quarta-feira, 8 de julho de 2009

António Maria Monteiro de Sousa de Almeida Cruz



Nasceu em Tavarede no dia 1 de Maio de 1879, filho de José Maria de Almeida Cruz e de Maria Guilhermina Monteiro de Sousa e Cruz.
Desde muito cedo que manifestou a sua aptidão para o teatro. Aos nove anos apresentou-se pela primeira vez em público, numa récita carnavalesca, com a cena cómica Um Alho. Por sinal que, receando não fazer boa figura, quis recusar a sua participação na festa, tendo sido necessário sua mãe “pespegar-lhe um sopapo” para ele entrar em cena.
Participou, depois, num teatrito numa travessa das Rua das Rosas, em espectáculo dos alunos da escola do professor Joaquim Evangelista, na comédia Não subam escadas às escuras. Em 1895 foi para Coimbra, assentar praça, como voluntário, no Regimento de Infantaria 23, como aprendiz de música.
Com 18 anos, no teatro Duque de Saldanha, em Tavarede, colaborou no grupo cénico da Estudantina Tavaredense, desempenhando o protagonista na comédia Atribulações dum estudante. Por essa ocasião também representou em Buarcos, no Teatro Duque, a comédia Médico à força.
Em 1898 foi trabalhar para Angola, onde permaneceu somente treze meses, regressando à sua terra natal. Anteriormente, havia exercido funções em Guimarães, em 1894, e nas Companhias do Gás e da Água e do Caminho de Ferro da Beira Alta, na Figueira, em 1897. “Embora fosse cumpridor nos seus empregos, o seu temperamento boémio e artístico em nenhum deles se acomodava. Outras tendências o impeliam; outra vida lhe estendia os braços carregados de aplausos”.
Participou activamente no grupo dramático da Estudantina Tavaredense e colaborou no Teatro do “Celeiro”, em Buarcos e no Teatro Taborda, em Brenha, onde tomou parte na inauguração. No ano de 1899 ensaiou, naquele teatro de Buarcos, o Presépio.
Também se dedicou ao magistério, tendo sido o primeiro professor da Escola Nocturna Popular de Bernardino Machado, em Buarcos, tendo a posse sido dada pelo próprio patrono da escola.
“… o alegre rapaz, boémio simpático e famoso pela sua voz, que, acompanhando-se a violão, nas noites luarentas e mornas da aldeia silenciosa, enchia a rua, passeando-a do Rio ao Paço, com as melodias das serenatas e fados de sua autoria, despertando a gente moça e atraindo-a às janelas, para escutá-lo”.
Em 1901 foi contratado pelo empresário Gouveia, tendo feito a sua estreia profissional no Teatro da Trindade, em Lisboa, na noite de 19 de Setembro daquele ano, representando o papel de “Nicolau”, da opereta Os sinos de Corneville.
Cantou e protagonizou, entre outras peças, a Toutinegra do Templo, Boémia, Amores de Zíngaro, Se eu fora Rei, Eva, Viúva Alegre, Casta Susana, A Capital Federal, Maridos Alegres, Amor de Máscara, D. César de Balzan, A filha da srª Angot, A Princesa dos Dólares, Conde de Luxemburgo, etc., etc.
Fez diversas digressões à província, ilhas, colónias, Brasil, Argentina e Uruguai, chegando a ser empresário no Rio de Janeiro. Em 1925 foi contratado para o S. Luís, onde realizou uma temporada que ficou memorável.
“… Um ano mais tarde, formou companhia e, durante largo tempo, explorou o Teatro Apolo, onde representou A Mouraria, uma das peças de maior êxito no nosso país e o Arco do Cego. Do Apolo transitou para o Éden, onde apresentou duas revistas. Os resultados financeiros não foram bons, e Almeida Cruz terminou aí a sua actividade de empresário. … Abandonando a sua carreira artística, em que conquistara merecidos aplausos, consagrou-se a negócios de livraria, pois era, igualmente, grande apaixonado pela leitura e pelos livros”.
Foi casado por três vezes. Da primeira vez com Virgínia Machado, filha do fiscal da empresa do Teatro da Trindade, e de quem teve um filho. Casou, depois, com Palmira Bastos, a grande Palmira Bastos, uma das maiores actrizes do teatro português de sempre. Por último, contraiu matrimónio com Ana Almeida Cruz.
Morreu em Lisboa, no dia 28 de Abril de 1951. Tavarede prestou homenagem à sua memória dando o seu nome a uma rua na Urbanização do Vale do Pereiro.
“Uma ocasião, um novel autor pediu-lhe para ler uma peça que queria ver representada. A leitura fez-se no camarim do artista, no teatro Apolo. Mas, ou porque o texto da peça fosse aborrecido ou porque o autor não desse entoação à sua obra, Almeida Cruz acabou por adormecer. O autor incipiente parou a leitura e disse ao empresário: - Vejo que está dormindo. Quer que eu continue a ler?
Almeida Cruz, com a sua larga prática de actor, respondeu: - Dormir também é uma opinião, meu caro amigo. A sua peça é muito longa. Outro dia acabaremos o resto”. Ignoramos se a peça alguma vez terá subido à cena
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