sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 14

1939


(Durante este ano a actividade do grupo cénico da S.I.T. esteve, praticamente, parada devido à prisão, por motivos políticos, do seu director.)



1940

RÉCITA A FAVOR DO HOSPITAL

Na quarta-feira, 27 do corrente, vem o grupo cenico da Sociedade de Instrução Tavaredense representar mais uma vez, no Teatro Peninsular, a admiravel peça em 3 actos “Entre Giestas”, de Carlos Selvagem.


Trata-se, incontestavelmente, duma obra-prima do nosso teatro rústico, duma peça bem portuguesa – pelo assunto, pelas personagens, pela linguagem e pelo ambiente – que o grupo tavaredense interpreta brilhantemente e apresenta com um primor de montagem cénica digna de nota. Para cada um dos três actos pintou Rogério Reynaud, belos cenários, que o honram como distinto artista. Quando esta consagrada obra do teatro português foi levada a Coimbra, a sua representação constituiu um dos mais brilhantes exitos que o grupo tavaredense ali tem alcançado.


É, pois, um espectáculo de inegável valor artistico, que justifica só por si a enchente que vai ter o Peninsular; mas impõe-se também, e principalmente, pelo seu fim tão simpático, visto que o produto da récita reverte a favor da benemérita Santa Casa da Misericórdia, cuja obra de assistencia é importantissima no nosso concelho e só poderá continuar com o auxilio de todos os figueirenses.


O ilustre dramaturgo Carlos Selvagem, que gentil e generosamente autorizou a representação da sua peça, virá assistir à récita do dia 27, será então ensejo de o público da Figueira lhe exprimir a sua admiração e o seu reconhecimento. (Jornal Reclamo – 03.12)

OS AMADORES DE TAVAREDE

O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, - logo após a sua récita nesta cidade em benefício do Hospital da Misericordia, com a representação da lindissima peça “Entre Giestas” na presença do seu autor o ilustre dramaturgo Carlos Selvagem, que se sentiu verdadeiramente sensibilizado com o distinto desempenho da sua produção, - partiu para Tonar a dar dois espectaculos de beneficencia com as peças “Entre Giestas” e “Génio Alegre”, esta dos consagrados Irmãos Quinteros, e a que o0 excelente grupo de amadores de Tavarede dá um notável relevo ao seu desempenho.


O jornal “Cidade de Tomar” realça o trabalho dos nossos conterraneos com as seguintes palavras:


A casa dos pobres, sentiu-se rica com a dádiva do Grupo de Tavarede.


Duas récitas duas casas cheias, duas manifestações de bom teatro.


José Ribeiro, o incansável animador de tanto prodígio, o realisador dêsse teatro do povo, trouxe a Tomar, duas notáveis peças que a interpretação dos seus comediantes conseguiu arrancar à gelida plateia tomarense o quente aplauso duma verdadeira apoteose.


Os irmãos Broeiro e outros, rapazes e raparigas que vimos no “Sonho do Cavador” e na “A Cigarra e a Formiga”, no pequeno teatrinho de Tavarede, hábitat proprio dessa gente modesta, em que o valor parece contradizer a sua condição simples, impunha-lhes outros vôos, como nas presentes peças.


Os mesmos de sempre, há muitos anos se reunem, depois das canceiras do dia, no pequeno palco de Tavarede a repetir a sua vida de trabalhadores humildes, ou a viverem outra vida, como oferenda milagrosa que a ribalta lhes dá, como no Génio alegre dos Quinteros.


Mas tão bem se integraram nesses papéis, que muito a custo acreditamos que sejam bem diferentes, fóra do palco, aqueles senhores de “Almidar de la Reina”...


Neste despretenciosa resenha dum acontecimento semanal, não podemos deixar de destacar “Clara” no “Entre Giestas”, encarnação viva do “Angelus” de Millt, ou de aplaudir “Consuelo” na descrição primorosa do repique como dois extremos histriónicos de invulgar relevo.


Todavia, se muito admirámos Violinda Medina, João Cascão, os Irmáos Broeiro e outros, mais admirámos ainda o milagre de Tavarede, pela fraternidade que une aquele grupo, que há tantos anos vêm dando uma lição de optimismo e de arte, fazendo do Belo o Bem, ao qual Tomar, os pobres de Tomar, já há muito são devedores. (Jornal Reclamo – 04.13)


RECOMPENSA

Mais uma vez nos foi dado assistir ao desempenho da “Recompensa”, de Ramada Curto, no teatro do Casino Peninsular. Interpretou-a a SIT, de Tavarede, que, embora não conseguisse a mestria do grupo Rei Colaço - Robles Monteiro, revelou invulgares dotes aitísticos, grande e inteligente esfôrço, deixando-nos òtimamente impressionados.


As personagens foram bem “encarnadas”: Maria da Graça, a mulher de coração inteligente, activa, justa e caridosa; Guilherme, um bom homem, de sentimentos nobres, coração terno; José, o tipo de financeiro manhoso, cínico, para quem todos os processos de enriquecer são bons, mesmo que sejam indignos; Mariana, uma criaturinha sem personalidade, imbecil; Manuel, modêlo vulgar; Tereza e Gustavo de Ornelas, um par fútil, pretencioso e ridículo; João, o empreiteiro arrogante, imoralão.


Das peças de Ramada Curto, esta é, incontestàvelmente, a melhor, aquela em que chega a ser... superior a êle mesmo. Não sendo católico defende uma tese católica. Nem liberalismo nem socialismo – mas que a economia obedeça às normas superiores da justiça, respeitando o Direito de propriedade e aproveitando a iniciativa particular. Nem o patrão deve ser tirano nem o empregado escravo; vivam como em família amando-se e auxiliando-se em harmonia de colaboração e interêsse. O operário é uma pessoa humana, cuja dignidade tem de ser respeitada e jámais explorada como uma máquina. O trabalho é uma honra em que nos é permitido colaborar com o Criador e angariar o necessário à vida.


A tese da “Recompensa” constitui uma aspiração justa da humanidade, que tarde ou nunca virá a realizar-se.


O impedimento está em que não será tão cêdo (perdoem-me a falta de fé) que os homens terão a animarem-no princípios de vida como os que vivia Maria da Graça que, no meio das dificuldades inquietantes da vida, se voltava para o céu e imprecava os homens, recordando o que aprendera na catequese: “Tenho uma fé e uma crença, e essa fé manda-me que não faça aos outros aquilo que não quero que me façam a mim”.


Aqui está o segrêdo da sua vitória, a pedra de toque em que devemos aquilatar o oito das suas intenções.


Muitos que reclamam justiça, talvez com sinceridade e desinterêsse, não repararam que a primeira revolução a fazer é a remodelação dos corações – enquanto os homens se não abraçarem em Deus, fonte de justiça e amor, continuarão a ser “lobos” e tôdas as tentativas de reorganização social estão condenadas a abortar desastradamente. O fracasso das enovações socialistas encontra aqui a sua explicação.


Haverá quem veja em “Recompensa” a defeza do comunismo – uns para o atacarem, outros para o apregoarem.


Embora não conheça as intenções do autor nem de quem o interpreta, devemos dizer que a tese de “Recompensa” não tem nada de socialismo (no sentido em que o define a Sociologia) mas que é a expressão do pensamento cristão. Assenta na Fé, e o socialismo é ateu; respeita o direito de propriedade, e o socialismo reclama a sua abolição; respeita a virtude moral como o melhor bem, e o socialismo é materialista, pragmatista, etc. (O Dever – 05.31)

ENVELHECER

A Sociedade de Instrução Tavaredense acaba de enriquecer o seu vastissimo repertorio teatral, com um novo original português.


Trata-se da formosissima peça em quatro actos, “Envelhecer”, uma das mais belas obras do teatro português, original do glorioso dramaturgo Marcelino Mesquita, e que o seu grupo cénico levou à cena no seu teatrinho, em matinée, para inauguração da época 1940/41.


A “companhia” tavaredense honrou uma vez mais os seus pergaminhos, desempenhando com mão de mestre, esta dificilima peça.


Da interpretação de tão delicada obra, justo é destacar, sem desprimor para os restantes, a actuação de João Cascão e Violinda Medina, que, nas figuras principais, têm uma das suas mais brilhantes criações.


Não se pode exigir mais; as figuras por eles encarnadas, não são representadas, são vividas ao natural, humanamente.


Em todos os finais de acto, a assistencia, que era numerosa, tributou aos amadores tavaredenses, quentes e prolongados aplausos.


“Envelhecer” foi apresentada ao publico figueirense, na sexta-feira, 20, no teatro do Grande Casino Penincular, sendo, como em Tavarede, apreciada e aplaudida, pelo que felicitamos os nossos conterraneos. (Jornal Reclamo – 12.28)

OS AMADORES DE TAVAREDE

O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, que é conhecido aqui em casa e fora dela pelos “Amadores de Tavarede”, aumentou e enriqueceu o seu já apreciavel reperotio com uma nova peça – uma joia de subido preço e de elegancia literária do glorioso dramaturgo Marcelino de Mesquita: “Envelhecer”.


Vieram representa-la à Figueira, no Teatro do Casino Peninsular, na noite de sexta-feira. Gostámos da peça, que é obra de mestre consagrado, e gostámos do desempenho, que é obra de um paciente e inteligente elemento que tem o poder de fazer representar, sem descair no ridiculo, dificeis cenas que só artistas de garra podem desempenhar sem deslises...


Foi mais um triunfo para José Ribeiro e para a sua gente.


Tudo correu bem. Os arranjos de cena muito cuidados e de graciosa disposição. As endumentarias a rigor. O desempenho muito correcto, sobresaindo como interpretes dos principais papeis a distinta amadora D. Violinda Medina e o tambem habil amador João Cascão, que com este seu novo trabalho firmaram ainda mais o conceito conquistado nas plateias onde se teem apresentado.


Os restantes amadores também se portaram de maneira a resultar uma récita perfeita e que deixou a assistencia satisfeita.


Os nossos parabens.


E, como Fialho de Almeida disse ao auctor da peça, nós dizemo-lo aos “Amadores de Tavarede”:


Bravo! Bravo! Bravo! (Jornal Reclamo – 12.28)

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