sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete -125

As comemorações


         Vamos dedicar este capítulo, exclusivamente às comemorações do primeiro centenário da Sociedade de Instrução Tavaredense. O extraordinário passado da colectividade, pois foram cem anos ao serviço da cultura e da benemerência, justifica este nosso procedimento, assim o entendemos.

         Como já referimos, uma comissão, em colaboração com os corpos directivos, assumiu os trabalhos, pois houve, desde o início, a pretensão de levar a efeito umas comemorações memoráveis, durante as quais, recordando os antepassados que tão dedicada e esforçadamente levaram a cabo tão edificante obra, também se conseguisse chamar à associação os jovens, mostrando-lhes que, sendo eles os continuadores desta obra, a colectividade centenária era merecedora do seu esforço e da sua dedicação.

         Havia, no entanto, enorme carência de fundos. Foi então que se adoptou a ideia dos almoços mensais, que teve muito bom acolhimento. Há que reconhecer o esforço, o trabalho e a dedicação do elevado número de senhoras, que de imediato se prontificaram a colaborar. Ainda no ano de 2003, a generosa colaboração do hábil artista figueirense Francisco Simões, grande amigo e admirador desta instituição, traduziu-se no desenho da medalha comemorativa da efeméride e do logótipo usado durante o evento, que generosamente ofertou.

         Pediu-se o orçamento para a feitura das medalhas. Ao ser recebida a resposta, a comissão logo se deparou com uma dificuldade: era exigido o pagamento, contra a confirmação da encomenda, de 50% do custo total. Valeu a colaboração do então presidente da Junta de Freguesia local que, tomando conhecimento desta exigência, que a comissão divulgou durante um dos almoços, se prontificou a emprestar a importância precisa. Confirmada a encomenda, a mesma foi entregue em Fevereiro seguinte, o que, considerando a necessidade de pagar a parte restante, obrigou a comissão a de imediato proceder à venda da medalha. E foi em Outubro que, em conferência de imprensa convocada para esse fim, se fez a apresentação do anteprojecto criteriosamente elaborado.

... Tornando público um programa que considera ‘ambicioso’, e para cuja concretização a falta de verbas apresenta o principal problema, a Comissão do Centenário da SIT mostra-se esperançosa de que ‘os apoios venham a aparecer’, e aposta nas mais diversas manifestações culturais para marcar uma importante data da colectividade. As actividades de angariação de verbas não têm parado, sendo que os almoços mensais realizados por senhoras da SIT, e a participação da ExpoACIFF  têm dado frutos. Diversas entidades oficiais ligadas à cultura já foram abordadas mas, apesar de se mostrarem ‘receptivas a colaborar, a resposta não varia muito: não há dinheiro’. No entanto, afirmam, ‘não vamos deixar de celebrar esta data condignamente’.
Cumprindo o programa, foi já editada a medalha comemorativa do centenário, e está garantida uma exposição de teatro, no CAE, que exporá o espólio da SIT. O hino do centenário, da autoria de João Cascão, também se encontra em fase de orquestração para a Tuna, e deverá estar pronto no final do ano.



O dia 15 de Janeiro vai começar com o hino da colectividade e o comemorativo do evento, tocados pela Tuna de Tavarede, realizando-se depois, à noite, o jantar de gala no pavilhão gimnodesportivo. O grande espectáculo está agendado para 17, e a sessão solene realiza-se a 18, data provável do lançamento do livro do centenário, coordenado por José Bernardes, e que ‘conta a história da colectividade e dos 100 anos de teatro, ao longo de 250 páginas ilustradas com cerca de 180 fotos’.
Realizar-se-ão ainda vários saraus e conferências, e homenagens a Violinda Medina, João de Oliveira Júnior e José Ribeiro.
Programados estão ainda jogos florais, encontro de tunas, concurso de fotografia e desenho, jogos tradicionais e a criação de um memorial, em azulejo, que ostente o nome daqueles que mais deram à SIT, ao longo de 100 anos.
Apesar das dificuldades, a comissão está confiante no surgimento de apoios: ‘a cidade vai estar, por certo, ao nosso lado’.

         E no dia 15 de Janeiro de 2004, pela manhã, a população ouviu o estralejar da salva comemorativa, após o que a tuna de Tavarede tocou o hino da colectividade centenária, enquanto a bandeira era hasteada. Pelas 21 horas, no pavilhão desportivo, teve lugar o ‘Jantar do Centenário’. As paredes encontravam-se revestidas com alguns cenários representativos de cenas da nossa aldeia e o tecto forrado com faixas de tecido azul e vermelho, as cores da associação, o que dava ao pavilhão um aspecto atraente e agradável.

         Presidiu o representante do Governo Civil de Coimbra, que esteve ladeado por diversas entidades oficiais, bem como pelas representantes dos corpos gerentes da SIT.
Estiveram presentes cerca de 200 pessoas, que lotaram completamente o recinto. Durante o jantrar, ouviu-se o piano tocado pelo nosso conterrâneo e consócio João da Silva Cascão, após o que se fizeram escutar várias intervenções oratórias, a que seguiu a actuação do Orfeão Académico de Coimbra, patrocinado pelo Governo Civil.



No pavilhão da colectividade, virado ‘museu’ com algumas das relíquias de cenários que marcaram o historial invejável de cem anos de devoção ao teatro no seio da Sociedade de Instrução Tavaredense a engalanar as paredes do amplo recinto e criar uma envolvência onde se ‘respirava’ teatro por todo o lado, decorreu o ‘Jantar do Centenário’, 1º acto do longo programa de realizações que ao longo do ano irão enriquecer as celebrações deste marco histórico: ‘primeiro centenário da SIT’. Solenidade que reuniu cerca de 200 pessoas, a maior parte delas amadores que pisaram o palco, para além dos muitos convidados que honraram o evento em representação do Governo Civil, Câmara Municipal da Figueira e autarquia local.
         E o primeiro gesto de saudação à histórica entrada da colectividade no galarim dos ‘Centenários’ veio da apresentação pública da ‘Marcha do 1º Centenário’, referencial honroso de uma caminhada de muitos êxitos a envolver gerações e que guindou Tavarede ao lugar de destaque – houve quem a elegesse ‘Catedral do Teatro Amador’ – que extravasou o Concelho e mesmo o Distrito.
         Depois, abrilhantado pela suavidade musical saída do piano tocado por João Cascão, o banquete de sabores apadrinhados por celebridades ligadas à arte de Talma – entradas à Molière; creme à Garrett; bacalhau à D. João da Câmara; lombo assado à Gil Vicente; sobremesa à Shakespeare; café Pirandello, tudo regado a vinhos e digestivos à Terra do Limonete, com a novidade da ‘prova’ do Vinho do Centenário da SIT, uma recordação que pode ser comprada na colectividade -; a confraternização saudosa de cenas vividas naquele palco de tantas representações que moldaram vidas e criaram escola e as mesas davam vida nos dísticos que as distinguiram: ‘Romeu e Julieta’, ‘Frei Luís de Sousa’, ‘Os Velhos’, ‘As árvores morrem de pé’, a ‘chamar para a mesa’ ilustres desaparecidos cuja memória não poderia estar ausente deste momento alto do centenário, tudo serviu de motivo para solenizar esta data marcante de 15 de Janeiro de 2004.
         E na hora das intervenções, num momento em que já havia saído o ‘fumo branco’ da eleição para os corpos gerentes do próximo mandato da colectividade, pondo fim ao preocupante impasse referido na imprensa, Ilda Simões, presidente da Assembleia Geral, depois de saudar os presentes, saltou no tempo cem anos atrás para agarrar o fio daquela longa meada de história iniciada por 14 tavaredenses que para abrirem uma Escola de Ensino em Tavarede criaram a Sociedade de Instrução Tavaredense, iniciando uma caminhada onde os obstáculos não faltaram mas veio a marcar a vida dos tavaredenses com ‘os anónimos’ que tornaram possível o êxito desta colectividade.
         Também Teresa Machado, vereadora da Câmara Municipal, aqui representada por Martins de Oliveira, se associou às felicitações em honra do Centenário, pondo em realce o papel que o teatro cultivado na SIT teve na divulgação do nome do Concelho da Figueira, curvando-se mesmo ante a mensagem saída dos valiosos cenários que enriqueciam as paredes do Pavilhão. Aplaudindo ‘o muito que aqui se tem feito pelo teatro… e o que, por certo, irão continuar a fazer’, razão por que a Câmara não deixará de apoiar este serviço a bem da Cultura. Em nome da Assembleia Municipal coube ao Engº Daniel Santos reflectir sobre o honroso passado desta colectividade, afirmando que ‘tão bom passado não pode deixar de fazer prever um bom futuro’.
         E após curta intervenção de homenagem da SIT, pelo Engº Muñoz de Oliveira a quem reconhecimento por esta obra ‘obrigou à saída de clandestinidade na sala’, usou da palavra o representante do senhor Governador Civil, Ricardo Alves, para ‘aceitar o desafio de relacionar os cenários expostos com as pessoas e com os discursos’ uma vez que o entusiasmo que encheu este salão, fazendo dele uma ‘casa viva’ é a prova inequívoca de que esta atitude é certeza de… ‘futuro garantido

 E foi em ambiente de grande entusiasmo que o Orfeão Académico de Coimbra encerrou o histórico Jantar de Abertura do Centenário.

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