sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 89

         Recordemos, agora, que, em Abril de 1965, no Grupo foram comemoradas as Bodas de Prata do seu conjunto musical Lúcia-Lima. Decorreram com invulgar entusiasmo as festas comemorativas do 25º aniversário da fundação do afamado conjunto “Lúcia Lima”, levadas a efeito nos dias 3 e 4 do corrente, como referimos, no amplo salão de diversões do simpático Grupo Musical e de Instrução Tavaredense.
         Tanto o baile de sábado como a “matinée” de domingo registaram desusada concorrência.


         Houve uma breve sessão solene presidida pelo sr. Fernando da Silva Ribeiro, presidente da Assembleia Geral da colectividade em festa, tendo servido de secretários os representantes da SIT e do Grupo de Instrução e Recreio, de Quiaios.
         Após a leitura do expediente, em que avultado número de associações transmitiam cumprimentos, o sr. presidente, no uso da palavra, referiu-se aos principais factos decorridos durante os 25 anos de existência da apreciada orquestra, rendendo significativa homenagem a todos os executantes. A certa altura procedeu-se ao descerramento da fotografia do mais antigo elemento do conjunto “Lúcia Lima”, sr. Manuel Loureiro, que desde a primeira hora lhe vem dando a sua melhor colaboração, tendo-lhe sido entregue um lindo ramo de flores.
         Estiveram presentes à cerimónia os srs. Benjamim Gaspar Lontro e os irmãos Joaquim e Adelino da Silva Oliveira, antigos executantes fundadores.
         Presente também o sr. José Nunes Medina, primeiro regente e grande impulsionador da orquestra e a quem a sua extremosa netinha, a simpática menina Otília Maria, ofereceu um belo ramo de cravos.
         Antes de terminar as suas considerações, o sr. presidente dirigiu cumprimentos ao sr. João Renato Gaspar de Lemos Amorim, activo presidente do GMIT ao tempo da fundação do conjunto “Lúcia Lima” e recordou o passamento do sócio nº 1, sr. Manuel Nogueira e Silva, tendo sido guardado, em sentida homenagem, um minuto de silêncio.
         António Lopes, depois de dirigir calorosa saudação à prestante colectividade local, exaltou a dedicação e o desinteresse com que os modestos componentes do excelente conjunto tavaredense vêm mantendo viva a chama do seu amor à nobre arte da Música.

         Finalmente, chegou mais um dia grande para Tavarede. No domingo 9 de Maio de 1965, foi oficialmente inaugurado o edifício da sede remodelada da Sociedade de Instrução Tavaredense. O domingo foi um dia grande para a risonha aldeia do limonete.


Pelas 16 horas, as entidades oficiais e convidados tiveram entusiástica recepção, no largo do Paço, organizando-se ali um grandioso cortejo para a sede da Sociedade. Nesse cortejo tomaram parte mais de duas dezenas de associações do concelho, com os seus estandartes, as Filarmónicas Santanense e Boa União Alhadense.
         As janelas do percurso apresentavam um aspecto dos grandes dias - engalanadas e a lançarem pétalas de flores sobre os convidados.
         No átrio da sede da S.I.T., foi convidado a descerrar uma artística lápide de homenagem à Fundação Gulbenkian, o sr. Presidente da Câmara Municipal, Engº. José Coelho Jordão, acto sublinhado com prolongada salva de palmas.
         Realizou-se, a seguir, uma luzida sessão solene, a que presidiu o sr. Presidente do nosso Município.
         Ladearam-no os srs. João de Oliveira Júnior, Presidente da Junta de Freguesia; Revº. Paulo Ribeiro, pároco da freguesia; dr. Carlos Estorninho; dr. Mário Temido; Tenente Manuel de Matos; o representante do Comando Militar; Abílio dos Santos, representando o Prof. Doutor Elísio de Moura, e a Associação dos Artistas de Coimbra; e o sr. João de Oliveira, único sobrevivente dos sócios fundadores da S.I.T..
         Feita a leitura do expediente, que era numeroso e representativo, foi entregue ao sr. Ten. Manuel de Matos, o diploma de sócio honorário em reconhecimento do seu importante contributo, moral e material, para as obras da colectividade em festa.
         No momento dos discursos, usou da palavra, o prof. Rui Martins, Presidente da Assembleia Geral da S.I.T., seguindo-se-lhe António de Oliveira Lopes, Presidente da Direcção.
         Ambos os oradores, a propósito da festa que se estava a viver, proclamaram o seu propósito de afixar no átrio da S.I.T., ao lado das placas ali já colocadas, uma de homenagem ao grande propulsor daquela obra - José Ribeiro.
         A assistência aplaudiu calorosamente.
         Falaram ainda os srs. Tenente Manuel de Matos, dr. Mário Temido e, por fim, José da Silva Ribeiro, cujo discurso era aguardado com ansiedade.
         Testemunhou à Câmara Municipal, à Fundação Gulbenkian, e aos operários que ajudaram com o seu trabalho gratuito a levar por diante aquela obra, o reconhecimento de que eram merecedores. Saudou João de Oliveira, o único sócio fundador sobrevivente, e evocou a memória de todos os fundadores falecidos, incluindo seu pai, que ministrara ali o ensino da música como ele, orador, ensina o que sabe, de teatro.
         Referindo-se à lápide glorificadora, cuja colocação os Presidentes da Assembleia Geral e da Direcção, afirmaram ser sua intenção propôr à Assembleia Geral, afirmou categòricamente que nunca o permitiria, pois nada mais fizera do que cumprir o seu dever.
         Encerrou a sessão o sr. Presidente da Câmara, que proferiu o seguinte discurso:
         “Tavarede está em festa. Tavarede vive, hoje, um dia grande, com a inauguração deste belíssimo edifício, sede da Sociedade de Instrução Tavaredense.
         Mais de meio século já passou desde a data, em que um grupo de homens humildes desta terra, ansiosos da luz da música e da cultura, fundou esta sociedade com o fim de “assegurar” a existência de uma escola nocturna para ensino de adultos e menores.
         A sua história já a ouvimos pela palavra fluente dos oradores desta sessão.

Herdeiros de uma tradição artística, musical e teatral, que este povo de Tavarede manteve pelos tempos fora, acarinhados por todas as boas vontades, e aquele amor e dedicação e carinho pelo teatro, que ainda hoje se mantém, não tardou que a Sociedade recém criada visse desenvolvida a sua obra e a sua acção, a projectar-se para fóra dos territórios que outrora formavam o Couto de Tavarede, e que fosse orgulho, bem justificado, não só das Juntas de Tavarede, mas orgulho e honra da Figueira e do País.
         Por aqui passam as gerações de Tavarede, aqui se instruem e se educam, aqui aprendem, com o exemplo de dedicação, de espírito de sacrifício, de abnegação, de tantos, a cultivar a amizade, sem a qual a vida perde o seu encanto e a sua beleza.
         E nunca como no mundo de hoje, em que o egoísmo domina tanto a humanidade, as armas do espírito são necessárias para assegurar a cooperação dos homens e a defesa dos interesses do bem comum.
         Honrosos pergaminhos tem recebido, mas o maior de todos foi, sem dúvida, o reconhecimento, pela Fundação Gulbenkian, de merecer ser subsidiada para poder ter as instalações condignas, com que vai ficar.
         O cuidado que aquela Instituição põe na concessão de subsídios, pode deduzir-se claramente de um dos seus relatórios:
         “Devemos, porém, estar muito atentos para não cometer o erro, mais do que erro, a falta grave, de estimular a mediocridade ou de concorrer para o êxito, mesmo temporário, de algumas mistificações..., porque só a realidade da arte melhora os homens e eleva o nível cultural do povo”.
         A Fundação Gulbenkian, fundada por um homem genial e generoso, um alto espírito de inteligência invulgar e rara sensibilidade, que escolheu Portugal, pelo ambiente de paz, de estabilidade, de administração séria, para sede da sua obra, e que reconheceu as qualidades e o nível artístico deste grupo, não hesitou em dar todo o estímulo e todo o apoio material necessários à construção deste edifício, com que esta Sociedade vai ficar enriquecida.
         Este é, sem dúvida, senhoras e senhores, o maior pergaminho e o melhor reconhecimento do que é o trabalho feito nesta casa.
         E se todos vós, sócios desta casa, que o mesmo é dizer de Tavarede, viveis um dia de grande alegria e emoção, a Câmara Municipal e o seu Presidente, não podem deixar de vos acompanhar com a mesma vibração que vos vai na alma, e ao felicitar-vos pelo entusiasmo, esforço, dedicação e amor, com que construistes a vossa casa, juntamo-nos também a vós para agradecer, bem do fundo da nossa alma, reconhecida à Fundação Gulbenkian, e ao seu Meretíssimo Presidente do Conselho de Administração, Doutor José Azeredo Perdigão, todo o interesse e auxílio que tornou possível esta obra, e também testemunhar-lhe a nossa profunda gratidão pelo apoio e carinho que tem dado a tantas outras iniciativas, a maior das quais virá a ser o Museu e a Biblioteca, a começar brevemente, e que contribuirá de forma excepcional para a valorização da nossa cidade.
         E a terminar, quero saudar Tavarede e o seu povo, e saudar todos os amadores desta casa, com os votos de que a Sociedade de Instrução Tavaredense continue, no futuro, a ser bem digna dos seus honrosos pergaminhos, conquistados no passado e no presente!”
         Vivas, entusiàsticamente correspondidos, encerraram esta memorável sessão solene.

Sem comentários:

Enviar um comentário