As Bodas de Ouro da colectividade, comemoradas durante o mês de Janeiro de 1954, alcançaram elevado nível. Relembremos um pouco dos comentários da direcção. “... com as visitas do “Orfeão de Leiria” e do “Grupo Miguel Leitão”, da mesma cidade; do “Grupo dos Estudantes da Universidade de Coimbra”; com os espectáculos “Revivendo o Passado”, nos quais colaboraram antigos elementos do nosso grupo cénico; as sessões solenes de abertura e encerramento, foram os factos mais salientes desta gerência que, se outros não houvessem, bastariam por si só para impor o nome prestigioso da SIT, pela forma brilhante como comemorou os 50 anos da sua prestimosa, cultural e beneficente existência”.
Na “Voz da Figueira” de 1 de Janeiro de 1954, vem publicada uma longa entrevista com o director do grupo cénico, que descreve, de forma admirável, a acção da nossa associação. É uma peça que merece ser lida. Leva-nos aos primeiros tempos do teatro em Tavarede e analisa, até com alguma amargura, a forma como então se fazia teatro. “... Partimos do princípio de que o teatro de amadores, praticado com devoção quase heróica pelas sociedades de educação e recreio espalhadas pelas vilas e aldeias de Portugal, constitui valioso elemento de cultura e recreio do povo, que interessa à nação manter em actividade. É assim que o Estado o encara? É seu dever, nesse caso, facultar-lhe e facilitar-lhe meios de vida. Presentemente as coisas passam-se como se os espectáculos de amadores fossem apenas... matéria colectável: cobram-se licenças, censuras das peças, vistos dos programas, imposto sobre espectáculos públicos (!) e contribuições para a Caixa Sindical de Previdência de Profissionais do Teatro (!!). Uma carga asfixiante! Não está certo. Se o Estado não presta outro auxílio, que ao menos não queira fazer dinheiro da actividade desinteressada do teatro de amadores”.
Também José Ribeiro proferiu mais uma das suas palestras, que intitulou “A acção da Sociedade de Instrução Tavaredense como instituição de cultura e educação popular”, a qual foi muito apreciada por todos quantos a ouviram.
O primeiro acto cultural das comemorações, teve a participação do Orfeão de Leiria, “que entusiasmou a assistência, mantendo-se suspensa com a interpretação de alguns números do seu vastíssimo repertório”; do Grupo de Teatro Miguel Leitão, com a representação da peça de Anton Tchekov “O Urso”; e um acto de variedades musicais, “que deliciaram a assistência, tendo o público forçado, com os seus aplausos, a bisar alguns números”.
E no dia 30 de Janeiro, realizou-se uma “Noite Vicentina”, na qual o Grupo de Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, sob a direcção do Prof. Dr. Paulo Quintela, apresentou os “Auto da Barca do Inferno”, “Auto da Barca do Purgatório”, “Todo o Mundo e Ninguém” e “Súplica de Cananeia”. A sua actuação “foi calorosamente aplaudida pela assistência que enchia por completo, não só as cadeiras, mas também os corredores da sala de teatro”.
O grupo cénico tavaredense apresentou um curioso programa. No primeiro acto levaram à cena a comédia “Os Medrosos”, que tinha sido a primeira peça representada depois da fundação da colectividade, em Dezembro de 1904, e a segunda parte constou da peça “Evocação”. “Tivemos o ensejo e o prazer de ver representar, com um à-vontade de causar inveja a muitos novos, antigos amadores, desempenhando papéis que criaram, alguns há mais de 40 anos. Foi com verdadeira emoção e ternura que o público viu aparecer no palco as figuras remoçadas de Helena Figueiredo, Idalina Fernandes, Emília Fadigas, Maria José Figueiredo, António Coelho, António Graça, Francisco Carvalho e outros, a quem dispensou calorosas salvas de palmas, à medida que iam entrando em cena. Nos finais de acto, caíam sobre o tablado verdadeiras chuvas de flores, lançadas por algumas senhoras da assistência. Serviu de comentador ao espectáculo o sr. José da Silva Ribeiro, que antes de iniciar-se a representação de cada acto falou das peças a que pertenciam, fazendo a apresentação dos antigos, a quem saudou comovidamente, e dos novos amadores que iriam representá-las. Evocou também velhas figuras da cena tavaredense, como os irmãos Broeiro e tantos outros que, certamente, se pertencessem ainda ao número dos vivos, não deixariam de estar presentes naquelas inolvidáveis noites de saudade”.
A sessão solene da abertura das comemorações teve a presidi-la a figura prestigiosa do grande Homem de Cultura figueirense Professor Doutor Joaquim de Carvalho que, encerrando a sessão, proferiu uma brilhante oração, em que louvou a acção da SIT, afirmando a determinado passo que “a Sociedade pela sua escola, pela sua vida associativa, pelo seu teatro, é exemplar no país e toda a gente a considera”.
Registamos o facto de que, depois do falecimento daquele ilustre figueirense, foi oferecido à Sociedade, por um dos seus filhos, “um autógrafo de seu Pai, que aqui se guarda como documento valioso e como preciosa relíquia, autógrafo que serviu de mero ideário para as palavras que proferiu na altura das Bodas de Ouro”.
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