sábado, 6 de junho de 2015

O Associativismo na Terra do Limonete -131

         Ainda em 2007, o teatro tavaredense, através da associação do Terreiro, deslocou-se, pela segunda vez, ao estrangeiro. Foi a Espanha e  aqui fica a notícia. A Sociedade de Instrução Tavaredense está neste momento inserida num projecto concebido pela Escola da Noite a convite da Delegação Regional da Cultura do Centro e que decorre ao longo do ano de 2007.
         Estão envolvidos cinco grupos de teatro da região centro e a matéria teatral sobre a qual se debruça este projecto é constituída por oito peças em um acto de Anton Tchekov.
         Coube à SIT representar as peças ‘O pedido de casamento’ e ‘O urso’, as quais já foram apresentadas em Caceira, no âmbito das jornadas do Teatro Amador e também em Valladolid, e no Centro Cívico Bailarin Vicente Escudero.  Esta deslocação foifeitaaconvite da Delegação Regional da Cultura do Centro que mantém um intercâmbio

         Coube também à SIT encerrar o Festival de Teatro Amador de Castilla y Léon 2007. Segundo fonte da colectividade de Tavarede, ‘a actuação aconteceu perante uma sala repleta de espectadores, alguns dos quais especialistas em teatro, mas desconhecedores da nossa língua, o que foi para os amadores da SIT um enorme desafio apresentar o seu espectáculo. Contudo, fizeram-no com enorme brilhantismo, tendo, inclusivamente, sido interrompidos por uma ocasião.
         A forma entusiástica como foram aplaudidos e felicitados demonstra bem o agrado com que o nosso trabalho foi recebido’.
         O próximo dia 19 de Maio, pelas 21,30 horas, haverá de novo Tchekov na SIT, sendo talvez esta última representação em Tavarede devido a compromissos já assumidos em termos de itinerância.

         Também aqui registamos mais uma pequena nota, recolhida da reportagem escrita sobre as festas comemorativas de mais um aniversário do Clube Desportivo e Amizade do Saltadouro. ...’ trabalho e união de muita gente para discutir como fazer mais e melhor para o Saltadouro’. A colectividade tem como objectivo ‘possibilitar que as pessoas se encontrem umas às outras para além das acções que desenvolvem’. Na sessão solene de 2009, ‘... para o CDAS que estava com dificuldade na constituição das direcção. É uma satisfação trabalhar nesta colectividade pelo amor ao associativismo, sem esquecer o trabalho inexcedível da família Serra’, disse o novo presidente.
         Como obras necessárias apontou-se a necessidade de ampliação da sede. Falta um salão de ensaios, um armazém dos apetrechos do Rancho dos Cavadores do Saltadouro e uma sala de exposições que permita dar visibilidade ao rico espólio.

         E, para acabar este capítulo, é a altura de nos debruçarmos um pouco sobre o centenário do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.

         Com a simplicidade que é tradicional na longa vida do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, foram festejados, em Agosto de 2011, os primeiros cem anos desta associação. Foram comemorações simples, mas que tiveram a dignidade que o brilhante passado da colectividade merecia.
        
         Dentro do programa, que além da confraternização dos seus sócios e simpatizantes, teve diversos acontecimentos desportivos e recreativos, de que destacamos o espaço dedicado ao folclore, houve dois eventos destacados, a publicação de um livro historiando a vida da colectividade e a sessão solene do centenário.

         No decorrer dos cadernos destas memórias e histórias do associativismo na nossa terra, temos descrito, de forma sumária mas baseada em elementos concretos, a vida e a obra desenvolvida por todas as associações da freguesia, embora nos tenhamos debruçado mais pelas duas colectividades aldeãs. É um facto real e indesmentível a sua acção no desenvolvimento social, cultural e educativo que desempenharam ao serviço dos tavaredenses.

         Certamente que ainda estarão recordados daquilo que foi lembrado da vida do Grupo Musical agora centenário. Houve períodos difíceis, é certo, mas os grupistas, sempre com uma dedicação invulgar, tiveram a coragem suficiente para as ultrapassar. A actual sede da colectividade é a quarta sede da colectividade. E se a primeira era um pequeno e modesto ‘cardanho’, a actual é uma obra de que a própria vila de Tavarede se pode orgulhar.


         O seu teatro, que alcançou êxitos enormes, não só localmente mas em muitos palcos onde actuou e a sua tuna ‘a mais completa e bem organizada do concelho, foram evocações especializadas na sessão solene comemorativa, durante a qual se registaram muitas declarações de apreço pela actividade desenvolvida pelo Grupo Musical e de Instrução Tavaredense, no decurso do tempo decorrido desde 17 de Agosto de 1911, data escolhida para a fundação, até à actualidade. Esta boa actividade não foi esquecida pelas autoridades locais e concelhias presentes no evento.



    Associativismo em Tavarede...
                 ... até quando?...



         À pergunta ‘O Associativismo na Terra do Limonete (Tavarede) até quando?’,  com a qual titulámos este nosso último capítulo destas “Memórias e Tradições”, ocorre-nos, de imediato, responder: “Até sempre!”.

         Porquê? Pela simples razão de acreditarmos sinceramente que o homem, como ser humano, racional e inteligente, já aprendeu que o isolamento, por muito cómodo que seja, não é futuro. Mas, vejamos primeiramente o que é o Associativismo. “É o sistema dos que se encontram unidos por um ideal ou objectivo comum. É o movimento que fomenta a proliferação de associações com o objectivo de atingir, solidariamente, finalidades comuns quer revertem a favor dos seus membros”.

         Transcrita esta descrição de Associativismo, debrucemo-nos então sobre o mesmo na nossa terra. Já sabemos que terá tido os seus inícios nos fins do século dezoito ou no princípio do século dezanove. Tavarede vivera, até pouco tempo antes,  num verdadeiro regime feudalista, sob o qual a família Quadros ‘reinava’ despoticamente na aldeia, aliás, também subordinada ao Cabido da Sé de Coimbra, devido à doação que lhe havia sido feita séculos atrás.

         A libertação do povo tavaredense ocorreu em 1771, com a elevação do lugar da Figueira da foz do Mondego a vila e com a transferência para lá da câmara e justiças que, havia séculos, estavam sedeadas em Tavarede. O povo, contudo, encontrava-se num verdadeiro estado de ignorância total.

Mas, apesar de abrigada dos ventos do norte pela encosta serrana, a nossa terra não escapou aos revolucionários ventos que, provindos especialmente de França, terão espalhado por todo o lado as três mágicas palavras: liberdade, igualdade e fraternidade. Porém, se esta trilogia era por todos ambicionada, qual seria a melhor maneira de a conseguir?

Como sabemos, a liberdade só tem sentido se a soubermos gozar dentro dos limites que vão até ao caso de com ela não prejudicarmos ou lesarmos o nosso próximo. A igualdade leva-nos a admitir que todos nascemos iguais e que assim deveremos morrer, pelo que os direitos e regalias devem ser iguais para todos, independentemente do seu nascimento.  E quanto  à fraternidade, as relações harmoniosas e a convivência amigável entre as pessoas e as comunidades onde estão inseridas, são a sua razão principal.

 E se a Declaração Universal dos Direitos do Homem estipula que ‘toda a pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas’, a própria Constituição da República Portuguesa diz que ‘os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização constituir associações, desde que estas não se dediquem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei’.

Ora isto tudo é bastante claro para todos nos dias de hoje. Mas, há duzentos e tal anos, o povo vivia, na sua grande maioria, em total ignorância, sem ter quaisquer possibilidades de adquirir conhecimentos sobre a realidade da vida, uma vez que o seu analfabetismo o não permita. Daí que os trabalhadores, quase todos rurais, procurassem refúgio nas tabernas, nas suas horas vagas e habitualmente depois de comida a parca ceia. Prejudicial para ele e sua família, devido ao consumo excessivo de alcool e ao jogo desenfreado, só disso beneficiava o taberneiro.

E, segundo se sabe, eram vícios que estavam bem arreigados aos nossos antepassados. Felizmente, aquelas palavras acabaram por trazer novos procedimentos e novos costumes. Alguns mais abastados, que tinham tido a possibilidade de se educar e instruir na cidade vizinha, iniciaram uma luta verdadeiramente titânica. Primeiro em família e, depois, com amigos e vizinhos mais chegados, começaram a reunir-se e a conviver em sociedade nos seus tempos vagos.

Não bastava, no entanto, atrair os seus conterrâneos. Era preciso, além de lhes acabar com aqueles nefastos vícios, começar a dar-lhes alguma instrução e educação Escolheram o teatro como o veículo indicado. Terá sido assim que nasceu o associativismo em Tavarede. Os humildes ‘cardanhos’ proliferaram. Com os ensaios e com as representações, o povo começou a gostar de ver e aprender. Já sabemos o percurso feito. Com o teatro veio a música. Com as humildes associações, ‘que vegetavam em Tavarede como tortulhos’, veio o ensino noturno das primeiras letras. Mesmo aqueles que pouco sabiam procuravam ensinar esse pouco áqueles que nada sabiam.

O teatro cresceu muito e a música, durante muitas décadas, também teve enorme adesão. Igualmente se deu o mesmo com o folclore, com o desporto e com outras actividades sociais.

É agora que nos resta lançar a tal pergunta: até quando? Atrevemo-nos a repetir: até sempre! O associativismo está definitivamente impregnado nos tavaredenses. Embora neste momento, que julgamos transitório, o isolamento seja uma realidade, não acreditamos que o espírito de união, de convivência e, até, de solidariedade, não volte a adquirir a força e o entusiasmo de antigamente.

         Bem sabemos a enorme diferença que se verifica entra as vidas actual e antiga. Mas, voltamos a repetir, acreditamos que o presente fenómeno do isolamento e da solidão familiar seja transitório. E nas diversas vertentes do associativismo na terra do limonete. Vejamos:

Em prmeiro lugar o teatro. Mais antiga tradição em Tavarede, lembramo-nos das palavras que José Ribeiro pôs na boca da velha figura teatral na ‘histórica’ fantasia ‘Chá de Limonete’: - Sou velho, sim! Mas sou eterno! Sofro o desprezo, o esquecimento da multidão, mas guardo em mim a essência da própria vida. O teatro não morre!’

As nossas actuais associações e, felizmente, são cinco, continuam a tradição. De igual modo a música e o folclore. Já não temos a célebre tuna de Tavarede, nem os ranchos da Alegria e da Flor da Mocidade. Mas quase todas as nossas associações de cultura  popular e recreio têm escolas de música, com bastante frequência, e o folclore é uma realidade com os seus ranchos. Grupos de dança e corais igualmente existem em actividade. Será ‘carolice’ dos mais velhos? Não, é o espírito associativo que em Tavarede, na velhinha Terra do Limonete, continua e continuará sempre vivo. A mocidade actual, com ou sem a experiência dos mais velhos, não deixará acabar na nossa terra este sublime ideal: o ASSOCIATIVISMO.




As associações de cultura e recreio populares em Tavarede:




Bijou Tavaredense (acabou)


Estudantina Tavaredense (acabou)


Grupo de Instrução Tavaredense (acabou)


Sociedade de Instrução Tavaredense
15.1.1904


Grupo Musical e de Instrução Tavaredense
17.8.1911


União Instrução e Recreio Robalense (acabou)


Grupo Musical Carritense
5.8.1921


Grupo Desportivo e Amizade do Saltadouro
11.3.1979


Clube Desportivo e Recreativo da Chã

1.5.1986

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