sexta-feira, 9 de março de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 19

1945

HORIZONTE, NA FIGUEIRA

Foi mais uma noite de glória, a de sábado último, para a Sociedade de Instrução Tavaredense com a representação da sua nova peça – Horizonte – no Teatro Parque-Cine desta cidade.


A peça, bem urdida, é um episódio da vida rústica cheio de realidade, tratado num vocabulário simples e popular, e está muito a carácter para o festejado grupo de Tavarede.


A dar-lhe realce tem esplêndidos cenários do hábil artista Rogério Reynaud e arranjos de cena muito cuidados, principalmente o primeiro acto passado ao ar livre num ambiente campestre de notável verdade.


José da Silva Ribeiro, o ensaiador do grupo de amadores seus patrícios, demonstrou mais uma vez a sua competência, dando à peça uma interpretação que devia encher de contentamento e satisfação o seu autor Manuel Frederico Pressler, que assistiu ao espectáculo numa frisa do teatro.


Todos os amadores se compenetraram dos seus papeis, e o desempenho decorreu certinho, mas há que distinguir, de salientar, o trabalho de Violinda Medina e de João Cascão, pelo que ele tem de mérito artístico dentro da sua actuação de simples amadores, muito principalmente do 2º. acto, que foi calorosamente aplaudido, como poucas vezes temos visto nas plateias figueirenses, devido ao admirável e extenuante trabalho dos dois exímios amadores.


Também merece referência especial o amador Fernando Severino dos Reis, pela forma correcta como conduziu a sua personagem.


No final do 2º. acto, o grande acto da peça, foi chamado ao palco o autor, sendo-lhe feita uma grande ovação por parte da numerosa assistência e oferecido dois lindos ramos, um deles de limonete – o símbolo da aldeia de Tavarede – por meninas componentes do grupo cénico.


Terminamos por cumprimentar e felicitar José da Silva Ribeiro, por mais esta manifestação do seu primoroso espírito de mestre no ensinamento dos elementos de que dispõe na Sociedade de Instrução Tavaredense. (Notícias da Figueira – 05.26)

UM ESPECTÁCULO DE AMADORES

O grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense representou no Parque Cine a peça em 3 actos – “Horizonte”- da autoria dum novo dramaturgo – Manuel Frederico Pressler – peça de acentuado sabor rústico, já representada no Teatro Nacional de Lisboa.


“Horizonte” vê-se com agrado. Se a sua concepção e realização não trazem nada de novo ao teatro português, não lhe falta um certo sentido de espectáculo que é essencial numa obra de teatro, sem o que, por muito bem vestida que se apresente, está condenada a um inevitável fracasso.


O primeiro acto é de todos o menos teatral. Não passam despercebidos os cuidados do encenador que pôs em campo todos os recursos do seu espírito minucioso, mas, em casos dêstes, o ensaiador não pode fazer tudo, embora por vezes faça verdadeiros milagres.


O 2º e 3º actos dão-nos uma noção mais optimista da capacidade dramática do autor e oferecem aos intérpretes um horizonte mais dilatado para êles exibirem as suas possibilidades.


A cena final do 2º acto, admiravelmente desempenhada por Violinda Medina e João Cascão, atinge um dramatismo, violência e rusticidade forte, convincente, esmagadora. Por tal forma arrebata o público que êste a interrompe, explodindo numa salva de palmas.


Violinda e Cascão são dois grandes intérpretes que em qualquer parte passavam por profissionais. Temos visto representar muito pior figuras diplomadas pelo Conservatório.


Maria Tereza de Oliveira, admirável nos papéis de velha, que compõe com muito acêrto.


António Graça, amador da velha guarda, diamante lapidado pelo saber e pela tenacidade dum bom ensaiador, é homem que dá sempre boa conta do recado.


Fernando Reis, a quem foi confiado o papel de galã, não pronuncia, por vezes, com clareza. É o maior defeito que lhe notámos.


Nos restantes, nenhuma revelação especial a assinalar. Contribuem todos – uns mais outros menos – para o êxito do conjunto, mas não nos parece que haja entre êles, escondidos, outro Cascão e outra Violinda, a quem José Ribeiro possa entregar àmanhã papeis de envergadura como aquêles que lhes temos visto representar.


Belos cenários de Rogério Reynaud. (O Figueirense – 06.02)

HORIZONTE, EM COLARES

Promovido pelo “Jornal de Sintra”, que há muito alimentava tal propósito, nunca posto em prética, em birtude da deficiência de condições oferecidas pelos palcos das associações recreativas de Sintra para a rigorosa montagem das peças a representar – associações essas que aliás mostraram sempre a melhor boa vontade em colaborar em tal iniciativa, - realiza-se brevemente uma excursão do brilhante Grupo Dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense à vila de Sintra, que actuará no novo cine-teatro da Banda de Colares, por ser o único que reune, dentro do concelho, todas as condições precisas. As peças escolhidas, ambas de vulto, serão oportunamente anunciadas.


A Sociedade de Instrução Tavaredense, que há quase meio século exerce uma notável acção social, digna do maior respeito e aprêço, pois cultiva o teatro e a música, possui uma biblioteca muito razoável e mantém uma escola nocturna bastante frequentada pela classe operária, tem colaborado em importantes obras de beneficência – sempre sem quaisquer interêsses – tanto na Figueira da Foz e seu concelho, como em Coimbra, Pombal, Tomar, Marinha Grande, Pampilhosa, Leiria, Alcobaça, Vizeu, Aveiro, Porto, etc., nestes meios sendo muito apreciado o sei invulgar conjunto cénico, a quem a Imprensa já teceu os mais rasgados elogios.


Das peças ultimamente representadas pelos amadores de Tavarede, todas elas de alta classe e só próprias da interpretação de artistas de categoria, por isso eles mais e mais se impuzeram à consideração do público, destacam-se, por exemplo: Génio Alegre, Entre Giestas, Recompensa, A Nossa Casa, Horizonte, Morgadinha dos Canaviais, Jusriça de Sua Majestade, A Cigarra e a Formiga, O Grande Industrial, Envelhecer, Os Fidalgos da Casa Mourisca, Morgadinha de Valflor, O Sonho do Cavador (com cêrca de 100 representações), As Pupilas dos Senhor Reitor, etc.


Todas estas peças são rigorosamente montadas, tanto em cenários como em guarda-roupas. José Rfibeiro, o ensaiador competentíssimo do Grupo de Tavarede, que, como jornalista brilhante que é, cedo se revelou um crítico teatral de respeito, que as grandes companhias de profissionais muito consideram e admiram, não é homem capaz de apresentar o seu grupo, seja em que peça fôr – e onde fôr – sem que a peça esteja, em tudo-e-por-tudo, dentro do pensamento do respectivo autor.


Todos os cenários e guarda-roupas são pertença do Grupo de Tavarede.


E por quem é constituído êsse grupo de amadores teatrais?


Por tipógrafos, por serralheiros, carpinteiros, sapateiros, cavadores, empregados de escritório, ferroviários, etc.. E por muitas raparigas da costura, dos laboratórios e da mais árdua mas sádia labuta dos campos. À noite, depois do trabalho, tudo se aconchega às associações. Falamos no plural, porque Tavarede, sendo um meio relativamente pequeno, possui duas boas associações de recreio e instrução popular, que pela sua constante actuação causam a admiração e a estima dos estranhos, dentro e fora dos mutos do concelho da Figueira da Foz.


Disciplinados, amando profundamente a terra e sentindo elevada ternura pelos seus sistemáticos “serões” de todas as noites – os rapazes de Tavarede marcaram um dia a sua posição no campo da cultura musical e teatral, estando dispostos a não deixarem tombar em mãos alheias os seus bem firmados créditos e as suas honrosas tradições.


Bairristas por índole, briosos por sistema, caprichosos por n atureza, todos os amadores teatrais que dentro em pouco vêem representar à nossa terra hão-de querer, mais uma vez, confirmar os seus reconhecidos méritos artísticos, por isso não nos causando admiração o entusiasmo que por lá vai na premeditada deslocação a Sintra.


No próximo número daremos mais “informações” da embaixada tavaredense que o “Jornal de Sintra”, com o imprescindível espírito de colaboração e de solidariedade da Banda de Colares, pensou trazer até nós.


E para não nos tornarmos “suspeitos”, por nós falarão – dos amadores dramáticos de Tavarede – os diversos orgãos de Imprensa das terras onde esses briosos trabalhadores teem actuado – sempre por bem e dentro do maizs absoluto desinterêsse próprio.


Vão-se preparando, portanto, os admiradores de bom teatro, para assistirem, em Colares, à representação de duas peças de grande cartaz – interpretadas por amadores. (Jornal de Sintra)

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