quinta-feira, 26 de maio de 2011

DE CASA DE CULTURA A... TABERNA! (2)

(continuação)



Passou, assim, de desejado a indesejado, de benemérito e protector a difamador!... As razões? Querer receber o seu dinheiro? Houve, da sua parte, difamações? Quais teriam sido? Respostas para estas questões não as conseguimos obter.


E em Junho de 1930, após diversas diligências para solucionar o caso, foi deliberado vender o prédio. Assim fizeram. O Grupo, esse, porque, entretanto, nem a renda conseguia pagar, e porque o comprador vendeu a casa pouco depois e o novo comprador quis a casa, como veremos lá mais para diante, o Grupo, diziamos, teve que mudar. Foi para o palácio dos condes de Tavarede, onde se manteve durante largos anos, mas já sem uma das suas principais actividades, senão mesmo a principal: o Teatro.

* * * * *

E deveriamos, talvez, terminar aqui este capítulo da história que estamos agora a tratar.


Mas, embora com algumas repetições de cadernos anteriores, e porque o facto atrás narrado acabou por ter importantes alterações ao meio cultural tavaredense, vamo-nos permitir ainda acrescentar umas coisas.


Já dissémos, portanto, que com a venda da sua sede e posterior transferência para o palácio, acabou o teatro no Grupo Musical.


Vamos, porém, reflectir e ponderar um pouco sobre o que entretanto aconteceu com a grande maioria dos amadores da secção dramática daquela colectividade.


Tinham alcançado notáveis êxitos, quer no drama ou na comédia, quer no teatro musicado. Vários amadores tavaredenses se tinham distinguido, com a sua intuição natural para esta arte.


De todas as figuras do grupo, uma houve que bem alto se elevou. Falamos de Violinda Medina e Silva. Começou bem cedo a representar, aos 12 anos, levada pela mão de seu pai, António Medina, acompanhada por José Medina, seu tio e outro dos grandes amadores tavaredenses, que foi pena ter falecido tão prematuramente, e por seu irmão mais velho, António.


Mestre José Ribeiro, evocando Violinda Medina para uma pequena notícia sobre a sua morte, a pedido daquele seu irmão António, acaba, assim, a carta: “E o Teatro de Tavarede sempre o vejo e sinto com a Violinda Medina - admirável Mulher que a paixão da filha única, brutalmente arrancada ao seu grande amor de Mãe, matou para toda a alegria, só lhe deixando alma para resignadamente desfiar o rosário das desventuras”.


Pois bem, temos uma recolha exaustiva de comentário e críticas feitas, durante décadas, a Violinda Medina por distintos críticos teatrais. Esperamos, um dia, trabalhá-los, mais aprofundadamente, e fazer deles um pequeno caderno que, nas colectividades aonde representou, a recordem. Mas, temos que o dizer, seria injusto só recordar esta amadora que, em 1930, era a primeira figura do teatro no Grupo Musical. Lembremos, por exemplo, Manuel Nogueira e Silva e Fernando Severino dos Reis, sem menosprezar a real valia de mais uns tantos.


Acabado o teatro no Grupo Musical, onde se iniciaram e guindaram ao primeiro plano, que fazer? Bem sabemos que entretanto foi fundada nova secção dramática, a do Grémio Educativo, que por mais dois ou três anos utilizou a casa que havia sido do Grupo. Este tema será desenvolvido lá mais para diante, para tentarmos descrever, com a maior clareza, toda a história daquela casa e os acontecimentos relacionados com ela e que acabaram por originar a total ruína, do edifício, claro.


Teve enorme influência, na ocasião, e como depois explicaremos, a situação política vivida nos finais da década de 20 e princípios da seguinte, bem como as convicções religiosas e ideológicas dos tavaredenses de então,nomeadamente daqueles que pertenciam aos “quadros” do Grupo Musical.


Uns, democratas liberais, isto em termos actuais, outros conservadores, enquanto, que na Sociedade de Instrução Tavaredense pontificavam mais os republicanos, mais progressistas.


O que aconteceu foi que, e em relação ao pessoal do teatro do Grupo, enquanto os conservadores se integraram na nova associação, o Grémio Educativo, de índole religiosa, os outros, aqueles que, à distância, classificamos de liberais, ou abandonaram a arte dramática ou passaram-se para o grupo da SIT. E não foi nada pacífica esta mudança de “camisola”. Desde vendidos a traidores, e outros termos até mais soezes, muito tiveram de ouvir e suportar dos seus anteriores companheiros, e não só.


Mas, analisando agora a situação, apetece-nos dizer que foi uma tomada de posição acertadíssima.


Pois teria sido admissível perderem-se tais talentos? Se eles alcançaram tal posição teatral em condições difíceis, isto é, com um amadorismo bem antiquado para aquela época (bastará recordar que nem havia a tiragem individual de papéis, e a sua fixação era feita “por ouvido”, nos ensaios), como seria em diferentes condições, como as que foram encontrar na Sociedade, com a direcção do extraordinário homem de teatro, mestre José Ribeiro, ensaiador do grupo cénico, com novas e modernas técnicas de ensaio, papéis tirados individualmente para que cada um os pudesse estudar e decorar em casa, por exemplo, palestras sobre o tema, explicações sobre isto e aquilo, sobretudo sobre os personagens que iriam desempenhar, e tantas outras coisas?


Foi assim que, com os elementos já em actividade e com os reforços provindos da extinta secção dramática do Grupo Musical, a partir daqueles anos, o grupo cénico da Sociedade conseguiu reunir o extraordinário conjunto de amadores que tão alto, e por esse país fora, elevou a tão grandes alturas o seu nome e o nome da terra que, todos eles, tanto amaram: Tavarede.


Esqueçamos as causas terríveis que foram vividas na e por causa da casa que estamos a historiar. Esqueçamos, até, alguns casos bem dramáticos vividos por alguns amadores em consequência do ocorrido e que deixaram profundas sequelas, esqueçamos, igualmente, a perda de um grupo cénico em grande actividade e que muitos serviços prestou à cultura tavaredense. Lembremos, unicamente, que, na nossa terra, afinal houve uma causa que ganhou: o Teatro.

(continua)

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