quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 64


Em Março de 1980, o Lions Clube da Figueira da Foz prestou homenagem ao grupo de Tavarede. Vejamos o que, sobre o assunto, disse um jornal figueirense. ‘... a finalidade máxima desta reunião estava um tanto envolta em segredo, dado que os homenageados em questão se têm escusado, muito delicadamente, a este género de consagração pública, para isso evocando, como diria José Ribeiro no seu agradecimento, a sua falta de merecimento (?!), argumento que merece a nossa total discordância. Violinda Medina, retida inesperadamente no leito por súbita indisposição, seria representada por seu sobrinho sr. José Cordeiro, enquanto Mestre José Ribeiro, bem longe sequer de sonhar com o que seria a sessão, acedera gentilmente, como é seu timbre, a ir, uma vez mais, falar de Teatro ao Lions.

Como depois haveria de ser curiosamente referido pelo dr. Albarino Maia, na crítica da sessão, o teatro tavaredense fazia de tal maneira escola que os elementos do Lions que haviam convidado José Ribeiro o tinham feito com tal “arte”, que o mestre acreditou na representação! Aqui, mais do que nunca, os meios justificavam os fins. A apresentação dos convidados de honra esteve a cargo do engº. Jorge de Pinho que, para além das elogiosas, mas sempre justas referências feitas sobre a acção desenvolvida em prol do Teatro por tão ilustres figuras se encarregou de dar a conhecer a José da Silva Ribeiro dos verdadeiros intuitos do Clube, intenções que para a grande maioria dos presentes só naquele momento se aclararam: homenagear o Teatro nas pessoas de Violinda Medina e José Ribeiro.

Estrondosa salva de palmas abafou as últimas palavras do apresentador, enquanto os olhares interrogativos procuraram descobrir com segundos de antecedência a reacção do homenageado presente. E nós que conhecemos José Ribeiro há muitos anos, não conseguimos evitar uma tremenda e rápida sensação de felicidade perante a emoção que vimos estampada no rosto de esse Homem de Teatro, o qual, sentindo quanto de verdadeiro era a estima e calor humano que o rodeavam, acabaria por aceitar, visivelmente reconhecido, a homenagem que o Lions lhe prestava.

Pena foi que Violinda Medina não pudesse compartilhar daquele momento inolvidável, pois estamos cientes de que ele se integraria nas mais belas recordações da sua vida. Mas seriam para ela e por ela as primeiras e principais palavras de José Ribeiro no seu agradecimento. É que ele não é apenas Mestre de Teatro, também o é na oratória, como habilmente o demonstrou ao desviar para Violinda Medina as honras desta dupla homenagem.

Pelo presidente do Clube foram entregues placas comemorativas do acontecimento, nas quais se podia ler: “A José da Silva Ribeiro, Mestre de Teatro”, e “A Violinda Medina e Silva, uma vida dedicada ao Teatro” e em ambas “homenagem de Lions Clube da Figueira da Foz”. Ao sr. José Cordeiro foi entregue, além da placa que referimos, um vistoso ramo de flores destinado a sua tia, cuja ausência, repetimos, por todos foi lamentada.

E Mestre José Ribeiro falou depois sobre teatro. Não iremos aqui descrever aquilo que tantas vezes o nosso jornal já fez, em função de outros actos, nos quais o mesmo orador nos ensinou a compreender a arte de Talma. O nosso relato ficaria sempre aquém, sempre remotamente longe de todo o fulgor, brilhantismo, qualidade, vivacidade de expressão, enfim, de todo aquele somatório de predicados que fazem de José da Silva Ribeiro um Mestre de Teatro”.

Ainda vamos recordar um pouco do que foi escrito sobre a representação da peça ‘Comédia da Vida e da Morte’. “… Este texto dramático de Henrique Galvão, escrito em 1950, é uma comédia de costumes que foi sem dúvida o melhor apresentado durante estas IV Jornadas, que se caracterizaram precisamente pela sua baixa qualidade. Henrique Galvão nasceu no Barreiro em 1895 e escreveu as seguintes obras dramáticas: Revolução, 1931; Como se faz um Homem, 1935; O Velo de Oiro, 1936; Colonos, acto único, 1939; Farsa de Amor, em colaboração com Carlos Selvagem, 1951. Henrique Galvão, para além dum autor de dramas africanistas e de comédias de costumes, foi sobretudo um escritor de coisas coloniais e um fogoso homem político, que raptou um navio para chamar a atenção da opinião pública internacional para o regime de opressão e de falta de liberdades fundamentais que então existia em Portugal.

A encenação de Mestre José Ribeiro está dentro da linha e do nível a que nos habituou, apresentando uma leitura correcta e um bom equilíbrio entre todos os seus elementos: o estilo, o ritmo e o tempo, a distribuição, a implantação da cena e a marcação. A representação é homogénea, havendo uma boa construção de todas as personagens, apesar de algumas falhas nas personagens do Conde do Laranjeiro, do Pitó e de Valadas. Pensamos que actores como João Medina e João de Oliveira além dessa grande senhora que se chama Violinda Medina e Silva, têm garantida a sua sucessão com Ana Paula Fadigas e Ana Maria Bernardes. Fazemos votos para que o mesmo possa suceder com Mestre José Ribeiro para glória da Sociedade de Instrução Tavaredense e do teatro de amadores da região”.

Fotografias - 1 - Emblema do Lions Club; 2 - Comédia da Morte e da Vida

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