sexta-feira, 25 de abril de 2014

As Operetas em Tavarede -. 14



A Merenda Grande (de 'O Sonho do Cavador')

           A vida na aldeia continuava. Os costumes não se haviam alterado. As tesouras, como sempre, iam cortando nas casacas alheias; o amola-facas-tesouras dava-lhes umas ajudas. Afinal, nem o relógio ainda conseguira fazer-se ouvir badalar na torre da igreja! O Manuel da Fonte chega à aldeia. Saudoso, enche os olhos com a alegria da paisagem da terra. Anoitece. Ouve-se, então, o sino da torre da igreja tocando as trindades.

         Trindades – “Trindades na aldeia, são horas de ceia... Há tanto tempo que o povo não nos ouve. Não há quem queira badalar-nos no sino da torre. E fazemos falta. Trindades!... De manhã, dizemos ao cavador que é a hora de erguer a enxada para a labuta do pão; à tarde, anunciamos-lhes o fim da tarefa e chamamo-lo a casa. Trindades na aldeia, são horas de ceia...”.

 É sol posto, finda o dia,
 Tocam trindades na aldeia.
 O cavador volta a casa
 Pois que são horas da ceia.

 Todo o dia a sua enxada
 Trabalhou sem descansar,
 Ganhou o pão da família,
 É noite, vai repousar.

         Manuel da Fonte resolve-se. Procura Rosa, a sua noiva. Ainda o esperaria ela? Ainda o quereria?

Rosa
O meu amor,
O meu amor!
Meu peito estremece,
Bate o coração,
Com mais vigor.
Minha alma entontece
Embriagada de comoção.

O meu amor!
O meu amor!
Embriagada de comoção
Minha alma entontece,
Meu peito estremece,
Bate o coração
Com mais vigor.

Manuel
Rosita, minha vida!
Meu casto e puro anelo!

Rosa
Manuel, meu bom Manuel,
Oh! meu primeiro amor!

 Manuel
A minha alma dorida
Teve enfim guarida
No teu olhar tão belo.

Rosa
Meu pobre, meu pobre coração
Bate com mais paixão
Ouvindo o meu amor.

Ambos
No campo onde a alvorada
É luz, perfume e cor
Perfume, luz e cor!
A alma enamorada
De alegria, de alegria
Não sonhada
Só nos fala de amor.
E que outro pensamento
Ali teria mais dura
Mais dura!
Se nesse encantamento
A vida toma alento,
Paz, conforto e ventura!
 Se falam dele a planta,
A terra, a rocha, a flor,
 Se entre beleza tanta
Tudo ri, tudo canta
O seu eterno amor!
Vem pois, ó minha bela,
Ouve a prece meiga e singela
De quem vive a sonhar
A sonhar
Num casto e doce enleio!
 Vem viver!
 Vem amar!
 O céu será capela
 E farei meu altar
 Bem junto do teu seio
 Para dormir, sonhar...

Perdoou-lhe. Vinha mais pobre? Não interessava. Nunca tinha tido a ideia da riqueza e quanto à enxada, essa guardara-a o Ti João da Quinta. Ali estava ela à sua espera. E quando Manuel da Fonte abraça Rosa, sob a benção de seu pai, entra um rancho de cavadores e ceifeiras que saudam, alegremente, o seu regresso. Voltavam a casa, depois de mais um dia nas sachas. E, como sempre, sem tristezas nas suas almas de gente simples, mas puras, honrados com a fortuna do trabalho, que, ao final, era toda a sua grande riqueza.

 Coro
 Desde manhã ao sol posto,
Arado ou foice na mão,
Seja Inverno ou seja Agosto,
Ceifamos a loira espiga
 Ou pomos à terra o grão.

 Cavadores
Vamos todos sem cansaço
Na terra dura
Cavar, cavar.
A força do nosso braço
Traz a fartura
 Do nosso lar.

 Ceifeiras
 Somos as ledas ceifeiras
 Que vão as messes trigueiras
 Segar, ceifar,
 Sempre ligeiras,
 Sempre a cantar,
 A cantar.

Coro
 Cavar, Ceifar,
Ceifar, cavar,
Sem descansar.



I N T E R V A L O

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