quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Teatro da S.I.T. - Notas e Crírticas - 9

1932

RÉCITA DE ANIVERSÁRIO

Mais uma vez a benemérita Sociedade de Instrução Tavaredense pôde apreciar o número e a qualidade das dedicações e simpatias que a acompanham e facilitam a sua acção meritória.


O 28º aniversário da sua fundação foi brilhantemente comemorado. Tavarede esteve em festa no sábado e no domingo. A população tavaredense associou-se com entusiasmo à comemoração, e fê-lo com sinceridade, porque sabe como tem sido eficaz e proveitosa a acção educativa da Sociedade de Instrução, através da sua escola nocturna, absolutamente gratuita e pública, que mantém há cêrca de 30 anos, e do seu teatro.


Bem haja a benemérita colectividade pelo bem que tem feito, e que novas prosperidades experimente para que prossiga o seu caminho!


No sábado à noite realizou-se no teatro a récita de gala. A sala apresentava um belo aspecto festivo com a sua decoração: colgaduras de damasco artisticamente colocadas nas paredes e balcão, muitas flores, etc. A assistência, muitos sócios, convidados, famílias distintas da Figueira, etc., era numerosíssima. Todos os lugares ocupados e muitas pessoas comprimindo-se nas coxias.


Abriu a récita com a encantadora peça em 1 acto As Três Gerações, original do ilustre dramaturgo dr. Ramada Curto, que gentilmente autorizara a Sociedade de Instrução a representar esta sua obra. A peça tem três papéis – A Avó (Maria Teresa de Oliveira), A Filha (Violinda Medina e Silva) e A Neta (Guilhermina de Oliveira) – todos de grande responsabilidade. Carolina de Oliveira marcou bem a criada. O desempenho deixou a assistência admiravelmente impressionada. As palmas foram vibrantes e sucessivas ovações fizeram subiu o pano repetidas vezes. Foram notados os primores da montagem e o rigor das toilettes. Um acto de verdadeira arte, emfim.


A 2ª parte foi constituída por um acto de recitativos, no qual tomaram parte os amadores: António Broeiro, Manuel Nogueira, Maria Teresa de Oliveira, António Santos, Emília Monteiro, João Cascão, Guilhermina Oliveira, Jaime Broeiro e António Graça, que disseram versos de autores portugueses e brasileiros, sendo todos justamente aplaudidos.


E a récita fechou com a opereta A Herança do 103, desempenhada por Violinda Medina e Silva, José Silva, Manuel Nogueira e Pedro Medina. O desempenho fez rir os espectadores, que aplaudiram calorosamente os intérpretes. Foi especialmente notada a excelente voz de Violinda, que cantou primorosamente a sua parte, e em especial o dueto em que brilhou com Manuel Nogueira e que foi aplaudido com raro entusiasmo. Para o brilho do espectáculo contribuiu a excelente orquestra, sob a direcção do distinto amador sr. António Simões.


Foi uma noite de intensa alegria que a todos impressionou agradavelmente. (Voz da Justiça – 01.20)

AS PUPILAS DO SR. REITOR

Podemos dar hoje a notícia de que o grupo cénico da Sociedade de Instrução inicou já os ensaios duma peça que vai constituir, tal como sucedeu com Os Fidalgos da Casa Mourisca, um êxito extraordinário: trata-se das Pupilas do Sr. Reitor – mais uma peça arrancada à obra tão portuguesa e tão bela de Júlio Deniz, e é possível ainda que para o repertório da Sociedade de Instrução Tavaredense entre também A Morgadinha dos Canaviais.


As Pupilas do Sr. Reitor são um trabalho do distinto escritor teatral Penha Coutinho, em 3 actos e 4 quadros, com partitura do grande e saudoso maestro Felipe Duarte, em 23 números de lindíssima música – obra musical de alto valor em que se reflecte o típico sabor popular e o colorido campesino do romance, digna do nome do insigne compositor e cheia de dificuldades que a superior direcção do distinto amador António Simões e a competência e boa vontade de José Nunes Medina, auxiliado por outros elementos locais, hão de vencer.


A representação deve manter o nome do grupo cénico à altura a que subiu com Os Fidalgos da Casa Mourisca.


As duas pupilas – Clara e Margarida – personagens de responsabilidade e com exigências na partitura, são interpretadas por Violinda Medina Silva e Emília Monteiro, duas distintas amadoras, de excelente voz; Maria Teresa de Oliveira tem a seu cargo dois papéis do seu género, em que vai brilhar como na Ana do Vedor – a mulher do tendeiro João da Esquina e a governanta do Reitor; nas principais personagens masculinas: à cabeça, no João Semana, António Graça; Jaime Broeiro, no José das Dornas; António Broeiro, no Reitor; João Cascão, no Pedro; Manuel Nogueira, no Daniel; Francisco Carvalho, no João da Esquina; e noutros papéis, Guilhermina de Oliveira, Carolina de Oliveira, António Santos, José Vigário, etc., e um numeroso grupo coral. Os diversos coros, e são muitos nos três actos, todos a 3 e 4 vozes.


A montagem está a ser preparada com todo o rigor, de modo a que a representação das Pupilas constitua no nosso meio um acontecimento de grande valor artístico. As quatro cenas, completamente novas, - uma para cada acto, tôdas diferentes – estão a ser conscienciosamente estudadas pelo distinto artista sr. Rogério Reynaud, que apresentará um trabalho magnífico digno de ser admirado e que será uma das suas melhores obras no género. O guarda-roupa vai ser executado a rigor por figurinos da época, e não será também descurado o mobiliário, para que tudo forme um conjunto artístico que corresponda aos esforços empenhados.


A representação das Pupilas do Sr. Reitor, tal como a teremos em Tavarede, exige sacrifícios materiais – não falamos nos de outra ordem, porque êsses todos os fazem de boa vontade – que só dificilmente poderão ser cobertos. Embora: a Sociedade de Instrução não se esquece que o seu teatro o utiliza como instrumento de educação e não de lucros monetários. Atendendo a isto, o autor da peça, sr. Penha Coutinho, e a viúva do maestro Felipe Duarte cederam a obra à Sociedade de Instrução Tavaredense com dispensa absoluta de todos os direitos, o que registamos com o louvor que o acto merece.


As Pupilas do Sr. Reitor devem subir à cena pela Páscoa. (Voz da Justiça – 02.13)

AS PUPILAS DO SR. REITOR

Ao notável esfôrço da Sociedade de Instrução Tavaredense, pondo em cena As Pupilas do Sr. Reitor com inegável carinho e absoluta probidade artística, correspondeu o grande êxito da estreia, que vai afirmar-se de récita para récita.


Impressão de conjunto admirável. Interpretação excelente em todos os papéis, alguns feitos brilhantemente; guarda-roupa bem executado, feito a rigor, seguindo os desenhos de Roque Gameiro na edição de luxo do romance; cenários próprios, de bom efeito. O distinto artista Rogério Reynaud tem nas cenas que pintou para Tavarede um dos seus melhores trabalhos. O 1º acto é lindo, e ficará perfeito com os retoques que não foi possível dar-lhe para a primeira récita, por falta de tempo; mas a cena do 2º acto, a eira do José das Dornas onde se faz a desfolhada, em noite de luar, é esplêndido de desenho, de tonalidade e de efeito teatral. Tôda a montagem representa um esfôrço grande, digno de nota e nada vulgar em amadores. Acrescente-se a tudo isto a bela partitura de Felipe Duarte – 23 números de música deliciosamente portuguesa, de melodia que cai agradavelmente no ouvido e de esplêndidos efeitos de orquestração que o distinto amador António Simões ensaiou com a sua competência – e ter-se-à a explicação do êxito incontestável obtido pela representação das Pupilas do Sr. Reitor. Repete-se no próximo sábado a opereta, com a certeza de que a lotação será esgotada.


O espectáculo começou tarde, em virtude de dificuldades na montagem do cenário. E o último quadro teve de ser representado com cenário velho, por não estar concluído o novo. Estes inconvenientes estão removidos, e assim a próxima récita começará às 22 horas prefixas e acabará cedo, e será apresentado no último quadro o cenário próprio, a sala duma casa portuguesa, cheia de carácter, também um bom trabalho de Reynaud.


Na montra da Casa das Jóias, à Praça Nova, estão expostas as maquettes dos cenários. (Voz da Justiça – 04.13)

A REPRESENTAÇÃO DA OPERETA AS PUPILAS DO SR. REITOR

O excelente grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense obteve no sábado um novo e grande triunfo, aliás já previsto; a opereta As Pupilas do Sr. Reitor, fica no seu reportório, depois dos Fidalgos da Casa Mourisca, como um belo êxito artístico.


A interpretação foi sempre boa, das primeiras figuras às simples rábulas, num conjunto harmonioso e brilhante. Nas duas protagonistas vimos duas amadoras distintas: Emília Monteiro na triste Margarida, e Violinda Medina e Silva, na alegre Clara, a que deu a precisa vivacidade – ambas primorosamente. João Semana encontrou em António Graça o intérprete perfeito, o mesmo devendo dizer-se de Jaime Broeiro, no José das Dornas – dois tipos magistralmente desenhados, representação alegre, dando os efeitos cómicos com a maior naturalidade, sem um exagêro. António Broeiro compôs a primor a figura do bondoso Reitor, João Cascão e Manuel Nogueira, deram o carácter próprio ao rústico Pedro e ao volúvel Daniel. Maria Teresa fez com justo sabor as duas características – a mulher do tendeiro e a criada do João Semana; e F. Carvalho tem no João da Esquina um dos melhores papéis que lhe conhecemos. Uma rábula bem feita: a Francisca, por Guilhermina de Oliveira.


Guarda-roupa a rigor e cenários de belo efeito – três cenas diferentes pintadas pelo distinto artista sr. R. Reynaud (a cena do 4º quadro só no próximo espectáculo pode ser apresentada). A música é lindíssima, bem portuguesa, com a assinatura do grande e saudoso maestro Felipe Duarte, que valorizou extraordinariamente a adaptação do experimentado escritor teatral Penha Coutinho. Pena foi que o número de abertura – a linda canção das lavadeiras – saísse com desafinação nas vozes, o que foi devido ao nervosismo com que o espectáculo começou a hora tardíssima (passava das 23!) por virtude da demora na montagem do cenário. O dueto das duas pupilas no 1º acto, foi magistralmente cantado por Emília Monteiro e Violinda Medina, que ouviram uma grande ovação; depois o grande concertante – a chegada do novo médico – difícil e de belo efeito, também aplaudido sem favor, e o côro final. No 2º acto dominou a Canção da Cabreira, em que sobressaiu a esplêndida voz de Violinda acompanhada pelo côro – quatro vozes – que arrebatou a assistência. Poucas vezes se tem feito neste teatro tão demorada e calorosa ovação. Outros números ainda foram aplaudidos e todos os restantes coros foram cantados com perfeita afinação.


Merecem referência as caracterizações de António Esteves, felicíssimas.


Para o belo êxito das Pupilas contribuíram, além dos elementos citados, muitas dedicações desinteressadas e a competência e bom gôsto de dedicados amigos da SIT. É nosso dever registar os nomes de António Simões, que regeu a excelente orquestra – constituída por amadores mas formando um conjunto que se ouve com prazer – e dirigiu superiormente tôda a parte musical; José Medina, que ensaiou as vozes, dispendendo um esfôrço enorme em que foi ajudado por José Silva e Jerónimo Ferreira; e D. Belmira Pinto dos Santos e Pedro Campos Santos, que dirigiram a execução do guarda-roupa.


A todos, e à Sociedade de Instrução, dirigimos as nossas felicitações pelo novo êxito alcançado.


As Pupilas do Sr. Reitor repetem-se no sábado. (Voz da Justiça – 04.13)


EXCURSÃO A TOMAR

No próximo sábado e domingo vai o grupo a Sociedade de Instrução Tavaredense, constituído por 80 pessoas, a Tomar, onde representará, no sábado, As Pupilas do Sr. Reitor e no domingo, Os Fidalgos da Casa Mourisca, revertendo o produto destas duas récitas em benefício da instituição “Sopa dos Pobres”, daquela cidade.


A visita do excelente grupo tavaredense é esperada com entusiasmo pelo povo tomarense, não só pelo fim beneficente das duas récitas como também pelas inesquecíveis impressões que ficaram da visita de há dois anos. Tomar, que tão galhardamente recebe os seus hóspedes, acolheu então os excursionistas com inegualável gentileza.


As notícias vindas daquela cidade dizem que é grande o entusiasmo e que o teatro vai encher-se nas duas noites. E o simpático grupo terá o mais carinhoso acolhimento.


Também aqui há muito entusiasmo por esta visita. Tomar é uma das mais belas entre as belas terras de Portugal.


A sua paisagem, os seus encantos naturais, o seu pequeno e maravilhoso jardim, as margens formosíssimas do Nabão são motivos de encantamento para o espírito do visitante; não mais se esquecem; mas o tesoiro extraordinário das suas riquezas monumentais – a jóia incomparável do Convento de Cristo, Santa Iria, Nossa Senhora da Conceição, os Arcos, etc. – impõem a todos os portugueses o dever duma visita a Tomar. Quem uma vez ali vai, fica de tal modo enamorado das suas belezas que não tem remédio senão voltar para... reacender saudades.

Muitas pessoas desta cidade desejam aproveitar a ida do grupo da Sociedade de Instrução para visitarem Tomar. A viagem pode fazer-se em excelentes condições de comodidade e economia, utilizando a camioneta dos Serviços Municipalizados, que partirá no sábado à tarde e regressará de Tomar na noite de domingo. A inscrição para esta viagem, que custa 25$00, ida e volta, está aberta. (Voz da Justiça – 06.15)

A VISITA A TOMAR

A visita da Sociedade de Instrução Tavaredense constituiu por assim dizer o maior acontecimento que ultimamente aqui se tem registado.


Já o fim altruísta que trazia a Tomar tão simpática Sociedade, já porque ainda não tinham sido esquecidas as magníficas impressões deixadas há dois anos, tudo contribuiu para o bom acolhimento que aos tavaredenses foi dispensado e para o entusiasmo que durante dois dias se observou pela estada entre nós de tão amáveis visitantes.


Conforme fôra anunciado, a Sociedade de Instrução Tavaredense chegou a Tomar pelas 15 horas de sábado. O grupo era constituído por mais de 80 pessoas.


Na estação do caminho de ferro, além de muitos amigos, correspondentes dos jornais e povo, aguardava os visitantes a Comissão da Sopa dos Pobres, presidida pelo sr. capitão Jesus.
Depois de feitas as apresentações e dadas as boas-vindas, dirigiram-se para os hotéis que lhes estavam reservados.


Ao fim da tarde chegaram vários automóveis e uma camioneta com muitas pessoas e famílias que aproveitavam esta oportunidade para visitar a nossa terra. Entre outras pessoas vimos os srs.: dr. José Cruz, dr. Manuel Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, Firmino Cunha, Fernando Reis, Francisco Freitas Lopes, Eduardo Soares Catita, Araújo, Carlos Traveira, etc. etc.

Refeito da viagem, espalharam-se pouco depois pela cidade, visitando o que temos digno de menção.


Pelas 20 horas foram cumprimentados pela Sociedade Filarmónica Gualdim Pais no Hotel Nabão e pelas direcções das nossas sociedades de recreio.


À noite representou-se no teatro a linda opereta As Pupilas do Sr. Reitor, que agradou bastante. Aos principais intérpretes da peça foram oferecidos ramos de flores e a assistência aplaudiu calorosamente e fez chamadas especiais.


No domingo, a-pesar-da chuva que caíu quási tôda a manhã, continuaram as visitas aos nossos monumentos.


Às 14 horas houve no Grémio Artístico uma matinée e um “Pôrto-de-Honra” oferecidos à Sociedade de Instrução Tavaredense.


Foi uma festa cheia de alegria e entusiasmo, de perfeita confraternização entre tomarenses e visitantes.


Dançou-se animadamente, até às 20 horas. Enquanto no salão de baile se servia um chá às senhoras, num outro salão era servido o “Pôrto-de-Honra”. Usaram da palavra os srs. dr. José Cruz, dr. Lontro Mariano, Manuel Jorge Cruz, dr. Manuel Gomes Cruz, António Medina Júnior e os tomarenses António Duarte Faustino e Domingos Vístulo, que puseram em relêvo o significado desta visita e as consequências que dela resultam para a Figueira e Tomar com tão amistosas relações. Trocaram-se muitos e entusiásticos brindes, ouvindo-se, por vezes, aclamações calorosíssimas.


À noite realizou-se o segundo espectáculo, com Os Fidalgos da Casa Mourisca.


Se a impressão deixada pelas Pupilas do Sr. Reitor tinha sido boa, a dos Fidalgos da Casa Mourisca ultrapassou tudo que se possa imaginar. À medida que a peça ia decorrendo, ia também por sua vez subindo a admiração do público pelo que estava observando. O cuidado da montagem das cenas, a forma de dizer dos distintos amadores, a perfeita interpretação de A Broeiro (D. Luís), de D. Violinda Medina e Silva (Baronesa), D. Emília Monteiro (Berta), D. Maria Teresa (Ana do Vedor), António Graça (Frei Januário), Nogueira e Cascão nos filhos do velho fidalgo, etc., formando um conjunto primoroso, que dava motivo a que a assistência, como que electrizada pelo que estava vendo, aplaudisse com entusiasmo e dissesse com justiça: parecem artistas e não amadores!


Num intervalo alguns amadores de S. Martinho do Pôrto, com o seu ensaiador, também um distinto amador teatral o professor de ensino secundário naquela vila, foi ao palco saudar o grupo tavaredense e oferecer flores às amadoras. O discurso proferido pelo ensaiador do grupo de S. Martinho do Pôrto, no qual se afirmava muita admiração pela forma invulgarmente brilhante como se estava representando a peça e se elogiava a Sociedade de Instrução Tavaredense pela sua formidável obra educativa, arrancou à assistência, que enchia completamente o teatro, novas e prolongadas ovações.


Em seguida, a Comissão da Sopa dos Pobres, à frente da qual estava o sr. capitão Jesus, veio ao palco agradecer a todos os tavaredenses o seu cativante desinterêsse e a sua amabilidade em virem até nós cooperar na grande obra de assistência em que se encontravam empenhados. Estas palavras foram cobertas de ovações calorosíssimas. Tôda a sala, repleta, vibrava de entusiasmo. As ovações repetiram-se quando o director do grupo cénico tavaredense, nosso amigo sr. José Ribeiro, agradeceu.


Muitas flores, muitos aplausos e sobretudo muito entusiasmo e carinho, tudo dá motivo a que possamos afirmar terem deixado nos tomarenses as melhores impressões os dois brilhantes espectáculos que, numa hora feliz, a Sociedade de Instrução Tavaredense veio dar à nossa cidade.


Na primeira noite, a bem constituída orquestra que o distinto amador figueirense sr. António Simões nos apresentou, e que tão apreciada foi, executou, a abrir, numa simpática homenagem à nossa terra, o hino de Tomar.


Terminado o espectáculo de domingo realizou-se um baile no Grémio Artístico, que se prolongou até às 4 e meia de segunda-feira.


Os nossos simpáticos visitantes retiraram na segunda-feira, bem impressionados com o acolhimento que tiveram em Tomar, e os tomarenses viram-nos partir com saudade.


Daqui felicitamos a simpática Sociedade de Instrução Tavaredense.


=À vinda para Tomar, uma surprêsa aguardava os nossos visitantes em Caxarias: na gare da estação estavam as crianças da escola daquele lugar, tôdas levando flores e acompanhadas da nossa patrícia srª D. Iria da Fonseca Baptista e da srª D. Maria Cristina Trezentos, a cuja inteligente acção e belo espírito se deve a realização da récita infantil realizada em Caxarias e de que então demos notícia. Acompanhavam-nas ainda outras pessoas. À chegada do combóio, a srª D. Iria Baptista fez as apresentações e dirigiu saudações ao simpático grupo tavaredense, saudações que o director do grupo agradeceu com palavras de admiração pela obra daquelas senhoras e dos seus cooperadores. Às intérpretes das duas Pupilas foram oferecidos lindos ramos de cravos, bem como ao director do grupo, que por todos agradeceu, sensibilizado. No momento do combóio prosseguir a marcha, ergueram-se vivas calorosos aos tavaredenses e ao povo de Caxarias.


= Alguns rapazes tomarenses foram de automóvel, na segunda-feira, à estação de Chão das Maçãs, e ali esperaram o combóio que conduzia à Figueira os nossos visitantes, levando-lhes ramos de flores, o que deu origem a novas manifestações de carinhosa simpatia. (Voz da Justiça – 06.25)

TEATRO

Já aqui falámos na representação, em Tavarede, das Pupilas do Sr. Reitor e dos Fidalgos da Casa Mourisca. Não iremos, por isso, fazer novas referências à brilhante interpretação que as duas peças tiveram então e agora nos foi dado admirar de novo no Teatro Parque pelo excelente e por todos os motivos tão simpático grupo da Sociedade de Instrução Tavaredense.


O público que expontaneamente acorreu aos espectáculos de sábado e domingo e aplaudiu a representação das duas peças, foi justo, sem ser generoso. Pela excelente interpretação, tanto na parte declamada como na formosa e tão característica partitura que o grande e saudoso Felipe Duarte compôs para As Pupilas como pela rigorosa montagem cénica, as duas récitas constituíram dois belos espectáculos. Os oito cenários diferentes, o guarda-roupa, todo o arranjo das cenas foram notados pelo público, infelizmente pouco habituado a ver tratar as peças com o carinho que estas mereceram. Pena foi que as deficiências de iluminação eléctrica do teatro não permitisse realçar a beleza do quadro da desfolhada, no 2º acto das Pupilas, em noite de lua cheia, para a qual Rogério Reynaud pintou um cenário que honra o seu nome de artista.


Felicitamos a Sociedade de Instrução Tavaredense pelo indiscutível êxito artístico que agora alcançou com estas duas peças tão singelas, tão saudáveis e tão portuguesas e absolutamente integradas no programa de educação moral da sua secção dramática.


Sob este aspecto especial, as récitas de sábado e domingo talvez mereçam a atenção dos orientadores dos nossos vários grupos dramáticos. (Voz da Justiça – 07.06)


AS PUPILAS DO SR. REITOR

De Buarcos – O teatro do Grupo Caras Direitas teve no domingo uma enchente. Representou ali o bem constituído grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense a encantadora opereta portuguesa “As Pupilas do Sr. Reitor”, que é ornada de linda e maviosa música.


Todos os intérpretes se portaram com correcção e acêrto, mas, sem desprimor para os outros, queremos aqui salientar o trabalho de Violinda Medina e Silva, que, pela sua correcção na dicção e pela sua bem timbrada voz, sabe cativar o público que não se cansa de a ver. Interpretou muito bem o papel de “Clara”.


Também nos merecem uma referência especial os irmãos Broeiros, que souberam fazer um “José das Dornas” e um “Reitor” à altura.


O cenário é dum efeito surpreendente, bem como o guarda-roupa.


Todos os espectadores ficaram satisfeitos, sendo bisados alguns números e ovacionados todos os personagens. (Voz da Justiça – 09.21)


A RÉCITA EM BUARCOS

O festejado grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense obteve no domingo passado, em Buarcos, mais um êxito brilhante com a representação dos Fidalgos da Casa Mourisca. A lotação do teatro esgotou-se. Os aplausos foram entusiásticos.


Em carta da Figueira para a Gazeta de Coimbra diz o sr. Carlos de Almeida, que foi um distinto amador e é autor de várias peças teatrais:


“À noite, espectáculo no Peninsular por um grupo de bons artistas e récita no teatro de Buarcos pelo excelente grupo cénico de Tavarede, que representou o drama “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, uma das mais bonitas peças extraídas da obra de Júlio Deniz.


Mais uma vez fiquei assombrado com o desempenho dado a uma peça cheia de dificuldades por gente modesta, sem cultura dramática. Por vezes me esqueci e julguei estar vendo representar autênticos profissionais e não gente duma simpática aldeia, em geral operários. O grupo das mulheres possui competências que não se discutem”.


Numa carta anterior, e a propósito das Pupilas do Sr. Reitor, também se faziam as mais elogiosas referências ao grupo tavaredense. (Voz da Justiça – 10.01)

A CANÇÃO DO BERÇO

O festejado grupo de amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense vai representar no seu teatro uma peça encantadora, uma verdadeira obra-prima da literatura teatral: Canção do Berço – obra dum poeta que é um grande dramaturgo espanhol, Martinez Sierra. Traduziu-a e adaptou-a outro grande poeta, o dr. Carlos Amaro.


Quando foi representada em Madrid, um crítico distinto, Emile Carrére, escreveu num jornal espanhol:


“Canção do Berço é a mais bela obra de teatro dêstes últimos tempos e o seu êxito é a consagração do artista, que, ao seu temperamento de poeta, seu subtil engenho e sua cultura, liga uma forte vontade de monge beneditino.


E a emoção está na poesia alada, pura e cheia de grande dôr vital do irremediável.


A crítica opinou que o primeiro acto é de assinaladíssima superioridade. Eu creio que o segundo é insuperável, ainda que seja menos harmónico no conjunto.


As toucas negras substituiram as de linho branco, que se irisavam como pombas ao passar sob os vitrais.


Sóror Joana da Cruz e Sóror Marcela têm talvez algum fiosito branco entre os cabelos, e consomem-se no seu próprio amor, condenadas ao bárbaro suplício de amar sem amor. O sol da Primavera, o incensário florido do horto monacal, levam uma ardente conturbação às suas almas de nardo e invade-as uma imensa melancolia que é a nostalgia imensa daquela vida que triunfa para além dos muros pardos.


Teresa encarna a adolescência, o amor humano, a Liberdade. A noiva ardente e enamorada, ao falar do homem a quem adora, faz assomar as lágrimas aos divinos olhos da freira. Quando chega o momento da separação, os corações estalam no peito. É a amargura trágica dos adeuses para sempre. Em cada abraço há um grande tremor de almas. Maio perfuma o sombrio locutório, a cotovia estende o seu vôo e aquela paz de melancolia terá algo de sepulcro monacal momentos depois. Ouvem-se os alegres guisos do carro que leva Teresa. O sino chama para o côro e a liturgia tem melancólicas ressonâncias do “miserere” na divina tarde azul.


Sóror Joana aos graves acordes corais rompe em soluços, que é a divina e única eloquência das grandes dores. Ela foi quem dezóito anos antes arrulhou à filha de ninguém, adormecida no seu berço, com simples, luminosas palavras de uma excelsa ternura.


“Canção do Berço” é a melhor obra do teatro poético contemporâneo, cheio de penetrante poesia, livre de consonâncias, perfumada e subtil”.


Canção do Berço é quási só representada por mulheres: o grupo tavaredense vai apresentar-nos um conjunto de doze amadoras, sendo seis em papéis de responsabilidade, o que é raro e difícil em grupos de amadores. Entram na peça apenas duas personagens masculinas, sendo uma delas o médico do convento de dominicanas, em Espanha, onde decorre a acção. (Voz da Justiça – 11.16)


TEATRO EM TAVAREDE

É no próximo sábado que a Sociedade de Instrução Tavaredense inicia a sua época teatral, levando à cena a encantadora peça em 2 actos, de Martinez Sierra, Canção do Berço, que o dr. Carlos Amaro, o poeta admirável do S. João Subiu ao Trono, traduziu e adaptou primorosamente.


Canção do Berço teve da crítica espanhola, francesa e portuguesa um acolhimento de rara admiração: é uma obra literária formosa e delicada e, ao mesmo tempo, uma sugestiva e equilibrada obra teatral. A peça foi em Espanha, como era natural, muito discutida, nas suas intenções filosóficas, que o autor lhe nega. Martinez Sierra veio à imprensa e falou sôbre a Canção do Berço.


É êle que diz:
“ A “relativa novidade do ambiente” fez com que alguém, surpreendendo-se de que um poeta possa quebrar o segrêdo da clausura, pergunte de que meios me servi para estudar detalhes da vida monástica.


Tudo isto tão simples e tão plácido representa a verdade da tão decantadamente tenebrosa existência monástica? É simplesmente fantasia do poeta? E o acontecimento que constitui o assunto? É imaginado? É real?


Não há prodígio, milagre nem mistério nos pontos de observação que se aproveitaram para esta simplicíssima comédia. Certo: a vida das monjas é assim, e eu tive ocasião de o saber porque vivi sempre na proximidade material e espiritual de conventos e comunidades.


O espisódio ou acontecimento que constitui o “argumento” da obra nada tem de excepcional: certo que nem a todos os conventos de freiras entra pela roda uma criança; mas poucas comunidades haverá em que não tenha atrapalhado o juizo à maior parte das Madres – e a Igreja que lhes pôs o nome lá saberia porquê – um petiz, filho dalguma criada, do médico, dalguma vizinha pobre, dum parente, amigo ou desconhecido.


E quando imaginei esta comédia baseada em um facto real, o meu único receio foi que o incidente, por ser demasiado vulgar ou conhecido, parecesse insignificante à maioria do público.


Com respeito à intenção, e esta é a aclaração mais importante, já o disse no próprio dia da estreia que me propuz unicamente fazer uma obra de arte, aproveitando a intensa poesia de um ambiente que estranho não ter visto já em teatro num povo como o da Espanha, onde é tão familiar”.


A peça é apresentada em Tavarede com uma montagem que está a ser feita com todo o carinho. É vestida rigorosamente, segundo a Constituição das Monjas Dominicanas, pelo guarda-roupa Castelo Branco, e os cenários são pintados por Rogério Reynaud.

Na vitrina na Casa das Jóias à Praça Nova, é exposta amanhã a maquette do 1º acto. (Voz da Justiça – 11.23)


CANÇÃO DO BERÇO

O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense obteve no sábado um dos seus mais brilhantes êxitos artísticos, com a representação da peça de Martinez Sierra – Canção do Berço. A delicadíssima obra do consagrado dramaturgo espanhol bem merece o carinho e os cuidados com que a apresentou a Sociedade de Instrução Tavaredense.


No género, esta alta-comédia é, sem dúvida nenhuma, a mais bela obra teatral que o grupo tavaredense tem pôsto em cena, e também a de maior dificuldade. É uma peça de conjunto, em que os grandes papéis, por melhor interpretados que sejam, não podem fazer esquecer os outros.


São dez as personagens femininas – além das figuras que não falam, o que é muito difícil de conseguir em grupos de amadores. Tomando em conta tudo isto, mais realça o belo êxito alcançado pela Sociedade de Instrução Tavaredense.


Canção do Berço é uma peça verdadeira, sincera, humana. Simples, pode dizer-se quási sem entrêcho, a sua técnica é sólida, as suas figuras são admiravelmente desenhadas e movem-se naturalmente, no ambiente próprio. O autor dá-nos a psicologia daquelas santas espôsas do Senhor em pormenores sugestivos descobertos, quási inventados – e todavia são verdadeiros – pelo seu talento. Algumas figuras assumem proporções de símbolos, sem nunca deixarem de ser simplesmente e humanamente – mulheres; a Prioreza, tão simpática, é a bondade cristã, sempre disposta a perdoar, dando aos textos da Regra e da Constituição uma elasticidade que, sem ser desrespeitadora, lhe permite ser condescendente; Sóror Joana é ela própria a canção do bêrço – encarna, na pureza ingénua do 1º acto e na saudade pungente do 2º, o amor maternal, o instinto de mãi que perdura mesmo naquelas a quem os votos monásticos condenaram à virgindade perpétua; Sóror Marcela, encantadora figurinha de monja que se define deliciosamente com as imagens do canário e do espelho, é o espírito de liberdade em rebeldia contra a clausura, tão forte que se não deixou morrer mesmo depois de trocado o véu branco do noviciado pelo véu preto e pelo escapulário benzido dos votos definitivos; Teresa, a criança oriunda do vício dum lupanar e que, para o coração e para a alma de Sóror Joana, “veio do céu, como todo o mundo”, essa é o Amor fonte de vida, é a própria Vida, é a Natureza, que não cabe dentro dum convento; por isso ela, criada no claustro, educada pelas freiras, e não obstante o amor verdadeiro “ao seu convento” e às “suas Madres”, deixa a casa santa em que cresceu e se fez mulher para, pelo braço do homem que ama, vir cá para fora, para o Mundo, onde também se pode amar e servir a Deus com mais utilidade cristã do que no convento.


Há ainda na peça outra figura magistralmente desenhada: é a Vigária – que personifica o respeito à lei, a fidelidade aos votos, a intransigência com o menor afrouxamento de disciplina do convento. Emquanto nas outras fala o sentimento, nesta domina a razão fria. Esta Madre Vigária chega o tornar-se antipática ao espectador, a sua frieza de coração quási parece crueldade – e, todavia,ela interpreta à risca a Regra e a Constituição, ela é, emfim, o espírito vivo da própria instituição: a antipatia que inspira ao espectador, não vem dela, vem da instituição que ela personifica com tôda a pureza.


Emfim, diremos ao leitor que vale a pena ir a Tavarede ver representar a mais bela obra teatral que nos lembramos de ver posta em cena pelos nossos amadores. O conjunto é harmonioso, e, para mais, na montagem da Canção do Berço nota-se um esmêro carinhoso que dispõe bem. Os cenários de Reynaud, são lindíssimos, cheios de carácter e o guarda-roupa é o que a Constituição das Monjas Dominicanas manda que seja.


Canção do Berço repete-se no próximo sábado. O programa é completado com a opereta O 66, de lindíssima partitura, que no sábado passado não pôde ser representada por ter adoecido à última hora o sr. António Simões, o distinto amador que dirige a orquestra.


São muitos os lugares tomados por pessoas da Figueira para a récita de sábado, o que é garantia de que o teatro terá uma enchente. (Voz da Justiça – 11-30)

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