Também nesse ano, e já não era a primeira vez que isso acontecia, houve grande dificuldade em constituir novo elenco directivo. Mas, felizmente, a crise foi ultrapassada. “… Ao ter, pela primeira vez na sua história, uma direcção totalmente composta por mulheres a Sociedade de Instrução Tavaredense não quer enveredar, obviamente, por uma qualquer guerra de sexos, mas sim dar continuidade a uma tradição que conta (e muito) com a participação do sector feminino.
Ainda que, de facto, esta situação resulte de uma acentuada crise directiva, a opção directiva acaba também, de forma indirecta, por prestar uma justa homenagem a todas as mulheres que, ao longo dos tempos e de uma forma por vezes heróica deram forma e fundo aos objectivos da Sociedade de Instrução Tavaredense. Decerto ela, “a mulher tavaredense” pelos exemplos cívicos e artísticos que soube dar, seria na verdade, a merecedora de algo que a perpetuasse publicamente e não algo que por natural e datado no tempo não vai além do que é efémero.
Mas, numa prova de que os exemplos recebidos não foram em vão, as novas gerações de mulheres, voluntária e decididamente, disseram não ter medo dos “papéis principais”, posição que tanto visa honrar o passado como criar condições para que os ideais do associativismo sejam comungados, efectivamente, pelas classes mais jovens e não sirvam apenas de motivo para verborreias fáceis e estéreis debitadas em ultraromânticas sessões solenes…”.
Nesse ano, as duas colectividades tavaredenses (Sociedade e Grupo) uniram-se para se apresentarem nas Marchas de S. João. “… Das nove marchas que desfilaram apenas quatro o fizeram para concurso. A primeira delas, da freguesia de Tavarede, envolveu o trabalho do Grupo Musical e Instrução Tavaredense e da Sociedade Instrução Tavaredense. Composta por cerca de 50 elementos, vestidos com as cores da cidade, amarelo e verde, a marcha de Tavarede fez uma alusão aos laranjais da localidade, famosos no século XVII.
‘Na Feira dos Malandrecos’
E porque as políticas já mexem, para não haver lugar a “interpretações erradas”, os organizadores distribuiram às pessoas um resumo descritivo da marcha. No panfleto podia ler-se que “a laranja de Tavarede teve fama no século XVII e chegou a ser exportada para Roma”. A marcha de Tavarede procurou, por isso, fazer referência aos laranjais, ao transporte do produto para vários pontos da Europa e ao “consumo das laranjas pelas entidades eclesiásticas romanas”. Cestas e caravelas cheias de laranjas e lampiões foram os elementos presentes na marcha que, com movimentos muito diversificados, encerrou o seu desfile com a abertura da laranja gigante. Lá dentro, uma jovem com uma pequena faixa identificava a origem da marcha…”.
Por sinal, a classificação das marchas deu muito barulho. O júri, que havia dado o primeiro prémio à nossa marcha, fez marcha atrás e classificou-nos em segundo, dando o primeiro a outra marcha concorrente.
‘Um estranho no Natal’
O aniversário seguinte, 1998, teve teatro juvenil e teatro adulto. Primeiro, os jovens apresentaram as peças “Na Feira dos Malandrecos” e “Um estranho no Natal”. Depois, e na primeira encenação de Ilda Simões, houve uma reposição. Foi com a peça ‘A Forja’, de Alves Redol, que já havia sido levada à cena 27 anos antes.
‘A Forja’
Facto curioso: o protagonista masculino, João Medina, representou o mesmo papel, o do ‘pai Malafaia’. E na sessão solene comemorativa do aniversário, foi prestada homenagem a este amador, que completava 50 anos de carreira no nosso grupo cénico. “… Vejo José Ribeiro por trás das cortinas”. Testemunho vivo de 50 anos de dedicação ao teatro, João Medina, no palco que fez parte da sua vida, não encontrou outra forma de agradecer que estas palavras: “Para aqui vim com 15 anos pela mão de José Ribeiro e ainda hoje o “pressinto” por trás daquelas cortinas a dar-me ânimo sempre que subo ao palco. E aqui andarei até cair nestas tábuas do “meu” teatro, como as árvores que morrem de pé”.
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