segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Até Deus querer, senhor Administrador!


Senhor Administrador!!! Era o meu cumprimento diário. Durante tantos anos...

Há muito que estou habituado a sair de casa, por volta das 9 horas da manhã, ir beber o cafézito (a indispensável bica) à Santa Maria e, logo a seguir, visita à Casa Salgueiro. Cumprimentava o primo Zé Cordeiro, a Lita e a Sílvia. Era o costumado "Bom dia, senhor Administrador! Então de que se queixa?". Ele encolhia os ombros e eu completava "De nada, graças a Deus!".

Quando, por qualquer motivo eu não aparecia por lá da parte da manhã, ficavam em cuidados e telefonavam a saber se havia algum problema... Já era um hábito velho.

Pois o senhor Administrador, o meu primo Zé Cordeiro, partiu agora para a tal viagem para a qual todos nós temos bilhete reservado. É curioso: era o mais velho de três irmãos e foi o último a partir. Tinha 88 anos, completados no passado mês de Setembro.

Era um homem extraordinário. Bom e educado, estava sempre receptivo para com todos, amigos ou simples conhecidos. A Sociedade de Instrução Tavaredense era uma das suas paixões. Aliás, o Zé Cordeiro vivia para a Família, para a sua loja e para a colectividade. Foi um grande colaborador de mestre José Ribeiro. '... Em Tavarede, naquele tempo, ainda não havia automóveis e, então, lá ia o Zé Cordeiro levar a Violinda, na vespa, a sua casa na Rua da Fonte. Já os amadores tinham regressado a suas casas depois do ensaio, e só eu e José Ribeiro e a Violinda, à minha espera para a ir levar... Algumas vezes aconteceu com uma outra amadora, por sinal muito boa a representar, a Inês, que vivia no Casal da Robala, ser acompanhada a casa, a pé, por José Ribeiro. Eu ia à Figueira levar a Violinda e depois regressava pelo caminho do Casal da Robala, ao encontro do Mestre. para o trazer de volta para sua casa. Vezes sem conta isso aconteceu...". Este retalho faz parte do depoimento que escreveu para o livro do Centenário da SIT. É suficiente para mostrar a sua dedicação àquela casa.

Chegou, agora, a sua hora. Deixa imensas saudades. Que descanse em paz, é o que sinceramente deseja este velho primo, companheiro e amigo.
A fotografia acima terá sido a última que tirou. Foi no seu estabelecimento, na Casa Salgueiro.

1 comentário:

  1. O meu querido amigo Zé Cordeiro...
    "Bom e educado, estava sempre receptivo para com todos, amigos ou simples conhecidos." - confirmo-o! Assim que comecei a dar-me com a Lita e comecei a frequentar a Casa Salgueiro, logo começou a receber-me-me como se me conhecesse há muito. Quando, como é meu hábito, lá entrava com aquele meu "Boa tarde!" sempre alegre, se ele estivesse ao balcão respondia logo: "Olha, chegou a Primavera!".
    Ainda há pouco, quando para lá caminhava, me ia a lembrar que, se ele lá estivesse, logo me diria: "Estás cá? Já há muito tempo que não te via!".
    Gostava ainda de trocar impressões com ele, quando ele estava a ler o jornal: "Então, sr. Zé? Há novidades?".

    Vai-me custar tanto ver aquele seu banco da secretária vazio, entrar na Casa Salgueiro e não valer a pena ir "aos bastidores" para o cumprimentar, porque ele já não está lá. Mas quem sabe se não continuarei a ir lá, imaginar que ele está sentado no seu banquinho e dizer: "Então Sr. Zé? Boa tarde!". Talvez custe menos esta perda.
    De qualquer modo, acho que lá onde ele estiver, está contente comigo por saber que não abandonei as suas mulheres e nem serei capaz de o fazer..

    Até sempre, sr. Zé!

    http://chazinhodelimonete.blogspot.com/2010/12/ate-sempre.html

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