Escrito de José da Silva Ribeiro por ocasião do falecimento deste grande amigo de Tavarede:
“A vaga que se abriu agora com a morte de Moreira Júnior, essa – não será preenchida. É mais uma... a fazer maior a clareira neste exército de voluntários. Moreira Júnior foi um notável voluntário nas hostes pacíficas da Sociedade de Instrução Tavaredense.
A sensibilidade inclinava-o para as artes plásticas. Não podia satisfazer-se a desenhar perfis da via férrea, carris e éclisses, tire-fonds e travessas de caminho de ferro. Desenhador e artista, dedicou-se às artes do desenho e montou na Figueira a única oficina de gravura química, cuja falta vai ser localmente sentida. O seu temperamento de artista – às vezes irascível, irreverente, insubordinável até a sugestões amigas – criara nele também o gosto do teatro. Nas suas saídas da aldeia figueirense, não deixava de ir ver teatro em Lisboa, ou no Porto, ou ali em Coimbra ou Aveiro quando adregava passar por lá Companhia lisboeta de comediantes ou bailado. Também os amadores lhe interessavam – e ia a Tavarede cheirar o limonete nas representações daquela gente simples que ali continua a tradição teatreira que de longe vinha. E Moreira Júnior passou a dar ao grupo de Tavarede uma colaboração valiosa, oferecida mais do que solicitada – e esta nota atingia bem fundo o nosso sentimento de gratidão – e que fica exuberantemente documentada na colecção dos programas teatrais de Tavarede.
Ex-libris de José da Silva Ribeiro, desenhado por Moreira Júnior
Quando se preparou uma brincadeira a que se chamou Chá de Limonete, Moreira Júnior quis ilustrar o programa da estreia. São do seu lápis todos os desenhos e da sua oficina todas as gravuras que ali figuram: lá está, felicíssima alegoria, o bule, sobre o ramo de limonete, oferecendo a chávena de chá, donde se evola capitoso fumo que, sobre o velho paço dos Quadros de Tavarede, vai desenhar a grande e aliciante palavra – TEATRO. E no ex-libris impresso no livro das Bodas-de-Ouro, outra vez aparece, servindo de fundo a dois versos arrancados ao Todo-o-Mundo e Ninguém de Gil Vicente, o raminho de limonete.Desde então – quase vinte anos – nunca mais parou a colaboração de Moreira Júnior ao grupo de Tavarede. Todas as gravuras do livro 50 anos ao Serviço do Povo, das peças publicadas e dos programas da Sociedade de Instrução Tavaredense, retratos de autores, alegorias do Teatro, cenas de muitas representações – tudo foi sua generosa oferta. Se ao artista nunca se pagou a concepção e a realização de um desenho, também nunca à oficina se pagaram as gravuras – pois nem o custo do material Moreira Júnior aceitava dos tavaredenses.
E lá partiu – ainda cedo!... – este tão devotado voluntário da teatrada do limonete”.
Caderno: Tavaredenses com História
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