Permitam-me os meus caros leitores, se porventura os tiver, que regresse um pouco atrás. Já disse que, em 1925, aconteceu um caso interessante: a apresentação de duas operetas, uma na Sociedade de Instrução Tavaredense (Em busca da Lúcia-Lima) e outra no Grupo Musical e de Instrução Tavaredense (Ninotte). Pois é sobre esta peça que hoje vou recordar um pouco, uma vez que, tal como a 'Em busca da Lúcia-Lima', deu aso a uma polémica bastante interessante. Foram seus autores, António Amargo e Eduardo Pinto de Almeida, respectivamente do texto e da música.
"Como este jornal noticiou oportunamente, o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense adquiriu há pouco, para a sua secção dramática levar à scena, uma opereta em 3 actos, que se intitula Ninotte e é ornada de 21 números de musica.
Coisa fina, assunto regional bem estudado, daquele assunto a que nem todos os dramaturgos modernos ligam a importância que ele merece, poesia excelente, a Ninotte é uma peça de valor, desde os pés á cabeça, e é da auctoria do consumado poeta e jornalista nosso amigo sr. António Amargo.
Isto basta a quem não ignora o valor do pai da Ninotte, para acreditar que o sr. Amargo é incapaz de se virar á machadada à obra doutrem, roubar-lhe o titulo que o seu auctor lhe deu na pia batismal das suas locubrações, e crisma-la a seu belo talante, com o fim de ludibriar amadores d’aldeía...
Mas não. Tal não alcança toda a gente, de cuja plêiade faz parte o parvo que ali na Voz da Justiça, manejando a pena à canhota, está sempre a procurar meios malévolos e mesquinhos para atrevidamente lançar ao Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense pedaços do ódio sectário que por ele nutre.
Não é verdade a Ninotte ser o João Ratão "arranjado" por António Amargo para amadores. O que é verdade é ser Ninotte uma opereta que António Amargo, de reconhecida competência, acaba de escrever inéditamente para a troupe dramática do Grupo Musical.
O que também é verdade é que António Amargo não tinha precisão de estar a copiar o João Ratão do impresso para o manuscrito, para apresentar ao Grupo uma Ninotte, com vinte e tantos personagens, sem papeis dobrados, afora a massa coral, constituída por próximo de vinte rapazes e raparigas...
E o que também não é mentira é que o parvo que ali na Voz vomita veneno contra o Grupo - de alicerces fortes e bem enraizada vida...- não o "grama" nem por sonhos, por vêr que é hoje uma das melhores e mais prosperas colectividades do districto de Coimbra.
É inútil tanta propaganda contra o Grupo Musical. Lembre-se o parvo que o jornal é o porta-voz da opinião publica e que portanto não deve ser utilisado em navalhadas contra o Grupo Musical.
Com que auctoridade vem dizer que Ninotte é o João Ratão "arranjado" para amadores, se nunca a leu, se nunca a lerá, se nunca viu nenhum dos poucos ensaios que já tem?
O Amargo arranjista...
Resta saber se ele foi pedir a algum poeta tavaredense para lhe fazer o verso...
Podia limitar-se a dizer que a opereta da sua sociedade é que é boa, é que é fina, é que é excelente, é que é original, é que é rica de scenários, pois até um acto é passado na China...
Assim, vindo á baila com o nome duma sociedade andam a bulir cá com o rapaz, que tinha recolhido à privada e metido a viola no saco, também eu tenho o direito de meter a minha colherada.
Discutem periódicos se a minha dramatúrgica pessoa empalmou "João Ratão", que é português e macho metamorfoseou em "Ninotte", que é francesa e fêmea.
Mas que teem eles com isso?"
Coisa fina, assunto regional bem estudado, daquele assunto a que nem todos os dramaturgos modernos ligam a importância que ele merece, poesia excelente, a Ninotte é uma peça de valor, desde os pés á cabeça, e é da auctoria do consumado poeta e jornalista nosso amigo sr. António Amargo.
Isto basta a quem não ignora o valor do pai da Ninotte, para acreditar que o sr. Amargo é incapaz de se virar á machadada à obra doutrem, roubar-lhe o titulo que o seu auctor lhe deu na pia batismal das suas locubrações, e crisma-la a seu belo talante, com o fim de ludibriar amadores d’aldeía...
Mas não. Tal não alcança toda a gente, de cuja plêiade faz parte o parvo que ali na Voz da Justiça, manejando a pena à canhota, está sempre a procurar meios malévolos e mesquinhos para atrevidamente lançar ao Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense pedaços do ódio sectário que por ele nutre.
Não é verdade a Ninotte ser o João Ratão "arranjado" por António Amargo para amadores. O que é verdade é ser Ninotte uma opereta que António Amargo, de reconhecida competência, acaba de escrever inéditamente para a troupe dramática do Grupo Musical.
O que também é verdade é que António Amargo não tinha precisão de estar a copiar o João Ratão do impresso para o manuscrito, para apresentar ao Grupo uma Ninotte, com vinte e tantos personagens, sem papeis dobrados, afora a massa coral, constituída por próximo de vinte rapazes e raparigas...
E o que também não é mentira é que o parvo que ali na Voz vomita veneno contra o Grupo - de alicerces fortes e bem enraizada vida...- não o "grama" nem por sonhos, por vêr que é hoje uma das melhores e mais prosperas colectividades do districto de Coimbra.
É inútil tanta propaganda contra o Grupo Musical. Lembre-se o parvo que o jornal é o porta-voz da opinião publica e que portanto não deve ser utilisado em navalhadas contra o Grupo Musical.
Com que auctoridade vem dizer que Ninotte é o João Ratão "arranjado" para amadores, se nunca a leu, se nunca a lerá, se nunca viu nenhum dos poucos ensaios que já tem?
O Amargo arranjista...
Resta saber se ele foi pedir a algum poeta tavaredense para lhe fazer o verso...
Podia limitar-se a dizer que a opereta da sua sociedade é que é boa, é que é fina, é que é excelente, é que é original, é que é rica de scenários, pois até um acto é passado na China...
Assim, vindo á baila com o nome duma sociedade andam a bulir cá com o rapaz, que tinha recolhido à privada e metido a viola no saco, também eu tenho o direito de meter a minha colherada.
Discutem periódicos se a minha dramatúrgica pessoa empalmou "João Ratão", que é português e macho metamorfoseou em "Ninotte", que é francesa e fêmea.
Mas que teem eles com isso?"
É claro que António Amargo não se calou.
"A "Ninotte" é tão minha filha que até uma das minhas filhas tem uma boneca preta, a quem baptisou de "Ninotte". É imitada do "João Ratão"? Mas isso mesmo já se disse e redisse - e eu escrevo o que me apetece. Roubei? Pois chamem para o caso a atenção da polícia e espetem comigo na cadeia!
Mas pelo amor de Deus não me macem...
Que culpa tenho eu que os dois grupos dramáticos de Tavarede andem de candeias às avessas e que eu ande metido na baila como Pilatos no credo? Lá se avenham um com o outro, mas deixem-me em paz.
O sr. que da terra da srª D. Lúcia Lima manda lerias para "A Voz da Justiça" entretenha-se lá com as intrigas do burgo tavaredense e faça referências à "Ninotte" e a mim... depois da opereta ir à scena É boa? É má?... O futuro a Deus pertence...
Então não querem lá ver? Eu a apanhar por tabela e a servir de pim pam pum no meio de rivalidades com que eu nada tenho!
O diabo não tem sono!... ".
Eis uma outra notícia sobre o mesmo assunto:
"No Grupo Musical e de Instrução Tavaredense continuam com toda a regularidade os ensaios de leitura da opereta em 3 actos - Ninotte - da auctoria de António Amargo, devendo muito brevemente começar os ensaios de palco, sob a direcção do amigo sr. Vicente Ferreira, amador de reconhecida habilidade e demonstrada competência
O maestro sr. Pinto d’Almeida está - agora - a escrever a musica. Dos 5 números que até hoje, quarta-feira, nos mandou, só temos a dizer em abono da verdade, que são duma inspiração deliciosissima. E os restantes 16, cremos bem, não deixarão nada a desejar...
Os amadores que interpretam a Ninotte, numa totalidade de quarenta e tantos, entre raparigas e rapazes, andam com muita vontade e esperam fazer boa figura nos papeis que lhes foram confiados.
Não são a fina flor de Tavarede, mas são amadores do Grupo Musical, pouco habituados a andar de noite, e às ocultas, a escutar bisbilhoteiramente o que se passa na casa alheia... - na casa da autentica e aristocrática fina flor de Tavarede.
E isto basta para se avaliar que no Grupo Musical só se encontra gente firme e... limpa; gente briosa e honesta; gente de que ninguém pode rir-se; gente que nunca foi lançada no ridiculo... Mulheres, fazem papeis de mulher; homens, fazem papeis de homem...
Felizmente que encontrámos na peça do literato Amargo esta vantagem aos hábitos do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - apesar de haver muita gente nova...
E felizmente também que a nenhum dos mesmos amadores foi distribuído mais do que um papel...
Sempre é uma peça que não mete personagens com papeis dobrados...
Nem dobrados, nem invertidos...
O Amargo é um teso...
(continua)
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