domingo, 7 de dezembro de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 105

         Aceitámos o desafio e conseguimos convencer o Mestre José Ribeiro. Foi uma sessão solene memorável. A Sociedade de Instrução Tavaredense, continuando as celebrações das suas “Bodas de Diamante”, realizou no sábado passado um magnífico espectáculo com a representação, em estreia, da peça em 2 actos e 16 cenas, “Ontem, Hoje e Amanhã”, que além de um hino ao trabalho é uma bela síntese da rica história da antiquíssima Tavarede e novo e muito valioso contributo que Mestre José da Silva Ribeiro dá para o seu conhecimento.

Mestre José Ribeiro após receber a medalha de ouro da cidade

         Casa cheia e a presença do Prof. Dr. David Mourão Ferreira, Secretário de Estado da Cultura, acompanhado do presidente da Câmara Municipal e de outras individualidades.
         Domingo foi o grande dia das celebrações do 75º aniversário da SIT. Houve alvorada, um almoço de confraternização e, pela tarde, uma sessão solene, o número mais brilhante do programa, que foi presidido pelo Dr. David Mourão Ferreira. O ilustre membro do Governo, que na parte da manhã visitara o Museu e Biblioteca Municipais e outros estabelecimentos culturais da cidade, e também o antigo palácio dos Condes de Tavarede, hoje em estado de ruínas mas que é necessário salvar e restaurar por se tratar de um imóvel que “fala” da história de Tavarede, honrou assim a já velha Sociedade e a gente da terra onde ela existe e sobre a qual vem espalhando a luz bendita da Instrução.
         Associou-se também o ilustre homem público, a uma justíssima e há muito devida homenagem que a Câmara Municipal entendeu dever prestar a Mestre José Ribeiro, o homem que de alma e coração se tem devotado, especialmente através do Teatro, à grande obra educativa que tanto enobrece aquela colectividade.
         Consistiu essa homenagem na entrega a José da Silva Ribeiro da Medalha de Ouro da Cidade. Foi um momento emocionante aquele em que o Dr. David Mourão Ferreira, auxiliado pelo Presidente do Município, Dr. José Manuel Leite, colocou ao peito do ilustre tavaredense a valiosa condecoração pendente de uma fita verde-amarelo, as cores da Bandeira do Concelho. No palco e na plateia reboou uma prolongada e calorosa salva de palmas. A Filarmónica Figueirense executou o hino da Sociedade, acompanhada por um coro de Meninas e Senhoras. Havia lágrimas em muitos olhos.

         Na mesa de honra da sessão solene tomaram lugar, ladeando o Secretário de Estado da Cultura e o Presidente da Câmara Municipal, o vereador do pelouro da Cultura, dr. Armando Garrido Gomes de Carvalho; o presidente da Junta de Freguesia de Tavarede, António Jorge da Silva; o Pároco da Freguesia, Pe. António Matos; o comandante da Secção da PSP, 1º comissário José da Conceição Coelho; o engº Fernando Muñoz de Oliveira, Director-Geral de Portos, e arquitecto José Isaías Cardoso. 
         Noutros lugares, indistintamente e enchendo o vasto palco, sentaram-se outras individualidades e representantes de diversas colectividades do concelho, cujos estandartes, em número superior a duas dezenas, davam ao ambiente uma nota de belo colorido.
         A sessão começou com a leitura de numeroso expediente e com a nomeação dos novos corpos gerentes da SIT, que ficaram assim constituídos:
         Assembleia Geral – Presidente, José da Silva Ribeiro; vice-presidente, José da Silva Cordeiro; secretários, Manuel Gaspar Lontro e José Amilcar Vaz de Oliveira.
         Direcção – Presidente, Vítor Manuel Garcia Medina; vice-presidente, João de Oliveira Junior; secretárias, Otilia Maria Cordeiro e Ana Maria Bernardes Caetano; tesoureiro, António Lourenço Domingues; vogais, Fernando Duarte Santos, João Renato Gaspar de Lemos Amorim, Augusto dos Santos Fonseca, Fernando Joaquim Fontes e Manuel Martins da Silva.
         Conselho Fiscal – António Jorge da Silva, Fernando Severino dos Reis e José Martins Medina.
         Fez-se depois a entrega de Diplomas de Sócios Honorários aos srs. arquitecto José Isaías de Oliveira Cardoso, engenheiro Fernando António Muñoz de Oliveira, Fernando Severino dos Reis, José Maria Cordeiro e Fernando Duarte Santos, acto este sublinhado por calorosas salvas de palmas da assistência.
         Seguidamente usaram da palavra alguns oradores. O primeiro foi o presidente da Direcção cessante, Carlos Pinto, que se referiu aos bons tavaredenses que em 1904 fundaram a SIT para nela se instalar uma escola primária para educação de adultos e posteriormente de crianças. “Foi na verdade uma arrancada colossal que tirou muita gente da escuridão, ministrando-lhe as primeiras letras, orientando-a depois para a vida, que nessa altura era bastante rude e espinhosa. Criou-se de seguida uma escola de Teatro que ainda se mantém e é para todos os efeitos o maior orgulho dos tavaredenses. Graças a ela, o nosso povo tem adquirido uma cultura extraordinária que constitui uma das maiores riquezas do nosso país. Todo esse trabalho é fruto da persistência firme dum homem chamado José da Silva Ribeiro, que a essa causa se devotou num sacerdócio ímpar, sendo por isso credor da nossa estima e da nossa consideração, com amor pela Arte e pela Cultura do seu povo”. Carlos Pinto prestou também homenagem aos que nessa obra têm colaborado para a maior grandeza e prestígio da colectividade.
         Outros oradores se pronunciaram depois sobre o acontecimento que se comemorava. O espaço de que dispomos não nos permite, com grande pesar nosso, reproduzir textualmente e na íntegra, as suas palavras, por isso dando a súmula do seu contexto.
         Jerónimo Pais diria a seguir:
         “Eu tenho acompanhado a par-e-passo a obra notável, notabilíssima desta colectividade, que tem prestado altos e assinalados serviços ao nosso concelho e à nossa terra. Por isso desejo que ela vá progredindo sempre com o maior êxito. Eu sei que dentro desta casa há um grande esteio, um grande colaborador que é José Ribeiro e eu quero apresentar-lhe aqui os meus cumprimentos, as minhas saudações e afirmar-lhe a minha extraordinária admiração pela sua figura, com votos por que todos os presentes possam vir a assistir à celebração do centenário desta gloriosa colectividade”. (Na 1ª fila da plateia estavam sentados lado a lado dois venerandos figueirenses, José Maria Mendes Curado e dr. José Rafael Sampaio, aquele de 95 e este de 86 anos...).
         O Padre António Matos falou depois. Da sua brilhante intervenção e pelas razões acima apontadas, daremos um extracto no próximo número.
         O Engº Muñoz de Oliveira, ao agradecer, em breves mas elegantes palavras a homenagem que a SIT lhe prestara já em 1967 ao nomeá-lo sócio honorário e ao conferir-lhe agora o respectivo Diploma, também elogiou a sua prestimosa actividade e colocou ao seu dispor os seus préstimos profissionais. Associou-se à homenagem a José Ribeiro e recordou a admiração que desde muito jovem mantém por tão ilustre personalidade.
         Também o sr. Presidente da Câmara, que orientou os trabalhos da brilhante sessão, prestou as suas homenagens à SIT e a José Ribeiro, lendo e comentando as expressões contidas no Diploma de homenagem do Município àquele “cidadão exemplar, democrata de sempre e figura ímpar do Teatro”.
         Depois das palavras sempre brilhantes de José Ribeiro em saudação ao Secretário de Estado da Cultura e em agradecimento pela homenagem de que estava sendo alvo, falou o Dr. David Mourão Ferreira.
         Começou por manifestar a grande honra de participar nestas celebrações das Bodas de Diamante e nas homenagens a José Ribeiro, e disse:
         “Não é a minha presença que confere qualquer espécie de honra a este acto. Pelo contrário, eu é que me sinto particularmente honrado de ter vindo aqui a Tavarede, de ter ontem assistido à peça “Ontem, Hoje e Amanhã” e de ter tido ocasião de contactar com o povo de Tavarede e de ver não só o grau de cultura e de educação cívica que esse povo tem – e isso já eu sabia – mas de ver também os tesouros de sensibilidade que esse mesmo povo guarda dentro de si. E devo acrescentar que me emocionou particularmente ver ainda há pouco, quando o sr. José Ribeiro era alvo desta homenagem, que havia lágrimas em muitos olhos.
         Seja como for, desempenhasse ou não as funções que desempenho agora, seria sempre meu dever, como simples cidadão interessado nos problemas da Cultura do nosso país, associar-me de qualquer modo que fosse à pública celebração da data de hoje. Bem sei que há hoje quem tente ridicularizar a comemoração de significativas efemérides como esta. Bem sei que houve recentemente quem procurasse ridicularizar com pseudo-argumentos (esses sim, é que são ridículos) a decisão do IV Governo Constitucional em estar celebrando por iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura os 50 anos de vida literária dessa grande poeta e prosador que é Miguel Torga.
         Mas também sei que tais reacções não têm grande importância e que não vale a pena perdermos tempo com tais ruins defuntos. Eles nunca saberão compreender – os que assim falam – por tão avidamente viverem no presente, por tão oportunisticamente nele intervirem – que a vida é Ontem, Hoje e Amanhã”.
         Considerou altamente significativa a efeméride que estava sendo comemorada, por estar ligada a um empreendimento cultural que tem passado, tem presente e tem futuro, que se perfila por isso mesmo na tríplice perspectiva de ontem, hoje e amanhã. Por isso – disse – em tal empreendimento há que louvar a tão rara conjugação de um extraordinário esforço colectivo, duma extraordinária força de vontade e consciência de toda a comunidade e de uma invulgaríssima vocação individual ou, se assim se prefere, porque se trata de comemorar um verdadeiro serviço público, embora de iniciativa privada e de puras e livres raízes associativas, que teve a boa sorte de encontrar a sua real encarnação numa personalidade absolutamente ímpar, quer sob o aspecto cívico quer sob múltiplos aspectos culturais e criativos. Cidadão íntegro, democrata sem mácula, o sr. José Ribeiro é também – e oxalá assim continue por muitos anos – um multifacetado talento de homem de Teatro, cuja devoção à causa do Teatro e à Causa da Educação Popular bem merece ser apontada a todo o País como um exemplo a todos os títulos admirável”.

         Foi também o Dr. David Mourão Ferreira intérprete da homenagem verbal do Primeiro-Ministro a José Ribeiro, cuja acção extraordinária o Prof. Dr. Mota Pinto muito bem conhece e admira.

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