Ainda em
2007, o teatro tavaredense, através da associação do Terreiro, deslocou-se,
pela segunda vez, ao estrangeiro. Foi a Espanha e aqui fica a notícia. A Sociedade de Instrução Tavaredense está neste momento inserida num
projecto concebido pela Escola da Noite a convite da Delegação Regional da
Cultura do Centro e que decorre ao longo do ano de 2007.
Estão envolvidos cinco grupos de teatro
da região centro e a matéria teatral sobre a qual se debruça este projecto é
constituída por oito peças em um acto de Anton Tchekov.
Coube à SIT representar as peças ‘O
pedido de casamento’ e ‘O urso’, as quais já foram apresentadas em Caceira, no
âmbito das jornadas do Teatro Amador e também em Valladolid, e no Centro Cívico
Bailarin Vicente Escudero. Esta
deslocação foifeitaaconvite da Delegação Regional da Cultura do Centro que
mantém um intercâmbio
Coube também à SIT encerrar o Festival
de Teatro Amador de Castilla y Léon 2007. Segundo fonte da colectividade de
Tavarede, ‘a actuação aconteceu perante uma sala repleta de espectadores,
alguns dos quais especialistas em teatro, mas desconhecedores da nossa língua,
o que foi para os amadores da SIT um enorme desafio apresentar o seu
espectáculo. Contudo, fizeram-no com enorme brilhantismo, tendo,
inclusivamente, sido interrompidos por uma ocasião.
A forma entusiástica como foram
aplaudidos e felicitados demonstra bem o agrado com que o nosso trabalho foi
recebido’.
O próximo dia 19 de Maio, pelas 21,30
horas, haverá de novo Tchekov na SIT, sendo talvez esta última representação em
Tavarede devido a compromissos já assumidos em termos de itinerância.
Também
aqui registamos mais uma pequena nota, recolhida da reportagem escrita sobre as
festas comemorativas de mais um aniversário do Clube Desportivo e Amizade do
Saltadouro. ...’ trabalho e união de
muita gente para discutir como fazer mais e melhor para o Saltadouro’. A
colectividade tem como objectivo ‘possibilitar que as pessoas se encontrem umas
às outras para além das acções que desenvolvem’. Na sessão solene de 2009, ‘...
para o CDAS que estava com dificuldade na constituição das direcção. É uma
satisfação trabalhar nesta colectividade pelo amor ao associativismo, sem
esquecer o trabalho inexcedível da família Serra’, disse o novo presidente.
Como obras necessárias apontou-se a
necessidade de ampliação da sede. Falta um salão de ensaios, um armazém dos
apetrechos do Rancho dos Cavadores do Saltadouro e uma sala de exposições que
permita dar visibilidade ao rico espólio.
E, para
acabar este capítulo, é a altura de nos debruçarmos um pouco sobre o centenário
do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.
Com a
simplicidade que é tradicional na longa vida do Grupo Musical e de Instrução
Tavaredense, foram festejados, em Agosto de 2011, os primeiros cem anos desta associação.
Foram comemorações simples, mas que tiveram a dignidade que o brilhante passado
da colectividade merecia.
Dentro
do programa, que além da confraternização dos seus sócios e simpatizantes, teve
diversos acontecimentos desportivos e recreativos, de que destacamos o espaço
dedicado ao folclore, houve dois eventos destacados, a publicação de um livro
historiando a vida da colectividade e a sessão solene do centenário.
No
decorrer dos cadernos destas memórias e histórias do associativismo na nossa
terra, temos descrito, de forma sumária mas baseada em elementos concretos, a
vida e a obra desenvolvida por todas as associações da freguesia, embora nos
tenhamos debruçado mais pelas duas colectividades aldeãs. É um facto real e
indesmentível a sua acção no desenvolvimento social, cultural e educativo que
desempenharam ao serviço dos tavaredenses.
Certamente
que ainda estarão recordados daquilo que foi lembrado da vida do Grupo Musical
agora centenário. Houve períodos difíceis, é certo, mas os grupistas, sempre
com uma dedicação invulgar, tiveram a coragem suficiente para as ultrapassar. A
actual sede da colectividade é a quarta sede da colectividade. E se a primeira
era um pequeno e modesto ‘cardanho’, a actual é uma obra de que a própria vila
de Tavarede se pode orgulhar.
O seu
teatro, que alcançou êxitos enormes, não só localmente mas em muitos palcos
onde actuou e a sua tuna ‘a mais completa e bem organizada do concelho, foram
evocações especializadas na sessão solene comemorativa, durante a qual se
registaram muitas declarações de apreço pela actividade desenvolvida pelo Grupo
Musical e de Instrução Tavaredense, no decurso do tempo decorrido desde 17 de
Agosto de 1911, data escolhida para a fundação, até à actualidade. Esta boa
actividade não foi esquecida pelas autoridades locais e concelhias presentes no
evento.
Associativismo em
Tavarede...
...
até quando?...
À
pergunta ‘O Associativismo na Terra do Limonete (Tavarede) até quando?’, com a qual titulámos este nosso último
capítulo destas “Memórias e Tradições”, ocorre-nos, de imediato, responder:
“Até sempre!”.
Porquê?
Pela simples razão de acreditarmos sinceramente que o homem, como ser humano,
racional e inteligente, já aprendeu que o isolamento, por muito cómodo que
seja, não é futuro. Mas, vejamos primeiramente o que é o Associativismo. “É o
sistema dos que se encontram unidos por um ideal ou objectivo comum. É o movimento
que fomenta a proliferação de associações com o objectivo de atingir,
solidariamente, finalidades comuns quer revertem a favor dos seus membros”.
Transcrita
esta descrição de Associativismo, debrucemo-nos então sobre o mesmo na nossa
terra. Já sabemos que terá tido os seus inícios nos fins do século dezoito ou
no princípio do século dezanove. Tavarede vivera, até pouco tempo antes, num verdadeiro regime feudalista, sob o qual a
família Quadros ‘reinava’ despoticamente na aldeia, aliás, também subordinada
ao Cabido da Sé de Coimbra, devido à doação que lhe havia sido feita séculos
atrás.
A
libertação do povo tavaredense ocorreu em 1771, com a elevação do lugar da
Figueira da foz do Mondego a vila e com a transferência para lá da câmara e
justiças que, havia séculos, estavam sedeadas em Tavarede. O povo, contudo,
encontrava-se num verdadeiro estado de ignorância total.
Mas, apesar de abrigada dos ventos do
norte pela encosta serrana, a nossa terra não escapou aos revolucionários
ventos que, provindos especialmente de França, terão espalhado por todo o lado
as três mágicas palavras: liberdade, igualdade e fraternidade. Porém, se esta
trilogia era por todos ambicionada, qual seria a melhor maneira de a conseguir?
Como sabemos, a liberdade só tem sentido
se a soubermos gozar dentro dos limites que vão até ao caso de com ela não
prejudicarmos ou lesarmos o nosso próximo. A igualdade leva-nos a admitir que
todos nascemos iguais e que assim deveremos morrer, pelo que os direitos e
regalias devem ser iguais para todos, independentemente do seu nascimento. E quanto
à fraternidade, as relações harmoniosas e a convivência amigável entre
as pessoas e as comunidades onde estão inseridas, são a sua razão principal.
E
se a Declaração Universal dos Direitos do Homem estipula que ‘toda a pessoa tem
direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas’, a própria
Constituição da República Portuguesa diz que ‘os cidadãos têm o direito de,
livremente e sem dependência de qualquer autorização constituir associações,
desde que estas não se dediquem a promover a violência e os respectivos fins
não sejam contrários à lei’.
Ora isto tudo é bastante claro para
todos nos dias de hoje. Mas, há duzentos e tal anos, o povo vivia, na sua
grande maioria, em total ignorância, sem ter quaisquer possibilidades de
adquirir conhecimentos sobre a realidade da vida, uma vez que o seu
analfabetismo o não permita. Daí que os trabalhadores, quase todos rurais,
procurassem refúgio nas tabernas, nas suas horas vagas e habitualmente depois
de comida a parca ceia. Prejudicial para ele e sua família, devido ao consumo
excessivo de alcool e ao jogo desenfreado, só disso beneficiava o taberneiro.
E, segundo se sabe, eram vícios que
estavam bem arreigados aos nossos antepassados. Felizmente, aquelas palavras
acabaram por trazer novos procedimentos e novos costumes. Alguns mais
abastados, que tinham tido a possibilidade de se educar e instruir na cidade
vizinha, iniciaram uma luta verdadeiramente titânica. Primeiro em família e,
depois, com amigos e vizinhos mais chegados, começaram a reunir-se e a conviver
em sociedade nos seus tempos vagos.
Não bastava, no entanto, atrair os seus
conterrâneos. Era preciso, além de lhes acabar com aqueles nefastos vícios,
começar a dar-lhes alguma instrução e educação Escolheram o teatro como o
veículo indicado. Terá sido assim que nasceu o associativismo em Tavarede. Os
humildes ‘cardanhos’ proliferaram. Com os ensaios e com as representações, o
povo começou a gostar de ver e aprender. Já sabemos o percurso feito. Com o
teatro veio a música. Com as humildes associações, ‘que vegetavam em Tavarede
como tortulhos’, veio o ensino noturno das primeiras letras. Mesmo aqueles que
pouco sabiam procuravam ensinar esse pouco áqueles que nada sabiam.
O teatro cresceu muito e a música,
durante muitas décadas, também teve enorme adesão. Igualmente se deu o mesmo
com o folclore, com o desporto e com outras actividades sociais.
É agora que nos resta lançar a tal
pergunta: até quando? Atrevemo-nos a repetir: até sempre! O associativismo está
definitivamente impregnado nos tavaredenses. Embora neste momento, que julgamos
transitório, o isolamento seja uma realidade, não acreditamos que o espírito de
união, de convivência e, até, de solidariedade, não volte a adquirir a força e
o entusiasmo de antigamente.
Bem
sabemos a enorme diferença que se verifica entra as vidas actual e antiga. Mas,
voltamos a repetir, acreditamos que o presente fenómeno do isolamento e da
solidão familiar seja transitório. E nas diversas vertentes do associativismo
na terra do limonete. Vejamos:
Em prmeiro lugar o teatro. Mais antiga
tradição em Tavarede, lembramo-nos das palavras que José Ribeiro pôs na boca da
velha figura teatral na ‘histórica’ fantasia ‘Chá de Limonete’: - Sou velho,
sim! Mas sou eterno! Sofro o desprezo, o esquecimento da multidão, mas guardo
em mim a essência da própria vida. O teatro não morre!’
As nossas actuais associações e,
felizmente, são cinco, continuam a tradição. De igual modo a música e o
folclore. Já não temos a célebre tuna de Tavarede, nem os ranchos da Alegria e
da Flor da Mocidade. Mas quase todas as nossas associações de cultura popular e recreio têm escolas de música, com
bastante frequência, e o folclore é uma realidade com os seus ranchos. Grupos
de dança e corais igualmente existem em actividade. Será ‘carolice’ dos mais
velhos? Não, é o espírito associativo que em Tavarede, na velhinha Terra do
Limonete, continua e continuará sempre vivo. A mocidade actual, com ou sem a
experiência dos mais velhos, não deixará acabar na nossa terra este sublime
ideal: o ASSOCIATIVISMO.
As associações de cultura e recreio populares
em Tavarede:
Bijou
Tavaredense (acabou)
Estudantina
Tavaredense (acabou)
Grupo
de Instrução Tavaredense (acabou)
Sociedade
de Instrução Tavaredense
15.1.1904
Grupo
Musical e de Instrução Tavaredense
17.8.1911
União
Instrução e Recreio Robalense (acabou)
Grupo
Musical Carritense
5.8.1921
Grupo
Desportivo e Amizade do Saltadouro
11.3.1979
Clube
Desportivo e Recreativo da Chã
1.5.1986
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