E em Maio do mesmo ano de 2002, coube
ao Grupo Desportivo e Recreativo da Chã festejar o seu 26º aniversário. O GDRC
nasceu há 26 anos, por imperativo da equipa de futebol de onze, que surgiu e
que, para se filiar no INATEL, necessitava de uma sede social. A associação foi
constituída e, depois dessa mesma sede funcionar, durante algum tempo, num
espaço cedido por um dos sócios fundadores, surgiu a oportunidade de comprar um
terreno com vista à construção de um edifício que serviria para a instalação da
referida sede e onde também se pretendiam arranjar espaços para servir os
sócios e toda a comunidade. Com a colaboração de todos os sócios, foi-se dando
corpo, pouco a pouco, ao espaço físico hoje existente.
A
actividade mais antiga desta colectividade é a que, como já referido, deu
origem à sua criação: o futebol., disputando anualmente o campeonato distrital
do INATEL. Depois, seguiu-se a criação de um grupo cénico, que todos os anos
participa nas Jornadas do Teatro Amador promovidas pelo Lions Clube da Figueira
da Foz.
O
Rancho Estrelinhas da Chã, fundado há 16 anos, tem diversas actuações em todo o
país, com a participação em diversos festivais de folclore e organizando todos
os anos o seu próprio festival. As duas secções mais recentes do GDRC são o
grupo de dança ‘Nice Dance’, composto por 12 meninas entre os 5 e os 14 anos de
idade, e a escola de música, neste momento com 10 alunos.
Apesar
do espaço físico, novos projectos e novos objectivos traçam o trabalho para a
actual direcção que tomou posse no passado dia 1 de Maio, data em que se
festejou 26 anos e que teve lugar a tradicional sessão solene.
Fátima
Trigo, que foi reconduzida no cargo de presidente da direcção, salienta como
obra mais importante concretizada no último mandato a sala de espectáculos,
para a qual recebeu um apoio financeiro de seis mil contos por parte da
Comissão de Coordenação da Região Centro e ainda 900 contos do Governo Civil,
pelo que afirma, no capítulo dos apoios, que “não me posso queixar”. A sala
ficou dotada de uma plateia fixa, sistema de luzes e som e outros equipamentos
de apoio.
Como
projectos mais importantes, e para um futuro próximo, Fátima Trigo destaca “uma
alteração ao visual do bar”, com a criação de “um espaço jovem” com salas de
máquinas, e ainda uma biblioteca.
Mas
os projectos contemplam ainda a criação de uma área de lazer no prolongamento
do terreno da colectividade que “de momento não está a ser rentabilizado”.
Pretende-se, nesse local, implementar também um equipamento desportivo de
apoio, como um campo de ténis ou basquetebol. Futebol está fora de questão uma
vez que coloca-se a possibilidade de, em parceria com a Junta de Freguesia de
Tavarede, dinamizar o polidesportivo da Chã (ainda sem luz).
Ainda em Março, e reportando-se ao
teatro tavaredense, encontrámos mais a seguinte nota. A SIT apresentou, recentemente, as peças “O meu caso” de José Régio e
“O Canto do Cisne” de Anton Tchekov.
O
“Canto do Cisne”, com encenação de Ilda Simões coloca em cena dois personagens,
Vassili Vassilievitch (João Medina) e Nikita Ivanitch (Manuel Lontro) na qual
um deles, Vassili, sente chegado o fim da sua carreira e relembra o seu passado
de entrega ao palco. Curiosamente, o texto de Tchekov é quase uma remake
dramática da vida do próprio João Medina, que tem a mesma idade que o
personagem, mas certamente mais de 45 anos de teatro.
Medina
revela mais uma vez ser um actor de valor e a contra-cena com Manuel Lontro
chega a ser comovente, pois a saga dos personagens confunde-se com a dos
actores. Mau grado alguma dicção pouco marcada e com dificuldades de
entendimento para a sala, os gestos, a inquietação, a dor e as emoções do
personagem Vassili transferem-se para o público com facilidade.
Em
“O meu caso”, de José Régio, a situação é contrária. Valdemar Cruz tem
dificuldade em ser credível dando pouca autenticidade ao personagem. A peça,
que tem falhas de ritmo, conta com duas soberbas interpretações: uma
inexcedível Paula Simões, que faz o papel de uma actriz fútil e vazia, vivendo
da sua vaidade e narcisismo e uma Maria da Conceição Mota, segura, rítmica,
convincente no seu papel de “autora”. Boa nota para o conjunto e para a
“coragem” estética da encenadora.
Depois de ter participado nas Jornadas
do Teatro Amador com a peça de Pirandello, o grupo cénico da SIT voltou a
apresentar uma nova peça do dramaturgo português, Luís Francisco Rebelo. E é
relativamente a esta peça que encontrámos este apontamento. Luiz Francisco Rebello, ao ter conhecimento
através da Antena 1, que a SIT estaria a ensaiar a peça “É urgente o amor”,
contactou-nos para nos informar que tinha escrito uma segunda versão e que
gostaria que nós a representássemos. Ficámos muito sensibilizados e de imediato
lemos esta versão que o autor teve a amabilidade de nos enviar, dado ainda não
estar publicada. Como houve necessidade de fazer algumas alterações, pois já
estávamos numa fase de trabalho adiantada, tivemos um encontro com o Dr. Luiz
Francisco Rebello para lhe dar conhecimento da forma que tinhamos encontrado
para solucionar o problema que esta segunda versão nos colocava. Tendo o autor
concordado com a forma que encontrámos para representar a peça na sua segunda
versão, de imediato fizemos as alterações e estamos prontos para levar à cena
este drama magnífico e bastante actual.
A par de amadores com larga experiência
de Palco, temos gente com pouca ou nenhuma experiência no Teatro mas com uma
enorme vontade de aprender. Esperamos de novo ter a colaboração da Imprensa
para a divulgação deste espectáculo e gostaríamos de no dia 24 de Abril poder
contar com a vossa presença.
O Doutor Luiz Francisco Rebello assistirá à estreia da nossa peça, o que muito nos honra. Embora já não seja a primeira vez que este autor se desloca à SIT é sempre um enorme prazer ter a presença de uma pessoa de tão grande mérito na nossa Casa.
A primeira representação teve lugar no
dia 24 de Abril de 2002. Apresentando em
estreia, com lotação esgotada e honras de presença do autor da peça – Luís
Francisco Rebello – e também do engº Duarte Silva com alguns dos seus
vereadores, a peça “É urgente o amor”, a Sociedade de Instrução Tavaredense deu
uma lição de como é possível pôr a evolução tecnológica ao serviço do teatro de
qualidade, aspecto a merecer uma referência muito especial para os homens que
do escuro dos bastidores souberam fazer dos efeitos de luz “actores” decisivos
na espectacularidade da representação, prescindindo das tradicionais descidas
de pano para mudanças de acto.
E foi,
apoiados nessa mais-valia dos desenhos de luz, que os oito personagens
“viveram” a tragédia da jovem Branca (Luísa Rosmaninho, com a naturalidade
espantosa de transformar os problemas de há meio século em chagas de hoje) vítima
daquela encruzilhada de vidas sombrias onde a mãe (Ilda Manuela Simões essa
continuadora da escola de mestre José Ribeiro que lhe permite ser “pau para
todo o serviço” – actriz a fazer inveja a muitos profissionais, encenadora de
méritos reconhecidos e que nesta peça soube ganhar o desafio desta coabitação
com os desenhos de luz, onde é justo deixar um aceno de muito apreço para José
Miguel Lontro) soube assumir a mentira que serviu de suporte à peça em que os
papéis de maus do enredo tiveram magnífica interpretação nas pessoas de João
José Silva (Alberto, o ausente da terra mas sempre presente no palco e direcção
de cena, peça da mobília), e José Medina, um “Jorge” à medida das
circunstâncias (dificílimas) em que se viu envolvido naquela teia de mentiras
tão bem realçadas na penumbra da repartição de polícia onde o chefe (António
Barbosa) e o seu agente (João Pedro Amorim) cumpriram as formalidades de
assinalar o desenlace fatal esquecendo as denúncias de Margarida (Paula Sofia
Simões), esposa traída, e da Madalena (Susana Neves), a falsa amiga da vítima
Porque
as exigências técnicas de apoio à peça não deverão permitir a representação
desta fora do Teatro da SIT, razão porque não está integrada nas Jornadas de
Teatro Amador, e porque a alta qualidade do desempenho justificam plenamente a
presença de quem tem gosto pelo bom teatro, aconselhamos uma deslocação a
Tavarede para assistir a “É urgente o amor” numa das repetições que a muita
afluência registada justificam.
Ainda sobre esta peça e sobre a sua
apresentação pelo grupo dramático da SIT, vamos transcrever mais uma nota
encontrada. Sorririas, mestre Ribeiro, se
ao lado de todos nós, presenciasses a todo um ideal que defendeste, a toda uma
postura fiel a uma escola por demais viva e marcante, onde os teus princípios
se traduziram não só na escolha do grande autor dramaturgo Luís Francisco
Rebelo, mas em toda a envolvência programática feita de rigor, disciplina e
método, aliado a uma grande alma e teatro, bem patente na dedicação, talento e
garra desta gente do “povo comum”, que te honra e te segue passo a passo.
Foi a
primeira vez, mestre Ribeiro, que pisei esta sua segunda casa, quando junto à
Igreja de Tavarede iniciei caminhada a pé, escalando o pequeno percurso das
ruas estreitas em direcção à SIT. Depois da primeira subida, o corte à direita,
uma grande luz iluminava a colectividade e logo a dita “catedral do teatro”
estava ali, em frente aos meus olhos.
A
azáfama era grande entre os que organizavam as entradas e acomodamento do
público e aqueles que metodicamente colocados nos seus postos, se preparavam
para dar corpo à envolvência da representação, com um ambiente cenográfico
adequado e, diga-se com justiça, perfeitamente conseguido.
Às
pancadas de Molière sucedeu-se um grito de angústia e morte, ao silêncio
espectante da plateia, a envolvência arrepiante do resgate de uma causa
perdida, o barulho ritmado das hélices de um helicóptero, as luzes em movimento
estonteante, num bailado aflito de desespero e drama, e o público ali no meio,
tomando conhecimento e certificando-se do inevitável fim de Branca, uma jovem
que entre o inconformismo e a esperança, procurou o amor, sem nunca o ter
conseguido.
Orgulhosa
poderá e deverá estar esta autêntica equipa da SIT, porque para além do mais,
apresentou aspectos técnicos que tiraram um maior rendimento à pretensão da
mensagem transmitida. No palco, um ambiente tão curioso quanto enigmático, onde
a determinados “espaços de acção”, se juntavam a totalidade ou quase totalidade
dos personagens, embora em ambientes perfeitamente definidos, a delegacia
policial, Branca no além, ora prostrada no chão representando a morte, ora em
acesas discussões e interpelações, com um alinhamento à sua volta, das pessoas
da sua relação, ou ainda no exercício do regresso ao passado no espaço íntimo
do seu próprio quarto. Tudo isto com o auxílio caprichado de um jogo de luzes
onde cada individualidade alternava a acção com um silêncio presente, quedo e
mudo, na penumbra do palco e numa postura comprometedora de conivência e
sentido e culpa pelo desenlace fatal. Foi o prender da plateia a cada um dos
intervenientes, mantendo uma relação forte entre o público e aquilo que cada
uma significava para a procura da verdade.
António
Barbosa e João Amorim, ou melhor dizendo, o chefe e o agente Simões, de forma
segura, serena e tranquila, conseguiam materializar a imagem pretendida de uma
força de autoridade, que por função tinha deslindar um caso de hipotético
acidente, suicídio ou homicídio, mas com um tal empenho de carácter duvidoso,
entre a investigação dos factos e o interesse preferencial de umas boas
palavras cruzadas, onde o saber qual o imperador romano com oito letras se lhes
afigurava um objectivo de primordial importância.
Susana
Neves, no papel de Madalena, evidenciou atributos de uma artista em potência,
com uma forte sensibilidade e uma margem enormíssima de progressão. Esta
Madalena, nada arrependida de considerar os homens todos iguais e a mesmo tempo
nutrir um carinho demasiadamente “especial”... por Branca.
João
Silva mostrou talentosamente como um drama não é só representação “séria” como
pensará o “senso comum”. Com passos de quem bem conhece os caminhos de um
palco, levou à cena o personagem Alberto, naquele que se pode afirmar tratar-se
de um “chulo de cinco estrelas” que não via com bons olhos quando o dr. Jorge
ameaçava deixar Branca, sua namorada, o que obviamente lhe colocaria
instabilidade financeira. Por acréscimo da sua falsidade e cobardia, fugia a
sete pés quando via o mar mais alto que a terra, nas discussões de Branca com
sua mãe, provocando momentos de grande divertimento na plateia.
Um
elenco acima de tudo experiente, onde José Medina assume essa forte mensagem em
cada palavra e em cada gesto, de como o tempo amadurece e dá consistência, como
na vida também no teatro. E assim foi a melhor escolha para um dr. Jorge, com
uma bonita idade para... não ter juízo assumindo-se com um verdadeiro mecenas
que vivia entre o adultério e o conceito de família respeitosa, que não podia
ser beliscada fosse por que preço fosse.
Ilda
Simões estará decerto duplamente feliz, porque na qualidade de encenadora viu a
sua gente dar expressão aos seus desejos, com actuações de grande qualidade
artística, que ao facto não será alheio
a sua galvanizante presença em palco, onde no papel de mãe de Branca, fez jus a
uma brilhante interpretação feita de engenho e arte, num apelo muito forte ao
estado de alma que apenas advém de uma genuina artista de teatro.
Mãe
de Branca era, como dizia Alberto, um “velho coiro” que incentivava a sua filha
a uma relação amorosa com o dr. Jorge, de forma a tirar dividendos financeiros
de tal situação.
O
bom e o bonito foi o aparecimento de Margarida, esposa do dr. Jorge e autêntica
figura mistério, com acção apenas na parte final da história. Revelou a todos,
e especialmente ao seu marido, que afinal de contas sabia de tudo, sofrendo no
silêncio e na ânsia de recuperar só para si o dr. Jorge. Acabou por interferir
também no labirinto de desencanto que levou à morte de Branca. Paula Simões,
num menor tempo de actuação, provou com Margarida não deixar créditos por mãos
alheias e chegar aos níveis altos dos seus colegas.
Luísa
Rosmaninho (Branca), que excelentes momentos nos proporcionou, mais um grande exemplo
de que não é só preciso saber-se fazer teatro, isto no que concerne puramente
aos aspectos técnicos de representação, mas também sentir o teatro, e se assim
se pode dizer, com a sensibilidade do coração, numa aproximação de como quase
fosse uma situação real.
Procurou
dentro de si as suas qualidades inatas, que não se compram, não se vendem, não
se aprendem, mas apenas teremos que lhes dar espaço para se revelarem. Luísa
Rosmaninho é sem dúvida um nome a fixar.
Em tempos de
tão badalada crise teatral, em boa hora organizou e apoiou o Lions Clube da
Figueira da Foz estas jornadas de teatro amador, e se crise existe, então digo
eu com toda a certeza, de que afinal não é geral e Tavarede é mais um bom
exemplo e como o teatro no concelho da Figueira da Foz está forte e vivo e,
sinceramente, recomenda-se.
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