quarta-feira, 23 de novembro de 2011

TEATRO DA S.I.T. - NOTAS E CRÍTICAS - 5

1927



RÉCITA DE ANIVERSÁRIO

A população de Tavarede teve no sábado e domingo a sua grande festa: o aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense, benemérita colectividade que, pela sua acção durante os seus 23 anos de vida, conquistou a simpatia pública, tornando-se um elemento de progresso já hoje indispensável à localidade onde tem a sua sede.


O programa das festas foi rigorosamente cumprido, tendo todos os números um brilho excepcional.


No sábado à noite, a sede da Sociedade regorgitou: os sócios e convidados afluiram em elevado número, sendo enorme o interêsse pela récita de gala.


A elegante sala de teatro encheu-se a transbordar: não havia um lugar, e viam-se ainda muitas pessoas de pé. O aspecto da sala era de belo efeito: das paredes altas pendiam muitas colchas de damasco e espelhos artisticamente colocados, e a tôda a volta do balcão corriam entrelaçados veludos das côres da Sociedade de Instrução.


A récita abriu com o hino, executado pela excelente orquestra que António Simões, distinto e consciencioso amador, dirigiu com segurança.


O lever de rideau “Uma teima” foi representado com distinção, agradando muito a sua magnífica montagem.


Seguiu-se a comédia em 2 actos “Marido de Duas Mulheres”, de difícil representação por grupos de aldeia, e que teve uma boa interpretação por parte dos amadores Jaime Broeiro, António Graça, Maria Teresa de Oliveira, Maria José da Silva, Emília Monteiro, António Broeiro e Francisco Carvalho. Os dois primeiros souberam marcar e dar o preciso relêvo às diversas situações.


A opereta “Simão, Simões & Cª.” também agradou muito, quer pela representação que lhe deram Virginia Monteiro, Jaime Broeiro, António Santos, Francisco Carvalho e J. Mota, quer pela esplêndida partitura, de difícil execução e de belos efeitos orquestrais. Os aplausos em todos os finais de actos foram calorosos e prolongados.


A orquestra, muito bem constituida, deu grande brilho à récita, que teve um certo cunho de distinção. A assistência ouviu com prazer e premiou com muitas palmas a difícil e linda ouverture da ópera “Nabucodonosor”, de Verdi, que teve uma boa execução e a canção da zarzuela “Filhos de Zebedeu”, de Chapi. António Simões viu assim coroados de êxito os seus esforços, e por isso bem mereceu os elogios e parabéns de que foi alvo. (Voz da Justiça – 01.19)

GRÃO-DUCADO DE TAVAREDE

A notícia que demos acêrca da próxima récita da Sociedade de Instrução Tavaredense, no sábado de Aleluia, veio tornar ainda maior o interêsse que já se notava. Pode dizer-se que nenhum espectáculo, no nosso teatro, foi aguardado com tanto entusiasmo como êste.


Já dissémos que se trata duma revista em 3 actos e 8 quadros. O Grão ducado de Tavarede, como se depreende do título, é uma revista fantasia, de carácter local, embora com aluzões à Figueira e a outras localidades vizinhas e ainda com intervenção de personagens de Brenha, Quiaios e Buarcos.


Os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense empenham-se em corresponder à espectativa do público, e certos estamos de que o espectáculo que êles vão proporcionar-nos no dia 16 do corrente constituirá um verdadeiro êxito pela sua novidade.


Os 8 quadros da revista estão sendo montados com todo o rigor. Os scenários, que estão a pintar, devem produzir um belíssimo efeito. As maquettes do Inferno e Apoteose da Lavoura e da Apoteose das Flores são do distinto artista pintor sr. Alberto Portugal de Lacerda.


O guarda-roupa é também lindíssimo, havendo algumas fantasias de muito bom gôsto.


Não podemos alargar-nos em pormenores. Entretanto diremos que o quadro final, o das Flores, pela beleza do scenário e do guarda-roupa, deve causar sensação.


A orquestra é dirigida pelo distinto amador sr. António Simões, que musicou o Grão-ducado de Tavarede, tendo sido duma grande felicidade tanto na parte original como nas adaptações.


E... nada mais nos é permitido dizer aos nossos leitores. (Voz da Justiça – 04.26)

GRÃO-DUCADO DE TAVAREDE

A revista Grão-ducado de Tavarede levou ao teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, no pretérito sábado, uma enchente completa, vendo-se entre a assistência muitas pessoas dessa cidade.


O espectáculo agradou, podendo dizer-se com verdade, que causou extraordinária sensação nos espectadores tavaredenses, para os quais êste género é quasi novidade.


A música é lindíssima, alegre, bem escolhida e perfeitamente ajustada aos personagens e às situações. António Simões, o distinto amador figueirense, foi extraordinariamente feliz na partitura do Grão-ducado de Tavarede. A êle especialmente se deve o êxito da revista.


Os amadores, áparte naturais deficiências que sempre podem notar-se nestes grupos de aldeia, souberam dar uma curiosa e, nalguns casos, brilhante interpretação aos diversos papéis. Idalina Fernandes fez explêndidamente como ninguém faria melhor, a scena da civilização local em que, na volta do rio, as mulheres se descompõem; foi graciosa na Maçã e cantou muito bem o fado da Taberna. António Graça, António Santos e Emilia Monteiro, todos muito bem nos seus papéis. Jaime Broeiro mostrou-se o bom amador que é no Compadre, no Cavador e no Zé Borrachão. Dois bons tipos bem reproduzidos: o do Poeta João e O da Batuta, apresentados por José Vigário e António Broeiro, tendo êste feito também correctamente um dos Compadres. João Cascão, foi primorosamente no Nabo, no Café e no Aguilhão, tendo representado com alegria e vivacidade e cantando muito bem os seus números, brilhando especialmente no Dueto da Hortaliça, com Alzira Fadigas. Francisco Carvalho e Clementina de Oliveira têm também um bom dueto no Impedido e a Sopeira, além de outros papéis; esta foi muito aplaudida na Canção da Árvore, que cantou com linda voz e foi obrigada a bisar. Maria José da Silva fez muito bem o papel de Brenha, cantando esplêndidamente a sua parte no terceto com J. Cachulo e F. Rôla, o qual foi também bisado. A. Pinto, J. Mota e Maria Tereza de Oliveira e os restantes, todos fizeram a sua obrigação. Os coros muito firmes.


Os scenários são bons, tendo sido muito apreciados, principalmente o do Inferno e o das Flores. O quadro da Lavoura encantou a assistência. Por isso mesmo é de justiça atribuir ao distinto artista sr. Alberto Correia de Lacerda, que fez as maquettes e dirigiu a pintura dos scenários uma boa parte do êxito da revista. Merece também referência especial o guarda-roupa, que é variado, luxuoso e tem algumas fantasias de belíssimo efeito, pelo que foi muito elogiada a srª. D. Belmira Pinto dos Santos, que revelou muito bom gôsto na sua confecção.


O Grão-ducado de Tavarede dá no próximo sábado a sua última récita, o que equivale a dizer que o teatro vai ter nova enchente à cunha, dado o extraordinário agrado que a revista alcançou.


Alguns números da revista estão popularizados e começam a ser cantados pelo povo com os seus lindos versos! (Voz da Justiça – 04.20)

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

Em busca da Lúcia-Lima é uma interessante opereta que o distinto poeta nosso conterrâneo sr. João Gaspar de Lemos Amorim escreveu para os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense e que a plateia da Figueira teve já ensejo de aplaudir ali no Teatro Parque.


Delineada com muita fantasia, - os dois actos extremos passados em Tavarede e o segundo na China, graças à velocidade dum avião que transporta dois brasileiros do Rio de Janeiro à terra do limonete e daqui até às proximidades de Macau – o opereta tem scenas animadas e mostra-nos alguns curiosos tipos, com alusões locais e cheias de vivacidade. Cortando a prosa frequentemente, Gaspar de Lemos escreveu lindos versos, felizes de inspiração e perfeitamente dentro da acção teatral, alguns dos quais rapidamente se popularizaram em Tavarede: as quadras maliciosas das lavadeiras, a charge à justiça do Mandarim, a deliciosa canção da Cotovia, a característica Valsa do Limonete, etc.


Valorizando enormemente o trabalho literário, o distinto amador sr. António Simões coordenou e escreveu 23 números de música que constituem a encantadora partitura, que se ouve com prazer e que é mais uma demonstração da competência de António Simões no género de música teatral.


O grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense, por seu lado, procura dar à peça uma representação acertada. A montagem é rigorosa, tanto quanto pode ser num teatro pequeno. Scenários próprios, guarda-roupa luxuoso. O 2º acto, passado na China, no jardim da residência do Mandarim, na festa dos seus anos, é de belo efeito, apresentado com lindo scenário, magnífica e rigorosa indumentária e esplêndida iluminação.


Justifica-se assim o interêsse extraordinário pela reposição desta peça, que se representa no próximo sábado, em Tavarede, numa única récita dedicada aos sócios da Sociedade de Instrução. Infelizmente o teatro é pequeno para tantos espectadores. (Voz da Justiça – 11.23)

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

É o título da brilhante opereta que em Buarcos, no sábado, se exibiu no palco do Trindade, sob um chuveiro de aplausos, constituindo um grande triunfo para os seus distintos autor, sr. João Gaspar de Lemos Amorim; e regente da orquestra, sr. António Maria de Oliveira Simões, que para a peça compôs números de música original de uma graça e relêvo admiráveis.


A sala do Trindade encheu-se de espectadores, alguns da Figueira e muitos de Tavarede, etc., que demonstraram, pelos aplausos, o subido agrado que lhes despertaram o enrêdo da peça, e, sobretudo, os lindos coros garganteados por galantes raparigas de Tavarede, brilhando ainda os números da “Flor-de-Chá”, por Idalina de Oliveira, que procurou corresponder com habilidade às exigências que o autor imprimiu ao seu papel.


E por aí além, todo o conjunto de uma harmonia impressionante, o grupo dramático da benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense marcou dentro do nosso meio uma nota agradabilíssima, primando ainda pelo seu aspecto scénico e guarda-roupa adequado e correcto, o que fez sobressair a peça, e deixando em todos os espíritos a saudade de que a noite não tivesse sido elástica, satisfazendo todos os anseios do público, que não pôde ocultar o seu entusiasmo e os seus aplausos unânimes.


É justo salientar a excelente orquestra, composta dos melhores elementos que aqui se têm visto, e que, sob a segura regência de uma individualidade tratada como amador, ao público deu antes a exacta impressão de um distinto profissional.


Para todos, pois, as nossas saudações mais entusiastas! (Voz da Justiça – 12.07)

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