sábado, 14 de novembro de 2015

Os Quatro Caminhos - 4

A ESCOLA PRIMÁRIA
  

         É muito curioso o facto de, sendo Tavarede sede de concelho, com sua câmara e justiças, por mais de setecentos anos, tenha sido, depois de elevada a Figueira da Foz do Mondego a vila, a última freguesia deste concelho a receber a instalação de uma escola primária oficial.

         No ano de 1892 encontrámos a seguinte notícia: "Sendo presente o processo da criação de uma escola mista de ensino primário na freguesia de Tavarede, concelho da Figueira da Foz, enviado a esta comissão pelo sr. governador civil, para os fins designados na portaria de 20 de Setembro de 1892(?), resolveu responder: 1º que não consta do mesmo processo estar satisfeito o disposto no nº 3º do ofício do ministério do reino de 7 de Abril de 1885; 2º que as circunstâncias financeiras daquele município não consentem por enquanto aumento de despesas (sessão da comissão executiva de 22 de Março)".

         Não havia dinheiro, portanto não havia escola. Mas já havia muito tempo que se pedia a escola, pois o povo tavaredense sentia a necessidade da instrução. " Desde 1889 que por parte de alguns beneméritos vizinhos de Tavarede se fazem baldados esforços afim de alcançar para a localidade o provimento duma cadeira de instrução primária. Parece incrível que se regateiem aplausos e auxílio a tão útil tentativa. Bastará lembrar, para fazer reconhecer a urgente necessidade da criação daquela cadeira que na freguesia existem, segundo o recenseamento de 1890 e 1891, aproximadamente 600 crianças na idade escolar, e que, ou não frequentam a aula mais próxima (Figueira), ou têm de caminhar diariamente, para isso, mais dos 3 quilómetros regulamentares.
        
         Não podemos, por isso, senão elogiar a actual junta de paróquia, como merecem todas as que, directa ou indirectamente, hão contribuído no mesmo sentido, fazendo votos porque afinal se resolvam a aceder, nas regiões superiores, a de pronto deferir o que há tanto tempo se lhes pede com inegável justiça".

         Quer dizer, os tavaredenses, na sua maioria vivendo do seu árduo trabalho na agricultura, não provendo de recursos económicos que lhes permitissem mandar os seus filhos aprender a ler e a escrever na vizinha cidade, e antes necessitando deles para os trabalhos nas suas terras, eram analfabetos e analfabetos ficavam os seus filhos. Para trabalhar com a enxada não era necessário saber ler nem escrever.

         Alguns, poucos, com algumas pequenas disponibilidades financeiras lá mandavam os seus filhos à Figueira. Outros, ainda, trabalhando na cidade em qualquer emprego, como trabalhadores braçais, por exemplo, aproveitavam para frequentar a escola depois do trabalho, na escola oficial ou em escolas particulares que então haviam. Eram esses, que aprendiam as primeiras letras que melhor se apercebiam da falta de uma escola em Tavarede e que mais insistiam pela sua criação.

         Em Abril de 1895, paroquiava esta paróquia havia pouco tempo, o padre Joaquim da Costa e Silva, que dispunha de grande influência política, chegando a ser, posteriormente, vereador da Câmara Municipal, promoveu mais uma iniciativa para a criação de uma escola de instrução primária para a sua freguesia, "a qual é a única deste concelho que não tem uma escola oficial!". Que se saiba, naquele tempo não existia na terra do limonete nem escola oficial nem particular...

         O último recenseamento das crianças em idade escolar atestara que aqui havia mais de 800 crianças "que poderiam receber a benéfica luz da instrução. Nestas condições, têm direito os povos daquela freguesia à instrução dos seus filhos, e por isso é de crer que os esforços do digno pároco de Tavarede sejam coroados do melhor êxito e que o governo atenda aos legítimos interesses daqueles povos, dando-lhes a instrução necessária, sem o que não haverá cidadãos prestantes e úteis".

         Até que, em reunião camarária, foi deliberado prover e tomar a seu cargo a casa para a escola mista e de habitação do professor de Tavarede. E, em Março de 1896, "na primeira reunião do conselho superior de instrução pública deve ser aprovada a criação de uma escola mista na freguesia de Tavarede, deste concelho, há tempo requerida pela Câmara Municipal e em harmonia com o decreto de 27 de Junho de 1895", escrevia num jornal figueirense o seu correspondente na nossa terra.

         Em Abril de 1896, e depois de se noticiar a próxima publicação no Diário do Governo do decreto para a criação da escola mista em Tavarede, o jornal "O Povo da Figueira" escrevia: "Com um melhoramento importante acaba de ser dotada esta povoação devendo-se a iniciativa dele em primeiro lugar ao reverendo vigário desta freguesia, sr. Joaquim da Costa e Silva, que mostrou mais uma vez o seu interesse por tudo quanto reverte em benefício da sua paróquia; e em segundo lugar ao sr. dr. José dos Santos Pereira Jardim, deputado às cortes, por tomar na devida consideração a petição que para tal fim lhe foi apresentada pelo mesmo reverendo vigário.

      
          Refiro-me à escola mista que em breve vai ser estabelecida nesta localidade, onde as crianças podem receber gratuitamente a luz da instrução.



Maria Amália de Carvalho, a primeira professora  oficial de Tavarede. (desenho de João Nunes da Silva Proa,  exposto na biblioteca da SIT)

         Os chefes de família que avaliam bem as dificuldades que lhes têm surgido até hoje para a educação intelectual de seus filhos, devem mostrar-se reconhecidos para com aqueles que desinteressadamente pugnam pelos melhoramentos desta terra. São dignos, pois, de todos os encómios o reverendo vigário pela reconhecida boa vontade com que zela os interesses dos seus paroquianos, e o sr. dr. José Jardim pelos esforços que empregou junto ao governo, para em tão pouco espaço de tempo conseguir, lutando com bastantes dificuldades, a criação da mesma escola, instituição esta de grande importância e incontestável utilidade para Tavarede.
        
         Não é esta a nossa terra natal, mas temos aqui o nosso domicílio; por conseguinte sentimos como todos os tavaredenses verdadeiro e natural regozijo quando alguma coisa se faça em prol desta terra.


         Foi na segunda-feira passada que o reverendo vigário recebeu do sr. dr. José Jardim, directamente de Lisboa, a notícia de ter sido criada a referida escola; por este motivo, foi aquele sr. cumprimentado à noite pela “Estudantina Recreio Tavaredense”. Afinal, tinha demorado, mas até meteu música...

2 comentários:

  1. amigo senhor Vitor, vou levar a dona Preciosa este artigo que só lí hoje, a escola onde ela estudou, adorei a história, ela ficará emocionada, obrigada, um bom ano ao senhor e família, amiga Lilia - Pederneiras-Brasil

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  2. No meu conceito, Tavarede podia ter mais desenvolvimento, do que tem 1ª não vejo esse edificio do chop China ter alguma margem, para desenvolver Tavarede , pois já precisa de uma Pensao economica com esse grande edificio do cho China Já podia circular , alguns auto-carros com destino de sairem dos 4 caminhos para o HDFF assim como irem ao mercado, Bem; Tavarede continua a cair de Pobre

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