sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Operetas em Tavarede - 29

         E as tremendas lutas que os ilustres fidalgos tavaredenses, a célebre e poderosa família Quadros”, mantiveram com o Cabido de Coimbra, pelo domínio da nossa terra, durante mais de dois séculos?

 
               Quadro: ‘O Forno da Poia’ - - Chá de Limonete

         Sabíamos nós, porventura, que os nossos antepassados, se queriam comer um pedaço de broa, a tinham de ir cozer nos fornos dos Senhores de Tavarede, chamados “Os Fornos da Poia”?

Forneiro -         
Já quase o forno está quente
            E esta gente
            Não há meio de apar’cer...
            É tratar de meter lenha
            Até que venha
            A broínha p’ra cozer.

            Depois do forno aquecido
            E varrido,
            Que alegria é enfornar!
            Vamos a tender o pão!
            Ora então
            Põe-se a pá a trabalhar...

            Porém se o forno
            Teve mais lume
            Do que o costume,
            Ai que transtorno|
            Vai-se a fornada,
            Foi-se a farinha,
            Porque a broínha
            Ficou queimada.

            Anda o forneiro contente,
            Sempre quente
            Durante todo o inverno.
            O forno é consolação...
             Mas no v’rão
             É um calor do inferno...

            O forneiro tem fartura
            - Que ventura!
             Não lhe falta de comer...
            Mas também põe lenha ao lume
            - Que azedume!
            Para outro se aquecer!

         Nem as tristes das peras, “rijas que nem o porco as queria”, tinham licença de assar em suas casas...

         Foi, assim, que ficámos a saber coisas interessantes, coisas que pouco nos dizem agora, é verdade, mas que o pobre povo daqueles recuados tempos sofria e pagava, muitas das vezes, senão mesmo todas, com muito pouca resignação.

Pregoeiro - Ao povo do Couto de Tavarede, o Cabido da Sé de Coimbra faz saber que o seu Deão visitará hoje este lugar, e manda que se cumpra o foral de 9 de Maio de 1516 que reza assim: (Lê um pergaminho) D. Manuel por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. A quantos esta nossa carta de foral dado ao termo e lugar de Tavarede virem, etc.
            Jantar ou colheita: O Deão da Sé de Coimbra, visitando uma vez no ano o dito lugar, receberá dos moradores de Tavarede para o seu jantar, 180 reais de 6 ceitis o real, e das heranças da Chã e de Cabanas, 2 carneiros, 2 cabritos, 6 almudes de vinho, 10 galinhas, um quarteiro de cevada pela medida de Coimbra, 100 pães, 5 soldos em dinheiro para temperos, meio alqueire de manteiga fresca, e lenha e vinagre que abonde para se poder cozinhar as ditas cousas na cozinha do Deão. - Cumpra-se.

Vereador -                                 
Senhor Deão, eu vos venho saudar,
            Pois que da Câmara sou vereador.

             Coro do Povo            
             E os bons vassalos aqui estão, senhor.
             P’rò jantar anual vos entregar.

Um Homem -    
Eis os carneiros...

Coro -   
Carneiros são dois...

Outro Homem
De vinho seis almudes...

Coro
se não mais...

Outro Homem -  
E dois cabritos...

Coro -      
grandes como bois!

Outro homem - (mostrando um pequeno saco)   
Dinheiro cento e oitenta reais.

Coro -
Manteiga fresca e um cento de pão,
            Mais dez galinhas de raça apurada...

Um Homem
E p’ra que o jantar seja um jantarão
            Vem um quarteiro farto de cevada. (bis o coro)

Deão -   
Abençoo, comovido,
            Este bom povo que timbra (bis os dois cónegos)
             No respeito que é devido
             Ao Cabido de Coimbra.
             Eu vos recebo o jantar,
             Que é apenas um farnel... (bis os dois cónegos)
             Conforme manda o foral
             do Senhor Rei D. Manuel.

Coro -   
A nossa foralenga obrigação
            Aí fica cumprida com respeito.
            Que o jantarinho faça ao bom Deão
            E a todo o Cabido - bom proveito!
            Bom proveito!
            Bom proveito!


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