parda, na fonte de Tavarede, laranjas de Tavarede, a forja, a mãe do Processo de Jesus, a conspiradora, foguetes na terra do limonete e, por último, o centenário da SIT, em apoteose e com o Coro de Champanhe, a encerrar de forma magnífica pela qualidade dos sons e da movimentação em palco, com o público rendido e feliz de uma noite e uma marcha que nos obriga a voltar à Sociedade de Instrução Tavaredense.
Apoios à produção vieram da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Junta de Freguesia de Tavarede, Escola Profissional da Figueira da Foz e Rancho do Saltadouro”.

Na manhã seguinte, depois da tradicional arruada pela tuna de Tavarede, que percorreu as principais ruas da aldeia, realizou-se uma romagem ao cemitério local, tendo sido depostas flores nalgumas campas, representativas de todos quantos participaram, em vida, na fundação da colectividade e no grupo dramático. Perante a sepultura do fundador e primeiro sócio número um, após se ter escutado o hino da associação, um representante da comissão organizadora das festas do centenário leu a seguinte mensagem: Aqui estamos, perante a vossa presença espiritual para, em nome das muitas gerações de tavaredenses que, desde o dia 15 de Janeiro de 1904, têm vivido a Sociedade de Instrução Tavaredense por vós fundada naquele abençoado dia, vos prestar contas e apresentar agradecimentos.São passados cem anos. E ao comemorarmos tão feliz acontecimento, sentimos orgulho em vos testemunhar que, até hoje, a vossa e nossa Colectividade tem cumprido, com todo o rigor, os ideais por vós estabelecidos, ao serviço da educação e da instrução do povo tavaredense. E não só! Grande parte do nosso país conhece o glorioso nome da Sociedade de Instrução Tavaredense e tem admirado e aplaudido o grupo cénico por vós iniciado há cem anos. Muitas, mesmo muitas, são as instituições de assistência, desde Vila Real de Trás-os-Montes a Sintra que, ao longo de todos estes anos, receberam valioso apoio financeiro, de que tanto careciam para a sua obra, e que o nosso cénico lhes concedeu em largas dezenas de espectáculos em benefício dos seus cofres.
Se, na verdade, alguma coisa existe no Além, para onde partistes há tantos anos, estamos certos de que vos sentireis satisfeitos e orgulhosos dos vossos descendentes. Nós, acreditai, sentimo-nos conscientes de que sempre cumprimos e dignificámos a obra por vós iniciada. E esperamos, sinceramente, que os nossos descendentes também o irão fazer.
E se é com a consciência do dever cumprido que hoje aqui nos reunimos para vos prestar contas, também queremos expressar à memória de todos vós, o sincero agradecimento das gentes da terra do limonete. Obrigado, pela obra que iniciaram e nos legaram. Obrigado, pelo caminho que nos deixaram aberto. Graças a vós, podemos afirmar que os tavaredenses, humildes como sempre, alcançaram um nível de instrução e educação pouco vulgares em pequenas aldeias como a nossa.
Aceitai a singela lembrança das nossas flores. E tenhais a certeza de que, para todo o sempre, a vossa memória estará presente dentro e fora das paredes daquela casa, que tão devotada e filantropicamente erguestes com a esperança de um futuro melhor para todos os vossos conterrâneos…

À tarde, na sala de espectáculos, teve lugar a sessão solene comemorativa da efeméride. Presidiu à mesma o secretário de Estado da Cultura, tendo marcado presença altas individualidades autárquicas da Figueira e de Tavarede, além do representante do Governo Civil de Coimbra. Também as congéneres concelhias se fizeram representar e os seus estandartes, encostados às paredes da plateia, davam vistoso aspecto à sessão.
E no domingo, dia 18, pela tardinha, a sessão solene comemorativa do centenário da Sociedade de Instrução Tavaredens

A cuidada sala de espectáculos daquela casa, onde pareciam ainda pairar os aplausos e as emoções da noite anterior, voltou a encher. Encheu a sala, encheu o palco, onde não faltavam lindas flores (pode entender-se o duplo sentido), e enriqueceu a história desta meritória associação. Esta sessão comemorativa teve razões de sobra para se tornar inesquecível. O público aderiu quase como se fosse a um espectáculo fortemente publicitado; na plateia e na galeria, os tavaredenses estiveram bem acompanhados por amigos e admiradores da sua sociedade; as colectividades congéneres fizeram-se representar em força e, algumas delas, ornamentaram as coxias laterais com os seus estandartes; as autoridades oficiais estiveram presentes: do Governo à Junta de Freguesia, com a Câmara Municipal da Figueira da Foz multipresente – Presidentes da Assembleia e do Executivo, Vereadores com e sem pelouro – e a reforçar o reconhecimento do mérito e do crédito da Sociedade, para além das presenças, várias mensagens de felicitações de gente ilustre: do Presidente da República ao actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa – como se sabe recente ex-presidente da CMFF – entre outras, que foram lidas pela presidente cessante a abrir a sessão que veio a ser dirigida por Sua Excelência o Secretário de Estado da Cultura.
Antes da oratória propriamente dita – os discursos da praxe – e logo após a leitura da correspondência, foram ainda distinguidos consócios ligados à sociedade há 50 anos, foi apresentado um novo estandarte da SIT e destruído o cunho da medalha comemorativa do centenário na presença do autor, o conhecido Francisco Simões, e foram referidos os nomes da equipa de dirigentes recentemente eleitos, liderada por Vítor Medina, tendo a presidente cessante, Rosa Paz, feito uma breve intervenção em que manifestou a sua confiança nos novos dirigentes e aproveitado para agradecer a colaboração da equipa exclusivamente feminina que com ela trabalhou e aos que a apoiaram ao longo dos seus mandatos.
A seguir muitos foram os oradores que teceram justos elogios à continuada acção cultural desenvolvida pela colectividade, essencialmente com o teatro amador de qualidade e que há muitos anos extravasou o concelho, com actuações também além fronteiras.
De entre os vários amigos da SIT, e para além daqueles (as) que são bem mais do que isso, usaram da palavra o Dr. Bernardes, um bem conceituado entendido na arte de Talma e conhecedor da carreira do grupo, e a Drª Teresa Coimbra, desde longa data muito ligada afectivamente aos tavaredenses que, com alguma emoção, se referiu ao inesquecível “sr. Zé Ribeiro” e aos seus conselhos.
O vasto conjunto de intervenções, que não destoaram, tiveram a terminar as palavras do Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz que foram precedidas pela intervenção do Secretário de Estado da Cultura que informou do apoio da sua secretaria quanto aos custos da edição do Livro do Centenário da SIT e que encerrou a sessão. Às entidades presentes, os tavarenses fizeram questão de oferecer exemplares da artística medalha que mantém para a posteridade a efeméride em comemoração. Enfim! Tavarede está, e vai continuar, em tempo de centenário....

... Numa sala repleta, a SIT atingiu um dos pontos altos das comemorações do seu centenário, com a realização da sessão solene, que contou com a presença de representantes de diversos organismos, com particular destaque para o meio associativo, e na qual foram homenageados Joaquim Cardoso Ferreira e José Manuel Barbosa por completarem 50 anos de associados. Seguidamente Francisco Marques Simões e João Mendes inutilizaram o cunho da Medalha do Centenário e foi apresentado o novo estandarte da colectividade. A Tuna de Tavarede, que abrilhantou a sessão, executou o hino da colectividade, da autoria de João da Silva Cascão.
Na altura das intervenções, Rosa Paz, a presidente cessante, defendeu que “o passado é glorioso, mas o presente em nada desprestigia os nossos antepassados”. Quanto ao presidente da Junta José Paz, focou a necessidade de “trazer os jovens – que são o futuro – para as colectividades”, uma vez que, defendeu, “é nestas casas que se cultiva a solidariedade, os valores e a cidadania”, que são, disse, “o avesso do individualismo de que a sociedade enferma”.
Por seu lado, Martins de Oliveira, vereador das colectividades quis render “homenagens sinceras a tão nobre colectividade que tem honrado a arte de Talma”, enquanto que a vereadora da cultura, Teresa Machado, focou o espectáculo alusivo ao centenário, considerando-o como “a memória daqueles que já partiram e o incentivo para que nunca se apague a chama da cultura na SIT”.
O presidente da Assembleia Municipal Daniel Santos, defendeu que os fundadores da colectividade e os seus continuadores “prestam um grande serviço à cultura, a Tavarede e à Figueira da Foz”, enquanto que o presidente do município, considerou este dia, “particularmente gratificante para os que se dedicam à cultura”. Duarte Silva recordou que o concelho “é rico na sua identificação cultural que continua a defender, apesar da massificação, com a participação das colectividades”. Referindo-se à aniversariante, sublinhou que a autarquia se orgulha e agradece “tudo aquilo que esta colectividade tem feito pelo concelho”.
A sessão foi encerrada por José Amaral Lopes, secretário de Estado da Cultura, que considerou ser “uma honra, estar presente numa colectividade que já fez pela cultura do país, mais do que eu poderei fazer”.

Focando o facto de a SIT ser “uma colectividade carregada de memória e que tem procurado construir uma sociedade mais justa, onde a cultura e os valores são os meios mais adequados para nos enriquecermos em confronto de ideias com os outros”, aquele elemento do Governo considerou também que a sua presença se ficou a dever ao “reconhecimento que esta instituição deve merecer de todos os portugueses”. Amaral Lopes anunciou ainda que o Ministério da Cultura vai suportar a edição do Livro do Centenário.

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