sábado, 16 de junho de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 32

1963.03.30 - GIL VICENTE, NO PENINSULAR (NOTÍCIAS DA FIGUEIRA)

Esforço colossal, ao mesmo tempo ingrato, o de Mestre José Ribeiro, ao encenar Teatro Vicentino ao correr a cortina do Peninsular para apresentar o seu grupo de amadores, dizendo e mimicando os versos do criador do Teatro Português, do Género Satírico e Causticante, por vezes Sentimental e Poético de Mestre Gil Vicente. Esforço colossal, porque dar vida a qualquer das obras Vicentinas, conseguir de amadores – embora de grande categoria – o ritmo, a dicção, a sobriedade mímica, a simplicidade ingénua – que é dificuldade ingénita – a cor, a graça e o espírito essenciais nesta classe de espectáculos, é tarefa árdua e ousada, cometimento não conseguido por muitos profissionais de teatro, não só na visão geral, como na interpretação dos textos, difíceis de destrinçar, pois que, de peça para peça, surgem novos enigmas, géneros diferentes, momentos de puro lirismo, de audaciosa fantasia, em expressões do mais puro realismo, que obrigam o realizador a um estado especial para cada peça e às vezes para cada cena.

Ingrato, dissemos, porque infelizmente, os grupos dramáticos são pobres, não têm qualquer auxílio e as receitas das bilheteiras raras vezes dão para satisfazer os pesados encargos da representação. Ora, para a apresentação destes espectáculos, as despesas são avultadas e... Gil Vicente não consegue afluência à bilheteira, porque, só os raros que sabem ver Gil Vicente, vão ver Gil Vicente.

José Ribeiro é talvez o último abencerragem para cometimentos heróicos no tablado. A sua direcção e o seu saber, deram-nos um admirável espectáculo, triunfaram com mérito absoluto no teatrinho do Peninsular. Parabéns e um grande abraço.

Não podemos nem nos atreveríamos a apreciar as obras do Grande Mestre agora representadas. Sobre Gil Vicente, os maiores investigadores e mais notáveis literatos, têm escrito milhares de páginas. Nós que andamos sempre de braço dado com a saudade, recordamos as interpretações dos nossos mais notáveis artistas. Quem viu Augusto Rosa, no “Diabo da barca do Inferno”, jamais pode esquecer, a satânica figura, estilizada a seu modo, a musicalidade cantarolante da sua voz, o jeito cénico, ondulante e felínico que dava a impressão de uma figura irreal, as pausas, ou os gestos! Notável! Grandioso, simplesmente!

No Pranto de Maria Parda, Adelina Abranches – a Grande Adelina – encarnou a simbólica figura, com tanta inspiração e tanta verdade, deu um tão variado claro escuro ao fatigante trabalho, que, caso raro em espectáculos desta natureza, todo o público da plateia aos camarotes se pôs de pé para lhe tributar uma das mais expontâneas e formidáveis ovações, a que assistimos no nossa longa vida teatreira.

Ainda há poucos anos, o distinto actor Assis Pacheco, no Auto do Velho da Horta, obteve um estrondoso e justificado sucesso. Dicção, mímica e composição de figura, tudo sabiamente detalhado e estudado, artisticamente realizado!

Muito se dedicou a Gil Vicente, um grande artista há tempos afastado da cena, Joaquim de Oliveira, que publicou, e algumas vezes nos deixou ler, as suas valiosíssimas encenações. E mais não diremos, pois que, se nos alongássemos, teriamos de encher tal número de linguados, que não caberiam no nosso jornal.

Os distintos amadores de Tavarede, que há dez anos tanto temos apreciado, elevaram a espinhosa incumbência de José Ribeiro, a um verdadeiro caso no Teatro Português, no à vontade do desempenho, no diapasão das vozes e no ritmo dos movimentos. Velhos e novatos, mestres e discípulos, todos bem, homogéneos, sem um desfalecimento ou uma nota discordante.

Contudo, permito-me destacar a – Amadora Grande Actriz – Violinda Medina, no seu admirável trabalho, da Maria Parda, difícil de aguentar em todo o extensíssimo monólogo, sem caír no grotesto, mas sem desfalecimentos, sem diminuir o interesse, medindo as pausas e os movimentos, com a Arte e o Saber de uma verdadeira profissional. Simplesmente notável!

No Velho da Horta, João Medina Junior atingiu um nível superior no protagonista, secundado magistralmente por Maria Tereza de Oliveira, que foi uma figura Vicentina, perfeita nas atitudes, na dicção e nos gestos. Os outros, todos, em uma bela afinação de conjunto.

Guarda-roupa rico de Anahory. Cenários adequados, sendo por sua sobriedade, digno de relevo, o da Maria Parda. A todos, os nossos parabéns!

1963.03.30 - TEATRO (O FIGUEIRENSE)

Como referimos, realizou-se na Sociedade de Instrução Tavaredense, no sábado à noite, tendo-se repetido no domingo à tarde, o grande espectáculo de Teatro Português, constituído pelas obras de Gil Vicente “O Velho da Horta”, “Pranto de Maria Parda” e “Dom Duardos”, cujas representações fizeram convergir à sala de espectáculos daquela colectividade numerosos espectadores, que dispensaram aos simpáticos intérpretes os seus calorosos e vibrantes aplausos.

Foram, na verdade, com a sua perfeita montagem cénica, maravilhoso guarda-roupa e encantadores cenários, que um afinado jogo de luzes realçava, dois belos espectáculos de arte e beleza com que mestre José Ribeiro brindou o público, que nos finais dos actos reclamou a sua presença, para lhe manifestar as suas entusiásticas e calorosas saudações.

O distinto grupo cénico desloca-se hoje à Figueira para, no Teatro do Grande Casino Peninsular, e com o mesmo programa, prestar o seu concurso nas cerimónias comemorativas do Dia Mundial do Teatro, da feliz iniciativa do ilustre Director da Biblioteca Pública Municipal, sr. Professor António Vitor Guerra.

1963.04.06 - DIA MUNDIAL DO TEATRO (O FIGUEIRENSE)

O programa de Teatro Português que o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense representou, no dia 27, no Teatro do Casino Peninsular, para comemoração do “2º Dia Mundial do Teatro” e por louvável iniciativa da Biblioteca Pública Municipal, fez atraír àquela elegante casa de espectáculos numerosa assistência, constituída por pessoas de todas as categorias sociais.

Mais uma vez tivemos o prazer de constatar o prestígio que aquele grupo, dirigido superiormente por José da Silva Ribeiro, goza entre os frequentadores da exigente plateia figueirense. Os aplausos clamorosos com que nos finais das representações das três peças de Gil Vicente, “O Velho da Horta”, “Pranto de Maria Parda” e “Dom Duardos” o público se manifestou, são disso testemunho inequívoco.

Na verdade, o espectáculo é, no seu conjunto, de rara beleza, pois que possui uma primorosa montagem cénica, com cenários encantadores, lindas canções populares da época vicentina, guarda-roupa riquíssimo executado propositadamente pelo grande artista Anahory e uma representação à altura dos créditos bem confirmados dos distintos amadores tavaredenses, em que há a salientar a notável actuação de Violinda Medina na peça “Pranto de Maria Parda”, que lhe valeu quentes e demoradas ovações em que a assistência envolveu os restantes amadores e o sr. José da Silva Ribeiro.

No começo do espectáculo, o sr. Prof. António Vitor Guerra, director da Biblioteca Municipal, proferiu algumas palavras justificativas da comemoração do “Dia Mundial do Teatro”, tendo o sr. António de Oliveira Lopes, presidente da Direcção da SIT, lido o discurso que o escritor dr. Luís de Oliveira Guimarães, que não pôde comparecer, devia pronunciar a abrir o belo espectáculo.

1963.04.11 - HONRANDO OS VALORES FIGUEIRENSES (A VOZ DA FIGUEIRA)

A abrir uma entrevista concedida pelo prof. António Vitor Guerra, ao jornalista Mário Rocha, encontramos na 1ª. página do último número do “Litoral”, de Aveiro, estas palavras que muito nos apaz arquivar, por nelas se prestar homenagem a dois notáveis valores figueirenses: Violinda Medina (intérprete do papel de Maria Parda) e José da Silva Ribeiro:

“Mal pensávamos nós que o Dia Mundial de Teatro, de 63, nos iria proporcionar a surpresa que nos proporcionou naquela noite invernosa do passado dia 27 de Março, na sala de espectáculos do Grande Casino Peninsular, na Figueira da Foz.

Valerá a pena deslocarmo-nos de noite e a tão longe, - monologávamos nós, enquanto a chuva inclemente batia raivosa nos vidros mansos do carro veloz -, valerá a pena tudo isto para irmos ver um Mestre Gil representado por um grupo de amadores duma aldeia que nem em todos os mapas aparece?

É certo que se sabe, nós sabemos, que dos bastidores sombrios do amadorismo, subiram para a ribalta nomes como Chaby Pinheiro, de ontem, e de Gina Santos, de hoje. É certo que se sabe, nós sabemos, que o grande Taborda foi tipógrafo, António Pedro, aprendiz de pedreiro, e Adelaide Douradinha, para não citarmos mais, mulher a dias.

Pois apesar de tudo isto ser sabido, de tudo isto sabermos, nós, desconfiados, ainda nos perguntávamos se de Tavarede nos podia vir um Gil Vicente, como se fosse possível que melindrosa peça de porcelana nos chegasse às mãos, arrancada do fundo de velha arca de pinho carunchento, após longa viagem de muitos baldões e sem uma arranhadura.

Não vamos esboçar sequer uma ligeira apreciação crítica do espectáculo que o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense nos deu, sobre três textos vicentinos. Não ousamos esboçar a crítica, mas não resistimos a registar o exemplo. Em Tavarede, humilde lugarejo escondido à sombra da resplandente Figueira, arde em olímpica chama um acendrado culto à divina arte de Talma. Famílias, de geração em geração, entregam-se devotadamente à cultura teatral. À frente de toda esta pleiade de artistas, (aquela Maria Parda há-de ficar-nos para sempre guardada na galeria das melhores interpretações por nós vistas, conquanto o Teatro não seja, para nós, apenas uma arte de bem interpretar), se encontra um nome emérito no panorama do teatro amador em Portugal. Um homem, José Ribeiro, que nem a idade, nem o trabalho, nem o destreino impediram de aprender o inglês só para saborear Shakespeare na própria língua”.

1963.04.18 - DIA MUNDIAL DO TEATRO (O DEVER)

Conforme noticiámos, o dia 27 do mês findo, foi o dia mundialmente dedicado ao teatro.

Frizámo-lo também já – a Biblioteca Municipal encarregou-se de elaborar o programa.

E portanto, no dia 27, à noite, na sala de espectáculos do Casino Peninsular, assistimos ao desenrolar desse programa que demonstra bem o reconhecimento do povo da Figueira por tão alto instrumento de cultura, - o Teatro – como disse na alocução inicial o sr. Prof. Vitor Guerra.

A anunciada palestra do sr. Dr. Luis de Oliveira Guimarães, não foi proferida por Sua Exª que apenas redigiu algumas linhas saudando o Prof. Vitor Guerra e a Figueira “por si e pela Figueira”; - dizia o dr. Oliveira Guimarães, historiando o aparecimento do dia mundial do teatro, e desenvolvendo algumas ideias àcerca da sua importância cultural.

A razão da ausência ouvimo-la da boca do Prof. Vitor Guerra, que a todos agradeceu e saudou para dar depois a palavra ao Presidente da Sociedade de Instrução Tavaredense, escolhido para ler as breves mas conceituosas linhas do Dr. Oliveira Guimarães, que fez preceder de umas notas bio-bibliográficas sobre o autor e grande homem de teatro imperiosamente longe de nós.

Depois, o sarau de teatro vicentino magnificamente levado a cabo pela Sociedade de Instrução Tavaredense. Já nos habituou ao sempre elevado nível das suas actuações mas não nos cansa esta constante.

Cenários e guarda-roupa do melhor para o género vicentino; actuação (e por conseguinte encenação) a grande nível de quase todos os elementos e permitimo-nos destacar a “velha” (perdão! Velha e afamada nestas lides teatrais!) Violinda Medina que deve ter realizado a sua melhor criação no “Auto da Maria Parda”. Não nos pode esquecer a magnificência de “D. Duardos” e os cenários e actuações do “Velho da Horta”.

E por detrás disto, “a alma e corpo da Sociedade” – como disse o Prof. Vitor Guerra -, a pessoa de encenador ilustre que é o sr. José Ribeiro. A sua mão de mestre está espelhada na sua obra no palco.

Com certeza que são mais proveitosas, cultural, moral e socialmente estas realizações do que as “eleições de Rainhas”!

E a terminar este nosso apontamento, temos de dizer que tudo o que se realizou neste dia e nesta cidade em prol do teatro, se deve, ao fim e ao cabo, ao esmero cultural e ao espírito de iniciativa do sr. Prof. Vitor Guerra. Está mais uma vez de parabéns Sua Exª.

1963.06.01 - TEATRO EM COIMBRA ( FIGUEIRENSE)

Como anunciámos, o grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense levou à cena no Teatro venida, de Coimbra, na pretérita segunda-feira, um programa de teatro português, constituído pelas peças de Gil Vicente, “Farsa do Velho da Horta”, “Pranto de Maria Parda” e “Dom Duardos”, cujo produto se destinava ao Asilo da Infância Desvalida, a admirável obra de caridade do eminente Professor Sr. Dr. Elísio de Moura.

Antes da representação, o director do grupo cénico, sr. José da Silva Ribeiro, usou da palavra para saudar a numerosa assistência, que enchia a ampla sala de espectáculos e manifestar-lhes o sentido reconhecimento da SIT pela valiosa colaboração que veio dar à sua iniciativa com o propósito de auxiliar aquela benemérita instituição.

Fez ainda, o distinto orador, algumas considerações sobre os motivos que levaram a SIT a apresentar o referido programa de teatro português, que, como era do conhecimento público, foi representado por ocasião das comemorações do Dia Mundial do Teatro, na Figueira da Foz.

O espectáculo decorreu em bom nível artístico, como o demonstraram as vibrantes e entusiásticas aclamações da assistência, premiando, assim, o trabalho dos nossos amadores.

O sr. dr. Mário Temido, acompanhado de todos os amadores do Ateneu de Coimbra, de que é ilustre Presidente, na impossibilidade de estar presente na grandiosa homenagem que a SIT prestou, oportunamente, a Violinda Medina e Silva, aproveitou o ensejo para testemunhar à talentosa amadora todo o seu apreço e admiração pelos seus extraordinários dotes artísticos, tendo-lhe oferecido um lindo ramo de cravos.

A caravana tavaredense foi depois obsequiada com um beberete, que serviu de pretexto para a troca de amistosas saudações.

1963.10.05 - O FIM DO CAMINHO (O FIGUEIRENSE)

Como temos referido, foi inaugurada no sábado na Sociedade Instrução Tavaredense a época teatral de 1963/64.

A peça escolhida, “O Fim do Caminho”, a notável obra do grande dramaturgo Allan Martin, que o distinto jornalista e crítico de teatro Redondo Júnior traduziu, constituíu, desde o esmero e rigor com que foi posta em cena ao apreciável nível artístico em que decorreu o seu desempenho por parte do harmonioso conjunto que forma o grupo de amadores daquela prestante colectividade, um clamoroso êxito, que perdurará por longo tempo no espírito da numerosa e selecta assistência que enchia completamente o moderno teatro de Tavarede.

O público abandonou a sala com visível satisfação, pelo formidável espectáculo que mestre José Ribeiro lhe ofereceu.

Demonstraram-no inequivocamente, a entusiástica e vibrante ovação de que foi alvo no final dos actos, rodeado dos intérpretes da famosa peça.

Entre a numerosa assistência em que se notavam muitas pessoas dessa cidade, destacava-se a presença, muito honrosa para os tavaredenses, do ilustre Deputado da Nação e Vice-Reitor do Liceu Alexandre Herculano, do Porto, sr. professor Olívio de Carvalho, e do grande amigo da SIT sr. Alberto Anahory que se deslocou de Lisboa, propositadamente, para assistir à memorável récita.

1963.11.07 - “A CONSPIRADORA”, EM AVEIRO (A VOZ DA FIGUEIRA)

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A cidade de Aveiro recebeu carinhosamente a iniciativa dum grupo de amigos de Eduardo de Matos, e o teatro encheu-se dum público generoso e bom. De salientar o desinteresse monetário de todos os colaboradores da récita, a começar pela empresa do Teatro, que nada cobrou de aluguer, e a terminar na Sociedade de Escritores de Companhias Teatrais Portuguesas, que apenas levou 1$00 dos respectivos direitos de autor! E como estes actos de isenção e benemerência são hoje raros, mercê da onda de egoísmo que avassala o Mundo, mais é de admirar e realçar a bondade das gentes de Aveiro, cidade linda e progressiva, se dissermos que o homenageado não é dali natural, e apenas cativou o coração dos aveirenses através da arte teatral, quando ali representou inúmeras peças em que interpretava “papéis” com grande mérito artístico.

A representação da histórica peça “A Conspiradora” foi agradável e homogénea, constituindo na verdade um grande triunfo para o grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense. E se todas as “personagens” da peça foram interpretadas com naturalidade e convicção, justíssimo é destacar o excelente trabalho artístico de Violinda Medina e Silva, que arrancou uma espontânea e estrondosa salva de palmas, no decorrer duma cena do 3º. acto. Muito bem!

Os cenários do prof. Manuel de Oliveira, constituídos por duas salas ricas, que foram caprichosamente mobiladas e decoradas no estilo da época em que decorre a acção da peça (1833) e o guarda-roupa luxuoso de Alberto Anahory deram também grande relevo ao espectáculo.

Estão todos os tavaredenses de parabéns pela excelente récita que foram levar a Aveiro, pois fizeram bom teatro, foram praticar um acto de benemerência e fizeram propaganda da sua terra numa das mais belas cidades portuguesas, desinteressadamente, mas obtendo como prémio do seu esforço prolongadas salvas de palmas em todos os finais de acto.

O seu ensaiador e mestre de teatro, sr. José da Silva Ribeiro, no final da representação recebeu lindos ramos de flores, após ter dirigido palavras de carinho a Eduardo de Matos, e de louvor ao povo de Aveiro, pela maneira afável como recebeu o seu grupo de amadores. Em seguida, o prof. Sr. José Duarte Simão, em nome da comissão promotora da récita, agradeceu a caritativa colaboração da Sociedade de Instrução Tavaredense, enaltecendo o seu trabalho artístico, e patenteou ao público a melhor admiração pelo apoio que deu à homenagem ao actor Eduardo de Matos.

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1963.12.25 - A HOMENAGEM A ALBERTO DE LACERDA (A VOZ DA FIGUEIRA)

Decorreu com invulgar brilhantismo a festa de homenagem de apreço e gratidão que a Sociedade de Instrução Tavaredense promoveu, no penúltimo sábado, ao ilustre Professor Alberto de Lacerda.

Conforme programa que publicámos, foi apresentada a consagrada peça “O Fim do Caminho”, cujo desempenho mereceu os prolongados aplausos do público, impressionando-o vivamente, e evocados personagens das peças “Ana Maria”, “A Cigarra e a Formiga” e “Justiça de Sua Magestade”, interpretados admiravelmente por alguns amadores, que os crearam, devendo assinalar-se o facto, bastante curioso, de alguns, já avós, actuarem ao lado de seus filhos, a confirmar a tradição do amor ao teatro pelos tavaredenses.

Não fazemos referências especiais porque todos os discípulos de mestre José Ribeiro, se houveram de maneira a conquistar os nossos louvores e os da numerosa assistência, que enchia literalmente, a acolhedora sala de espectáculos, tributando-lhes aplausos calorosos.

No final da evocação das figuras, que representavam um passado glorioso do teatro tavaredense, deu entrada no palco, acompanhado do Presidente da Direcção, o homenageado, a quem os espectadores dispensaram carinhosa, prolongada e entusiástica recepção. Logo, sobre a figura veneranda do sr. Prof. Alberto de Lacerda caíu abundante chuva de pétalas de flores naturais, especialmente limonete, a característica flor da nossa terra, tão do seu agrado.

Manuel Gaspar Lontro, secretário da SIT, leu a mensagem “de admiração e agradecimento pelas manifestações do seu belo espírito, tão notáveis na Arte da Pintura, como na sua fidelidade entusiástica à quase abandonada Arte do teatro”, após o que, pelo tesoureiro sr. Waldemiro Félix Pinto foi feita entrega duma artística recordação ao ilustre homenageado.

A mais antiga amadora do grupo cénico, srª. D. Helena da Silva Medina entregou também um lindo ramo de cravos.

António Lopes, ao fazer uso da palavra, disse da admiração e alto apreço em que, não só os numerosos sócios da colectividade a que preside, como também do povo da sua freguesia, têm os elevados méritos pessoais e artísticos do homenageado, testemunhando-lhe a sua simpatia e reconhecimento pela devoção com que o sr. Prof. Alberto de Lacerda tem contribuído para o maior engrandecimento da prestigiosa colectividade.

José da Silva Ribeiro, amigo íntimo do homenageado, e por influência de quem o primoroso espírito de Alberto de Lacerda veio para Tavarede, recordou os primeiros contactos com o distinto Professor e, mais tarde, inteligente Director da Escola Industrial e Comercial da Figueira, a quem os figueirenses ficaram devendo a criação das primeiras oficinas daquele magnífico estabelecimento de ensino.

Referiu-se, o fulgurante orador, aos altos e inesquecíveis serviços prestados à SIT por Alberto de Lacerda e ainda à sua prodigiosa generosidade tão exuberantemente demonstrada em múltiplas manifestações da sua bondosa alma.

O público, que já nos vários actos acima referidos se havia manifestado entusiasticamente, numa estrondosa ovação abafou as últimas palavras do proficiente director do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense.

Por último, agradeceu o homenageado a fidalga manifestação de simpatia que os seus queridos amigos tavaredenses lhe haviam dedicado, não com palavras que, na ocasião, não podia proferir, mas com as lágrimas da mais profunda gratidão pela carinhosa hospitalidade que sempre lhe dispensaram e de saudade pelos agradáveis e inesquecíveis momentos espirituais passados na Terra do Limonete.

Entre a numerosa assistência ao espectáculo notámos a presença de distintas individualidades da Figueira e de outros lugares, admiradores das excepcionais qualidades do grande Artista.

Na colectividade em festa foram recebidos cumprimentos de numerosos amigos do Prof. Alberto de Lacerda, que motivos imperiosos impediram de vir a Tavarede.

Estamos convencidos de que a noite gloriosa vivida no sábado no Teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense e que constituíu justa consagração dum dos seus mais queridos amigos e prestimosos colaboradores, ficará por longo tempo no espírito de todos os que a ela tiveram o inefável prazer de assistir.

Bam haja, pois, a SIT pela sua generosa iniciativa, reveladora do índice dos belos sentimentos de que é possuidor o bom povo daquela terra.

ROMEU E JULIETA (A VOZ DA FIGUEIRA)

Também a Sociedade de Instrução Tavaredense, aliás como tem feito em relação a outros factos de relevo na história do Teatro, participa na celebração do 4º. Centenário, de William Shakespeare. Pela primeira vez vai ser dado ao povo de Tavarede uma obra do genial dramaturgo.

Pode dizer-se que não são apenas os tavaredenses que aguardam com o maior interesse a representação de Romeu e Julieta, que foi a peça escolhida para esta comemoração, mas também os figueirenses: na Figueira é grande a curiosidade que se nota pela próxima representação dos amadores de Tavarede.

As enormes dificuldades a vencer para a apresentação desta obra notável – das mais populares do célebre dramaturgo inglês – explicam em boa parte o interesse invulgar criado à volta deste empreendimento da Sociedade de Instrução Tavaredense. Com um número elevado de intérpretes e figurantes – cerca de 40 pessoas – e uma montagem complexa exigida pela sucessão de mais de 20 cenas com mudança de lugar da acção como é característica do teatro shakespeareano, necessitando guarda-roupa numeroso em quantidade e rico em qualidade – Romeu e Julieta constitui um grande espectáculo teatral. Para o apresentar com dignidade e sabendo, aliás, que o empreendimento não é comercial e se traduzirá num pesado encargo financeiro, a Sociedade de Instrução Tavaredense contou com colaborações valiosas, a começar pela ilustre tradutora da peça, Drª. Maria José Martins. O ilustre artista Prof. Alberto de Lacerda fez as maquettes de algumas cenas; Alberto Anahory encarregou-se da indumentária e o distinto cenógrafo José Maria Marques, de Lisboa, pintou os cenários.

A primeira representação será no próximo sábado, 23 do corrente, às 21,45 horas. No domingo, dia 24, terá lugar uma matinée às 16 horas.

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