sexta-feira, 14 de outubro de 2011

INAUGURAÇÃO DO TEATRO E SEDE DA SIT


Tavarede, a risonha e antiquíssima Tavaredi, cuja fundação é anterior à da nacionalidade portuguesa, que foi couto e concelho a que Dom Manuel deu foral, em Lisboa, em 1517, iniciou no passado sábado as festas comemorativas da inauguração da sede da Sociedade de Instrução Tavaredense, belo edifício que, entre outras confortáveis instalações, comporta um magnífico teatro, grande aspiração daquela benemérita sociedade, cujo grupo cénico, constituido por distintos amadores e dirigido pelo talentoso mestre José da Silva Ribeiro, tem sido, a par de outras actividades educativas da SIT, um magnífico veículo de cultura e fonte de bem-fazer, levando a muitas terras do país, com o mais elevado nível artístico, as peças mais representativas do nosso teatro, com o que grangeou para a sua terra e para a Figueira títulos de merecida glória aureolados com a mais bela expressão de solidariedade humana, ao representar essas peças com fins puramente beneficentes.


As obras de ampliação da antiga sede, de que o arquitecto responsável tirou o mais feliz partido, foram realizadas pela SIT com a valiosa colaboração de muitos dos seus dedicados associados e outras entidades, mas para a grandeza e conforto que acabaram por vir a ter, muito contribuiu a benemérita Fundação Calouste Gulbenkian ao subsidiá-las com uma importante verba.


As festas iniciaram-se no sábado, à noite, com a reposição da peça em 2 actos e 24 quadros, “Terra do Limonete”, da autoria de José Ribeiro, com linda música do falecido António Simões e do nosso colaborador sr. Anselmo Cardoso Junior.


A peça, como já dissemos a quando da sua estreia, é uma descrição baseada em factos históricos, desde o 3º quartel do século XI, e comporta alguns motivos lendários e de fantasia da terra do limonete, da Figueira da Foz e da região, salpicados com passagens do mais saudável bom humor, rica e belamente postos em cena e representados com a maior propriedade pelos consagrados amadores tavaredense Violinda Medina, Maria Teresa de Oliveira, Maria Lurdes Moura, Maria Dias Pereira, Helena Silva Medina, Maria Otília Medina Cordeiro, João Cascão, João de Oliveira Junior, Fernando Reis, José Luís do Nascimento, Carlos Conde, os irmãos José e João Medina, Alberto Vigário, à frente de um numeroso grupo, havendo a assinalar e saudar o regresso à cena do grande amador António Jorge da Silva.


José Maria Ferreira dirigiu a orquestra com acerto.


Este espectáculo, que se repete hoje, foi dedicado a convidados, contando-se entre eles o sr. presidente da Câmara e outras altas individualidades de destaque não só desta cidade como de outras terras do país, que aplaudiram com entusiasmo os diversos e lindos quadros, tendo feito chamada especial ao autor da peça.


No domingo, realizou-se a cerimónia oficial da inauguração, que foi presidida pelo sr. engº Coelho Jordão, presidente da Câmara Municipal, que foi aguardado no Largo do Paço pela direcção e muitos associados da SIT e quase toda a população, representantes das autoridades civis e militares e de quase todas as colectividades do concelho, com os seus estandartes, e ainda pelos Bombeiros Voluntários desta cidade e pelas Filarmónicas Santanense e da Boa União Alhadense.


Organizou-se um luzido cortejo que se dirigiu à nova sede, tendo as senhoras da terra lançado em profusão lindas pétalas sobre os visitantes.


No átrio da sede, e coberta pela primitiva bandeira da Sociedade, uma lápida que o sr. presidente da Câmara descerrou, fica a testemunhar a gratidão dos tavaredenses à Fundação Gulbenkian, pelo generoso e importante subsídio concedido para a realização das obras.


No elegante teatro, realizou-se depois uma Sessão Solene, presidida pelo sr. engº Coelho Jordão, presidente da Câmara Municipal, ladeado pelos srs. João de Oliveira Junior, presidente da Junta de Freguesia; representante do Comando Militar; Padre Paulo Ribeiro, pároco da freguesia; dr. Carlos Estorninho, sócio honorário da colectividade; dr. Mário Braga Temido, de Coimbra; tenente Manuel de Matos, João de Oliveira, único sobrevivente dos fundadores da SIT, e outras individualidades, entre as quais o sr. Comendador Mário Barraca.


Depois da leitura de grande número de cartas e telegramas de felicitações e aplauso à obra realizada pela SIT, foi entregue o diploma de sócio honorário ao sr. tenente Manuel de Matos, benemérito daquela Sociedade, tendo usado depois da palavra o presidente da Assembleia Geral, sr. prof. Rui Martins, que saudou o sr. presidente da Câmara e os outros ilustres convidados, fazendo depois o elogio da obra extraordinária e meritória realizada pela Sociedade de Instrução Tavaredense nos 61 anos da sua existência, nos sectores da instrução e educação do povo da sua terra e no campo da assistência na cidade e outras terras do país.


Referiu-se com palavras de reconhecimento à Fundação Calouste Gulbenkian, pela contribuição mgnífica para a mais breve realização da obra que se inaugurava, que era como que uma restituição de tudo quanto a SIT, na sua grande obra de amor, distribuira pelos pobres do país. Prestou homenagem de viva gratidão a José da Silva Ribeiro, que tem sido o dinamizador de tão grande obra realizada em Tavarede e que é credor da homenagem de quantos apreciam essa imensa obra e admiram as suas extraordinárias qualidades.


O teatro de Tavarede, por proposta que em tempo submeteria à apreciação da Assembleia Geral, devia ostentar o nome de José Ribeiro.


O presidente da Direcção, sr. António de Oliveira Lopes, dirigiu saudações ao sr. presidente da Câmara (a quem agradeceu o auxílio prestado para a concretização da importante obra e a simpatia e carinho que dispensa à SIT).


Referindo-se à importância do melhoramento que honra e valoriza a sua pequena mas bonita aldeia, ergueu um “viva” aos que para ela contribuiram, salientando a Fundação Gulbenkian, os srs. presidente da Câmara e tenente Manuel de Matos e dr. Carlos Estorninho. E prestou também homenagem ao talento de José Ribeiro, que tão alto tem levantado o nome de Tavarede e elevado o nível cultural e educativo da sua gente.


O sr. tenente Manuel de Matos agradeceu o diploma com que a SIT o distinguira e referiu-se à encantadora festa que se estava realizando, a culminar um verdadeiro milagre que deu a Tavarede um teatrinho airoso e que mostra quanto vale e pode a vontade dos que se dedicam às boas causas. Terminou abraçando José Ribeiro, que recebeu nova e entusiástica manifestação da assistência.


Depois de, na mesma ordem de ideias, ter discursado o sr. dr. Mário Braga Temido, foi a vez de se ouvir José Ribeiro, que produziu um belo discurso em que, depois dos cumprimentos ao sr. presidente da Câmara, afirmou que a festa que se realizava era festa dos tavaredenses e não de homenagear a quem não se sente merecedor dela e apenas pretende cumprir o seu dever, sentimento que se impõe e não se agradece. Agrada-lhe ensinar o pouco que sabe, fazer bem e colaborar no auxílio aos que precisam. E não há nada que pague a paciência, o sacrifício, o interesse dos que trabalham pela causa que é a causa de todos.


Lembrou o tenente Matos, seu companheiro nas fileiras do exército e outros que, como ele, contribuiram generosamente para a edificação da nova sede, como os operários da sua terra e a benemérita Fundação Gulbenkian, que permitiu fazer uma obra moderna, confortável, verdadeiramente funcional.


Ao cumprimentar o único sobrevivente dos fundadores da SIT, disse depositar nele as esperanças, para que as transmitisse às gerações do futuro.


O sr. presidente da Câmara, ao encerrar a sessão, salientou a obra cultural e artística realizada pela Sociedade de Instrução Tavaredense, associando-se ao júbilo dos tavaredenses e louvando o gesto da Fundação Gulbenkian e do seu presidente sr. dr. Azeredo Perdigão, que permitindo à SIT a realização de tão grande melhoramento, dará também à Figueira a possibilidade de instalar em edifício próprio a Biblioteca e o Museu Municipal, o que muito valorizará esta cidade.


Terminou com palavras de esperança no futuro da prestante sociedade.


Abrilhantaram a sessão, executando o hino da SIT, as filarmónicas das Alhadas e Santana.


Aos convidados, foi servido um belo “copo-de-água”, no decurso do qual ergueram brindes, entre outros, os srs. Padre Paulo Ribeiro, José da Silva Ribeiro, João Assunção Pinto, dr. Pinhal Palhavã, Anselmo e Joaquim Cardoso.


Hoje à noite, repete-se a representação de “Terra do Limonete”, em récita dedicada aos associados.


Amanhã, depois da romagem ao cemitério, realiza-se um almoço de confraternização e um bodo aos pobres, terminando as festas com um baile.


(O Figueirense - 15.5.1965)

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