sexta-feira, 11 de abril de 2014

Usos e Costumes da Terra do Limonete - 15

         O Grupo Musical também organizava tais reuniões, onde seus sócios e sua famílias, folgavam e gozavam de um bem merecido descanso domingueiro. Mas a sua tuna, que foi considerada a mais completa do concelho, adquiriu outro costume: o passeio ao Buçaco ou às termas da Amieira, onde se exibiam apresentando o seu variado reportório, passando o resto do dia em alegre convívio. Estes passeios tinham lugar na quinta-feira da Ascensão.
         Acerca de um dos passeios que esta associação realizou à Serra da Boa Viagem, recolhemos o seguinte apontamento: “...Ficou bem memorável no espirito da família do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense aquele explendido passeio à Serra da Boa Viagem, em um dos últimos domingos.
A enorme caravana saiu e entrou aqui na melhor ordem e alegria, tendo a tuna tocado para a mocidade irrequieta, que naqueles momentos esquece sempre cuidados e afazeres para expandir a alegria bem própria do verdor dos seus anos. Os farnéis - suculentos e variados - foram gastronomizados no aprazível monte da Vela, donde se disfructam inebriantes paisagens, e num pinhal pitoresco próximo do Prazo de Tavarede, onde a folia teve largas até perto da noite.
Em conclusão. O passeio organisado pelo Grupo Musical redundou num dia de festa para os seus associados. As peripecias, os encantos de que foi revestido, constituíam uma bela crónica. Para isso era necessário que houvesse vagar e a nossa inteligência não fosse, como é, tão pobresinha de cultura intelectual...
Limitamo-nos pois, a registar, com subido orgulho e prazer, que as festas, - sejam elas de que espécie fôr - que o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense leva a efeito, são sempre caracterizadas por um tom alegre e feliz. Sim, senhores. Venham de lá novos convites para digressões desta natureza.. Porque, sejamos francos, nem só de pão vive o homem... “.
Por acaso, foi no dia da Ascenção de 1938, que a tuna do Grupo realizou a sua última saída para fora da terra. No ano seguinte acabou. Mas ainda damos conta do passeio realizado em 1942, que as duas colectividades tavaredenses levaram a efeito conjuntamente. “As colectividades locais - Grupo Musical e Sociedade de Instrução Tavaredense - organizam no próximo domingo, 21, o seu costumado passeio anual de confraternização. Foi escolhido para local de acampamento, o aprazível “Pinhal da Borlateira” próximo dos Condados, gentilmente posto à disposição dos organizadores, pelo seu proprietário, sr. dr. Manuel Gomes Cruz.
         Do programa elaborado por mão de mestre fazem parte, além duma formidavel “matinée dançante... ao ar livre”, abrilhantada pelo afamado jazz “Lúcia Lima ou Limonete”?, especialmente contratado para esse fim, estupendas e mirabolantes provas desportivas para ambos os sexos. Vai ser um dia de grande “ferróbódó”, a avaliar pelo enorme entusiasmo que reina entre a família associativa das duas populares colectividades”.
         Era durante estas confraternizações que se disputavam algums jogos tradicionais. Enquanto uns, mais apreciadores do descanso, jogavam uma ‘suecada’, outros optavam pelo clássico jogo da malha. Este, também chamado do ‘fito’, era um dos jogos mais costumados das nossas gentes. Todas as tabernas locais possuiam, em seus quintais, os tabuleiros necessários à prática da malha, que, durante as tardes dos domingos e dias feriados, estavam sempre ocupados travando-se rijas disputas.
         Outro jogo também muito praticado na nossa terra, era o chamado ‘jogo da pela’. Em plena Rua Direita, formados os dois grupos adversários e posto o pequeno banco de madeira no chão, de imediato a bola de trapos, lançada com força, dava início à partida.
         Muitos eram os tradicionais jogos populares que serviam de passatempo aos tavaredenses. Quanto a nós, é com imensa saudade que lembramos os nossos tempos de rapaz, quando também os jogávamos. E se recordo um, na década de 1940, com a engraçada ‘corrida das colheres’, transportadas na boca com um ovo em cima, é só para inserirmos uma fotografia tirada nessa tarde, da corrida de sacos.
 

                                              Corridas das colheres,dentro de sacos.

         Nunca mais vimos os rapazes da nossa terra jogarem ao pião, ao berlinde, ou fazerem as disputadas corridas de pés atados ou com o arco, que acabávamos sempre cobertos de suor. Tantos e tão variados jogos... Mas ainda vamos recordar dois deles.
         Nas tabernas era habitual o jogo de cartas, especialmente o chamado ‘liques’, quando disputado por quatro jogadores, ‘garujo’, por seis, ‘zangarelho’, por oito e até ‘ganipo’, quando se agrupavam dez jogadores. Constantemente se ouviam as cantigas a ‘seis’, ‘nove’, até terminarem a ‘moca’, que, à melhor de três, dava direito a bebida paga pelos perdedores.
         Outro jogo, também muito popular entre nós, era o chamado do ‘caqueiro’. Naquele tempo ainda não havia água canalizada nas casas, pelo que era a água da nossa fonte a utilizada e que as mulheres iam buscar, com os seus potes à cabeça. Naturalmente que, e como diz o velho ditado, ‘tantas vezes o pote vai à fonte que lá deixa a asa’. Eram as vasilhas de barro que rachavam e que eram postas de lado.
         Pelo período carnavalesco jogava-se, então, o ‘caqueiro’. A rapaziada ia de casa em casa recolhendo potes, cântaros e bilhas rachadas, e até velhas caçoilas de barro, todas cobertas exteriormente de fuligem negra, servindo tudo para o jogo.
         Formada a roda, raparigas e rapazes logo começavam a atirar aquelas peças de barro de um lado para o outro. Se alguns conseguiam agarrá-las inteiras e as atiravam para outro parceiro, outros haviam que, talvez mais desajeitados, a deixavam cair ou partir-se nas suas mãos. No fim era uma caqueirada infernal.

         Recordámos alguns dos nossos jogos tradicionais. Outros nos esqueceram, talvez, atér, os mais usuais... 

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