sábado, 10 de agosto de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 35

         A Sociedade prosseguia com operetas escritas propositadamente e de carácter local. O Grão-ducado de Tavarede, original de José Ribeiro, versos de Gaspar de Lemos e música de António Simões, subiu à cena no dia 23 de Abril de 1927. E se este espectáculo foi mais um enorme triunfo, igualmente o domingo imediatamente anterior havia sido de festa para esta colectividade. Joaquim Fernandes Estrada, benemérito figueirense e admirador desta nossa associação, ofereceu um novo estandarte, artisticamente bordado pela professora Maria do Céu Guerra, com desenho do pintor figueirense António da Piedade.

         Quanto à representação da opereta referida, encontrámos a seguinte nota: A revista Grão-ducado de Tavarede levou ao teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, no pretérito sábado, uma enchente completa, vendo-se entre a assistência muitas pessoas dessa cidade. O espectáculo agradou, podendo dizer-se com verdade, que causou extraordinária sensação nos espectadores tavaredenses, para os quais êste género é quasi novidade.



Cena do Conselho de Ministros

A música é lindíssima, alegre, bem escolhida e perfeitamente ajustada aos personagens e às situações. António Simões, o distinto amador figueirense, foi extraordinariamente feliz na partitura do Grão-ducado de Tavarede. A êle especialmente se deve o êxito da revista.
         Os amadores, áparte naturais deficiências que sempre podem notar-se nestes grupos de aldeia, souberam dar uma curiosa e, nalguns casos, brilhante interpretação aos diversos papéis. Idalina Fernandes fez explêndidamente como ninguém faria melhor, a scena da civilização local em que, na volta do rio, as mulheres se descompõem; foi graciosa na Maçã e cantou muito bem o fado da Taberna. António Graça, António Santos e Emilia Monteiro, todos muito bem nos seus papéis. Jaime Broeiro mostrou-se o bom amador que é no Compadre, no Cavador e no Zé Borrachão. Dois bons tipos bem reproduzidos: o do Poeta João e O da Batuta, apresentados por José Vigário e António Broeiro, tendo êste feito também correctamente um dos Compadres. João Cascão, foi primorosamente no Nabo, no Café e no Aguilhão, tendo representado com alegria e vivacidade e cantando muito bem os seus números, brilhando especialmente no Dueto da Hortaliça, com Alzira Fadigas. Francisco Carvalho e Clementina de Oliveira têm também um bom dueto no Impedido e a Sopeira, além de outros papéis; esta foi muito aplaudida na Canção da Árvore, que cantou com linda voz e foi obrigada a bisar. Maria José da Silva fez muito bem o papel de Brenha, cantando esplêndidamente a sua parte no terceto com J. Cachulo e F. Rôla, o qual foi também bisado. A. Pinto, J. Mota e Maria Tereza de Oliveira e os restantes, todos fizeram a sua obrigação. Os coros muito firmes.
         Os scenários são bons, tendo sido muito apreciados, principalmente o do Inferno e o das Flores. O quadro da Lavoura, encantou a assistência. Por isso mesmo é de justiça atribuir ao distinto artista sr. Alberto Correia de Lacerda, que fez as maquettes e dirigiu a pintura dos scenários uma boa parte do êxito da revista. Merece também referência especial o guarda-roupa, que é variado, luxuoso e tem algumas fantasias de belíssimo efeito, pelo que foi muito elogiada a srª. D. Belmira Pinto dos Santos, que revelou muito bom gôsto na sua confecção.
         O Grão-ducado de Tavarede dá no próximo sábado a sua última récita, o que equivale a dizer que o teatro vai ter nova enchente à cunha, dado o extraordinário agrado que a revista alcançou. Alguns números da revista estão popularizados e começam a ser cantados pelo povo com os seus lindos versos!

         Chegada a Páscoa e conforme já referimos, o Grupo Musical fez a estreia da nova opereta Os cirandeiros. Como noticiámos, realisou-se no pretérito sábado, 23 do corrente, o anunciado espectáculo que a Secção Dramática desta florescente agremiação de Instrução-Musical, levou a efeito naquele dia. Prometemos aos nossos leitores noticiar as passagens mais interessantes, e que nos merecessem referencias, e cá estamos cumprindo o prometido.
         O confortavel salão-teatro, pouco depois da hora marcada para o inicio do espectáculo, principiava a encher-se, havendo grande procura de bilhetes, o que resultou uma casa completamente cheia. Do desempenho temos a salientar o belo trabalho de Antonio Santos Junior, que alem de um bom ensaiador, é um dos principais interpretes da linda opereta “Os Cirandeiros”. Antonio Santos, é um amador seguro e possue uma garganta excelente, motivos porque foi fartamente ovacionado. Manuel Nogueira e Silva, soube portar-se à altura dos seus já creditados méritos de bom amador. Foi a primeira vez que tomou sobre si um papel de tamanha responsabilidade, mas no entanto soube-o desempenhar correctamente, exagerando apenas um pouco quando proferia as seguintes frases: - Ai, Jaquina, Jaquina!. De resto, andou muito bem, e o qual é uma esperança para o seu Grupo Cénico.
         Clarisse d’Oliveira Cordeiro, mostrou ainda mais uma vez a sua habilidade para o teatro. Pena foi que por vezes se deixasse embalar pela vaidade. Mas fora estes ápartes – que sempre se encontram em amadores de aldeia – soube representar o seu papel com cuidado e esmero. Propositadamente deixámos para o fim a nossa humilde apreciação sobre a distincta amadora Violinda Nunes Medina e Silva, que, duma maneira brilhante, soube acarretar mais loiros de boa amadora – loiros estes que decerto se vão juntar à sua Secção Dramática e ao já glorioso estandarte do Grupo Musical I. Tavaredense.
         Alem de representar o seu papel com brilho, cantou muito bem as músicas que lhe foram confiadas, motivo porque foi bisada no Sonho, valsa a solo, e aplaudida freneticamente nos duetos que cantou com Manuel Nogueira e Antonio Santos. De resto, todos se esforçaram para bem desempenhar os seus papeis. A música é excelente. Nos numeros que ornam a linda opereta não há um só que não mereça a maior atenção.


         No final do 2º e ultimo acto da opereta foram feitas chamadas especiaes ao ensaiador, maestro sr. Pinto d’Almeida, Violinda Nunes Medina, Clarisse Cordeiro e Manuel Nogueira, sendo, pelo sr. Antonio Victor Guerra, oferecido um lindo e artistico bouquet de flôres naturaes ao sr. Antonio Santos.



Grupo cénico – Os cirandeiros – foto tirada na Quinta da Borlateira

         Sempre com a esperança da abtenção de boas receitas, o Grupo Musical resolveu organizar uma garraiada no Coliseu Figueirense. Foi em Outubro de 1927, mas sobre a mesma não encontrámos mais notícias.

         Cerca de um mês depois, esta colectividade e o seu teatro sofreram rude perda. O seu amador e fundador José Medina, faleceu depois de breves dias de doença. Já meses antes, este grupo cénico tivera outra baixa importante, pois António Medina Júnior, devido à sua vida profissional, foi viver e trabalhar para Sintra. Eram, à altura, dois dos principais amadores masculinos, pelo que foi bastante sensivel a sua falta.

Por sua vez a Sociedade continuava com as suas suas actuações e preparou um espectáculo para o seu 24º aniversário. Seguindo o costume anterior, do programa constou nova fantasia, escrita por José Ribeiro e musicada por António Simões. Chamou-se Retalhos e fitas.

Para ensaiar o seu teatro, o Grupo Musical obteve a colaboração de Raul Martins, que teve a sua estreia no dia 7 de Abril, sábado de Aleluia. Raul Martins, que toda a Figueira conhece, foi de uma extraordinária felicidade na feitura da sua lindissima opereta, que intitulou de Noite de Santo Antonio. Polvilhada duma fina graça e de duetos maravilhosos, possue um enredo raro, que muito desperta a atenção do espectador. Antonio Amargo, emprestou-lhe tambem parte do seu talento, com os primorosos versos com que se distingue.
         A música, da auctoria do talentoso musico, Herculano Rocha, é maravilhosa. Entre 16 números com que ornou a opereta Noite de Santo Antonio, não há um só que não nos suavise os ouvidos, e desperte a nossa curiosidade. No entanto é de salientar o côro Malmequeres, e os duetos cantados por Violinda Medina e Raul Martins, respectivamente Alice e Julio.

         No desempenho salienta-se o trabalho de Violinda Medina, Raul Martins, que receberam uma salva de palmas quando entraram em scena, Clarisse d’Oliveira, Adriano Silva, Manuel Nogueira, Manuel Cordeiro, e, emfim, todos os outros amadores, que tentaram sempre imprimir ao desempenho um cunho verdadeiramente admiravel.

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