quarta-feira, 13 de abril de 2011

Limonete


Arbusto muito aromático.

Nome vulgar da “Lippia Cítriodora”, arbusto da família das verbenácias, tribo das verbenas, verde papilhoso - áspero, com aroma lembrando o da lima, de folhas ternadas ou quartenadas, com pecíolo curto, lanceoladas, agudas, inteiras; flores ternadas ou binadas, dispostas em espigas frouxas verticiladas, formando panícula piramidal eneos e cálices puberulento - pubescentes; cálice subbilabiado e corola esbranquiçada. Originária da América do Sul é cultivada nos jardins de Portugal e conhecida também pelos nomes de lúcia - lima, bela luísa, doce - lima, verbena e na ilha da Madeira pelo de pecegueiro - inglês.(Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura) Segundo a descrição acima, o limonete é originário da América do Sul. Mas, com a fantasia que o teatro permite, na peça “Em busca da lúcia-lima”, diz-se: “arbusto verbanáceo, de perfume agradável e intenso, vegetando bem nos terrenos frescos. Foi importado do Malabar em 1502 pelo capitão-mór D. Sancho Fagundes de Encerrabodes, que residiu em Tavarede há mais de trez séculos. Serve para dar cheiro aos bahus de roupa e é muito uzado para fazer ramos nas burricadas de Buarcos. Há quem dele faça chá contra as prisões de ventre”...

Da América do Sul ou das costas do Malabar, na India, talvez até das duas regiões, a verdade é que o arbusto encontrou na nossa terra as condições ideais de propagação.

Como curiosidade, aqui deixamos como se cantava o limonete naquela peça:

Coro


Das plantas que tem a aldeia

Outra não há de mais gala;

E em noites de lua cheia

Tem um cheiro que regala.


Quem fizer um ramalhete

Para dar à sua amada

Se el’ não tiver limonete

É coisa desconsolada.


Uma voz


Nas burricadas lusidas

Da festa de S. João

Trazem as moças garridas

Um grande ramo na mão.



Coro


O limonete caseiro

É talvez neto da lima...

Quem quiser sentir-lhe o cheiro

Basta pôr-lhe a mão por cima.


Se uma donzela travessa

Quer-se com ele enfeitar

Com três folhas na cabeça

Fica bonita a matar.


Uma voz


Eu não sei de flor mais bela

De quantas há no jardim.

Anda sempre na lapela

De quem suspira por mim.


Coro


Veio das matas frondosas

Da costa do Malabar

Para as donzelas vaidosas

Cheirarem bem ao seu par.


Mas isto é pouco para descrever a história do limonete na nossa terra que tem, até, o nome de Terra do Limonete... Agora, já nem tanto, mas, antigamente, em todos os recantos ajardinados que os tavaredenses tratavam, junto de suas casas, ou nas terras que amanhavam com o maior carinho, abundava com fartura o arbusto. É credível que, há umas dezenas de anos, quando a aldeia ainda estava liberta da poluição que agora tudo invade, nas noites quentes do verão o perfume do limonete se sentisse, com agrado, por toda a aldeia.

Há, também, uma lenda, linda como todas as lendas. A lenda da moira encantada, como, aliás, não podia deixar de ser.

Conta-se que aquando do cêrco do Castelo de Montemór-o-Velho pelos muçulmanos, a quem tinha sido tomado, no ano de 848, pelo rei de Leão, Ramiro I, e depois deste ter entregue o governo do castelo ao Abade D. João de Montemor (famoso abade do Mosteiro do Lorvão, que ficou célebre pelas suas vitórias sobre os moiros), quando já os sitiantes julgavam que o castelo se iria render, brevemente, pela fome, eis que o referido abade saíu do castelo com a gente de que dispunha e, travando batalha, conseguiu vencer e repelir os muçulmanos, perseguindo-os até Seiça.

Um dos chefes moiros, que detinha o poder do encantamento, temeroso que as suas oito filhas caissem em poder dos cristãos, lançou sobre elas um feitiço: “por mil anos estarão presas nesta gruta de Santa Olaia, enquanto não surgir alguém capaz de quebrar o encanto”.

A uma delas, Katija, disse que o seu encantamento seria quebrado quando um cristão se aproximasse dela e lhe dissesse por três vezes: “sois bela como o sol”...

Mas o encantamento também previa: “A terra para onde te levar aquele que vier desencantar-te, será uma terra aprazível, opulenta de galas da natureza, rica de plantas aromáticas, entre as quais uma, de cheiro rústico e agradável, persistente e suave, lhe dará nome e alcançará fama”...

Depois da tomada de Coimbra pelo Conde D. Sesnando, este enviou para Tavarede, como já se referiu anteriormente, Cidel Pais, com o fim de reconstruir e repovoar a vila.

Vários cavaleiros acompanharam este moçábare para o ajudar naquelas tarefas. Um deles, ao passar por Santa Olaia, viu, com admiração, oito moiras encantadas junto a uma gruta e que fugiram quando o viram aproximar-se.

Uma delas, Katija, ficou um pouco atrás das irmãs. Alcançando-a, o cavaleiro, que ficou extasiado pela sua beleza, não se conteve e disse-lhe: “sois bela como o sol”... Sem dar por isso, repetiu a frase várias vezes. O encantamento desfez-se!

Katija, grata pela quebra do encanto que tinha durado dois séculos, perguntou ao cavaleiro para onde a levava, ao que este respondeu que iria para Tavarede. Sem mais, a moira seguiu o seu libertador, lembrando-se das palavras de seu pai: terra aprazível, rica de plantas aromáticas, de cheiro rústico e agradável, persistente e suave...

Foi assim que, segundo a lenda, Tavarede ficou para sempre ligada ao limonete.

Ainda se mantém o seu culto na terra. É que, além do perfume, também é utilizado para se fazer chá. Chá de Limonete, que “se não faz bem, também não faz mal, embora a alguns possa amargar...”

Como não podia deixar de ser, socorremo-nos de mestre José Ribeiro que, na sua peça “Terra do Limonete” encerra, apoteoticamente o primeiro acto com a canção:


Limonete!

Eu sou rei

Da aldeia tavaredense!

O nome à terra, eu o dei!

Essa glória me pertence.

Embora velho par’cendo

O meu tronco é sempre novo,

Pois a raiz vem do povo:

Vigoroso vou crescendo.

(entram os ramos do limonete)

A seiva, meu pão e vinho,

Dá-me em ramos os meus braços,

Que se estendem como abraços

Ao muro tosco e velhinho.

(entram as folhas do limonete)

E vêm folhas viçosas,

Verdes, esguias, cheirosas,

Dar alegria e frescor

Ao jardim do cavador.

(entram as flores do limonete)

Então, nas pontas franzinas

Dos meus ramos verdejantes

Despontam flor’s pequeninas

Como estrelas cintilantes.

Coro de todos

-Limonete!

Rústica planta plebeia

Que na nossa terra cresce!

-Limonete!

Por toda a parte floresce

E dá cheiro à nossa aldeia...

-Limonete!

De tão viçosa verdura,

A Tavarede dás graça,

-Limonete!

Dás alegria e frescura

E perfumas a quem passa...

-Limonete!

-Limonete...


(Livro: Tavarede - Terra de meus avós - 1º.)

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