P’ra saudar Maio florido,
Tão
propício aos namorados,
Vem
o cortejo garrido
Com
seus potes enfeitados”
E
as alegres raparigas,
Contentes
em seus amores,
Enchem
o ar de cantigas
E
do perfume das flores…
E
o pote de barro
Tremendo
no ar,
Parece
bailar
Alegre
e bizarro,
Parece
brincar
Co’a
moça travessa
Que
o leva à cabeça,
Feliz,
a cantar…
“Quando Abril
começa a despedir-se, as raparigas animam-se, combinam, organizam o rancho. E
na véspera do dia ansiosamente esperado, pedem às vizinhas, correm aos jardins,
vão ao mercado – e levam para casa arregaçadas de flores. Arranjam os trajos.
Enfeitam os potes, que desaparecem sob os desenhos caprichosos das rosas e
malmequeres. Mal pregam olho durante a noite. E
quando a manhã só é adivinhada pelo seu espírito em alvoroço, erguem-se,
chamam-se umas às outras, reúnem-se – e as suas vozes fazem a alvorada antes
que o chiar das rabecas e o tom-tom dos violões arrepie o ar nos estremeções da
afinação.
E marcham. Estrada fora, marcam em piso
leve, airosas e frescas, o compasso da marcha que as suas vozes erguem no
espaço, subindo alto, levada muito alto no perfume das flores, até fundir-se na
atmosfera da madrugada húmida e ainda pesada dos orvalhos da noite. Sobre as
cabeças inquietas levam os potes floridos. Dentro
dos peitos arquejantes uma ansiedade, uma aspiração indecisa que toma forma nas
suas bocas e é Amor nos seus lábios vermelhos sem pintura...
Naquele
ano, o tempo estava chuvoso. Mas elas, queriam lá saber da chuva!... O 1º. de
Maio era sempre o 1º. de Maio. No 1º. de Maio há sempre sol. Elas não acreditam
na chuva. E se a chuva vier – há-de desfazer-se ao calor das suas vozes, dos
seus corações ansiosos, da sua mocidade ardente.
(O Sonho do Passado... A Esperança do Futuro - Vinte anos da morte de Mestre José Ribeiro)
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