segunda-feira, 1 de março de 2010

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 14

Entretanto, sabe-se que a última peça ensaiada por Vicente Ferreira foi a opereta “Ninotte”, seguindo-se, na direcção do grupo cénico, António Santos Júnior e António Medina Júnior. Foi este último quem ensaiou a espectáculo acima referido, mas, como ensaiadores, tiveram uma curta passagem pela actividade.

Não tenho grandes notícias sobre espectáculos no ano de 1927, mas, em Novembro desse ano, sofreu o Grupo Musical uma rude perda. Morreu, ainda muito novo, o grande amador e entusiasta da colectividade José Medina. Mas, pouco tempo antes, em 19 de Julho, haviam-se apresentado na Figueira, no Teatro do Parque Cine, com a opereta “Os Cirandeiros”, levada já à cena em Tavarede, e que alcançou imenso êxito. Neste espectáculo, o Grupo Musical apresentou, também, um grupo coral composto por mais de 70 figuras, “que cantou um escolhido reportório”.


Em 1928, entretanto já sob a direcção de Raúl Martins, levou à cena um novo espectáculo de grande efeito. Chamava-se “Noite de Santo António” e era da autoria de Raúl Martins, música de Herculano Rocha, sendo a orquestra dirigida por João Cunha. Como comentário, e porque são coisas que vale sempre a pena recordar, transcrevo a crítica publicada em “O Figueirense”.

“E visto que os grupos dramáticos dos clubes figueirenses adormeceram num criminoso far-niente, não ha remedio senão o amador de espectaculos teatrais - que não estão dispostos a comer sempre o indigesto acepipe cinematográfico - ir até fóra do burgo aos domingos divertir-se um pouco nos teatrinhos de aldeia.

E foi por isso que, no passado domingo, fomos ao teatrinho da Rua Direita, em Tavarede, assistir á reprise, dada em matinée, da opereta em 2 actos de Raul Martins, a Noite de Santo Antonio, adubada com versos de Antonio Amargo e enriquecida com explendida musica de Herculano Rocha - que desta vez ensaiou e foi reger a orquestra com a sua extraordinaria maestria de artista invulgar.

Nada queremos dizer da peça, que por varios palcos do concelho tem sido exibida com geral agrado - como o demonstram as suas multiplas representações - que a critica local tem sabido merecidamente elogiar pela pêna imparcial dos seus jornalistas-criticos. Tão sómente desejamos referir-nos ao desempenho.

Incontestavelmente, o Grupo Musical e de Instrucção Tavaredense possui a dentro da sua secção dramatica alguns dos melhores amadores do concelho. Desfalcada embora a secção com a ausência de Antonio Medina Junior e com a perda irreparavel do grande cómico que foi o saùdoso José Medina - apesar de tudo mantêm o seu logar de previlégio com os antigos elementos e com a preciosa aquisição de outros nomes.

A reprise da Noite de Santo Antonio constituiu mais um triunfo para o grupo, que caprichou em apresentar-se galhardamente, tanto pela correcção dos amadores como pelo rigor do guarda roupa, como ainda pelo meticuloso apuro da mise-en-scéne, para não falarmos tambem da perfeita execução da orquestra.

Violinda Medina foi a explendida artista de sempre, pelo seu á-vontade em scena, pela sua impecavel dicção, pelo seu maravilhoso timbre de voz, que a tornam - sem favor e sem exagêro - a melhor e a mais completa amadora de todo o concelho.

Raul Martins - encarnou bem o papel de galã, embora por vezes nos parecesse um pouco frio, talvez por temperamento próprio, talvez pela sua preocupação constante de ensaiador e de alma de todo o trabalho.

Clarisse de Oliveira tem voz tem gesto, mas... teve mêdo, que a levou a fraquejar em certa altura. Deve perder êsse mêdo; quando se possuem qualidades reaes e verdadeiras, como ela possui, não há de que temer e deve-se fazer realçar todos os recursos.

Manoel Nogueira e Manoel Cordeiro são dois excelentes cómicos, principalmente o primeiro. São êles a graça e o riso da opereta, nas suas passagens de gargalhada, que muitas tem e bem interessantes.

Não nos deteremos na apreciação das personagens uma por uma, o que alongaria demasiado esta simples noticia sem pretenções a critica que para tanto nos falta competência. E estamos certos de que os correctos amadores não nos levarão isso a mal. Bastará a nossa afirmação de que o conjunto - salvas pequenas falhas, pois nada existe perfeito - foi absolutamente harmónico no geral como no particular: pode o grupo Musical orgulhar-se do seu magnifico grupo dramático que tem a mesma amisade pela arte e no mesmo amor pela sua Associação, que dificilmente encontrará entre nós outro que se lhe avantage.

Ao Grupo Musical e Instrução Tavaredense, aos seus belos amadores teatraes, a Raul Martins e a Herculano Rocha - os nossos sinceros parabéns pelo êxito da matinée de domingo”.

Foi apresentada, também, a comédia “Casar para morrer”.

Fotos: 1 - José Medina; 2 - Grupo cénico da peça 'Os Cirandeiros', tirada na Quinta da Borlateira; 3 - Outra fotografia do grupo cénico, julgamos que igualmente tirada na Borlateira.

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