sábado, 25 de maio de 2013

O Associativimo na Terra do Limonet - 24

Embora não dependentes das nossas colectividades, estavam organizados, na nossa terra, dois ranchos, que animavam as tradicionais festas a S. João de Tavarede. Eram o Rancho da Alegria e o Rancho Flores da Mocidade, qualquer deles tendo as suas orquestras formadas por músicos pertencentes às duas associações. E, entre estes ranchos, havia grande rivalidade. Habitualmente o primeiro actuava num pavilhão instalado no Largo do Forno, enquanto o segundo se exibia no Largo do Paço. E, na verdade, essa rivalidade chegou a levar à confrontação física...

Também novas actividades surgiram, especialmente no Grupo Musical e de Instrução, entre as quais o desporto. Um tavaredense, que veio a desempenhar o cargo de responsável pelas práticas desportivas nesta associação, bem como outros de que mais adiante daremos nota, sagrou-se campeão distrital na corrida da légua disputada em Coimbra, mas em representação do Ginásio Figueirense. Foi ele António de Oliveira Lopes.


António Oliveira Lopes, na homenagem à primeira professora primária em Tavarede, D. Maria Amália de Carvalho

         O Associativismo progredia na nossa terra. Devemos registar, igualmente, as boas relações que continuavam entre as nossas colectividades, bem como com as mais diversas colectividades do concelho. Como exemplo, referimos uma nota publicada na imprensa concelhia e que relata uma visita de retribuição feita pela tuna de Vila Verde. Embora tardiamente, não quero olvidar o facto de a simpática e bem organisada tuna do G.R.M.V, num dever que se lhe impunha cumprir, ter vindo no passado dia 11 do corrente cumprimentar a sua congénere d'aqui - Grupo Musical Tavaredense -, que há mezes havia visitado aquela colectividade irmã, de passagem propositada por Vila Verde.
Deviam ser aproximadamente 13 horas e meia quando ao ar subiam alguns foguetes anunciadores da vinda dos nossos vizitantes, os quaes fizeram a sua entrada pelo lado da Chã, onde a Direção do Grupo Musical os foi receber. O bandeireiro da tuna Vilaverdense aceita troca dos estandartes representativos das colectividades amigas, depois do que a tuna começou de executar uma primorosa marcha até à sede do Grupo Musical.
Convidados os vilaverdenses a entrar, o auctor destas linhas deu-lhes as cordeais boas-vindas, seguindo-se António Victor Guerra, que improvisando um brilhante discurso, terminou por enaltecer, de uma forma aliás bem digna e justa, as excelentes qualidades do homem que competentemente dirige a tuna de Vila Verde - a figura simpática e respeitável do sr. Abinadab Nunes da Silva, a quem em parte aquele povo deve o inesquecível favor de, em tão curto espaço de tempo, o fazer acordar de vez da imperdoável letargia e indolência em que se debatia há tantissimos anos...
Termina o amigo Guerra por levantar, de uma forma franca e sincera, um viva ao Grémio Recreativo Musical Vilaverdense, que foi secundado por todos os tavaredenses que o ouviram. O sr. Abinadab Nunes da Silva agradece reconhecido, de uma forma fácil e fluente, aos rapazes que em palavras tão imerecidas, o estão a colocar assim a uma culminância tamanha. Diz que o convidaram para aquela Obra, portanto, já que faz parte dela, tem por dever envidar todos os esforços por que ela saia sã e forte, ou pelo menos a não o deixar mal colocado, pois que, se os seus rapazes continuarem a compreendel-o e a obedecer-lhe, como presume que sim, tem a quasi certeza que atingirá com eles a maior das distancias que seja possivel à sua modesta competência na sublime Arte de David de Sousa.
Ao terminar, uma estridente e prolongada salva de palmas cobre as suas palavras, ao mesmo tempo que as notas do Hino Vilaverdense imprimiam ao acto, modesto mas solene, uma certa nota apoteótica. Foram convidados a um copo d'agua, o qual decorreu debaixo da maior animação e da mais franca alegria e bem-estar. Quer dizer: este feliz momento veiu contribuir para uma maior aproximação e uma mais cordeal e intensa amizade entre os grupos congéneres, senão para um laço mais vinculado das duas aldeiasinhas, tão fortemente unidas pela inquebrantável corda da tradição...
Também o mesmo grupo vizitou a Sociedade d'Instrução Tavaredense, onde foi bem recebida. Os meus sinceros e veementes votos são para que a simpática colétividade que nos vizitou continue a progredir à medida dos seus desejos, pois que, com a boa vontade que lhe é peculiar, e com a competência do sr. Abinadab à sua frente, ela tem a obrigação restricta de vencer qualquer dificuldade que porventura se lhe possa atolhar.

Apesar de começar a ser muito criticado, como espectáculo teatral, o Grupo Musical e de Instrução, chegada a época natalícia, repunha em cena O Presépio, conquanto já fosse aborrecido tanto Presepe, é certo que, chegada esta ocasião, ele sempre lembra. Por outro lado, dá muito dinheiro, muito, e é dele que precisam todas as colectividades que, como o Grupo Musical, só vivem da quotização e do esforço que por elas envidem os seus sócios mais apaixonados. Vamos, pois, prepararmo-nos para a monumental ‘injecção’.

Entretanto, a Sociedade de Instrução, sempre que tinha possibilidades de o fazer, apelava aos tavaredenses para o associativismo. A sede da S.I.T. abre todas as noites, e ali se reunem alguns associados, que passam umas horas de bom convívio. Porque não deixam as tabernas aqueles que nesta se reunem à noite, envenenando a saúde e contraindo vícios perniciosos a si próprios e à sociedade?

Em Abril de 1924, o Grupo Musical e de Instrução resolveu, em assembleia realizada no dia 21, comprar o edifício  onde se encontrava instalado havia dez anos, e que lhes havia sido cedido, gratuitamente, pelo seu sócio benemérito Manuel da Silva Jordão. Como sabemos, era a casa que, muito anteriormente, havia servido a Joaquim Águas para ali dar alguns espectáculos, nomeadamente o Presépio, de que era um fervoroso entusiasta, e, anos mais tarde, sede do Bijou Tavaredense.

Embora tivessem sido feitos alguns melhoramentos aquando da mudança, entenderam os directores da colectividade que havia necessidade de novas obras, para que pudessem desenvolver a sua acção educacional, cultural e recreativa. Para tal, e aceitando uma proposta que lhes foi feita pelo proprietário do imóvel, resolveram adquirir o mesmo.

... Comquanto seja um pesado encargo para a Direcção, ela está vencendo as peores dificuldades que se lhe teem antolhado, vendo que os seus desejos ora correm de forma bem lisongeira. A compra é feita por acções de 50 escudos, vendo-se já inscritos no respectivo livro grande numero de sócios mais devotados daquela colectividade.
Para aqueles dos sócios que não possam comprar já acções, foi criada uma caixa económica, para a qual eles são obrigados a pagar 1 escudo, ou mais, todas as semanas, sob pena de serem considerados demissionários. A iniciativa é boa, porquanto é um ensejo para se conhecerem os bons e leais amigos do Grupo Musical Tavaredense... Oxalá os directores desta sociedade local consigam levar a cabo os seus louváveis propósitos, para o bom nome da sua associação e engrandecimento desta tão encantadora aldeia.

         Foi o início de um projecto muito importante para esta associação tavaredense. Coincidiu com a instalação da rede eléctrica em Tavarede, o que, aliás, foi de imediato utilizado por ambas as colectividades. Ao mesmo tempo que as obras, ainda que a escritura da compra não estivesse feita, estas prosseguiam em bom ritmo, começaram a preparar o espectáculo a realizar para a inauguração dos melhoramentos efectuados, apontando os festejos para a data do     13º. aniversário da sua fundação.

Como curiosidade, aqui inserimos uma nota publicada na imprensa figueirense e relativa à inauguração da luz eléctrica. Temos, finalmente, luz eléctrica em Tavarede. Está montada a rêde e há feitas já algumas instalações em casas particulares. A primeira instalação a fazer-se foi a da Sociedade Instrução Tavaredense, que é completa e perfeita, ficando o teatro com todos os recursos de iluminação que podem exigir-se em casas desta natureza.
         A luz ficou ligada no último sábado, despertando o facto um interêsse extraordinário nesta localidade. Muitas pessoas foram à sede da Sociedade de Instrução ver o efeito da nova iluminação, que é deslumbrante. Alguns associados até se reuniram, não ocultando o seu regosijo. A inauguração da luz eléctrica far-se há no dia 13 do corrente, com uma récita dedicada aos sócios. No domingo, 14, haverá baile. Tem a população de Tavarede motivos para estar grata à Sociedade de Instrução Tavaredense, pois, sem o esforço desinteressado de um grupo de sócios desta agremiação, não disfrutaria ainda hoje êste grande melhoramento. A Companhia Eléctrica, trazendo a energia a Tavarede muito antes do prazo a que era obrigada pelo contrato, deu provas duma grande boa vontade, sendo valiosamente auxiliada por aquele grupo de sócios da S.I.T. a que nos referimos, que conseguiu, com donativos vários – entre os quais avulta o de 500$00 da Cerâmica e Exportadora, do Senhor da Arieira – adquirir todos os postes necessários para a montagem da rêde, podendo avaliar-se êste auxilio em 1.500$00.

         Está claro que há mariolas que, não contribuindo com o mais insignificante esfôrço para melhoramentos desta natureza, são depois os primeiros a quererem tirar dêles todo o proveito. Foi sempre assim, e por isso mesmo não estranhamos. A Companhia está prosseguindo activamente na montagem das instalações particulares e na ligação destas à rêde.  

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