quinta-feira, 30 de abril de 2015

Os potes floridos do primeiro de Maio







POTE FLORIDO –   
P’ra saudar Maio florido,
 Tão propício aos namorados,
Vem o cortejo garrido
Com seus potes enfeitados”

E as alegres raparigas,
Contentes em seus amores,
Enchem o ar de cantigas
E do perfume das flores… 

E o pote de barro
Tremendo no ar,
Parece bailar
Alegre e bizarro,
Parece brincar
Co’a moça travessa
Que o leva à cabeça,
Feliz, a cantar… 

 “Quando Abril começa a despedir-se, as raparigas animam-se, combinam, organizam o rancho. E na véspera do dia ansiosamente esperado, pedem às vizinhas, correm aos jardins, vão ao mercado – e levam para casa arregaçadas de flores. Arranjam os trajos. Enfeitam os potes, que desaparecem sob os desenhos caprichosos das rosas e malmequeres. Mal pregam olho durante a noite.  E quando a manhã só é adivinhada pelo seu espírito em alvoroço, erguem-se, chamam-se umas às outras, reúnem-se – e as suas vozes fazem a alvorada antes que o chiar das rabecas e o tom-tom dos violões arrepie o ar nos estremeções da afinação.
         E marcham. Estrada fora, marcam em piso leve, airosas e frescas, o compasso da marcha que as suas vozes erguem no espaço, subindo alto, levada muito alto no perfume das flores, até fundir-se na atmosfera da madrugada húmida e ainda pesada dos orvalhos da noite. Sobre as cabeças inquietas levam os potes floridos.  Dentro dos peitos arquejantes uma ansiedade, uma aspiração indecisa que toma forma nas suas bocas e é Amor nos seus lábios vermelhos sem pintura...

            Naquele ano, o tempo estava chuvoso. Mas elas, queriam lá saber da chuva!... O 1º. de Maio era sempre o 1º. de Maio. No 1º. de Maio há sempre sol. Elas não acreditam na chuva. E se a chuva vier – há-de desfazer-se ao calor das suas vozes, dos seus corações ansiosos, da sua mocidade ardente. 

(O Sonho do Passado... A Esperança do Futuro - Vinte anos da morte de Mestre José Ribeiro)

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