quarta-feira, 15 de junho de 2011

De Casa de Cultura a... Taberna (6)

(continuação)



E, depois, a seguinte, de 7 do mesmo mês:

“..............
Comentando o procedimento de um pároco da região de Mortágua, comenta-se, depois:
...... Quando dum recente casamento, na igreja de Tavarede, convidados estranhos à terra exprimiram a sua surprêsa ao ver o padre fechar a porta do templo e realizar a cerimónia à porta fechada, êste explicava o seu procedimento queixando-se do povo, que não o acatava nem respeitava. E dizia: - “Veja V.Exª.: no domingo, quando fazia a visita pascal, até palha me ofereceram”. Isto foi-nos referido por pessoa que o ouviu.



São excessos lamentáveis, sem dúvida.



Mas que esperam colher estes padres que outra coisa não fazem senão semear ventos?”.

Entretanto surgiu a resposta e, como atrás dizemos, não foi pelo padre Dinis.



Antes de começarmos com esta transcrição e alguns comentários, permitimo-nos abrir um pequero intervalo para prestar um esclarecimento. No ano de 1914, a chamada Quinta do Robim, havia sido adquirida aos herdeiros do seu fundador, Robim Borges, por Abílio Simões Baltazar, Angelo de Carvalho e Luiz Pedro Pinto, todos naturais de Almalaguês.



Começou, então, uma grande corrente migratória para as redondezas de Tavarede. Daquela grande zona do vale do Ceira, desde Miranda do Corvo até quási Coimbra e estendendo-se para os lados de Condeixa e Penela, uma enorme quantidade de pessoas se mudaram para cá. Adquiriram terrenos e arrendaram outros, refazendo a sua vida nesta região. Gente laboriosa, a sua quase totalidade dedicava-se à agricultura. Procuravam uma vida melhor para si e para os seus. Conseguiram-no. Mas, teremos que o recordar, toda esta zona em redor de Tavarede beneficiou, e muito, com os novos habitantes, que, desde logo, se integraram perfeitamente na vida tavaredense.



Ainda hoje, e talvez por influência da naturalidade daqueles adquirentes do Robim, continuam a ser chamado de “Almalaguezes”, mas sem qualquer intuíto ofensivo ou perjorativo, pois desde sempre respeitaram os locais e por estes foram respeitados. Claro que há já muito tempo que são tavaredenses, como os melhores.



Estes migrantes eram, e continuam a ser, bastante religiosos e praticantes activos da fé católica. Naturalmente que apoiaram a acção do padre Diniz. Certamente que não terão levado a bem a campanha desencadeada contra ele, com ou sem razão. E foi um deles, a quem os pais já tinham conseguido dar uma elevada educação intelectual, que chamou a si a defesa do sacerdote.



Foi em “O Figueirense”, nos finais de Maio de 1930, que ela começou:

“ Há jornais que sentem um prazer infinito em mistificar os factos, atropelar a verdade, indo portanto desfechar na mentira. O ponto está em sair a primeira; as outras sucedem-se em rosário. Não se contentam em mentir só uma vez, porque como muito bem dizia Swift, para sustentar uma mentira é preciso forjar pelo menos vinte. E a Voz da Justiça não ilude essa necessidade, antes a provê com largueza. Nós não queriamos. Tinhamos pensado em deixar circular á vontade as revoltantes atoardas que aquele jornal arremessou ao mundo da publicidade, que, parecendo afectar a dignidade sacerdotal do paroco de Tavarede, decididamente, pouco lucro lhe podem render no barato bazar dos doestos. Não queriamos perder um tempo precioso num trabalho tão ingrato - a desfazer pedestais de cinza.



O ofendido não lhe quiz dar essas honras, ou melhor, essa importancia.



Perante calúnias de tal jaez - dizia-nos êle há pouco tempo - há só um caminho a seguir: desprezar o caluniador.



Quando lhe démos a entender a nossa resolução, a resolução que tomámos de escorchar toda a campanha que a Voz tem sustentado contra êle, aconselhou-nos a que os desprezassemos tambem.



De facto o desprezo é uma grande arma para combater êstes processos de jornalismo, como de resto, todas as baixezas de coração. Não há remedio mais eficaz. Mas em certos casos pode ser levado á conta de cobardia, e, portanto, é necessario combater, e combater com energia.



A Sociedade pretende impor-nos o dever duma paciência ilimitada para toda a maldade, todo o absurdo, toda a vilania. Quando porém alguém ultrapassa as raias da tolerância, costuma dizer-se que desafia a paciência a um santo.



Deviamos talvez aproveitar o conselho do Padre de Tavarede. Ele não precisava da nossa intervenção nem da nossa defesa. Sabe redigir melhor do que nós, e, digamos em abono da verdade, tem muito valor como professor. Mas, já agora, como dizia o ferrador do “Amor de Perdição”: - estamos com as mãos na massa, tanto se nos dá amassar um alqueire como dois.



Para o podermos fazer, andámos, com paciência beneditina, a colher todas as informações indispensáveis; e, francamente, estamos embasbacados... Não supunhamos que houvesse jornais que se prestassem a desempenhar papeis tão indignos, tão vituperantes... Jornais pretenciosos de dignididade! Emfim... vão ter a palavra novamente os números e os factos. Posso desde já assegurar aos leitores que tiverem a paciência de nos acompanhar nesta crusada, que lhes estão reservadas grandes surprezas...



Este passo é da máxima conveniência, já para salvaguardar a honra de um pároco que a Voz da Justiça se afadiga em deslustrar, já porque o sr. dr. Julio Gonçalves, fazendo fé pelo que se tem afirmado naquele jornal, disse no tribunal, referindo-se ao pároco em questão: - “Os jornais locais teem narrado factos ainda não desmentidos. O Padre de Tavarede ainda não se defendeu”. Quais jornais locais? - perguntamos nós! Um jornal local, sim, - A Voz da Justiça - e só ela! Houve, portanto, confusão! este sr. tem a monomania de confundir tudo! - dezenas com centenas, singulares com plurais. Dá-nos a impressão que a taboada e a gramática nunca foram o seu forte... “Nunca se defendeu”, dizem eles! Nem defendeu nem defende! Se nas referências que lhe foram feitas houvésse matéria incriminavel, levá-los-hia aos tribunais. De outro modo, não se defende nem lhes responde!... E isto não pode de modo algum ficar assim. Vamos, pois, ao assunto!



Antes de nos emiscuirmos propriamente no assunto da campanha, pedimos ao leitor pio e benevolente, nos consinta duas palavras apenas àcêrca da vida das associações locais. É conveniente pô-los primeiramente ao facto da vida associativa desta terra, visto que o articulista de A Voz da Justiça lhe fez logo ao principio esta alusão: - Em Tavarede há duas associações de instrução e recreio, que manteem escolas nocturnas e teatro. Rapazes e raparigas ali se reunem, colhendo os benefícios da escola, onde se lhes ministra a instrução, e do palco, onde distraem e educam o espirito”.



Lamentamos que só agora o cavalheiro tivésse descortinado a outra associação local. Até aqui só era conhecida uma! - a Sociedade de Instrução Tavaredense. A outra era coisa ignorada, a avaliar pelo silencio que ela tem merecido ao ilustre articulista. Anunciava e realisava espectáculos, tanto valia! A cegueira ou miopia não lhe permitia a visão.



Quando a Voz, por um dever de cortezia, precisava de agradecer algum convite que aquela colectividade lhe enviava, escrevia: Grupo Musical Tavaredense. O lema Instrução desaparecia do cartaz! Se anunciava um espectáculo, dizia sempre: realiza no seu teatrinho, etc. Este teatrinho, em sentido depreciativo, bem entendido. Era tudo assim. É como dizia há dias o sr. João d’Oliveira - uma das pessoas mais dignas de respeito, que mais consideração merece em Tavarede: “nunca o nome das duas colectividades foi evocado naquele jornal, senão agora, quando se atiraram ao Padre, para lançarem a poeira aos olhos dos papalvos”. E estas palavras do sr. João de Oliveira são verdadeiramente consentaneas, são um triste e lamentavel facto. Porque convem explicar, diz-se por aqui que o articulista da Voz é um dos dirigentes da Sociedade de Instrução Tavaredense, apezar dêle ter emitido as suas tiradas filosoficas sob a indecorosa capa do anonimato. Não era necessário, contudo, que nos dissessem quem era, porque pelo dedo se conhece o gigante.



Em todo o caso, era preferível - para nós - que êle declinásse a sua identidade, para que o público o ficásse conhecendo como jornalista, depois de escorchada a sua formidavel campanha. Aos seus numerosos predicados teria a juntar mais um: sentinela vigilante da honra alheia”.





(continua)

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