O
espectáculo de gala, concebido e ensaiado pelas amadoras Ilda Manuela Simões e
Ana Maria Caetano, evocou o passado teatral da colectividade. A comemorar os cem anos (1904-2004), de
intensas e prodigiosas actividades teatrais, recordam-se os seus fundadores e
todos os obreiros do teatro da terra do limonete.
Enaltece-se
na efeméride o inesquecível José da Silva Ribeiro, que desapareceu fisicamente
há 16 anos, mas vive na memória de todos quantos ainda se regem pelos
ensinamentos, subsistindo a sua escola no trabalho artístico dos actores da
Sociedade de Instrução Tavaredense.
Diríamos que
a arte e o sonho são uma constante neste grupo de jovens e menos jovens que
aliam a sua arte à solidariedade, sendo eles próprios a seiva renovadora desta
colectividade que se movimenta para o povo e dele terá, sempre, o seu carinho e
aplausos merecidos.
É sobretudo
poesia, através da qual nos é dado conhecer as raízes do povo de Tavarede, a
sua simplicidade, o seu trabalho, sua espontaneidade e alegria.
Também os
trajes complementam o quadro, e a música que gentes simples cantavam, ao
compasso da enxada, cavando a terra.
No trabalho
duro, mas honrado. Mas regista, também, ao longo da sua apresentação alguns
confrontos interpretativos do melhor que os actores sabem assumir nos textos que
lhes cabem, transmitindo à plateia o que o autor pretende em razão e emoção.
Provou-se
nesta Marcha do Centenário não serem necessários os quadros estéticos das
cenografias para contagiar as plateias, já que neste espectáculo se revitaliza
a cor e a graciosidade, os tons (e o cheiro) da terra, face a uma plateia que
ri, e se emociona até às lágrimas, batendo palmas sem fim numa apoteose
inesquecível.
Porque se
entende, e é necessário entender para
sentir a arte e o sonho de um espectáculo riquíssimo de amor às tradições de
uma terra que nos ensina a reviver a nobre cultura de gentes que são nossas,
porque iguais nas alegrias e tristezas da vida, que caminha sempre para o nada.
E neste
constante marchar de cada um, saibamos marchar também com as nossas palmas,
marcando presença e gratidão no sonho e por forma a vencer os nossos dramas.
E de tudo
isto, Fernando Romeiro, o anfitrião, nos deu conta, na boca da cena, que foram
15, num ritmo profissionalizado, envolvente, vigoroso e expressivo, convidando
a plateia ao espectáculo da Marcha do Centenário, de cena em cena, para rir e
pensar, pois então.
O chá da
terra do limonete, génio alegre, as árvores morrem de pé, brasão de Tavarede,
pote florido nos jardins de Tavarede, os velhos, Maria Parda, na fonte de
Tavarede, laranjas de Tavarede, a forja, a mãe do Processo de Jesus, a
conspiradora, foguetes na terra do limonete e, por último, o centenário da SIT,
em apoteose e com o Coro de Champanhe, a encerrar de forma magnífica pela
qualidade dos sons e da movimentação em palco, com o público rendido e feliz de
uma noite e uma marcha que nos obriga a voltar à Sociedade de Instrução
Tavaredense.
Apoios à
produção vieram da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Junta de Freguesia de
Tavarede, Escola Profissional da Figueira da Foz e Rancho do Saltadouro”.
Na manhã seguinte, depois da tradicional
arruada pela tuna de Tavarede, que percorreu as principais ruas da aldeia,
realizou-se uma romagem ao cemitério local, tendo sido depostas flores nalgumas
campas, representativas de todos quantos participaram, em vida, na fundação da
colectividade e no grupo dramático. Perante a sepultura do fundador e primeiro
sócio número um, após se ter escutado o hino da associação, um representante da
comissão organizadora das festas do centenário leu a seguinte mensagem: Aqui estamos, perante a vossa presença
espiritual para, em nome das muitas gerações de tavaredenses que, desde o dia
15 de Janeiro de 1904, têm vivido a Sociedade de Instrução Tavaredense por vós
fundada naquele abençoado dia, vos prestar contas e apresentar agradecimentos.São
passados cem anos. E ao comemorarmos tão feliz acontecimento, sentimos orgulho
em vos testemunhar que, até hoje, a vossa e nossa Colectividade tem cumprido,
com todo o rigor, os ideais por vós estabelecidos, ao serviço da educação e da
instrução do povo tavaredense. E não só! Grande parte do nosso país conhece o
glorioso nome da Sociedade de Instrução Tavaredense e tem admirado e aplaudido o
grupo cénico por vós iniciado há cem anos. Muitas, mesmo muitas, são as
instituições de assistência, desde Vila Real de Trás-os-Montes a Sintra que, ao
longo de todos estes anos, receberam valioso apoio financeiro, de que tanto
careciam para a sua obra, e que o nosso cénico lhes concedeu em largas dezenas
de espectáculos em benefício dos seus cofres.
Se,
na verdade, alguma coisa existe no Além, para onde partistes há tantos anos,
estamos certos de que vos sentireis satisfeitos e orgulhosos dos vossos descendentes.
Nós, acreditai, sentimo-nos conscientes de que sempre cumprimos e dignificámos
a obra por vós iniciada. E esperamos, sinceramente, que os nossos descendentes
também o irão fazer.
E
se é com a consciência do dever cumprido que hoje aqui nos reunimos para vos
prestar contas, também queremos expressar à memória de todos vós, o sincero
agradecimento das gentes da terra do limonete. Obrigado, pela obra que
iniciaram e nos legaram. Obrigado, pelo caminho que nos deixaram aberto. Graças
a vós, podemos afirmar que os tavaredenses, humildes como sempre, alcançaram um
nível de instrução e educação pouco vulgares em pequenas aldeias como a nossa.
Aceitai
a singela lembrança das nossas flores. E tenhais a certeza de que, para todo o
sempre, a vossa memória estará presente dentro e fora das paredes daquela casa,
que tão devotada e filantropicamente erguestes com a esperança de um futuro
melhor para todos os vossos conterrâneos…
À tarde, na sala de espectáculos, teve
lugar a sessão solene comemorativa da efeméride. Presidiu à mesma o secretário
de Estado da Cultura, tendo marcado presença altas individualidades autárquicas
da Figueira e de Tavarede, além do representante do Governo Civil de Coimbra.
Também as congéneres concelhias se fizeram representar e os seus estandartes,
encostados às paredes da plateia, davam vistoso aspecto à sessão.
E no
domingo, dia 18, pela tardinha, a sessão solene comemorativa do centenário da
Sociedade de Instrução Tavaredens
A cuidada
sala de espectáculos daquela casa, onde pareciam ainda pairar os aplausos e as
emoções da noite anterior, voltou a encher. Encheu a sala, encheu o palco, onde
não faltavam lindas flores (pode entender-se o duplo sentido), e enriqueceu a
história desta meritória associação. Esta sessão comemorativa teve razões de
sobra para se tornar inesquecível. O público aderiu quase como se fosse a um
espectáculo fortemente publicitado; na plateia e na galeria, os tavaredenses
estiveram bem acompanhados por amigos e admiradores da sua sociedade; as
colectividades congéneres fizeram-se representar em força e, algumas delas,
ornamentaram as coxias laterais com os seus estandartes; as autoridades
oficiais estiveram presentes: do Governo à Junta de Freguesia, com a Câmara
Municipal da Figueira da Foz multipresente – Presidentes da Assembleia e do
Executivo, Vereadores com e sem pelouro – e a reforçar o reconhecimento do
mérito e do crédito da Sociedade, para além das presenças, várias mensagens de
felicitações de gente ilustre: do Presidente da República ao actual Presidente
da Câmara Municipal de Lisboa – como se sabe recente ex-presidente da CMFF –
entre outras, que foram lidas pela presidente cessante a abrir a sessão que
veio a ser dirigida por Sua Excelência o Secretário de Estado da Cultura.
Antes da
oratória propriamente dita – os discursos da praxe – e logo após a leitura da
correspondência, foram ainda distinguidos consócios ligados à sociedade há 50
anos, foi apresentado um novo estandarte da SIT e destruído o cunho da medalha
comemorativa do centenário na presença do autor, o conhecido Francisco Simões,
e foram referidos os nomes da equipa de dirigentes recentemente eleitos,
liderada por Vítor Medina, tendo a presidente cessante, Rosa Paz, feito uma
breve intervenção em que manifestou a sua confiança nos novos dirigentes e
aproveitado para agradecer a colaboração da equipa exclusivamente feminina que
com ela trabalhou e aos que a apoiaram ao longo dos seus mandatos.
A seguir
muitos foram os oradores que teceram justos elogios à continuada acção cultural
desenvolvida pela colectividade, essencialmente com o teatro amador de
qualidade e que há muitos anos extravasou o concelho, com actuações também além
fronteiras.
De entre os
vários amigos da SIT, e para além daqueles (as) que são bem mais do que isso,
usaram da palavra o Dr. Bernardes, um bem conceituado entendido na arte de
Talma e conhecedor da carreira do grupo, e a Drª Teresa Coimbra, desde longa
data muito ligada afectivamente aos tavaredenses que, com alguma emoção, se
referiu ao inesquecível “sr. Zé Ribeiro” e aos seus conselhos.
O vasto
conjunto de intervenções, que não destoaram, tiveram a terminar as palavras do
Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz que foram precedidas pela
intervenção do Secretário de Estado da Cultura que informou do apoio da sua
secretaria quanto aos custos da edição do Livro do Centenário da SIT e que
encerrou a sessão. Às entidades presentes, os tavarenses fizeram questão de
oferecer exemplares da artística medalha que mantém para a posteridade a
efeméride em
comemoração. Enfim ! Tavarede está, e vai continuar, em tempo
de centenário....
... Numa sala
repleta, a SIT atingiu um dos pontos altos das comemorações do seu centenário,
com a realização da sessão solene, que contou com a presença de representantes
de diversos organismos, com particular destaque para o meio associativo, e na
qual foram homenageados Joaquim Cardoso Ferreira e José Manuel Barbosa por
completarem 50 anos de associados. Seguidamente Francisco Marques Simões e João
Mendes inutilizaram o cunho da Medalha do Centenário e foi apresentado o novo
estandarte da colectividade. A Tuna de Tavarede, que abrilhantou a sessão,
executou o hino da colectividade, da autoria de João da Silva Cascão.
Na altura das
intervenções, Rosa Paz, a presidente cessante, defendeu que “o passado é
glorioso, mas o presente em nada desprestigia os nossos antepassados”. Quanto
ao presidente da Junta José Paz, focou a necessidade de “trazer os jovens – que
são o futuro – para as colectividades”, uma vez que, defendeu, “é nestas casas
que se cultiva a solidariedade, os valores e a cidadania”, que são, disse, “o
avesso do individualismo de que a sociedade enferma”.
Por seu lado,
Martins de Oliveira, vereador das colectividades quis render “homenagens
sinceras a tão nobre colectividade que tem honrado a arte de Talma”, enquanto
que a vereadora da cultura, Teresa Machado, focou o espectáculo alusivo ao
centenário, considerando-o como “a memória daqueles que já partiram e o
incentivo para que nunca se apague a chama da cultura na SIT”.
O presidente
da Assembleia Municipal Daniel Santos, defendeu que os fundadores da
colectividade e os seus continuadores “prestam um grande serviço à cultura, a
Tavarede e à Figueira da Foz”, enquanto que o presidente do município,
considerou este dia, “particularmente gratificante para os que se dedicam à
cultura”. Duarte Silva recordou que o concelho “é rico na sua identificação
cultural que continua a defender, apesar da massificação, com a participação
das colectividades”. Referindo-se à aniversariante, sublinhou que a autarquia
se orgulha e agradece “tudo aquilo que esta colectividade tem feito pelo
concelho”.
A sessão foi
encerrada por José Amaral Lopes, secretário de Estado da Cultura, que
considerou ser “uma honra, estar presente numa colectividade que já fez pela cultura
do país, mais do que eu poderei fazer”.
Focando o
facto de a SIT ser “uma colectividade carregada de memória e que tem procurado
construir uma sociedade mais justa, onde a cultura e os valores são os meios
mais adequados para nos enriquecermos em confronto de ideias com os outros”,
aquele elemento do Governo considerou também que a sua presença se ficou a
dever ao “reconhecimento que esta instituição deve merecer de todos os
portugueses”. Amaral Lopes anunciou ainda que o Ministério da Cultura vai suportar
a edição do Livro do Centenário.
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